Chico, Sérgio Ricardo, Gil, Roberto, Caetano
Roberto
Carlos deu um chapéu em sua turma do Procure Saber. No início de
outubro, Caetano Veloso, o mais vocal do grupo de artistas, havia
escrito em sua coluna no Globo que “a atitude de Roberto foi útil para
nos trazer até aqui”. Deixava clara a ascendência de RC sobre os demais.
Todos
se manifestaram. Faltava justamente ele. Até que Roberto apareceu
no “Fantástico” falando que era a favor das biografias não-autorizadas
-- desde que houvesse “ajustes” e “conversas”. O PS rachou. No artigo
de hoje, Caetano diz o seguinte: “E RC só apareceu agora, quando da
mudança de tom. Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei. É o
normal da nossa vida”.
Roberto
ainda gravou um vídeo com Erasmo e Gilberto Gil, afirmando que tem o
dever de buscar seus direito. Mas: “Sem censura prévia. Sem a
necessidade de que se autorize por escrito quem quer falar de quem quer
que seja.” Paula Lavigne foi afastada do papel de porta-voz e o advogado
de Roberto, Kakay, assumiu o comando.
Roberto
é autor o mito fundador do Procure Saber. Sua censura à biografia
escrita por Paulo César de Araújo em 2007 é um clássico. É ele a grande
referência, é ele quem dá o tom. O que todas as idas e vindas do Procure
Saber revelaram, entre outras coisas, é que nunca se ouviu falar de
entidade tão desencontrada. Além disso, ficou patente, indiscutível, o
poder de Roberto sobre seus colegas de geração.
O
que talvez pudesse ser visto como algo questionável -- seu controle
doentio sobre sua imagem, a falta de transparência nas entrevistas e
declarações, a paranóia -- era um modelo. Uma coisa é se espelhar numa
carreira de sucesso e procurar aprender com isso. Outra é seguir alguém
como se ele fosse um rei, inquestionável e infalível. E quando o rei
muda de opinião?
Em
homenagem ao Procure Saber, eis um papo entre RC, Chico e Geraldo André
em 1966, publicado na revista Manchete. Está no livro Roberto Carlos Em
Detalhes (que você pode baixar aqui).
Assim
que chegou ao encontro, Roberto Carlos foi logo afirmando que o negócio
dele não era falar e sim cantar, mas se dispôs a responder a todas as
perguntas dos dois colegas. Chico Buarque abriu a conversa perguntando a
Roberto Carlos se ele ia mesmo escolher umrepertório de música
brasileira para gravar. "Bem, eu preciso pensar muito antes de fazer um
repertório nacional", respondeu o cantor. "Por que pensar muito?",
retrucou Vandré, fiel à sua ideia de que quem sabe faz a hora, não
espera acontecer. "Sabe o que é?", ponderou Roberto Carlos. "Acho que
preciso ter muito cuidado, por já estar num género e de repente começar
em outro. Não sei se teria de começar tudo de novo ou pegar a coisa pela
metade. Seria assim um..." Antes de ele achar a palavra, Chico Buarque
completou: "Um jogo?". "É. Um jogo", confirmou Roberto. "E você não
gosta de jogar?", perguntou Chico. "Gosto", respondeu Roberto.
Vandré, Roberto e Chico
"Então,
por que não entra no nosso jogo?", provocou Vandré. "Estou na dúvida",
confessou o cantor. "Você não acha que o grande prestígio que tem, sua
grande popularidade, colocado a serviço da música popular brasileira,
traria um grande benefício para ela?", insistiu Vandré. "Me alegra muito
ouvir isso, principalmente partindo de você, Vandré. Mas fazer música,
para mim, embora viva disso, não é um negócio. A música é a música. Ela
não deve ser feita para servir a outros interesses. Ao menos a minha, eu
só faço quando tenho vontade e do jeito que tenho vontade."
Aqui
Roberto Carlos procurou marcar uma grande diferença de visão a respeito
da música popular. Mas Vandré não aceitou a ideia de música pela música
e questionou se Roberto não estaria ganhando dinheiro demais com a
profissão. "Não posso me queixar. Mas não componho para faturar. Se
faturo, é outro problema", respondeu o cantor. "De qualquer forma, deve
ser bom faturar como você", provocou Chico Buarque. Roberto não se
intimidou e partiu para o ataque lembrando o alto valor de cachê que
Chico estava cobrando para se apresentar.
"Não
é bom faturar, Chico Buarque?", devolveu Roberto. "Bom, lá isso é. Mas,
não é essencial. Ou, ao menos, não é a única coisa importante para quem
faz música", respondeu o autor de A banda. "E você, Vandré, o que diz
quanto a faturar?", insistiu Roberto Carlos. "Com música, recebi pouco
até agora", defendeu-se o autor de Disparada. "Mas seu nível de vida não
é dos piores", questionou Roberto. "Tenho outra profissão. E minha vida
não é fácil", defende-se Vandré. "Que profissão?", quis saber Roberto.
"Fiscal da Sunab", respondeu Vandré.
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