Por Mauro Santayana
Os bancos são úteis para os depósitos e transferências, mas os benefícios trazidos nestas atividades não são tão grandes a ponto de compensar os males que produzem
O presidente Juscelino Kubitschek rompeu com o Fundo Monetário Internacional há 50 anos. Muitos o acusaram de irresponsabilidade, alegando que o país quebraria. O Brasil não quebrou, e deu o grande salto, com a Petrobras, a construção de Brasília, as rodovias e as hidrelétricas. O reatamento com o Fundo, depois, deu-se em outro nível: mesmo os imperialistas sabem respeitar os que se fazem respeitar.
Ao contrário de Juscelino, o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso foi o mais submisso de todos os republicanos. Muitos observadores – este jornalista entre eles – mostraram que o Consenso de Washington consolidaria o assalto do Estado pelos banqueiros. O Brasil era o país perfeito para resistir ao projeto de Wall Street: suas leis não permitiam a pirataria financeira nem empréstimos privilegiados a empresas estrangeiras e defendiam a empresa brasileira, o sistema bancário, o subsolo, a água, a floresta e a navegação de cabotagem. O país tinha condições de dizer “não”. Mas o governo preferiu abrir todas as cancelas para os predadores. Fernando Henrique fez o Brasil agachar – e foi preciso eleger Lula para que voltasse a se levantar.
Estava claro, para quem se dispusesse a pensar um pouco, que a liberdade para o mercado financeiro, sedento por lucros cada vez maiores, levaria à recessão – mas grande parte dos meios de comunicação, azeitados pelos donos do dinheiro, disseram o contrário: que iríamos nos equiparar ao Primeiro Mundo em poucos meses. Ficamos expostos e enfrentamos várias crises financeiras naquele governo. Banqueiros de Wall Street, agindo em tempo real, organizaram o sistema criminoso mais sofisticado do mundo. Asfixiaram países inteiros, criando crises periódicas a fim de ganhar bilhões. Como a cobiça é sem limites, passaram a fazer o mesmo em seu próprio país.
“Os bancos são úteis para os depósitos e transferências, mas não vemos que os benefícios trazidos nestas atividades sejam tão grandes a ponto de compensar os males que produzem na artificiosa fundação da desigualdade da riqueza e, a partir disso, da igualmente manipulada desigualdade do poder. Se o presente sistema expandir-se e perpetuar-se, a grande massa do povo trabalhador pode perder toda esperança de adquirir qualquer propriedade.” Essa foi a conclusão da comissão de cidadãos de Filadélfia que, em 1829, examinou o comportamento dos banqueiros da Pensilvânia. Dela faziam parte empresários, advogados e dois dirigentes sindicais, William English e James Ronaldson.
Iniciava-se o governo do general Andrew Jackson, o primeiro presidente norte-americano que optaria pelos pobres contra os ricos e pelos agricultores e pequenos industriais contra os banqueiros. Jackson era de família pobre de imigrantes da Irlanda e não chegou a conhecer o pai. Adolescente, participou da guerra pela independência, e foi no exército que ascendeu socialmente. Chegara à Presidência contra quase todos. Os ricos não gostavam dele, os intelectuais o desprezavam, os políticos o viam como um brega. Autodidata, seu grande inimigo, John Quincy Adams, dizia que Jackson tinha dificuldades de soletrar o próprio nome. “Mas o povo gostava dele”, diria Roosevelt, no século seguinte.
E com razão: Jackson enfrentou banqueiros em favor do povo e se reelegeu. Houve uma grande crise bancária, mas os Estados Unidos saíram dela fortalecidos. Jackson deixou que os banqueiros quebrassem – e de sua quebra surgiu um sistema mais sadio. Esse sistema se abastardou com a criação do Banco Central dos Estados Unidos, em 1913. “Com a criação do FED (Sistema de Reserva Federal, o Banco Central deles), o sistema democrático norte-americano encontrou seus limites”, escreveu o analista William Greider, no grande livro sobre o banco (The Secrets of the Temple). Os banqueiros substituíram o povo para constituir os governos.
O desprezo dos arrogantes ao presidente Lula – que foi o primeiro a receber o importante Prêmio Quixote, na Espanha – faz lembrar a história do velho Jackson.
Fonte: Revista do Brasil.
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