Gilmar: muito poder, nenhum pudor
Em ótima análise publicada por Luís Costa Pinto no Poder360, de novo a figura espectral de Gilmar Mendes é iluminada por quem aceita enxergar o óbvio e vê se desenvolver a movimentação de quem é, sob a toga, o mais importante personagem do jogo subterrâneo (e já nem tanto) de poder sem voto.
Os sinais de que se caminha para uma eleição indireta de um presidente da República, à medida que o escasso capital político de Michel Temer se desfaz e vai ficando evidente o risco fatal de não se aprovar a emenda da Previdência nos padrões monstruosos em que se pretende, aumentam sem parar. E, neste caso, ninguém tem o cacife de Gilmar, com a ficha supervaliosa do “estancamento da sangria”.
Diz Costa Pinto:
Mendes atua sem sutileza e sem
cerimônia a fim de constituir seu próprio nome como a alternativa.
Considera-se o homem providencial. As águas de março, que deram muito
modestamente o ar da graça na Capital da República esse ano, foram
suficientes para fazer Gilmar Mendes emergir sua vontade secreta de
despir a toga trocando-a por capa e espada imaginárias de herói (ou
anti-herói). A identidade supostamente secreta do ministro do STF,
presidente do TSE, estava submersa a meia água e boiou na lâmina do Lago
Paranoá no transcurso desse verão.
Não há dia em que Gilmar Mendes deixe
de inventar ao menos um lance destinado a colocá-lo no centro dos peões
do tabuleiro. A rainha já foi comida. O rei está cercado. O bispo das
pedras pretas seria ele.
Nos cochichos despudorado ou nas polêmicas indecorosas, o Richelieu
se apresenta. Mas age, claro, também nas entranhas de um poder que se
agiganta na pequenez de seus atos.
Se há vaga no Tribunal Regional
Federal da 5ª Região, Gilmar tem candidato. Se há vaga no TSE, idem.
Vagou uma cadeira no Supremo? Gilmar foi chamado a opinar entre Ives
Gandra Filho –tratorado de forma humilhante– e Alexandre de Moraes.
Sinalizou para Moraes. A cadeira de Moraes ficou vaga na Esplanada?
Gilmar opinou na sucessão do Ministro da Justiça. Debate-se uma reforma
política destinada a dar novos contornos ao ruinoso sistema eleitoral
brasileiro? O que pensa Gilmar?, especulam entre si os congressistas e
muitos advogados. Agora, até empresários e executivos andam se fazendo
essa pergunta e criando o fator “Gilmar” de ponderação. José Serra fez
75 anos e merecia uma festa? Ninguém deu? Pois Gilmar Mendes a promoveu
–sem se importar, e sem ser cobrado por isso, se dentro de alguns meses
terá de vestir a toga para julgar Serra. O senador paulista será ao
menos denunciado na Lava Jato, afinal sua campanha para a presidência em
2010 recebeu US$ 23 milhões de dólares no exterior em ilegalidades
confessadas por quem deu o dinheiro –a Odebrecht– e por quem o recebeu
–o ex-banqueiro Ronaldo César Coelho. A desfaçatez do afago a um
provável réu da Lava Jato, promovido por um ministro do Supremo Tribunal
Federal, num convescote considerado “normal e regular” por quem cobre o
poder em Brasília, dá a medida da larga avenida por onde passeiam as
tropas de Mendes.
O obstáculo natural a pretensão presidencial, o voto popular, está
providencialmente afastado por uma feliz conjugação de fatores: um golpe
afastou a titular do mandado e o vice que a substitui tem a corda no
pescoço no tribunal que Mendes preside e controla. E um vice, agora
presidente, que não goza do apreço público e sequer do respeito das
elites. “É o que temos”, disse FHC, mas talvez o que logo não se tenha.
A plataforma de lançamento do
Movimento Gilmar Presidente, contudo, ainda não pulou do submundinho
quase virtual dos bastidores de Brasília para a vida real. Sem ter a
necessidade de cabalar votos populares, precisará apenas da maioria num
Congresso de 594 votantes se os comandos dados forem seguidos à risca,
quando estiver apta a fazê-lo será também a véspera da decisão fatal.
E se você acha que Temer exerce o poder sem pudor, espere para ver o que faria este personagem.
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