Procura-se o homem da Ku Klux Klan gaúcha. Por Moisés Mendes
Publicado originalmente no Blog do Autor
Não deve ser um militante qualquer o homem que apareceu fantasiado como membro da Ku Klux Klan em uma manifestação da extrema direita em Porto Alegre.
Se fosse um figurante sem importância, não teria sido chamado pelo nome e tratado com deferência pelos organizadores do ato pelo fechamento do Supremo, pela intervenção militar e pelo fim do comunismo. Nem teria recebido o microfone para passar sua mensagem.
Foi na quarta-feira, dia 21, no Parcão, um parque da região da velha burguesia da cidade. O Parcão já foi o espaço de passeatas de tucanos e moristas. Acabou sendo sequestrado pela extrema direita.
Pois o homem com um roupão marrom e um capuz, que virou um mistério, pegou o microfone e gritou, como quem sabe animar o público:
“O que nós viemos fazer aqui hoje, gente?”
Como não houve ensaio, o homem insistiu para que falassem mais alto. E ele mesmo respondeu, agitando uma vara:
“Viemos acabar com o comunismo. Hoje é o fim do comunismo”.
Ele falava para o público de sempre, com bermudas de tio tucano que virou bolsonarista, sapatênis, camisetas da Seleção e bandeiras. Parecia ser uma figura absorvida naturalmente pelo ambiente.
Quem viu a cena não percebeu em nenhum momento que alguém tenha pedido que ele se afastasse dali. E seriam pelo menos umas 50 pessoas.
Precisamos saber quem é o homem que discursou no Parcão. Porto Alegre tem uma bancada negra de esquerda na Câmara de Vereadores. São quatro mulheres e um homem, do PSOL (dois deles), PT e PCdoB. Eles foram à polícia e ao Ministério Público com o Movimento Negro Unificado e o coletivo Vidas Negras Importam e pediram uma investigação.
O sujeito que se protegeu no capuz poderá dizer que usou uma roupa marrom e que a fantasia usual da Ku Klux Klan é branca. E pode dizer também que não fez menção aos negros, mas aos comunistas.
Um vídeo mostra que o homem que anunciou a fala do fantasiado de KKK refere-se antes ao pastor Tiago e chega a dizer: “O Daltro vai falar”. E logo se corrige: “Não, não, não, o nosso carrasco vai falar”.
Ao lado deles, um boneco enforcado numa árvore. O carrasco da Ku Klux Klan não estava ali por acaso, era parte do teatro fascista armado no Parcão. Era chamado pelo nome.
Polícia e Ministério Público já têm pistas. Se o sujeito não for identificado, outros hoje com a camiseta da Seleção podem trocar a fantasia nas próximas manifestações e engrossar a turma do capuz.
A burguesia decadente do Parcão, que era apenas morista e havia embarcado por oportunismo na turma de Bolsonaro, deve estar incomodada.
Um dos espaços chiques da cidade foi invadido pela classe média bolsonarista e pelo que parece ser o embrião de uma franquia gaudéria da Ku Klux Klan.
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