No “curralzinho do Alvorada”, Bolsonaro diz: “Político preocupado com a vida do pobre tá de sacanagem. Tá preocupado é com o voto dele”
29/08/2021O presidente Jair Bolsonaro conversa com apoiadores em frenta ao Palácio do Alvorada – Charge de Nando Motta | Sobreposição de imagens
Em 25 min, o capitão chamou um de “gordo”, outro de “calcinha apertada”, o terceiro de “canalha” e o quarto de “bandido”. Bernardo Mello Franco comentou a fala do presidente sobre fuzil e feijão: Bolsonaro deixará um país com mais fuzis e menos feijão – Leia a seguir e veja os números
O colunista do Globo, Bernardo Mello Franco, afirma que Jair Bolsonaro tem um dom inegável: produz slogans contra seu próprio governo melhor que qualquer político da oposição. O jornalista comentou o episódio em que o presidente defendeu que os brasileiros se armem com fuzis. Franco escreve que o capitão estava no curralzinho do Alvorada quando, em 25 minutos de monólogo, chamou um adversário de “gordo”, outro de “calcinha apertada”, o terceiro de “canalha” e o quarto de “bandido”. A cada insulto, colheu aplausos e gritos de “Mito”. Sem máscara, ele voltou a desdenhar a pandemia, que já matou 578 mil brasileiros. “Lamento. Acontece. A vida é essa”, comentou. Leia a sequência:
Bolsonaro deixará um país com mais fuzis e menos feijão. Em 2020, praticamente dobrou o número de armas registradas na Polícia Federal. Foram 186 mil, um aumento de 97,1% em relação ao ano anterior. O governo também facilitou o acesso a armas de alto poder ofensivo. Caso dos fuzis semiautomáticos, cujo uso era restrito às forças de segurança. Enquanto os bolsonaristas se municiavam, a fome disparou. O número de brasileiros em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões em 2018 para 19,1 milhões em 2020. A alta da inflação ainda tende a agravar esse drama.
Não é preciso ser um idiota, como disse o presidente, para notar que os itens da cesta básica ficaram muito mais caros. Nos últimos 12 meses, o preço do feijão fradinho subiu 42,4%. O do arroz, 39,7%. Em Cuiabá, capital do agronegócio, a imprensa mostrou famílias em fila para receber ossos com retalhos de carne. No curralzinho, Bolsonaro disse que só venezuelanos se alimentam de “resto de comida”. Depois de ironizar a dificuldade dos pobres para comprar feijão, o presidente deixou claro que não perde o sono com o assunto. “Político preocupado com a vida do pobre tá de sacanagem. Tá preocupado é com o voto dele”, debochou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário