sexta-feira, 26 de outubro de 2018

POLÍTICA - São sempre os mesmos.

ASSASSINARAM HERZOG HÁ 43 ANOS E ESTÃO NOS AMEAÇANDO DE NOVO. AGORA É PIOR

São sempre os mesmos.
São os mercadores das finanças e os políticos entreguistas, os latifundiários e seus sicários, aliados aos milicos torturadores e seus sabujos, os industriais dos patos amarelos e suas madames, os barões da mídia e seus comentaristas amestrados.
Só mudam os nomes, ficam os métodos, e os interesses mesquinhos de uma elite retrógrada e degradada, mas são os mesmos que deram o golpe de 1964 e querem agora voltar ao poder pelo voto.
Foram eles que assassinaram um amigo meu, o jornalista Vladimir Herzog, nos porões do DOI-CODI, e depois repetiram o crime ao matar nas mesmas circunstâncias o operário Manoel Fiel Filho.
Faz 43 anos hoje, mas parece que foi ontem, tamanha é a semelhança entre aqueles tempos tenebrosos e os que estamos vivendo outra vez.
Vlado e Fiel tornaram-se os símbolos da resistência à ditadura civil-militar, que prendeu, torturou e matou milhares de brasileiros, decretou a censura e fechou o Congresso para baixar atos institucionais.
Coube-me, como repórter do Estadão na época, fazer reportagens sobre estas atrocidades cometidas contra os dois trabalhadores brasileiros nos tempos do “Ame-o ou Deixe-o”, que agora estão voltando a nos assombrar, como Jair Bolsonaro deixou bem claro em seu furioso discurso às milicias urrantes e ensandecidas na avenida Paulista, no último domingo.
Filho de refugiados da guerra da Europa, como eu, Vlado foi apenas um jornalista dedicado a contar, em diferentes funções, como eu, o que estava acontecendo no país.
Fomos muitas vezes censurados e ameaçados, mas não deixávamos de fazer nosso trabalho. A gente fazia e eles cortavam, não havia negociação, cada um no seu papel.
No meu caso, no Estadão, a direção do jornal, que tinha participado ativamente do Golpe de 64, acabou se unindo aos jornalistas na resistência à censura e à ditadura depois do AI-5.
A gente tinha na redação absoluta liberdade para pautar e fazer matérias. Nunca fui censurado pelo jornal. Essa tarefa cabia aos agentes que compareciam à redação para cortar o que a gente escrevia.
Agora chega a ser muito pior porque as próprias empresas exercem esta função, como denunciou o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que era presidido pelo grande cidadão brasileiro Audálio Dantas, herói da resistência pacífica, na época em que mataram o Vlado.
Em nota oficial, o sindicato relatou que “recebeu denúncias de vários jornalistas da Rede Record _ televisão, rádio e portal der notícias R7 – de que estão sofrendo pressão permanente da direção da emissora para que o noticiário beneficie o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e prejudique o candidato Fernando Haddad (PT)”.
Mais grave ainda é a situação da repórter Patrícia Campos Mello, que denunciou na Folha a grande armação cibernética de Bolsonaro com empresários, para enviar milhões de fake news aos eleitores na reta final do primeiro turno, uma operação que definiu o resultado a favor do candidato militar.
Minha colega Patrícia, repórter da maior competência, que já cobriu guerras e conflitos variados, está sendo ameaçada abertamente nas redes sociais, agredida em sua honra, sem que as chamadas autoridades tenham tomado qualquer providência até agora. Outros colegas do jornal também estão sendo ameaçados.
Digo que agora é pior porque, na época dos generais presidentes no poder, jornalistas também sofriam ameaças permanentemente, mas eram mais veladas, e a gente não levava muito a sério, até que mataram o Vlado.
Vamos ter que esperar outro assassinato de jornalista agora para fazer alguma coisa que impeça o avanço dos trogloditas enfurecidos rumo ao poder nas urnas?
Ainda bem que não trabalho mais no Estadão nem na Record. Não teria mais estômago para aguentar de novo o que passamos nas mais de duas décadas de ditadura.
Algumas semanas atrás, ao ser entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, em que defendeu torturadores, Jair Bolsonaro chegou a debochar dos jornalistas ao duvidar que Vlado tivesse sido assassinado na tortura, repetindo o bordão da versão oficial de suicídio, dizendo que estas coisas acontecem nas prisões.
É este o homem que quer ser presidente da República e agora foge dos debates na televisão, escondido em seu bunker na Barra da Tijuca, para não descobrirem quem ele é e o que representa.
Vlado, que morreu para denunciar os crimes da ditadura, agora volta à nossa lembrança para nos alertar sobre as ameaças da volta dos militares ao poder, mancomunados com o que de pior existe na sociedade civil.
Faltam apenas algumas horas para evitarmos, pelo voto, que uma nova tragédia se abata sobre nosso país.
Está nas nossas mãos.
Ditadura nunca mais! Tortura nunca mais!
Vida que segue.

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