sábado, 13 de agosto de 2022

Outros Quinhentos: Os intelectuais brasileiros na mira da Guerra Fria.

 

Os intelectuais brasileiros na mira da Guerra Fria

Viagens com tudo pago. Bolsas de estudos. Espaço em publicações de prestígio. Novo livro da Editora UNESP destrincha a competição entre EUA e URSS por nossos pensadores. Quem apoia nosso jornalismo concorre a três exemplares e tem 40% de desconto

Cada nova leva de documentos descobertos e pesquisas publicadas reafirma: o Brasil foi um dos principais campos de batalha da Guerra Fria. Agências de cooperação e de espionagem – e as que unem as duas atribuições – das superpotências rivais atuaram constantemente para incidir sobre a política brasileira a fim de que ela tomasse rumos favoráveis a seus interesses.

Os “corações e mentes” dos intelectuais brasileiros foram um dos principais espaços em que se travou essa batalha. Em O segredo das senhoras americanas – intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural, novo livro publicado pela Editora UNESP, o sociólogo Marcelo Ridenti explora os detalhes das relações construídas por estadunidenses e soviéticos com luminares da produção científica e literária nacional.

Viagens à Europa ou aos Estados Unidos com tudo pago. Gordas bolsas de estudo. Espaço em publicações de prestígio internacional. Foram muitos os artifícios utilizados para fidelizar autores a um lado ou outro da disputa, ainda que nem sempre com sucesso.

Outras Palavras Editora UNESP sortearão 3 exemplares de O segredo das senhoras americanas – intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria Cultural, de Marcelo Ridenti. O formulário de participação será enviado por e-mail. As inscrições serão aceitas até quarta-feira, 17/08, às 14h.

Nem sempre com sucesso porque, como mostra o autor, os pensadores não eram joguetes na mão de potências estrangeiras, meros peões no tabuleiro do xadrez geopolítico. Os artistas e intelectuais têm seus próprios objetivos, que vão desde suas sinceras convicções políticas até o desejo de construir uma reputação. Cientes das questões em jogo, eles se servem dos “atalhos” do apoio institucional para alcançá-los.

Ridenti explora esquinas complexas e contraditórias sem recair em simplificações. Em um determinado momento, discute-se a aproximação de pensadores como Mário Pedrosa, Celso Furtado, Florestan Fernandes e Milton Santos das atividades do Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), posteriormente exposto como um braço da inteligência norte-americana. Seriam todos agentes do imperialismo? Não exatamente. Mário Pedrosa, por um lado, de fato levou suas posições anti-varguistas e anti-stalinistas até a defesa de uma aliança com o Ocidente liberal. Florestan, por outro, ao saber do financiamento norte-americana do CLC, escreveu: “desde que a CIA entre em um assunto, nós devemos estar fora” – posição de distanciamento que Furtado também tomou, mais discretamente.

Todos esses nomes, de um modo ou outro, são de intelectuais que associamos ao pensamento crítico. Ridenti explica que a direção internacional do CLC desenvolveu um arrojado plano de atração de nomes da esquerda acadêmica a fim de não permitir que se aproximassem da URSS. O autor mostra também que, com financiamento norte-americano, um grupo conhecido como Associação Universitária Interamericana (AUI) montou até mesmo um programa de bolsas de estágio em Harvard que levasse universitários brasileiros de esquerda para conhecer os EUA e se tornarem testemunhas “do saber, da democracia e da modernidade”. Nem tudo isso foi divulgado à época, o que abre margem para entendermos que nem todos sabiam que estavam participando de um programa que visava mais do que o simples intercâmbio acadêmico.

Do outro lado da Cortina de Ferro, a destacada atuação de autores como Jorge Amado e Pablo Neruda em órgãos como o Conselho Mundial da Paz os reduz a “teleguiados de Moscou” aos olhos da propaganda anticomunista. Como se vê no livro, nada poderia estar mais distante da verdade.

Tanto o baiano quanto o chileno eram comunistas convictos e “de carteirinha”. Exilados em Paris pela perseguição aos PCs em seus países, se uniram ao surrealista-comunista francês Louis Aragon no que viam pessoalmente como uma importante iniciativa de solidariedade internacionalista. 

Ao longo de seu engajamento com a luta pela paz, porém, os escritores viram crescer largamente o reconhecimento de sua obra literária, passando da fama nacional ao prestígio internacional. Os benefícios colhidos pelas diferentes partes são distintos, mas se conectam: a tarefa política conduz os militantes ao estrelato artístico. Ao movimento comunista internacional, em contrapartida, era de grande ajuda que os maiores escritores, poetas, pintores e dramaturgos do mundo fossem defensores sinceros de sua visão – Ridenti fala de um star system em oposição ao de Hollywood.

A obra do professor da UNICAMP ilumina novos detalhes de uma Guerra Fria que também se deu no campo cultural e que teve como atores não só os Estados Unidos e a União Soviética, mas também os intelectuais e artistas com seus projetos pessoais. Um trabalho de leitura agradável, daqueles em que cada página dá vontade de ler a próxima, e que elucida um ângulo interessante mas menos observado da história.                                           

Abrindo os trabalhos de nossa parceria com a editora UNESP, Outras Palavras sorteará três exemplares de O segredo das senhoras americanas – intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural entre os leitores que apoiam nosso jornalismo.

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