Exclusivo: Moro se encontrou fora da agenda com candidato e ex-presidente da Bolívia
Entre os dias 27 e 29 do mês passado, o ministro da Justiça, Sergio Moro, esteve em Portugal, participando da Conferência de Estoril, onde participou de um painel com o tema “De Volta ao Essencial: Democracia e a Luta contra a Corrupção”, onde ouviu críticas de autoridades internacionais. Isso se noticiou no Brasil.
O que por aqui não circulou é que o ministro brasileiro aproveitou a viagem para se reunir com personalidades políticas da Bolívia – fora da agenda oficial. Uma delas é o candidato a presidente Carlos Mesa, da coligação Comunidad Ciudadana, da direita boliviana.
Segundo o próprio candidato, eles conversaram sobre as tarefas de Sergio Moro enquanto juiz (que já não o é desde o ano passado) e sobre os males advindos “da expansão da corrupção na América Latina“, conforme Twitter do candidato e repercussão na imprensa boliviana.
Também longe da cobertura da imprensa brasileira e de sua agenda oficial, Sergio Moro se encontrou com o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga Ramírez, que publicou em suas redes a foto abaixo.
O político do país vizinho entregou a Moro uma carta com o pedido para que o Brasil questione a Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a legalidade da candidatura à reeleição do atual presidente boliviano, Evo Morales.
Quer dizer: enquanto esteve em Portugal, Moro se encontrou com dois políticos bolivianos: o candidato da oposição a Morales na eleição que por lá irá ocorrer neste ano, e um ex-presidente que a ele solicitou que se engajasse na causa de impedir a candidatura de Morales.
É a este tipo de papel, de influenciador nos pleitos e processos eleitorais de nações vizinhas, que se presta atualmente o Brasil, seu presidente, seu ministro da Justiça.
Pois bem. Um dia após o encontro de Moro com o candidato Mesa, o site brasileiro Terça Livre publicou a seguinte reportagem: “Avião de cocaína capturado no Paraguai pode ter ligações com ministro de Evo Morales“.
O texto publicado no Brasil é indecifrável, é preciso ler para crer. Uma miríade de nomes e hipóteses apresentadas e não sustentadas. A reportagem tem 94 parágrafos. Repete-se: a reportagem tem 94 parágrafos.
Foi escrita pelo repórter do Terça Livre Ricardo Rovervan. Como se pode ver em seu perfil no site, nunca tinha escrito nada sobre a Bolívia, e se descreve como “Estudante de artes, filosofia e ciências. Jornalista, crítico de arte e escritor”.
Da noite para o dia, da noite em que Sergio Moro se encontrou com o candidato da direita boliviana a dois dias depois, teve a capacidade de escrever uma reportagem de mais de 90 parágrafos sobre a Bolívia, em que tudo que fez – e isso se pode ler no link acima – foi explanar teorias conspiratórias sem qualquer comprovação que ligariam um avião apreendido com drogas no Paraguai a um assessor de Evo Morales.
É preciso que se saiba do que se trata o site Terça Livre. É comandado por um homem chamado Allan dos Santos. Bolsonarista e olavista de raiz, o Allan. Ligado até a medula ao governo Bolsonaro e todo o projeto e execução comunicacional posto em prática para catapultar o ex-capitão à presidência da República. Isso é fato posto, visível e sequer negado por Allan ou pelo governo.
Na realidade, conforme já divulgado pela imprensa brasileira, o principal disseminador de notícias falsas durante o período eleitoral brasileiro foi exatamente o Terça Livre. A máquina não foi desativada após o término do pleito. Sua última façanha foi a criação de uma fake news – prontamente compartilhada no Twitter pelo próprio presidente Jair Bolsonaro – contra a jornalista Constança Rezende, do jornal Estado de S.Paulo.
O dono do site que agora mira em Evo Morales e seu governo, também, participou de jantar na casa de Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, no dia 18 de janeiro, em Washington, e, hoje todos admitem, “conselheiro digital” da campanha de Jair Bolsonaro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) já cansou de publicar fotos suas em encontros de trabalho com Bannon, a quem também já agradeceu publicamente pela colaboração durante a campanha presidencial de 2018.
De forma que assim segue o Brasil e assim segue a América Latina, as mesmas redes e conluios agindo em diferentes países, sempre sob as mesmas diretrizes, executando as mesmas ilicitudes, visando os mesmos objetivos.
O ministro Sergio Moro, que isso se diga, é um homem estável. Serve hoje aos mesmos senhores a que servia ontem, a quem serviu sempre e, ao que parece, sempre continuará servindo.
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