Amy Goodman.
Cinquenta milhões de americanos não tem acesso a cuidados médicos e 25 milhões têm um seguro de saúde bastante limitado. Milhões de americanos em vias de serem despedidos vão em breve aumentar estas listas. As despesas com os cuidados médicos são o maior motivo de rupturas financeiras pessoais nos Estados Unidos.
Desesperados para obter cuidados médicos, aqueles que não têm seguro ou apenas um seguro limitado acorrem às urgências muitas vezes com problemas que poderiam ter sido evitados.
Os gigantes da indústria automóvel nos EUA estão à beira da falência, em parte devido aos custos elevados que despendem com seguros de saúde, ao mesmo tempo que têm de competir com empresas sediadas em países que prestam cuidados de saúde universais. O economista Dean Baker calculou como seria a General Motors se os seus custos com os cuidados de saúde fossem os mesmos que no Canadá: "A GM teria obtido lucros mais elevados, sem fazer qualquer alteração, lucros que seriam iguais a 22 mil milhões de dólares, apenas durante o última década. Desta maneira não teria de pedir a ajuda do governo." A GM é por vezes descrita como uma empresa de assistência médica que fabrica carros. O ex-presidente da Chrysler Lee Iacocca disse em 2005: "É um facto bem conhecido que a industria automóvel dos Estados Unidos gasta mais em assistência medica por cada carro, que no aço para fabricar os mesmos". Ele defende a implementação de um sistema nacional de saúde.
Barack Obama disse num discurso em 2007 que "o sistema universal de saúde acessível a todos os americanos não deveria ser uma questão de 'se', mas antes uma questão de 'como'". De quatro em quatro anos são oferecidos planos de assistência médica em campanhas publicitárias com grandes promessas. Mas no momento em que assume a presidência, os planos abatem-se sob o peso da política de Washington.
Franklin Delano Roosevelt, no seu discurso em Março de 1933, disse: "Não temos nada a temer, excepto o próprio medo... Esta nação exige que se faça algo, e agora". Durante a Grande Depressão, seguiu-se uma onda de políticas ambiciosas, que são descritas pelo editorialista do New York Times Adam Cohen no seu novo livro "Nada a temer."
Cohen escreve que Roosevelt desenvolveu o New Deal com consultores e membros-chave do seu gabinete, e alguns visionários que adoptaram politicas audazes, entre eles encontrava-se Frances Perkins, a primeira mulher a fazer parte de um governo nos Estados Unidos. Perkins, Secretária do Trabalho de Roosevelt, promoveu um programa de apoio nacional que lançou as bases do sistema de bem-estar, e também promoveu regulamentos sobre o salário mínimo, sobre o limite de horas de trabalho e a proibição do trabalho infantil.
Mas não conseguiu que fosse aprovada a assistência universal de cuidados de saúde. Cohen diz: "Ela era realmente a consciência do New Deal de muitas maneiras. Presidiu a comissão de Segurança Social. E queria ir mais longe, pretendia a inclusão de um seguro nacional de saúde, mas a AMA (Associação Médica Americana), era muito forte e opôs-se. Ela e outros congressistas afirmaram: "é melhor conformarmo-nos apenas com o que podemos alcançar". Desta maneira não quiseram perder todo o programa de Segurança Social.
Obama nomeou o ex-senador Tom Daschle como secretário de Saúde e Serviços Humanos, e como director do novo gabinete de Reforma da Saúde da Casa Branca. O livro de Daschle sobre o sistema de cuidados de saúde, "Critical", mostra-nos as tentativas ao longo da história de tentar implementar um sistema de saúde universal. Daschle escreve no seu livro:
"Assim como Clinton, Truman tinha razões para estar confiante. Os seus colegas democratas controlavam as duas câmaras do Congresso, as sondagens indicavam que os americanos estavam preocupados com a elevada despesa com os cuidados de saúde e estavam ansiosos por uma mudança. Mas ambos os presidentes subestimaram o poder das forças alinhadas contra eles: lóbis (grupos de pressão) com interesses especiais liderados quer por médicos na época de Truman, quer por seguradoras na época de Clinton."
Obama está familiarizado com o tema: a sua mãe, enquanto morria de cancro, lutava ainda contra a indústria dos seguros de saúde. Nesse discurso de 2007, Obama afirmou: "Os planos provisórios e as soluções a médio prazo fazem agora parte do passado. Não podemos dar-nos ao luxo de continuarmos esta farsa decepcionante. Outra área controversa que teremos de abordar é quanto da nossa despesa com cuidados de saúde faz parte dos lucros obtidos pelas indústrias farmacêuticas e de saúde."
No entanto, Daschel não propõe muito mais do que soluções temporárias: melhorar os programas Medicare, Medicaid e a Administração de saúde dos veteranos de guerra. Todos exemplos de um "sistema de saúde de pagamento único", onde o governo é o único que paga os cuidados de saúde, enquanto isso o governo mantém o modelo de seguro de saúde lucrativo, ineficiente e suportado pelos contribuintes. Em Dezembro de 2007, o Colégio dos Médicos dos Estados Unidos comparou o sistema de saúde americano com o de outros países, o seu relatório concluiu: "Os sistemas de pagador único geralmente têm a vantagem de serem mais justos, com menos custos administrativos que os sistemas que utilizam seguros de saúde privados, verificam-se menos gastos 'per capita' em saúde e elevados níveis de satisfação do consumidor e paciente"
Michael Moore, no seu filme "Sicko", inclui uma gravação de John Ehrlichman dirigindo-se a Richard Nixon, enquanto discutem os lucros das companhias de seguros. A gravação diz: "... [as empresas de seguros de saúde] ganham mais dinheiro, quanto menos assistência prestarem [aos pacientes]." Obama é o líder agora. Quem irá imitar? Nixon ou Roosevelt?
Pessoas de todo o espectro político e económico, desde as grandes empresas até ás pessoas comuns, estão a morrer de curiosidade para saber.
Amy Goodman é a apresentadora de "Democracy Now!", Um noticiário internacional, com a duração de uma hora que é emitido em inglês em mais de 550 emissoras de rádio e de televisão, e noutras 200 emissoras em espanhol. Em 2008 foi premiada com o "Right Livelihood Award", também conhecido como o "Prémio Nobel Alternativo", atribuído pelo Parlamento sueco em Dezembro.
Fonte: Esquerda.net
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