sexta-feira, 29 de agosto de 2008

ANOS DE CHUMBO - Cadáver assombra remanescentes da ditadura militar.

Identificação da ossada do espanhol Miguel Sabat Nuet, assassinado em uma cela do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) em 1973 em São Paulo, volta a assombrar as viúvas da Ditadura. Mais um desafio para o governo Lula, que se negou a revisar a Lei da Anistia. Comentário Político do sociólogo Cristóvão Feil.

Porto Alegre (RS) - Saiu nos jornais uma notícia que deve deixar preocupados os militares e policiais brasileiros que praticaram torturas e cometeram assassinatos durante a Ditadura Civil-Militar do período de 1964 - 1985 no Brasil. É que no mês de Abril passado, foi encontrada uma ossada humana numa vala comum de um cemitério em Perus, no Estado de São Paulo, lugar onde a Ditadura desovava seus cadáveres. Pois agora, a identidade do morto foi conseguida através de um exame de DNA, feito em sobra de material genético de um fêmur da vítima, que foi assassinada em uma cela do DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] paulista há 34 anos. Trata-se de um estrangeiro, o espanhol Miguel Sabat Nuet, nascido em Barcelona.

A Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República deve avisar a família de Nuet, se que é já não o fez, para a entrega da ossada e do seu translado. Como vocês podem ver, está criado um caso internacional que certamente ainda vai dar muito o que se comentar. Semanas atrás, nós ainda falamos aqui nesse espaço sobre a manifestação do juiz espanhol Baltazar Garzón, famoso por ter tentado fazer um julgamento na Espanha do ditador chileno Augusto Pinochet, quando este ainda vivia. No Brasil, o juiz Baltazar foi claro: se o Brasil não punir como criminosos comuns os torturadores da Ditadura, corre o risco de esta Ditadura ser reclamada pode qualquer outro país, cujo cidadão tenha sido vítima de violência do Estado no Brasil.

Esta aí pois, um prato cheio para que a família de Miguel Sabat Nuet exigir, por via judicial, explicações sobre a morte deste cidadão espanhol. E o governo brasileiro terá que buscar a verdade sobre a morte do estrangeiro nas dependências da polícia brasileira em São Paulo. Ao investigar a verdade, deverá descobrir os autores do assassinato do espanhol e em que condições ele foi morto Ato contínuo, terá que punir os responsáveis ou entregá-los às autoridades judiciais espanholas para que o façam.

De qualquer forma, sempre será um embaraço diplomático ao governo Lula, que insiste em cobrir este tema com o manto de chumbo do esquecimento. E o pior, insiste em carregar esqueletos cuja responsabilidade não pode e não deve assumir. Tudo porque não quer revisar o passado da Ditadura Militar e punir os seus malfeitores.
Pensem nisso, enquanto eu me despeço.
Até a próxima!
Cristóvão Feil é sociólogo e editor do blog Diário Gauche.

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