sexta-feira, 1 de julho de 2022

Brasil de Fato: Planalto em estado de emergência

 


Brasil de Fato

1º de Julho de 2022 

Planalto em estado de emergência

Olá, mesmo com uma PEC de compra de votos, o centrão parece ter desistido de Bolsonaro e Bolsonaro parece ter desistido das eleições. Nenhuma das duas coisas significa um final feliz.

.Previsão do tempo: tempestade. A crise política se agravou nas últimas semanas. Por um lado, depois do assassinato de Bruno Pereira e Dom Philips, o Planalto mandou às favas qualquer verniz democrático e a disputa política parece cada vez mais um choque entre barbárie e civilização. O desrespeito e a certeza da impunidade vão desde a atitude de Bolsonaro de avisar o ex-ministro Milton Ribeiro de que a Polícia Federal faria buscas e apreensões até os casos de assédio sexual e moral do presidente da Caixa, Bruno Guimarães, contra funcionárias do banco. O problema é que a escalada da crise moral ocorre há apenas três meses das eleições. Neste quadro, fatos como a acusação do ex-presidente da Petrobrás contra Bolsonaro e uma possível CPI do MEC, embora possam desgastar o governo, também contribuem para agravar o clima de instabilidade institucional. E bagunça é tudo o que Bolsonaro quer, já que a liderança de Lula segue consistente nas pesquisas, com a possibilidade de uma vitória em primeiro turno.O próprio capitão parece ter desistido da difícil tarefa de vencer nas urnas. Prova disso é que mesmo sem conseguir mobilizar suas bases no estado mais bolsonarista do país - Santa Catarina- ele optou por indicar o gen. Braga Netto para seu vice, alguém que não é exatamente bom de voto, nem de democracia. A única alternativa agora é ganhar no grito. Os mais otimistas acreditam que o grau de desmoralização do governo é tão grande que Bolsonaro já foi derrotado e não terá condições de contestar o resultado eleitoral. Outros, porém, como o próprio PT, já se prepararam para enfrentar uma tentativa golpista em outubro. O movimento não viria com tanques nas ruas e quarteladas e sim com uma crise institucional impulsionada pela contestação do resultado acompanhada por demonstrações de força e violência. Aliás, algo deste tipo poderia render frutos a longo prazo para o capitão, como ocorreu com Trump nos Estados Unidos.

.O último a sair apaga a luz. Poderíamos dizer que Bolsonaro optou pelo caminho do golpe porque o seu fracasso na economia o impede de vencer as eleições. Mas não é verdade. Até o centrão já entendeu que o problema do capitão Jairzinho é que ele prefere a vida mole do turismo de motociatas e dos discursos para o cercadinho do que trabalhar para a reeleição. Ele prefere falar de aborto e das urnas eletrônicas do que de economia ou do Auxílio Brasil. Será o primeiro golpe da história a mesclar autoritarismo e vagabundagem. Vivendo no seu mundo de fantasias, Bolsonaro não está percebendo que não há tanta gente assim disposta a embarcar na sua aventura. É o caso de José Luiz Datena, que desistiu de uma candidatura dada como certa um dia antes, deixando o governo sem um puxador de votos no maior colégio eleitoral do país. E, apesar dos encontros de Flávio e de Braga Netto com empresários, a arrecadação de fundos para a campanha está muitíssimo abaixo do que o seu comitê esperava. Isso, justo no momento em que a dupla Lula e Alckmin parece estar fazendo as pazes com a Faria Lima. Claro, o governo tenta recompensar o apoio do agronegócio e conta também com os donos das grandes igrejas evangélicas e os militares. Mas, embora a presença da Braga Netto na chapa represente este apoio, alguns setores estariam enviando sinais de que não estão dispostos a seguir o capitão e o general. Um bom termômetro para medir a sobrevivência de Bolsonaro são os deputados do centrão. Percebendo o beco sem saída em que o governo se meteu, discretamente, os parlamentares vão saindo de fininho da festa. O último recurso para tentar salvar o governo é a Emenda Inconstitucional no Congresso que libera recursos às vésperas das eleições em nome de um “Estado de emergência”. A PEC foi aprovada, mas desagradou o mercado. E se tudo der errado, a boia de salvação do centrão é dar o seu próprio golpe: um pacote que vai da proposta do semipresidencialismo à formalização e autonomia do orçamento secreto, que continuaria sob controle do grupo de Arthur Lira.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Derrubando os 6 mitos mais viralizados sobre aborto. A poeta e ensaísta Katha Pollit desmistifica as questões científicas, legais, filosóficas e religiosas sobre o aborto.

.O arquipélago blindado. Com mais de 800 bases militares espalhadas pelo mundo, veja como os Estados Unidos mantêm sua “Pax americana”. No Jacobin.

.Que caminhos a integração de uma nova onda de progressismo na América Latina pode tomar? No Brasil de Fato, Lucas Estanislau e Michele de Mello revisitam as principais experiências de integração do continente nas últimas décadas.

.Otimista com Lula, García Linera diz que América Latina precisa da liderança brasileira. Em entrevista para o Brasil de Fato, o ex-vice-presidente da Bolívia fala sobre o papel do Brasil no novo ciclo político do continente.

.Homicídios em série no coração da floresta. Na Piauí, por que o Amazonas é o estado onde mais crescem os índices de homicídios.

.“O mercado é impaciente com o processo político”, diz Kayath. O ex- presidente do Crédite Suisse revela como pensa o mercado financeiro sobre as eleições e a simpatia do setor por uma ditadura.

."Derrotar Bolsonaro nas urnas não acabará com bolsonarismo". O sociólogo Marcos Nobre prevê a permanência do bolsonarismo como uma oposição desleal e antidemocrática após as eleições.

.Vídeo: os fantasmas que assombram Sergio Moro. O Intercept dá voz aos agricultores que foram perseguidos pelo ex-juiz para montar um circo midiático no Paraná.

.Reconhecimento facial na segurança pública é "nova aposta no encarceramento", diz especialista. A campanha #SaiDaMinhaCara denuncia como a tecnologia é usada para aumentar o controle e a repressão e reforçar a política de encarceramento dos mais pobres. No Brasil de Fato.

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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

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