A Folha na era da pós-verdade
sex, 31/03/2017 - 10:21
Ontem a Folha lançou
sua nova versão do projeto editorial. Sob o título “Jornalismo
profissional é antídoto para notícia falsa e intolerância” (https://goo.gl/6GeZEF). O manual lista 12 princípios editoriais, dentre os quais
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Há uma demanda mal atendida por informações proveitosas e inspiradoras, sem prejuízo da prioridade dada a enfoques críticos e à busca da notícia exclusiva.
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As reportagens deveriam ser mais conclusivas, indicando, quando viável, prós e contras das soluções para os problemas apontados.
Com
11 anos de atraso, finalmente cai a ficha. Não faltaram alertas do
suicídio editorial que significaria um jornal líder do mercado de
opinião ir a reboque do pior jornalismo já praticado no Brasil, a
pós-verdade da Veja, introduzido por Roberto Civita para enfrentar a entrada de novos concorrentes.
Quando
o discurso de ódio tomou conta de toda a mídia, se a Folha ousasse
repetir o contraponto dos anos 80 entraria na era digital com a
credibilidade renovada.
Em vez disso, quando surgiu o tal “jornalismo de esgoto”, a Folha foi atrás de Veja sem o menor senso crítico, sem a menor noção de auto-estima, com um complexo de inferioridade fatal.
Todas as maluquices de Veja
foram emuladas pela Folha, desde a ficha falsa de Dilma no DOPS ao
escândalo da tapioca, o assassinato de reputação de juíza que votou
contra Daniel Dantas às denúncias de um “consultor”, Rubnei Quícoli,
saído da prisão há menos de um mês por prática de estelionato e
transformado em um consultor honesto, que recusou um financiamento de R$
7 bilhões do BNDES por negar a pagar propina de R$ 5 milhões.
De
jornal amado pelos jovens progressistas, admirado pela esquerda e
respeitado pela centro-direita, tornou-se alvo de ódio generalizado das
esquerdas, de desconfiança dos leitores mais críticos e um pastiche,
veículo secundário para a ultradireita.
Antes, perdoava-se a Folha
até pelo carbonarismo juvenil. Quando passou a propagar o ódio, perdeu
seus melhores leitores. Jogou fora o enorme salto editorial representado
pela campanha das diretas e pelo seu apogeu, nos anos 90.
Mais
que isso: matou toda a proatividade dos seus jornalistas. De jornal que
se orgulhava de ser a cara multifacetada de colunistas de diversas
linhas, representando os ares de modernidade que nasceram com o fim do
regime militar, tornou-se veículo de discurso único, com os colunistas
de caráter mais sólido tendo de recuar, para não abrir mão da dignidade,
e de caráter mais frágeis se transformando em pitbulls para seguir os
ventos emanados do 6o andar.
Foi
um erro que custou caro ao jornal. E mais caro ainda ao país. Nesses
anos todos, a Folha poderia ter sido um farol no meio da tempestade.
Agora, tenta buscar uma vela para se livrar da escuridão.
Que seja bem sucedida.
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