Ricardo Kotscho
Dei o título acima a este post apenas para demonstrar como é possível, a partir das mesmas informações, dar manchetes completamente diferentes, com o sinal trocado.
Os editores da Folha de S. Paulo preferiram destacar que “3º mandato de Lula divide o país _ Proposta tem o apoio de 47% e é rejeitada por 49%, revela Datafolha; popularidade do presidente sobe”.
Leitores desavisados sobre os critérios editoriais da nossa grande imprensa poderiam inferir, a partir da manchete da Folha, que a luta de Lula por um terceiro mandato estaria dividindo o país, como se esta proposta estivesse para ser votada no Congresso Nacional e dominasse as conversas nas ruas.
Como sabemos, não se trata de uma coisa nem de outra. Quase toda semana, como na última, faz anos que Lula descarta a possibilidade de um terceiro mandato.
E a tentativa feita quinta-feira por um deputado inexpressivo (Jackson Barreto, do PMDB-SE) para colocar o asssunto em discussão na Câmara não conseguiu o número mínimo exigido de assinaturas.
Pela enésima vez repito aqui no Balaio que esta história de terceiro mandato é uma bobagem levantada por áulicos e adversários do presidente Lula, nunca foi cogitada por ele. Ele é contra por uma questão de princípios, em respeito à democracia e ao que está escrito na lei, como eu também sou.
Em entrevista que fiz com ele para a revista Brasileiros, no final de 2007, reproduzida outro dia aqui no Balaio, perguntei-lhe se não aceitaria disputar a re-eleição nem se o povo pedisse e ele me respondeu categoricamente que não, não havia esta possibilidade.
Então, qual a razão da pesquisa, por que afirmar que o país está dividido em torno desta questão? Por acaso, pensou-se em fazer a mesma pesquisa na segunda metade do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso?
A resposta pode estar em outras questões levantadas pela pesquisa, mostrando que, apesar da crise econômica mundial e das suas consequências para a vida do brasileiro, da gripe suína, das enchentes e das secas, a popularidade do presidente não só não foi abalada como continua subindo, assim como as intenções de voto em sua candidata à reeleição, a ministra Dilma Roussef:
O que mostra o Datafolha:
* A avaliação do presidente Lula, na metade do seu sétimo ano de governo, chegou a 69%, no mesmo patamar de antes da crise financeira.
* Se pudesse ser candidato à re-reeleição, ganharia com folga de José Serra já no primeiro turno.
* A intenção de voto para presidente em Dilma Roussef subiu de 3%, em março de 2008, para 16% agora, passando Ciro Gomes e Heloísa Helena, enquanto o líder das pesquisas, José Serra, caiu de 41%, em março de 2009, para 38%, diminuindo em oito pontos a distância de um para outro.
Qualquer um destes resultados da pesquisa também poderia ter sido manchete da Folha, assim como o fato de que mais brasileiros agora apóiam um terceiro mandato para o presidente:
* Em 2007, 31% eram a favor e 65 contrários à mudança na lei para que Lula pudesse concorrer a um terceiro mandato; agora, há empate técnico: 47% são a favor e 49% contrários.
Por isso, acho que a minha manchete _ “Metade do eleitorado já apóia 3º mandato” _, modéstia à parte, seria jornalísticamente mais correta.
Somando tudo e passando-se a régua, a pouco mais de um ano do início oficial da campanha presidencial de 2010, entende-se porque a oposição resolveu jogar tudo na criação de uma CPI da Petrobras, enquanto continua agitando o fantasma do terceiro mandato.
Ou alguém honestamente pode imaginar que a oposição está mesmo interessada em investigar a administração da Petrobras para melhorar o desempenho da empresa e que ainda haveria tempo útil para alterar a lei permitindo a re-eleição do presidente Lula?
Parece ser tudo só uma disputa por manchetes _ e, neste campo, como vimos, cada um pode escolher a sua.
Fonte:Balaio do Kotscho
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
domingo, 31 de maio de 2009
VIOLÊNCIA E IMPUNIDADE NA AMÉRICA LATINA.
Mário Augusto Jakobskind
Passado o estresse do surto de influenza A, também conhecido em um primeiro momento como gripe suína, o México praticamente saiu do noticiário. Por lá nestes dias aconteceu um fato escabroso. Eliseo Barrón Hernández, repórter do jornal La Opinión, do grupo editorial Milenio, que cobria a área policial, foi retirado de sua casa por um grupo de oito sujeitos com o rosto coberto. No dia seguinte de manhã o corpo do jornalista apareceu no Estado de Durango com vários disparos de armas de fogo. Ainda no início do mês de maio outro comando armado assassinou, na mesma região, o jornalista Carlos Ortega, que trabalhava na publicação El Tiempo.
Hernández tinha feito a cobertura de um conflito interno na Direção de Segurança Pública Municipal de Torreón, no qual foram retirados de seus postos 302 policiais por perda de confiança. Em função disso, 20 agentes foram submetidos a investigações penais por extorsão e abuso de autoridade. O repórter ficou marcado pelos marginais do gênero acima de qualquer suspeita, mas não recebeu a proteção devida das autoridades.
O México, hoje sob a presidência de Felipe Calderón, é o segundo país da América Latina com mais assassinatos de jornalistas, estando a Colômbia em primeiro. Desde 1995 pelo menos 37 profissionais de imprensa foram assassinados no México, ficando impunes a maioria dos responsáveis pelos delitos.
Enquanto isso, na Argentina, país onde as autoridades pediram perdão publicamente ou reconheceram culpados em atos cometidos durante o regime militar, remanescentes desse período continuam agindo clandestinamente. É o que se pode depreender em função do desaparecimento de Orlando Argentino Gonzáles, que deveria apresentar na Procuradoria Federal denúncia sobre novas ameaças recebidas, que envolvem o ex-comissário Francisco Camilo Orce, um dos vários torturadores que está sendo processado e preso.
González é um sobrevivente do centro clandestino de detenção arsenal “Miguel de Azcuénaga”. Preso em maio de 1976, o hoje desaparecido desde o último dia 9, foi barbaramente torturado pelo então comissário Orce. González nunca foi militante político e se dedicava ao plantio de cana de açúcar. Foi preso e torturado porque tinha o mesmo nome de um outro opositor do regime ditatorial então vigente depois da derrubada da presidente constitucional Isabel Perón.
Esses fatos devem servir de reflexão em países como o Brasil, onde muitas autoridades e políticos tremem nas bases quando alguém lembra dos acontecimentos dos anos de chumbo e questiona a impunidade de muitos torturadores daquele período, que são defendidos por saudosistas daquela época de triste memória, entre os quais o deputado federal Jair Bolsonaro, que tem afixado na porta de seu gabinete em Brasília um cartaz ofensivo às vítimas da guerrilha do Araguaia, além de ser um boquirroto de baixo nível.
Na Argentina, no Uruguai, no Chile e no Paraguai, se um troglodita político tiver o mesmo comportamento de Bolsonaro, o referido estará com seus dias contados. Mais cedo ou mais tarde será chamado à razão e terá de responder judicialmente por prestar solidariedade a torturadores.
Por aqui, Bolsonaro e outros do gênero seguem fazendo das suas e não respondem pelos seus atos. No caso do deputado carioca, cabe ao presidente da Câmara, deputado Michel Temer abrir um procedimento investigativo sobre quebra de decoro parlamentar. Mas como Temer é movido à mídia, vai depender muito de como os jornais vão noticiar o procedimento de Bolsonaro para que o presidente da Câmara dos Deputados decida fazer alguma coisa.
A propósito do Congresso e de cobertura midiática, o Senador José Sarney apresentou ao vivo e a cores uma de suas facetas já não tão ocultas. Ele recebia auxílio moradia de uns 3 mil reais mensais, embora resida em Brasília num palacete próprio. Descoberta a vantagem indevida, Sarney vem a público para reconhecer o erro. Ora, ora, o senador acha que engana a quem? Muitos brasileiros não recebem essa quantia mensal de salário, mas Sarney nem tinha percebido o seu contra cheque mais gordo. Como diz a voz do povo: me engana que eu gosto...
Em tempo: a Globovision da Venezuela colocou uma figura no ar para dizer que Hugo Chávez será enforcado como Mussolini. A Sociedade Interamericana de Imprensa já ligou todas as suas baterias para defender a emissora de TV que, segundo a entidade patronal, está ameaçada por Chávez. O que acham os leitores?
Fonte:Direto da Redação.
Passado o estresse do surto de influenza A, também conhecido em um primeiro momento como gripe suína, o México praticamente saiu do noticiário. Por lá nestes dias aconteceu um fato escabroso. Eliseo Barrón Hernández, repórter do jornal La Opinión, do grupo editorial Milenio, que cobria a área policial, foi retirado de sua casa por um grupo de oito sujeitos com o rosto coberto. No dia seguinte de manhã o corpo do jornalista apareceu no Estado de Durango com vários disparos de armas de fogo. Ainda no início do mês de maio outro comando armado assassinou, na mesma região, o jornalista Carlos Ortega, que trabalhava na publicação El Tiempo.
Hernández tinha feito a cobertura de um conflito interno na Direção de Segurança Pública Municipal de Torreón, no qual foram retirados de seus postos 302 policiais por perda de confiança. Em função disso, 20 agentes foram submetidos a investigações penais por extorsão e abuso de autoridade. O repórter ficou marcado pelos marginais do gênero acima de qualquer suspeita, mas não recebeu a proteção devida das autoridades.
O México, hoje sob a presidência de Felipe Calderón, é o segundo país da América Latina com mais assassinatos de jornalistas, estando a Colômbia em primeiro. Desde 1995 pelo menos 37 profissionais de imprensa foram assassinados no México, ficando impunes a maioria dos responsáveis pelos delitos.
Enquanto isso, na Argentina, país onde as autoridades pediram perdão publicamente ou reconheceram culpados em atos cometidos durante o regime militar, remanescentes desse período continuam agindo clandestinamente. É o que se pode depreender em função do desaparecimento de Orlando Argentino Gonzáles, que deveria apresentar na Procuradoria Federal denúncia sobre novas ameaças recebidas, que envolvem o ex-comissário Francisco Camilo Orce, um dos vários torturadores que está sendo processado e preso.
González é um sobrevivente do centro clandestino de detenção arsenal “Miguel de Azcuénaga”. Preso em maio de 1976, o hoje desaparecido desde o último dia 9, foi barbaramente torturado pelo então comissário Orce. González nunca foi militante político e se dedicava ao plantio de cana de açúcar. Foi preso e torturado porque tinha o mesmo nome de um outro opositor do regime ditatorial então vigente depois da derrubada da presidente constitucional Isabel Perón.
Esses fatos devem servir de reflexão em países como o Brasil, onde muitas autoridades e políticos tremem nas bases quando alguém lembra dos acontecimentos dos anos de chumbo e questiona a impunidade de muitos torturadores daquele período, que são defendidos por saudosistas daquela época de triste memória, entre os quais o deputado federal Jair Bolsonaro, que tem afixado na porta de seu gabinete em Brasília um cartaz ofensivo às vítimas da guerrilha do Araguaia, além de ser um boquirroto de baixo nível.
Na Argentina, no Uruguai, no Chile e no Paraguai, se um troglodita político tiver o mesmo comportamento de Bolsonaro, o referido estará com seus dias contados. Mais cedo ou mais tarde será chamado à razão e terá de responder judicialmente por prestar solidariedade a torturadores.
Por aqui, Bolsonaro e outros do gênero seguem fazendo das suas e não respondem pelos seus atos. No caso do deputado carioca, cabe ao presidente da Câmara, deputado Michel Temer abrir um procedimento investigativo sobre quebra de decoro parlamentar. Mas como Temer é movido à mídia, vai depender muito de como os jornais vão noticiar o procedimento de Bolsonaro para que o presidente da Câmara dos Deputados decida fazer alguma coisa.
A propósito do Congresso e de cobertura midiática, o Senador José Sarney apresentou ao vivo e a cores uma de suas facetas já não tão ocultas. Ele recebia auxílio moradia de uns 3 mil reais mensais, embora resida em Brasília num palacete próprio. Descoberta a vantagem indevida, Sarney vem a público para reconhecer o erro. Ora, ora, o senador acha que engana a quem? Muitos brasileiros não recebem essa quantia mensal de salário, mas Sarney nem tinha percebido o seu contra cheque mais gordo. Como diz a voz do povo: me engana que eu gosto...
Em tempo: a Globovision da Venezuela colocou uma figura no ar para dizer que Hugo Chávez será enforcado como Mussolini. A Sociedade Interamericana de Imprensa já ligou todas as suas baterias para defender a emissora de TV que, segundo a entidade patronal, está ameaçada por Chávez. O que acham os leitores?
Fonte:Direto da Redação.
CLIMA - ONU considera plano climático de Obama insuficiente.
O plano climático norte-americano não é ambicioso o suficiente para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), declarou ontem em entrevista à Reuters o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. Ban saudou o compromisso do Presidente Barack Obama para com as alterações climáticas mas disse que outros países estão a fazer mais. Além disso, acrescentou, o mundo não pode esperar que os Estados Unidos aprovem a sua legislação climática sob pena de pôr em causa o novo protocolo que vai substituir Quioto, que expira em 2012, numa conferência em Dezembro, em Copenhaga.
Quando lhe perguntaram se já pressionou Washington a fazer mais, Ban respondeu: “isso é o que tenho estado a fazer e é o que continuarei a fazer”.
Na quinta-feira passada, foi aprovada pelo Comité de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes o projecto-lei Waxman-Markey para reduzir os GEE norte-americanos em 17 por cento, a níveis de 2005, até 2020. “Isto é, claramente, mais baixo do que as metas de outros países, especialmente na União Europeia”, comentou Ban.
“Reconheço aquilo que o Presidente Obama e a sua administração têm feito. Mas precisamos de continuar a encorajar os Estados Unidos a fazer mais”, disse o responsável.
Ontem em entrevista à AFP, o enviado especial Americano para o clima, Todd Stern, reconheceu que os compromissos do seu país irão “tão longe” quanto possível, tendo em conta o seu sistema político e a necessidade de contar com o apoio do Congresso.
A aprovação conseguida na quinta-feira aproximou o plano climático de Obama de uma aprovação final pela Câmara dos Representantes, o que poderá acontecer em Agosto. No entanto, ainda é incerto se o plano vai ser aprovado pelo Senado até Dezembro.
“Não deverá existir nenhum condicionalismo a este protocolo global em Copenhaga”, disse Ban, depois de ter dito aos jornalistas que um acordo em Dezembro “não é uma opção”.
A organização ecologista Greenpeace considera que este projecto-lei foi “drasticamente enfraquecido” em nome dos interesses das indústrias que queimam combustíveis fósseis e por outros grandes poluidores. “Esta lei cedeu aos interesses políticos e à pressão da indústria”, comentou Phil Radford, director-executivo da Greenpeace norte-americana.
Uma cimeira climática da Assembleia Geral da ONU, em Setembro, será o maior fórum sobre a questão e “criticamente importante” para que os líderes mundiais resolvam as suas diferenças. “Vou tentar fazer deste debate o fórum mais interactivo para que os líderes possam experimentar o compromisso e o olhar em conjunto para o futuro, enquanto planeta Terra”, acrescentou.
O sentido de emergência também foi sublinhado hoje pela França. Muito provavelmente, o “destino do mundo” será decidido na conferência de Copenhaga, em Dezembro, considerou hoje o ministro francês da Ecologia, Jean-Louis Borloo, na abertura do Fórum das Maiores Economias (MEF, sigla em inglês), que reúne os maiores emissores de CO2 (dióxido de carbono) do mundo.
Hoje foi revelada mais uma evidência das alterações climáticas. Um estudo apresentado em Paris pela Organização Internacional da Saúde Animal (OIE) concluiu que as alterações climáticas têm uma "incidência notável" na emergência e reaparecimento de doenças animais, algumas transmissíveis ao homem.
As três doenças emergentes mais citadas pelos países membros da OIE são a doença da língua azul, a febre do Vale do Rift e o vírus do Nilo Ocidental.
Segundo o estudo, 71 por cento dos 126 países que participaram "declararam estar extremamente preocupados com o impacto esperado das alterações climáticas nas doenças animais".
Para enfrentar a ameaça, os 174 Estados membros da OIE defenderam o reforço dos meios de comunicação para "prevenir ou reduzir os efeitos das alterações climáticas na produção animal e nas doenças, incluindo as transmissíveis ao homem", segundo um comunicado da OIE.
Fonte: Público/Ecoblogue.
Quando lhe perguntaram se já pressionou Washington a fazer mais, Ban respondeu: “isso é o que tenho estado a fazer e é o que continuarei a fazer”.
Na quinta-feira passada, foi aprovada pelo Comité de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes o projecto-lei Waxman-Markey para reduzir os GEE norte-americanos em 17 por cento, a níveis de 2005, até 2020. “Isto é, claramente, mais baixo do que as metas de outros países, especialmente na União Europeia”, comentou Ban.
“Reconheço aquilo que o Presidente Obama e a sua administração têm feito. Mas precisamos de continuar a encorajar os Estados Unidos a fazer mais”, disse o responsável.
Ontem em entrevista à AFP, o enviado especial Americano para o clima, Todd Stern, reconheceu que os compromissos do seu país irão “tão longe” quanto possível, tendo em conta o seu sistema político e a necessidade de contar com o apoio do Congresso.
A aprovação conseguida na quinta-feira aproximou o plano climático de Obama de uma aprovação final pela Câmara dos Representantes, o que poderá acontecer em Agosto. No entanto, ainda é incerto se o plano vai ser aprovado pelo Senado até Dezembro.
“Não deverá existir nenhum condicionalismo a este protocolo global em Copenhaga”, disse Ban, depois de ter dito aos jornalistas que um acordo em Dezembro “não é uma opção”.
A organização ecologista Greenpeace considera que este projecto-lei foi “drasticamente enfraquecido” em nome dos interesses das indústrias que queimam combustíveis fósseis e por outros grandes poluidores. “Esta lei cedeu aos interesses políticos e à pressão da indústria”, comentou Phil Radford, director-executivo da Greenpeace norte-americana.
Uma cimeira climática da Assembleia Geral da ONU, em Setembro, será o maior fórum sobre a questão e “criticamente importante” para que os líderes mundiais resolvam as suas diferenças. “Vou tentar fazer deste debate o fórum mais interactivo para que os líderes possam experimentar o compromisso e o olhar em conjunto para o futuro, enquanto planeta Terra”, acrescentou.
O sentido de emergência também foi sublinhado hoje pela França. Muito provavelmente, o “destino do mundo” será decidido na conferência de Copenhaga, em Dezembro, considerou hoje o ministro francês da Ecologia, Jean-Louis Borloo, na abertura do Fórum das Maiores Economias (MEF, sigla em inglês), que reúne os maiores emissores de CO2 (dióxido de carbono) do mundo.
Hoje foi revelada mais uma evidência das alterações climáticas. Um estudo apresentado em Paris pela Organização Internacional da Saúde Animal (OIE) concluiu que as alterações climáticas têm uma "incidência notável" na emergência e reaparecimento de doenças animais, algumas transmissíveis ao homem.
As três doenças emergentes mais citadas pelos países membros da OIE são a doença da língua azul, a febre do Vale do Rift e o vírus do Nilo Ocidental.
Segundo o estudo, 71 por cento dos 126 países que participaram "declararam estar extremamente preocupados com o impacto esperado das alterações climáticas nas doenças animais".
Para enfrentar a ameaça, os 174 Estados membros da OIE defenderam o reforço dos meios de comunicação para "prevenir ou reduzir os efeitos das alterações climáticas na produção animal e nas doenças, incluindo as transmissíveis ao homem", segundo um comunicado da OIE.
Fonte: Público/Ecoblogue.
KAIOWÁ GUARANI: rompendo cercas e cadeados.
por Michelle Amaral da Silva
Parece que a lei privada do agronegócio está acima da Constituição Federal, no livre direito de "ir e vir"
Egon Heck
Uma das questões que mais causaram indignação e revolta aos integrantes da Caravana de Solidariedade aos Kaiowá Guarani foi a estratégia do agronegócio de isolar a comunidade indígena, impedindo o acesso a ela, obrigando adultos e crianças da comunidade a deslocamentos a pé para ir à escola, receber atendimento à saúde ou mesmo receber o parco alimento da cesta básica. E o mais grave é a negação do acesso ao próprio órgão de assistência do governo federal, a Funai. Parece que a lei privada do agronegócio está acima da Constituição Federal, no livre direito de "ir e vir". "Vamos quebrar esses cadeados da vergonha, entrando com uma ação na justiça", disse Dr. Odete, no sindicato dos trabalhadores rurais de Rio Brilhante.
Os fazendeiros, que se dizem proprietários das terras em que está a comunidade Kaiowá Guarani de Laranjeira Nhanderu, ostentam papéis que dizem ser títulos de propriedade de 1847, portanto quando ali ainda era o Paraguai. Só resta a pergunta que alguns indígenas fizeram a zelosos proprietários: "gostaríamos de saber se os senhores conseguiram assinatura de Deus, pois para nós a terra foi feita por Deus para todos e ele deve ter se negado a assinar qualquer título de propriedade". "Malditas cercas do latifúndio", diria D. Pedro Casaldaliga, que, em seus mais de 80 anos de existência, lutou e continua lutando para romper as cercas do racismo, do preconceito, da acumulação e exclusão, da dominação, da exploração e de todas as formas de injustiça.
Os Kaiowá Guarani continuam isolados pelas cercas e cadeados, até quando?
Os ideólogos do confinamento
Para justificar o processo de espoliação das terras e recursos naturais dos Guarani, nessa história de cinco séculos de invasão, não faltam os ideólogos de plantão que se prestam, certamente com régias compensações, a justificar a infâmia do confinamento a que estão submetidos os Guarani.
Vejamos o que vem difundindo um deles, referindo-se ao atual processo de identificação das terras Guarani no Mato Grosso do Sul, criando o fantasma da criação de uma "Nação Guarani". D. Rosenfield, em recente publicação, diz: "A nação guarani não está, porém, restrita a esses estados brasileiros, mas se estende a outros países: Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Segundo eles, a Bolívia já trilha esse caminho político, necessitando apenas ser apoiada no que vem fazendo, destruindo, na verdade, as frágeis instituições daquele país. O foco, aqui, seria o Paraguai, onde o processo se inicia com um presidente simpatizante da ‘causa’ e que, via Teologia da Libertação, compartilha com os mesmos pressupostos teóricos do Cimi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do MST. Entende-se, portanto, melhor a sustentação dessas agremiações políticas ao presidente Lugo e a política adotada de apoio às invasões das terras dos brasiguaios" ("A Nação Guarani", D, Rosenfield, Estadão on line, 25/05/09).
Nessa mesma direção vão as afirmações de setores militares e políticos, na tentativa de negar os direitos dos povos indígenas a viver com dignidade e paz em suas terras.
Egon Heck é coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-MS).
Fonte:Brasil de Fato.
Parece que a lei privada do agronegócio está acima da Constituição Federal, no livre direito de "ir e vir"
Egon Heck
Uma das questões que mais causaram indignação e revolta aos integrantes da Caravana de Solidariedade aos Kaiowá Guarani foi a estratégia do agronegócio de isolar a comunidade indígena, impedindo o acesso a ela, obrigando adultos e crianças da comunidade a deslocamentos a pé para ir à escola, receber atendimento à saúde ou mesmo receber o parco alimento da cesta básica. E o mais grave é a negação do acesso ao próprio órgão de assistência do governo federal, a Funai. Parece que a lei privada do agronegócio está acima da Constituição Federal, no livre direito de "ir e vir". "Vamos quebrar esses cadeados da vergonha, entrando com uma ação na justiça", disse Dr. Odete, no sindicato dos trabalhadores rurais de Rio Brilhante.
Os fazendeiros, que se dizem proprietários das terras em que está a comunidade Kaiowá Guarani de Laranjeira Nhanderu, ostentam papéis que dizem ser títulos de propriedade de 1847, portanto quando ali ainda era o Paraguai. Só resta a pergunta que alguns indígenas fizeram a zelosos proprietários: "gostaríamos de saber se os senhores conseguiram assinatura de Deus, pois para nós a terra foi feita por Deus para todos e ele deve ter se negado a assinar qualquer título de propriedade". "Malditas cercas do latifúndio", diria D. Pedro Casaldaliga, que, em seus mais de 80 anos de existência, lutou e continua lutando para romper as cercas do racismo, do preconceito, da acumulação e exclusão, da dominação, da exploração e de todas as formas de injustiça.
Os Kaiowá Guarani continuam isolados pelas cercas e cadeados, até quando?
Os ideólogos do confinamento
Para justificar o processo de espoliação das terras e recursos naturais dos Guarani, nessa história de cinco séculos de invasão, não faltam os ideólogos de plantão que se prestam, certamente com régias compensações, a justificar a infâmia do confinamento a que estão submetidos os Guarani.
Vejamos o que vem difundindo um deles, referindo-se ao atual processo de identificação das terras Guarani no Mato Grosso do Sul, criando o fantasma da criação de uma "Nação Guarani". D. Rosenfield, em recente publicação, diz: "A nação guarani não está, porém, restrita a esses estados brasileiros, mas se estende a outros países: Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Segundo eles, a Bolívia já trilha esse caminho político, necessitando apenas ser apoiada no que vem fazendo, destruindo, na verdade, as frágeis instituições daquele país. O foco, aqui, seria o Paraguai, onde o processo se inicia com um presidente simpatizante da ‘causa’ e que, via Teologia da Libertação, compartilha com os mesmos pressupostos teóricos do Cimi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do MST. Entende-se, portanto, melhor a sustentação dessas agremiações políticas ao presidente Lugo e a política adotada de apoio às invasões das terras dos brasiguaios" ("A Nação Guarani", D, Rosenfield, Estadão on line, 25/05/09).
Nessa mesma direção vão as afirmações de setores militares e políticos, na tentativa de negar os direitos dos povos indígenas a viver com dignidade e paz em suas terras.
Egon Heck é coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-MS).
Fonte:Brasil de Fato.
PARA VOLTAR AO PODER, PSDB APOSTA ATÉ NA NEUROCIÊNCIA.
O Serra que conheci quando presidente da UNE e militante do movimento Ação Popular não existe mais. Parece ter esquecido sua biografia e antigas idéias.Passou a defender as bandeiras do DEM que representam o que há de mais reacionário a atrasado na política brasileira.Assim vai ser mais difícil ocupar o Palácio do Planalto.
Carlos Dória
Julia Duailibi
Na busca por uma agenda que neutralize a propaganda governista em 2010 e evite a terceira derrota consecutiva em eleição presidencial, o PSDB começou a calibrar seu discurso, baseado em análises de especialistas em "psique" eleitoral e em célebres estrategistas estrangeiros que defendem a emoção como fator determinante na política. A ideia é engavetar o lema da "gerência", usado na campanha de 2006, e focar na defesa de projetos e iniciativas sociais.
Há cerca de três meses, os tucanos contrataram o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor de A Cabeça do Brasileiro e Por que Lula?, para fazer pesquisas que deem um diagnóstico sobre o que o eleitor deseja na próxima disputa. Almeida já produziu duas análises para o PSDB, que foram submetidas à direção do partido e a seus parlamentares. Essas informações têm servido de ponto de partida para a formatação de um discurso que atinja grande parte do eleitor que aprova o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
(Comentário meu:esse Alberto Carlos é o mesmo escolhido pela Veja para fundamentar sua matéria segregacionista, ao publicar que a elite é ética e o povo não.Parece desconhecer a realidade brasileira, onde os pobres procuram sempre pagar suas dívidas e devolver achados que não são seus.)
O partido também começou a flertar com as ideias do neurocientista americano Drew Westen, da Emory University, em Atlanta. Suas teses influenciaram a campanha democrata de Barack Obama em 2008. Autor do best-seller The Political Brain, ele foi convidado pelo Instituto Teotônio Vilela, ligado aos tucanos, para dar palestra, em março, que deixou deslumbrados os políticos do partido.
EMOÇÃO
Para Westen, os democratas americanos mais perderam eleições do que ganharam nos últimos 30 anos porque apelaram muito à razão. Com base em pesquisas que mapearam o cérebro, ele questiona o racionalismo extremo, surgido com o Iluminismo no século 18. O seu principal estudo, divulgado em 2006, conclui que o eleitor responde de forma emocional quando provocado. Westen confrontou eleitores democratas e republicanos com declarações contraditórias dos seus candidatos. Ao defendê-los, áreas do cérebro relacionadas à razão não respondiam. Já as envolvidas com a emoção apresentavam grande atividade.
Eduardo Graeff, cientista político e secretário-geral da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado no Estado antes das eleições municipais de 2008, chamou a atenção dos tucanos para as teses de Westen. "Não basta ter valores. É preciso pregá-los sem medo de ser repetitivo e traduzi-los em declarações de princípio que mostrem ao eleitor que o candidato conhece seus problemas", afirmou.
Assim como Westen, o marqueteiro americano Dick Morris, que trabalhou com o ex-presidente americano Bill Clinton a partir de sua posse em 1993, também tem sido "revisitado" na corrida pela formulação do novo discurso. É dele a estratégia usada por Clinton de se apropriar de parte do discurso dos republicanos e mixá-lo com tradicionais bandeiras democratas para ganhar popularidade.
EFICIÊNCIA
Essas propostas têm encontrado eco entre os tucanos. Para vencer, o PSDB terá de lapidar o discurso para atrair boa parte do eleitorado que recebe o Bolsa-Família e tende a votar no candidato do governo. Mesmo com a avaliação corrente de que grotões do Nordeste vão mesmo ficar com o candidato de Lula e que o partido deve tirar a desvantagem no Sul e Sudeste.
"O discurso da eficiência para o eleitorado pouco escolarizado empolga muito pouco. O PT tem uma melhor capacidade de falar com esse eleitor. É mais eficiente nisso", afirmou o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisa e Comunicação (Cepac).
As pesquisas em mãos dos tucanos mostram que o Bolsa-Família - que atinge 11 milhões de famílias e é a principal marca social do governo Lula - não pode ser atacado, mas, sim, ampliado. Essa estratégia já apareceu em encontro do PSDB, no mês passado, na Paraíba, quando até foram defendidas conquistas sociais do governo Lula.
A avaliação de especialistas é que Lula começou a ganhar a eleição depois que parou de demonizar o Plano Real e passou a defender o controle da inflação, o que acabou explicitado na Carta ao Povo Brasileiro, assinada por ele em 2002. A mesma lógica, dizem, serviria para a defesa do Bolsa-Família por parte dos políticos tucanos.
"Tanto José Serra (governador de São Paulo e presidenciável do partido) quanto Aécio (Neves, governador de Minas e outro presidenciável) deixaram de criticar Lula pelo lado social. Falam de política monetária, mas não da social. Bater em Lula pode fazer com que percam votos. E eles precisam chegar a um eleitorado que está contente com Lula", afirmou o cientista político, Marco Antonio Teixeira, professor da FGV-SP.
Para Figueiredo, a tentativa de vender o Bolsa-Família como uma iniciativa originada no Bolsa-Escola, implantado no governo FHC, não tem reflexos práticos no eleitorado. "A paternidade já é do Lula. Para fazer frente a isso, teria de colocar em pauta algo como o Bolsa-Família. Hoje eu não vejo o que poderia ser", declarou.
Em algumas pesquisas, as pessoas chegam a mencionar as iniciativas feitas por Serra na época em que era ministro da Saúde do governo FHC, como os mutirões contra cataratas e os genéricos. "O genérico é um bom programa. Mas mais consumo e mais crédito é melhor", completou Figueiredo.
A formatação do discurso, no entanto, pode empobrecer o debate eleitoral. "Quando se foca a discussão, questões importantes deixam de ser debatidas, como as reformas da Previdência e a tributária. E o que o eleitor tradicional do PSDB espera é justamente discutir isso. Pode até acabar frustrando o eleitorado", disse Teixeira.
TUCANOS PETISTAS
De acordo com as sondagens, 45% do eleitorado, ou seja, cerca de 58 milhões de pessoas, votariam tanto no PT como no PSDB. Esse eleitor diz acreditar na importância da ajuda do governo para melhorar de vida. O desafio, portanto, é elaborar o discurso. A maior parte dele (57%) está na classe C e ascendeu economicamente graças ao crédito e ao acesso a mais bens de consumo nos últimos anos.
As pesquisas também mostram que não adianta apostar, mais uma vez, no lema da estabilidade econômica, bandeira dos tucanos - o Real foi implementado em 1993, quando Fernando Henrique era ministro da Fazenda. O eleitor associa o fim da inflação a uma conquista irreversível, mas que ficou lá atrás. Além disso, a maioria acha que a moeda estável foi conquista de Lula. Em 2007, pesquisa Estado/Ipsos mostrou que, para 67% dos brasileiros, Lula é o maior responsável pela estabilidade.
Fonte: O Estadão.
Carlos Dória
Julia Duailibi
Na busca por uma agenda que neutralize a propaganda governista em 2010 e evite a terceira derrota consecutiva em eleição presidencial, o PSDB começou a calibrar seu discurso, baseado em análises de especialistas em "psique" eleitoral e em célebres estrategistas estrangeiros que defendem a emoção como fator determinante na política. A ideia é engavetar o lema da "gerência", usado na campanha de 2006, e focar na defesa de projetos e iniciativas sociais.
Há cerca de três meses, os tucanos contrataram o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor de A Cabeça do Brasileiro e Por que Lula?, para fazer pesquisas que deem um diagnóstico sobre o que o eleitor deseja na próxima disputa. Almeida já produziu duas análises para o PSDB, que foram submetidas à direção do partido e a seus parlamentares. Essas informações têm servido de ponto de partida para a formatação de um discurso que atinja grande parte do eleitor que aprova o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
(Comentário meu:esse Alberto Carlos é o mesmo escolhido pela Veja para fundamentar sua matéria segregacionista, ao publicar que a elite é ética e o povo não.Parece desconhecer a realidade brasileira, onde os pobres procuram sempre pagar suas dívidas e devolver achados que não são seus.)
O partido também começou a flertar com as ideias do neurocientista americano Drew Westen, da Emory University, em Atlanta. Suas teses influenciaram a campanha democrata de Barack Obama em 2008. Autor do best-seller The Political Brain, ele foi convidado pelo Instituto Teotônio Vilela, ligado aos tucanos, para dar palestra, em março, que deixou deslumbrados os políticos do partido.
EMOÇÃO
Para Westen, os democratas americanos mais perderam eleições do que ganharam nos últimos 30 anos porque apelaram muito à razão. Com base em pesquisas que mapearam o cérebro, ele questiona o racionalismo extremo, surgido com o Iluminismo no século 18. O seu principal estudo, divulgado em 2006, conclui que o eleitor responde de forma emocional quando provocado. Westen confrontou eleitores democratas e republicanos com declarações contraditórias dos seus candidatos. Ao defendê-los, áreas do cérebro relacionadas à razão não respondiam. Já as envolvidas com a emoção apresentavam grande atividade.
Eduardo Graeff, cientista político e secretário-geral da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado no Estado antes das eleições municipais de 2008, chamou a atenção dos tucanos para as teses de Westen. "Não basta ter valores. É preciso pregá-los sem medo de ser repetitivo e traduzi-los em declarações de princípio que mostrem ao eleitor que o candidato conhece seus problemas", afirmou.
Assim como Westen, o marqueteiro americano Dick Morris, que trabalhou com o ex-presidente americano Bill Clinton a partir de sua posse em 1993, também tem sido "revisitado" na corrida pela formulação do novo discurso. É dele a estratégia usada por Clinton de se apropriar de parte do discurso dos republicanos e mixá-lo com tradicionais bandeiras democratas para ganhar popularidade.
EFICIÊNCIA
Essas propostas têm encontrado eco entre os tucanos. Para vencer, o PSDB terá de lapidar o discurso para atrair boa parte do eleitorado que recebe o Bolsa-Família e tende a votar no candidato do governo. Mesmo com a avaliação corrente de que grotões do Nordeste vão mesmo ficar com o candidato de Lula e que o partido deve tirar a desvantagem no Sul e Sudeste.
"O discurso da eficiência para o eleitorado pouco escolarizado empolga muito pouco. O PT tem uma melhor capacidade de falar com esse eleitor. É mais eficiente nisso", afirmou o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisa e Comunicação (Cepac).
As pesquisas em mãos dos tucanos mostram que o Bolsa-Família - que atinge 11 milhões de famílias e é a principal marca social do governo Lula - não pode ser atacado, mas, sim, ampliado. Essa estratégia já apareceu em encontro do PSDB, no mês passado, na Paraíba, quando até foram defendidas conquistas sociais do governo Lula.
A avaliação de especialistas é que Lula começou a ganhar a eleição depois que parou de demonizar o Plano Real e passou a defender o controle da inflação, o que acabou explicitado na Carta ao Povo Brasileiro, assinada por ele em 2002. A mesma lógica, dizem, serviria para a defesa do Bolsa-Família por parte dos políticos tucanos.
"Tanto José Serra (governador de São Paulo e presidenciável do partido) quanto Aécio (Neves, governador de Minas e outro presidenciável) deixaram de criticar Lula pelo lado social. Falam de política monetária, mas não da social. Bater em Lula pode fazer com que percam votos. E eles precisam chegar a um eleitorado que está contente com Lula", afirmou o cientista político, Marco Antonio Teixeira, professor da FGV-SP.
Para Figueiredo, a tentativa de vender o Bolsa-Família como uma iniciativa originada no Bolsa-Escola, implantado no governo FHC, não tem reflexos práticos no eleitorado. "A paternidade já é do Lula. Para fazer frente a isso, teria de colocar em pauta algo como o Bolsa-Família. Hoje eu não vejo o que poderia ser", declarou.
Em algumas pesquisas, as pessoas chegam a mencionar as iniciativas feitas por Serra na época em que era ministro da Saúde do governo FHC, como os mutirões contra cataratas e os genéricos. "O genérico é um bom programa. Mas mais consumo e mais crédito é melhor", completou Figueiredo.
A formatação do discurso, no entanto, pode empobrecer o debate eleitoral. "Quando se foca a discussão, questões importantes deixam de ser debatidas, como as reformas da Previdência e a tributária. E o que o eleitor tradicional do PSDB espera é justamente discutir isso. Pode até acabar frustrando o eleitorado", disse Teixeira.
TUCANOS PETISTAS
De acordo com as sondagens, 45% do eleitorado, ou seja, cerca de 58 milhões de pessoas, votariam tanto no PT como no PSDB. Esse eleitor diz acreditar na importância da ajuda do governo para melhorar de vida. O desafio, portanto, é elaborar o discurso. A maior parte dele (57%) está na classe C e ascendeu economicamente graças ao crédito e ao acesso a mais bens de consumo nos últimos anos.
As pesquisas também mostram que não adianta apostar, mais uma vez, no lema da estabilidade econômica, bandeira dos tucanos - o Real foi implementado em 1993, quando Fernando Henrique era ministro da Fazenda. O eleitor associa o fim da inflação a uma conquista irreversível, mas que ficou lá atrás. Além disso, a maioria acha que a moeda estável foi conquista de Lula. Em 2007, pesquisa Estado/Ipsos mostrou que, para 67% dos brasileiros, Lula é o maior responsável pela estabilidade.
Fonte: O Estadão.
REFLEXÕES DE FIDEL- A tortura jamais deve ser justificada.
NO domingo, enquanto dava os ultimos retoques à Reflexão sobre o Haiti, assistia pela televisão a comemoração da Batalha de Pichincha, que teve lugar no Equador há 187 anos, em 24 de maio de 1822. A música que acompanhava a atividade era muito bonita e atraente.
Parei para observar os vistosos uniformes de época e outros pormenores da comemoração.
Quantas lembranças comoventes em torno da heróica batalha que decidiu a independência do Equador! Os ideais e sonhos da época estavam presentes naquele ato. Junto ao presidente do Equador, Rafael Correa, estavam como convidados de honra Hugo Chávez e Evo Morales — que hoje repoduzem os anseios de independência e justiça pelos quais lutaram e morreram os patriotas latino-americanos. Sucre foi o protagonista da imortal façanha, impelida pelos sonhos de Bolívar.
Aquela luta ainda não acabou. Ressurge em condições bem diferentes, talvez nem sequer sonhadas nesse tempo.
Veio a minha memória a versão de um discurso de Dick Cheney, que li no sábado, sobre Segurança Nacional, proferido na quinta-feira, às 11h20, no Instituto de Empresas Estadunidenses e transmitido pela CNN em espanhol e CNN em inglês. Foi uma resposta ao discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, proferido às 10h27 do mesmo dia sobre o mesmo assunto, ao qual acrescentava uma explicação sobre o fechamento da prisão de Guantánamo. Eu já o tinha escutado quando falou nesse dia.
A referência àquela porção do território nacional ocupado pela força chamou minha atenção, além do interesse, logicamente, sobre o tema. Nem sequer sabia que Cheney falaria logo depois. Não é habitual.
A princípio, pensei que podia ser um desafio aberto ao novo presidente, mas, quando li a versão oficial, compreendi que a rápida resposta tinha sido combinada com antecedência.
O ex-vice-presidente havia elaborado cuidadosamente seu discurso, num tom respeitoso e, às vezes, adoçado.
Contudo, o que caracterizou o discurso de Cheney foi a defesa da tortura como método para obter informação em certas circunstâncias.
O nosso vizinho do Norte é um centro de poder planetário, a nação mais rica e poderosa, que tem entre 5 mil e 10 mil cabeças nucleares que podem fazê-las explodir em qualquer ponto do planeta com precisão de milímetros. Deve-se acrescentar o resto de seu equipamento bélico: armas químicas, biológicas, eletromagnéticas, um imenso arsenal de meios de combate terrestres, navais e de ar. Essas armas estão nas mãos dos que reclamam o direito de aplicar a tortura.
O nosso país possui cultura política suficiente para analisar tais argumentos. Muitos no mundo compreendem também o significado das palavras de Cheney. Farei um resumo escolhendo seus próprios parágrafos, acompanhados de breves comentários e opiniões.
Começou criticando o discurso de Obama: "É óbvio que o presidente seria sancionado na Câmara dos Representantes, porque na Câmara temos a norma de discursar uns minutos", disse à maneira de piada, embora ele, por sua vez, falasse bastante tempo, a versão oficial traduzida tem 31 páginas de 22 linhas cada uma.
"… fui o primeiro vice-presidente que também foi secretário de Defesa … minhas funções, logicamente, estavam voltadas para a segurança nacional, concentrei-me fundamentalmente nesse assunto... Hoje sou um homem mais livre. Não tenho eleições que ganhar ou perder, nem estou procurando favores.
"Não estou aqui falando em nome de George W. Bush. Ninguém mais que nós quer que o governo atual tenha êxito.
"Hoje quero falar da filosofia estratégica que está por trás de nossas políticas. Faço-o como alguém que esteve aí a cada dia do governo de Bush, que apoiou as políticas quando foram tomadas as decisões e que, sem dúvida, o faria mais outra vez nas mesmas circunstâncias.
"O presidente Obama merece nosso apoio quando toma decisões sábias, como acho que fez em certos assuntos concernentes ao Afeganistão e ao reverter seu plano de publicar fotos incendiárias, e quando culpa ou desvirtua as decisões da segurança nacional que nós tomamos, merece uma resposta."
"O nosso governo sempre teve que enfrentar críticas, que no caso de certos círculos sempre foram intensas, essencialmente nos últimos anos de mandato, quando os perigos eram tão graves ou mais graves que nunca, mas o senso de alarme após o 11 de setembro já estava sumindo da memória."
Depois, fez uma retropectiva dos ataques terroristas cometidos contra os Estados Unidos nos últimos 16 anos, dentro ou fora de suas fronteiras, numerando meia dúzia deles.
O problema de Cheney era tocar no espinhoso tema das torturas, que a política oficial dos Estados Unidos condenou tantas vezes.
"O dia 11 de setembro levou a uma mudança política, voltada para uma ameaça estratégica que o Congresso qualificou como inusual e extraordinária para a segurança nacional dos EUA... Decidimos evitar ataques desde o primeiro momento", assegurou.
Salientou o número de pessoas que perderam a vida em 11 de setembro. Comparo-o com o ataque a Pearl Harbor. Não explicou porque a complexa ação conseguiu organizar-se de maneira relativamente fácil, quais notícias da inteligência possuía previamente Bush, o que fizeram para evitá-la. Bush levava quase oito meses na presidência. Sabia-se que trabalhava pouco e descansava muito. Ia constantemente para sua chácara no Texas.
"A Al-Qaeda procurava tecnologia nuclear — afirmou — e A.Q.Khan estava vendendo tecnologia nuclear no mercado negro", — exclamou e acrescentou: "Sofremos os ataques com ántrax de fonte desconhecida, tínhamo os campos de treino no Afeganistão e ditadores como Saddam Hussein, com vínculos conhecidos com terroristas no Oriente Médio.
"Como lembrarão, eu estava em meu escritório naquelas primeiras horas, quando o radar descobriu um avião que se dirigia à Casa Branca a 500 milhas por hora, o vôo 77, que terminou atingindo o Pentágono. Com o avião ainda voando, os agentes do Serviço Secreto entraram no meu gabinete e me dizeram que devíamos partir imediatamente. Uns minutos depois, estava num posto de comando fortificado nalgum lugar embaixo da Casa Branca."
A narração de Cheney evidencia que ninguém tinha previsto aquela situação e presta um fraco serviço ao orgulho dos norte-americanos, ao supor que alguém encerrado numa gruta, a 15 ou 20 mil quilômetros de distância, poderia forçar o presidente dos Estados Unidos a ocupar seu posto de comando no porão da Casa Branca.
"Daí em diante — narrou Cheney — tenho escutado especulações eventuais de que eu mudei depois de 11 de setembro; eu não diria isso, mas devo admitir que observar um ataque coordenado e devastador contra o nosso país, de um bunker subterrâneo na Casa Branca, pode mudar a visão que a gente tem de suas responsabilidades."
Como as guerras não podem ser ganhas na defensiva, agimos diretamente contra os terroristas, seus covis e santuários.
"As políticas foram aplicadas com apoio bipartidário.
"Não inventamos a autoridade. Aparece no artigo dois da Constituição.
"Após 11 de setembro, o Congresso e uma Resolução Mista autorizaram todo o necessário para proteger os EUA.
"Esta iniciativa nos permitiu grampear linhas e monitorar contatos entre operadoras da Al-Qaeda e pessoas dentro dos Estados Unidos.
"O programa era 'top secret' e, por uma boa razão, até que os editores do The New York Times o obtiveram e divulgaram nas manchetes. Depois de 11 de setembro, o jornal esteve durante meses publicando fotos dos mortos a cargo da Al-Qaeda nesse dia.
"Isso impressionou o Comitê de Prêmios Pulitzer, mas evidentemente não serviu aos interesses do país nem salvaguardou o povo.
"Anos depois, o nosso governo compreendeu que a segurança do país requeria juntar informação que, nalguns casos, só poderia ser obtida mediante interrogatórios fortes.
"Eu fui e continuo sendo um forte defensor do programa de interrogatórios." (Referiu-se aos interrogatórios aplicando a tortura.)
"Esse método foi aplicado em terroristas, depois de fracassarem outras técnicas.
"Era legal, essencial, bem justificado, bem-sucedido e a maneira certa de agir.
"Contudo, os nossos sucessores têm seu ponto de vista a respeito do assunto.
"Por decisão presidencial, no mês passado, vimos como eram divulgados documentos relacionados com essa prática de interrogatórios. Foi feito como um exercício pleno do governo para honrar o direito do povo de saber a verdade.
"…O povo soube menos da metade da verdade.
"É difícil imaginar um precedente pior que ver uma nova administração incriminando as decisões políticas de seus antecessores.
"Uma das pessoas que se opôs a revelar os memorandos sobre técnicas de interrogatório foi o diretor da Agência Central de Inteligência, León Panetta."
Cheney, ao chegar a este ponto, tinha que explicar o acontecido na prisão de Abu Ghraib, que encheu de horror o mundo. "Lá reinava o sadismo — disse — e nada tinha a ver com os interrogatórios na busca de informação.
"Em Abu Ghraib, guardas sádicos abusaram de prisioneiros violando as leis dos EUA., regras militares e a decência.
"Sabemos qual é a diferença entre justiça e vingança. Não estávamos tentando nos vingar dos autores dos atentados de 11 de setembro.
"Desde o início do programa, concentramo-nos apenas no mais importante: obter informação sobre os planos terroristas.
"Pelo dano que causaram aos prisioneiros iraquianos e à causa dos Estados Unidos, mereciam e receberam justiça."
Independentemente dos milhares de jovens norte-americanos mortos, aleijados e feridos na guerra do Iraque e das verbas avultadas ali investidas, centenas de milhares de vidas de crianças, jovens e idosos, homens e mulheres, que não tiveram culpa nenhuma do ataque ao World Trade Center, morreram naquele país após a invasão ordenada por Bush. Aquela enorme massa de vítimas inocentes nem sequer foi mencionada no discurso proferido por Cheney.
Passou por cima disso e continuou:
"Se os liberais não concordassem com algumas decisões e os conservadores com outras, pareceria que o presidente está no caminho de uma solução judiciosa.
"Porém, na luta contra o terrorismo, não há ponto meio, e meias medidas expõem colocam a gente numa situação difícil.
"Quando a gente desconhece alguma coisa, isso pode levar à catástrofe.
"No segundo dia na presidência, o presidente Obama anunciou o fechamento da prisão de Guantánamo. Aquele passo foi dado com pouca deliberação e sem plano.
"Para esta administração (a de Obama) foi fácil receber aplausos da Europa pelo fechamento da prisão de Guantánamo, mas é-lhe difícil encontrar uma alternativa que sirva aos interesses da justiça e da segurança nacional estadunidense.
"Na categoria de eufemismo, o prêmio será para um editorial recente num jornal famoso que se refere aos terroristas que capturamos como ‘sequestrados’.
"Temos inimigos do nosso país, chamados por um jornal como vítimas de sequestro.
"Os interrogatórios e o Programa de Vigilância, sem dúvida, tornaram este país mais seguro.
"Quando Obama e sua administração falam em interrogatórios, fazem-no como se eles tivessem resolvido o dilema moral de como obter informação vital da boca dos terroristas.
"Na verdade, estão pondo de lado as decisões, enquanto presumem de superioridade moral.
"Revelar esses memorandos é contrário aos interesses da segurança nacional.
"O prejuízo começa com informação altamente secreta que já está em mãos de terroristas.
"Governos do mundo que nos apoiaram em manobras conjuntas, agora temem porque veem outras operações comprometidas.
"O presidente Obama usou seu poder para revelar o que acontece nos interrogatórios…
"O próprio diretor de Inteligência Nacional do presidente Obama, Denis C. Blair, disse assim: 'A informação de alto valor proveio dos interrogatórios em que foram aplicados esses métodos e deu-nos uma maior compreensão da organização da Al-Qaeda que atacou o nosso país.’
"O almirante Blair escreveu essa conclusão; mas desapareceu numa versão posterior tornada pública pelo governo.
"Essas 26 palavras que faltam revelavam uma verdade inconveniente; mas não puderam mudar as palavras do diretor da CIA nos governos de Clinton e Bush, George Tenet, que disse às claras: 'Sei que este programa salvou vidas. Sei que destruímos planos. Sei que este programa só custa mais do que o FBI, a CIA e a Agencia de Segurança Nacional todas juntas nos puderam dar’.
"Se os norte-americanos tivessem a oportunidade de saber que foi o que se evitou no país, isso esclareceria a urgência e o caráter correto destes interrogatórios anos depois de 11 de setembro.
"Concentramo-nos em conseguir saber os seus segredos, em lugar de compartilharmos os nossos com eles.
"É algo que se deve manter até que o perigo tenha passado. No caminho foi necessário tomar decisões difíceis.
"Nenhuma decisão de segurança nacional foi tomada de leve nem às pressas.
"Como em qualquer conflito houve custos. Nenhum mais alto que os sacrifícios desses mortos ou feridos servindo o país."
"Como muitos outros que prestam serviços aos Estados Unidos, eles não são desses que pedem agradecimento, mas eu agradeço."
Seus ataques à administração de Obama foram realmente duros, mas não quero opiniar sobre este assunto. No entanto, devo lembrar que o terrorismo não caiu do céu: foi o método criado pelos Estados Unidos para combater a Revolução Cubana.
Nada menos que o general Dwight Eisenhower, presidente dos Estados Unidos, foi o primeiro a usar o terrorismo contra a nossa Pátria, e não se tratou de um grupo de ações sangrentas contra nosso povo, mas sim de dezenas de fatos desde o próprio ano de 1959, que aumentaram depois a centenas de atos terroristas a cada ano, utilizando substâncias inflamáveis, explosivos de alta potência, armamentos sofisticados de precisão com raios infravermelhos, venenos como cianureto, fungos, dengue hemorrágico, febre suína, ántrax, vírus e bactérias que atacavam culturas, plantas, animais e seres humanos.
Não só perpetraram ações contra a economia e o povo, mas também atentados para eliminar os líderes da Revolução.
Milhares de pessoas foram afetadas, e a economia, cujo objetivo é garantir a alimentação, a saúde e os serviços mais elementares do povo, foi submetida a um implacável bloqueio aplicado extraterritorialmente.
Não invento estes fatos. Eles constam nos documentos desclassificados do governo dos Estados Unidos. Em nosso país, apesar dos sérios perigos que nos ameaçaram durante dezenas de anos, jamais se torturou ninguém para obter informação.
Por dolorosas que fossem as ações contra o povo dos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, que todo o mundo condenou energicamente, a tortura é um ato covarde e vergonhoso que jamais deve ser justificada.
Fonte:Granma Internacional.
Parei para observar os vistosos uniformes de época e outros pormenores da comemoração.
Quantas lembranças comoventes em torno da heróica batalha que decidiu a independência do Equador! Os ideais e sonhos da época estavam presentes naquele ato. Junto ao presidente do Equador, Rafael Correa, estavam como convidados de honra Hugo Chávez e Evo Morales — que hoje repoduzem os anseios de independência e justiça pelos quais lutaram e morreram os patriotas latino-americanos. Sucre foi o protagonista da imortal façanha, impelida pelos sonhos de Bolívar.
Aquela luta ainda não acabou. Ressurge em condições bem diferentes, talvez nem sequer sonhadas nesse tempo.
Veio a minha memória a versão de um discurso de Dick Cheney, que li no sábado, sobre Segurança Nacional, proferido na quinta-feira, às 11h20, no Instituto de Empresas Estadunidenses e transmitido pela CNN em espanhol e CNN em inglês. Foi uma resposta ao discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, proferido às 10h27 do mesmo dia sobre o mesmo assunto, ao qual acrescentava uma explicação sobre o fechamento da prisão de Guantánamo. Eu já o tinha escutado quando falou nesse dia.
A referência àquela porção do território nacional ocupado pela força chamou minha atenção, além do interesse, logicamente, sobre o tema. Nem sequer sabia que Cheney falaria logo depois. Não é habitual.
A princípio, pensei que podia ser um desafio aberto ao novo presidente, mas, quando li a versão oficial, compreendi que a rápida resposta tinha sido combinada com antecedência.
O ex-vice-presidente havia elaborado cuidadosamente seu discurso, num tom respeitoso e, às vezes, adoçado.
Contudo, o que caracterizou o discurso de Cheney foi a defesa da tortura como método para obter informação em certas circunstâncias.
O nosso vizinho do Norte é um centro de poder planetário, a nação mais rica e poderosa, que tem entre 5 mil e 10 mil cabeças nucleares que podem fazê-las explodir em qualquer ponto do planeta com precisão de milímetros. Deve-se acrescentar o resto de seu equipamento bélico: armas químicas, biológicas, eletromagnéticas, um imenso arsenal de meios de combate terrestres, navais e de ar. Essas armas estão nas mãos dos que reclamam o direito de aplicar a tortura.
O nosso país possui cultura política suficiente para analisar tais argumentos. Muitos no mundo compreendem também o significado das palavras de Cheney. Farei um resumo escolhendo seus próprios parágrafos, acompanhados de breves comentários e opiniões.
Começou criticando o discurso de Obama: "É óbvio que o presidente seria sancionado na Câmara dos Representantes, porque na Câmara temos a norma de discursar uns minutos", disse à maneira de piada, embora ele, por sua vez, falasse bastante tempo, a versão oficial traduzida tem 31 páginas de 22 linhas cada uma.
"… fui o primeiro vice-presidente que também foi secretário de Defesa … minhas funções, logicamente, estavam voltadas para a segurança nacional, concentrei-me fundamentalmente nesse assunto... Hoje sou um homem mais livre. Não tenho eleições que ganhar ou perder, nem estou procurando favores.
"Não estou aqui falando em nome de George W. Bush. Ninguém mais que nós quer que o governo atual tenha êxito.
"Hoje quero falar da filosofia estratégica que está por trás de nossas políticas. Faço-o como alguém que esteve aí a cada dia do governo de Bush, que apoiou as políticas quando foram tomadas as decisões e que, sem dúvida, o faria mais outra vez nas mesmas circunstâncias.
"O presidente Obama merece nosso apoio quando toma decisões sábias, como acho que fez em certos assuntos concernentes ao Afeganistão e ao reverter seu plano de publicar fotos incendiárias, e quando culpa ou desvirtua as decisões da segurança nacional que nós tomamos, merece uma resposta."
"O nosso governo sempre teve que enfrentar críticas, que no caso de certos círculos sempre foram intensas, essencialmente nos últimos anos de mandato, quando os perigos eram tão graves ou mais graves que nunca, mas o senso de alarme após o 11 de setembro já estava sumindo da memória."
Depois, fez uma retropectiva dos ataques terroristas cometidos contra os Estados Unidos nos últimos 16 anos, dentro ou fora de suas fronteiras, numerando meia dúzia deles.
O problema de Cheney era tocar no espinhoso tema das torturas, que a política oficial dos Estados Unidos condenou tantas vezes.
"O dia 11 de setembro levou a uma mudança política, voltada para uma ameaça estratégica que o Congresso qualificou como inusual e extraordinária para a segurança nacional dos EUA... Decidimos evitar ataques desde o primeiro momento", assegurou.
Salientou o número de pessoas que perderam a vida em 11 de setembro. Comparo-o com o ataque a Pearl Harbor. Não explicou porque a complexa ação conseguiu organizar-se de maneira relativamente fácil, quais notícias da inteligência possuía previamente Bush, o que fizeram para evitá-la. Bush levava quase oito meses na presidência. Sabia-se que trabalhava pouco e descansava muito. Ia constantemente para sua chácara no Texas.
"A Al-Qaeda procurava tecnologia nuclear — afirmou — e A.Q.Khan estava vendendo tecnologia nuclear no mercado negro", — exclamou e acrescentou: "Sofremos os ataques com ántrax de fonte desconhecida, tínhamo os campos de treino no Afeganistão e ditadores como Saddam Hussein, com vínculos conhecidos com terroristas no Oriente Médio.
"Como lembrarão, eu estava em meu escritório naquelas primeiras horas, quando o radar descobriu um avião que se dirigia à Casa Branca a 500 milhas por hora, o vôo 77, que terminou atingindo o Pentágono. Com o avião ainda voando, os agentes do Serviço Secreto entraram no meu gabinete e me dizeram que devíamos partir imediatamente. Uns minutos depois, estava num posto de comando fortificado nalgum lugar embaixo da Casa Branca."
A narração de Cheney evidencia que ninguém tinha previsto aquela situação e presta um fraco serviço ao orgulho dos norte-americanos, ao supor que alguém encerrado numa gruta, a 15 ou 20 mil quilômetros de distância, poderia forçar o presidente dos Estados Unidos a ocupar seu posto de comando no porão da Casa Branca.
"Daí em diante — narrou Cheney — tenho escutado especulações eventuais de que eu mudei depois de 11 de setembro; eu não diria isso, mas devo admitir que observar um ataque coordenado e devastador contra o nosso país, de um bunker subterrâneo na Casa Branca, pode mudar a visão que a gente tem de suas responsabilidades."
Como as guerras não podem ser ganhas na defensiva, agimos diretamente contra os terroristas, seus covis e santuários.
"As políticas foram aplicadas com apoio bipartidário.
"Não inventamos a autoridade. Aparece no artigo dois da Constituição.
"Após 11 de setembro, o Congresso e uma Resolução Mista autorizaram todo o necessário para proteger os EUA.
"Esta iniciativa nos permitiu grampear linhas e monitorar contatos entre operadoras da Al-Qaeda e pessoas dentro dos Estados Unidos.
"O programa era 'top secret' e, por uma boa razão, até que os editores do The New York Times o obtiveram e divulgaram nas manchetes. Depois de 11 de setembro, o jornal esteve durante meses publicando fotos dos mortos a cargo da Al-Qaeda nesse dia.
"Isso impressionou o Comitê de Prêmios Pulitzer, mas evidentemente não serviu aos interesses do país nem salvaguardou o povo.
"Anos depois, o nosso governo compreendeu que a segurança do país requeria juntar informação que, nalguns casos, só poderia ser obtida mediante interrogatórios fortes.
"Eu fui e continuo sendo um forte defensor do programa de interrogatórios." (Referiu-se aos interrogatórios aplicando a tortura.)
"Esse método foi aplicado em terroristas, depois de fracassarem outras técnicas.
"Era legal, essencial, bem justificado, bem-sucedido e a maneira certa de agir.
"Contudo, os nossos sucessores têm seu ponto de vista a respeito do assunto.
"Por decisão presidencial, no mês passado, vimos como eram divulgados documentos relacionados com essa prática de interrogatórios. Foi feito como um exercício pleno do governo para honrar o direito do povo de saber a verdade.
"…O povo soube menos da metade da verdade.
"É difícil imaginar um precedente pior que ver uma nova administração incriminando as decisões políticas de seus antecessores.
"Uma das pessoas que se opôs a revelar os memorandos sobre técnicas de interrogatório foi o diretor da Agência Central de Inteligência, León Panetta."
Cheney, ao chegar a este ponto, tinha que explicar o acontecido na prisão de Abu Ghraib, que encheu de horror o mundo. "Lá reinava o sadismo — disse — e nada tinha a ver com os interrogatórios na busca de informação.
"Em Abu Ghraib, guardas sádicos abusaram de prisioneiros violando as leis dos EUA., regras militares e a decência.
"Sabemos qual é a diferença entre justiça e vingança. Não estávamos tentando nos vingar dos autores dos atentados de 11 de setembro.
"Desde o início do programa, concentramo-nos apenas no mais importante: obter informação sobre os planos terroristas.
"Pelo dano que causaram aos prisioneiros iraquianos e à causa dos Estados Unidos, mereciam e receberam justiça."
Independentemente dos milhares de jovens norte-americanos mortos, aleijados e feridos na guerra do Iraque e das verbas avultadas ali investidas, centenas de milhares de vidas de crianças, jovens e idosos, homens e mulheres, que não tiveram culpa nenhuma do ataque ao World Trade Center, morreram naquele país após a invasão ordenada por Bush. Aquela enorme massa de vítimas inocentes nem sequer foi mencionada no discurso proferido por Cheney.
Passou por cima disso e continuou:
"Se os liberais não concordassem com algumas decisões e os conservadores com outras, pareceria que o presidente está no caminho de uma solução judiciosa.
"Porém, na luta contra o terrorismo, não há ponto meio, e meias medidas expõem colocam a gente numa situação difícil.
"Quando a gente desconhece alguma coisa, isso pode levar à catástrofe.
"No segundo dia na presidência, o presidente Obama anunciou o fechamento da prisão de Guantánamo. Aquele passo foi dado com pouca deliberação e sem plano.
"Para esta administração (a de Obama) foi fácil receber aplausos da Europa pelo fechamento da prisão de Guantánamo, mas é-lhe difícil encontrar uma alternativa que sirva aos interesses da justiça e da segurança nacional estadunidense.
"Na categoria de eufemismo, o prêmio será para um editorial recente num jornal famoso que se refere aos terroristas que capturamos como ‘sequestrados’.
"Temos inimigos do nosso país, chamados por um jornal como vítimas de sequestro.
"Os interrogatórios e o Programa de Vigilância, sem dúvida, tornaram este país mais seguro.
"Quando Obama e sua administração falam em interrogatórios, fazem-no como se eles tivessem resolvido o dilema moral de como obter informação vital da boca dos terroristas.
"Na verdade, estão pondo de lado as decisões, enquanto presumem de superioridade moral.
"Revelar esses memorandos é contrário aos interesses da segurança nacional.
"O prejuízo começa com informação altamente secreta que já está em mãos de terroristas.
"Governos do mundo que nos apoiaram em manobras conjuntas, agora temem porque veem outras operações comprometidas.
"O presidente Obama usou seu poder para revelar o que acontece nos interrogatórios…
"O próprio diretor de Inteligência Nacional do presidente Obama, Denis C. Blair, disse assim: 'A informação de alto valor proveio dos interrogatórios em que foram aplicados esses métodos e deu-nos uma maior compreensão da organização da Al-Qaeda que atacou o nosso país.’
"O almirante Blair escreveu essa conclusão; mas desapareceu numa versão posterior tornada pública pelo governo.
"Essas 26 palavras que faltam revelavam uma verdade inconveniente; mas não puderam mudar as palavras do diretor da CIA nos governos de Clinton e Bush, George Tenet, que disse às claras: 'Sei que este programa salvou vidas. Sei que destruímos planos. Sei que este programa só custa mais do que o FBI, a CIA e a Agencia de Segurança Nacional todas juntas nos puderam dar’.
"Se os norte-americanos tivessem a oportunidade de saber que foi o que se evitou no país, isso esclareceria a urgência e o caráter correto destes interrogatórios anos depois de 11 de setembro.
"Concentramo-nos em conseguir saber os seus segredos, em lugar de compartilharmos os nossos com eles.
"É algo que se deve manter até que o perigo tenha passado. No caminho foi necessário tomar decisões difíceis.
"Nenhuma decisão de segurança nacional foi tomada de leve nem às pressas.
"Como em qualquer conflito houve custos. Nenhum mais alto que os sacrifícios desses mortos ou feridos servindo o país."
"Como muitos outros que prestam serviços aos Estados Unidos, eles não são desses que pedem agradecimento, mas eu agradeço."
Seus ataques à administração de Obama foram realmente duros, mas não quero opiniar sobre este assunto. No entanto, devo lembrar que o terrorismo não caiu do céu: foi o método criado pelos Estados Unidos para combater a Revolução Cubana.
Nada menos que o general Dwight Eisenhower, presidente dos Estados Unidos, foi o primeiro a usar o terrorismo contra a nossa Pátria, e não se tratou de um grupo de ações sangrentas contra nosso povo, mas sim de dezenas de fatos desde o próprio ano de 1959, que aumentaram depois a centenas de atos terroristas a cada ano, utilizando substâncias inflamáveis, explosivos de alta potência, armamentos sofisticados de precisão com raios infravermelhos, venenos como cianureto, fungos, dengue hemorrágico, febre suína, ántrax, vírus e bactérias que atacavam culturas, plantas, animais e seres humanos.
Não só perpetraram ações contra a economia e o povo, mas também atentados para eliminar os líderes da Revolução.
Milhares de pessoas foram afetadas, e a economia, cujo objetivo é garantir a alimentação, a saúde e os serviços mais elementares do povo, foi submetida a um implacável bloqueio aplicado extraterritorialmente.
Não invento estes fatos. Eles constam nos documentos desclassificados do governo dos Estados Unidos. Em nosso país, apesar dos sérios perigos que nos ameaçaram durante dezenas de anos, jamais se torturou ninguém para obter informação.
Por dolorosas que fossem as ações contra o povo dos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, que todo o mundo condenou energicamente, a tortura é um ato covarde e vergonhoso que jamais deve ser justificada.
Fonte:Granma Internacional.
SAÚDE - Dia mundial contra o fumo.
Mas de 10 mil pessoas morrem por dia devido ao consumo de tabaco.
Dia 31 de Maio marca o Dia Mundial contra o Fumo. E a Organização Mundial de Saúde aproveita para alertar a população sobre os males do tabagismo, que é considerado a principal casa de morte evitável em todo mundo. São mais de 4,9 milhões de óbitos por ano, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia.
Entre as principais doenças causadas pelo tabaco, a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) é a que mais vem preocupando os médicos. O problema causa obstrução do fluxo aéreo e dificulta a respiração. De acordo com a professora de fisioterapia da UNINOVE, Adriana Marques Battagin, cerca de 90% dos casos da doença estão relacionados ao cigarro. Um fumante que consome dois maços por dia tem risco de 4 a5 vezes maior para desenvolver DPOC, comparado aos não fumantes , diz.
Outro ponto abordado na campanha deste ano é o contato passivo de crianças e adolescentes com o tabaco. A proximidade também traz prejuízos para o organismo dessas pessoas,q eu ainda são mais sensíveis (já que não estão habituadas a inspirar os componentes tóxicos do cigarro). Fumar, além de ser um hábito desagradável, causa impotência, aumenta o risco de câncer e de doenças cardíacas, entre outros males", alerta o oncologista Murilo Buso, do Centro de Câncer de Brasília.
Dia 31 de Maio marca o Dia Mundial contra o Fumo. E a Organização Mundial de Saúde aproveita para alertar a população sobre os males do tabagismo, que é considerado a principal casa de morte evitável em todo mundo. São mais de 4,9 milhões de óbitos por ano, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia.
Entre as principais doenças causadas pelo tabaco, a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) é a que mais vem preocupando os médicos. O problema causa obstrução do fluxo aéreo e dificulta a respiração. De acordo com a professora de fisioterapia da UNINOVE, Adriana Marques Battagin, cerca de 90% dos casos da doença estão relacionados ao cigarro. Um fumante que consome dois maços por dia tem risco de 4 a5 vezes maior para desenvolver DPOC, comparado aos não fumantes , diz.
Outro ponto abordado na campanha deste ano é o contato passivo de crianças e adolescentes com o tabaco. A proximidade também traz prejuízos para o organismo dessas pessoas,q eu ainda são mais sensíveis (já que não estão habituadas a inspirar os componentes tóxicos do cigarro). Fumar, além de ser um hábito desagradável, causa impotência, aumenta o risco de câncer e de doenças cardíacas, entre outros males", alerta o oncologista Murilo Buso, do Centro de Câncer de Brasília.
O ARCO-ÍRIS DO OCIDENTE.
Mauro Santayana
O relatório da Anistia Internacional vai além das denúncias, dolorosas em sua rotina, da violação dos direitos humanos no mundo. Em seu texto, a secretária-geral da organização, Irene Khan, aponta o perigo de que, com suas medidas para vencer a crise econômica mundial, os governos ampliem a miséria, desrespeitem ainda mais os direitos humanos. Segundo sua análise, trata-se de uma situação explosiva.
É do comodismo intelectual o vezo de pluralizar a ideia de crise. É assim que falamos em crise ambiental, em crise econômica, em crise da educação, em crise da saúde. Na realidade só há uma crise, que é a crise do homem em sociedade. A sociedade é o que ela quer ser. Em determinados momentos, os homens conseguem sofrer menos do que em outros. São os escassos intervalos em certas regiões do mundo e sob determinados tipos de civilização, quando o ser humano, ao respeitar os direitos de seu semelhante, vê os seus próprios direitos respeitados.
Vivemos, nestes quase dois séculos de desenvolvimento tecnológico acelerado, em duas direções antagônicas. A ciência médica – para os que dela podem valer-se – conseguiu dilatar a expectativa média de vida para além do imaginável. Ao mesmo tempo, a existência cotidiana do homem ultrapassou os limites de espaço e tempo, mediante as comunicações velozes. A difusão das informações permite, aos interessados, o dom da ubiquidade, que era atribuído aos deuses. Estamos em todos os lugares, em todas as horas. Talvez por isso mesmo nos sobre pouco tempo para conviver com a própria consciência e para filtrar, de tantas imagens e ruídos, os sumos da vida. E nunca tivemos tanto medo de viver.
Sempre fomos uma espécie amedrontada, mas o medo aumenta, da mesma forma que aumenta a desigualdade e evolui a tecnologia. Temos medo das ruas, da invasão violenta dos nossos lares, dos vírus, das enfermidades corriqueiras, dos hackers, das interceptações telefônicas, das viagens, das imagens cotidianas da morte, em Gaza, na África ou nas favelas do Rio, trazidas pela televisão. O medo agrava a iniquidade. Não nos damos conta que os direitos humanos são os direitos dos outros.
A vida dos homens depende de duas tênues películas: o envoltório gasoso do planeta, dentro do qual as condições de pressão atmosférica, de temperatura e umidade limitam a reprodução dos seres vivos; e a que se encontra na mente de cada um de nós e separa os instintos primitivos da inteligência criadora e solidária que permitiu, apesar de todos os conflitos sangrentos, a sobrevivência da espécie. Essas duas películas – a física e a mental – estão próximas da esgarçadura, de acordo com os avisos da ciência e do humanismo. A nossa única esperança é que ainda haja tempo para a salvação.
Os banqueiros ocuparam quase todos os governos, para que os Estados renunciassem ao poder e ao dever de impor a justiça nas relações econômicas. Foi uma irrupção do instinto predador contra a inteligência ética. Homens tidos como respeitáveis, com vistosos títulos universitários, substituíram as regras pelo "vale tudo", e se tornaram larápios. Ainda agora, a bancada do sistema financeiro no Congresso Nacional conseguiu infectar medida provisória que tratava de outro assunto, ao aprovar a impunidade dos "agentes públicos" que, em intervenções para assegurar "solvência e liquidez" ao sistema bancário, causem prejuízos ao erário. O presidente Lula, em boa hora, vetou o enxerto, que tinha também efeito retroativo e visava a proteger os responsáveis por bilhões de prejuízos causados ao povo brasileiro, entre 1995 e 2002. Esses guardiães da moeda têm o fundado temor de que os cidadãos honrados os levem a tribunais também honrados – e à cadeia.
A secretária da Anistia Internacional prevê crise humanitária sem precedentes se o problema dos direitos humanos não for enfrentado com decisão. Depois de examinar a situação, país por país, Irene Khan pediu aos líderes mundiais que busquem um new deal, com compromissos e medidas concretas dos governos, a fim de "desarmar esta bomba", e os conclamou a investirem nos direitos humanos, com a mesma determinação com que buscam restaurar a economia.
Há mais de 40 anos, o escritor haitiano René Depestre, no poema Arco-íris para um Ocidente cristão, previa a revolta mundial e definitiva dos pobres, com a ocupação das propriedades e a vingança sangrenta contra os opressores. Com outras palavras, Irene Khan
nos mostra que essa profecia pode cumprir-se.
Fonte:JB
O relatório da Anistia Internacional vai além das denúncias, dolorosas em sua rotina, da violação dos direitos humanos no mundo. Em seu texto, a secretária-geral da organização, Irene Khan, aponta o perigo de que, com suas medidas para vencer a crise econômica mundial, os governos ampliem a miséria, desrespeitem ainda mais os direitos humanos. Segundo sua análise, trata-se de uma situação explosiva.
É do comodismo intelectual o vezo de pluralizar a ideia de crise. É assim que falamos em crise ambiental, em crise econômica, em crise da educação, em crise da saúde. Na realidade só há uma crise, que é a crise do homem em sociedade. A sociedade é o que ela quer ser. Em determinados momentos, os homens conseguem sofrer menos do que em outros. São os escassos intervalos em certas regiões do mundo e sob determinados tipos de civilização, quando o ser humano, ao respeitar os direitos de seu semelhante, vê os seus próprios direitos respeitados.
Vivemos, nestes quase dois séculos de desenvolvimento tecnológico acelerado, em duas direções antagônicas. A ciência médica – para os que dela podem valer-se – conseguiu dilatar a expectativa média de vida para além do imaginável. Ao mesmo tempo, a existência cotidiana do homem ultrapassou os limites de espaço e tempo, mediante as comunicações velozes. A difusão das informações permite, aos interessados, o dom da ubiquidade, que era atribuído aos deuses. Estamos em todos os lugares, em todas as horas. Talvez por isso mesmo nos sobre pouco tempo para conviver com a própria consciência e para filtrar, de tantas imagens e ruídos, os sumos da vida. E nunca tivemos tanto medo de viver.
Sempre fomos uma espécie amedrontada, mas o medo aumenta, da mesma forma que aumenta a desigualdade e evolui a tecnologia. Temos medo das ruas, da invasão violenta dos nossos lares, dos vírus, das enfermidades corriqueiras, dos hackers, das interceptações telefônicas, das viagens, das imagens cotidianas da morte, em Gaza, na África ou nas favelas do Rio, trazidas pela televisão. O medo agrava a iniquidade. Não nos damos conta que os direitos humanos são os direitos dos outros.
A vida dos homens depende de duas tênues películas: o envoltório gasoso do planeta, dentro do qual as condições de pressão atmosférica, de temperatura e umidade limitam a reprodução dos seres vivos; e a que se encontra na mente de cada um de nós e separa os instintos primitivos da inteligência criadora e solidária que permitiu, apesar de todos os conflitos sangrentos, a sobrevivência da espécie. Essas duas películas – a física e a mental – estão próximas da esgarçadura, de acordo com os avisos da ciência e do humanismo. A nossa única esperança é que ainda haja tempo para a salvação.
Os banqueiros ocuparam quase todos os governos, para que os Estados renunciassem ao poder e ao dever de impor a justiça nas relações econômicas. Foi uma irrupção do instinto predador contra a inteligência ética. Homens tidos como respeitáveis, com vistosos títulos universitários, substituíram as regras pelo "vale tudo", e se tornaram larápios. Ainda agora, a bancada do sistema financeiro no Congresso Nacional conseguiu infectar medida provisória que tratava de outro assunto, ao aprovar a impunidade dos "agentes públicos" que, em intervenções para assegurar "solvência e liquidez" ao sistema bancário, causem prejuízos ao erário. O presidente Lula, em boa hora, vetou o enxerto, que tinha também efeito retroativo e visava a proteger os responsáveis por bilhões de prejuízos causados ao povo brasileiro, entre 1995 e 2002. Esses guardiães da moeda têm o fundado temor de que os cidadãos honrados os levem a tribunais também honrados – e à cadeia.
A secretária da Anistia Internacional prevê crise humanitária sem precedentes se o problema dos direitos humanos não for enfrentado com decisão. Depois de examinar a situação, país por país, Irene Khan pediu aos líderes mundiais que busquem um new deal, com compromissos e medidas concretas dos governos, a fim de "desarmar esta bomba", e os conclamou a investirem nos direitos humanos, com a mesma determinação com que buscam restaurar a economia.
Há mais de 40 anos, o escritor haitiano René Depestre, no poema Arco-íris para um Ocidente cristão, previa a revolta mundial e definitiva dos pobres, com a ocupação das propriedades e a vingança sangrenta contra os opressores. Com outras palavras, Irene Khan
nos mostra que essa profecia pode cumprir-se.
Fonte:JB
PRODUTOS ORGÂNICOS - governo federal vai fazer cadastro.
Governo federal vai cadastrar produtores orgânicos em todo o país.
Cristiane Ribeiro, Agência Brasil.
“O governo federal vai cadastrar os produtores orgânicos em todo o país para saber quantos são e qual a real produção brasileira sem o uso de agrotóxicos em frutas, legumes, hortaliças, leite, carnes, mel de abelha, produtos cosméticos e de limpeza.
Ao anunciar a medida hoje (30) no Rio de Janeiro, o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias, informou que o objetivo é fazer um banco de dados para elaborar, pela primeira vez, uma estatística oficial sobre o setor de orgânicos no Brasil.
Ele lembrou que somente a partir da regulamentação da atividade com a Instrução Normativa n° 17, publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (29) é que o perfil do setor orgânico brasileiro poderá ser conhecido.
Ao participar do Rio Orgânico 2009, evento que marcou no estado encerramento da 5ª edição da Semana Nacional Orgânica, Dias listou uma série de ações que o Ministério da Agricultura vêm fazendo para aumentar a produção dos orgânicos e torná-los mais acessíveis à população.
“Estamos assinando um protocolo com os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia para a criação de núcleos de agroecologia nas escolas técnicas e universidades. Além disso, o governo federal já paga 30% a mais pelo produto orgânico nas compras institucionais. A inclusão dos orgânicos na merenda escolar é nosso próximo passo”, disse.
Para o representante do Ministério da Agricultura, no entanto, é preciso maior engajamento da sociedade. “A população precisa cobrar do comerciante a oferta do produto orgânico nas prateleiras”, pois, conforme acrescentou Dias, esta é uma forma de estimular a produção e, assim, reduzir o preço final do produto.
“Hoje já temos algumas tecnologias melhores, algumas políticas públicas como o pagamento de 30% a mais pelo produto orgânico. Então, nós já temos coisas acontecendo, mas quanto mais a gente entenda a importância desse processo, muita coisa vai acontecer”, defendeu.
Ainda na defesa do consumo dos orgânicos, Rogério Dias enfatizou que o Banco do Brasil e o Programa Nacional de Assistência a Agricultura Familiar (Pronaf) têm linhas de crédito diferenciadas com juros mais baixos e prazo de carência maior para que o produtor faça a conversão do produto convencional para o orgânico.”
Fonte:Blogs e Blogs
Cristiane Ribeiro, Agência Brasil.
“O governo federal vai cadastrar os produtores orgânicos em todo o país para saber quantos são e qual a real produção brasileira sem o uso de agrotóxicos em frutas, legumes, hortaliças, leite, carnes, mel de abelha, produtos cosméticos e de limpeza.
Ao anunciar a medida hoje (30) no Rio de Janeiro, o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias, informou que o objetivo é fazer um banco de dados para elaborar, pela primeira vez, uma estatística oficial sobre o setor de orgânicos no Brasil.
Ele lembrou que somente a partir da regulamentação da atividade com a Instrução Normativa n° 17, publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (29) é que o perfil do setor orgânico brasileiro poderá ser conhecido.
Ao participar do Rio Orgânico 2009, evento que marcou no estado encerramento da 5ª edição da Semana Nacional Orgânica, Dias listou uma série de ações que o Ministério da Agricultura vêm fazendo para aumentar a produção dos orgânicos e torná-los mais acessíveis à população.
“Estamos assinando um protocolo com os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia para a criação de núcleos de agroecologia nas escolas técnicas e universidades. Além disso, o governo federal já paga 30% a mais pelo produto orgânico nas compras institucionais. A inclusão dos orgânicos na merenda escolar é nosso próximo passo”, disse.
Para o representante do Ministério da Agricultura, no entanto, é preciso maior engajamento da sociedade. “A população precisa cobrar do comerciante a oferta do produto orgânico nas prateleiras”, pois, conforme acrescentou Dias, esta é uma forma de estimular a produção e, assim, reduzir o preço final do produto.
“Hoje já temos algumas tecnologias melhores, algumas políticas públicas como o pagamento de 30% a mais pelo produto orgânico. Então, nós já temos coisas acontecendo, mas quanto mais a gente entenda a importância desse processo, muita coisa vai acontecer”, defendeu.
Ainda na defesa do consumo dos orgânicos, Rogério Dias enfatizou que o Banco do Brasil e o Programa Nacional de Assistência a Agricultura Familiar (Pronaf) têm linhas de crédito diferenciadas com juros mais baixos e prazo de carência maior para que o produtor faça a conversão do produto convencional para o orgânico.”
Fonte:Blogs e Blogs
CONFECOM: um inédito confronto, olho no olho, na arena da comunicação.
Postado por Carlos Castilho
Se alguém tinha alguma dúvida de que as coisas estão realmente mudando na comunicação, a evidência definitiva poderá ser a realização em Brasília, no início de dezembro, da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM), um evento nacional onde pela primeira vez governo, empresários e sociedade civil vão discutir, olho no olho, o futuro da mídia brasileira.
É uma ocasião única porque uma conjuntura muito particular colocou os três blocos numa situação em que um precisa do outro para sobreviver à crise dos modelos convencionais de comunicação num país onde a tradição é o monólogo nesta matéria.
A coincidência de um processo eleitoral, da crise de um modelo de negócios e do crescimento do caráter social da internet fez com que o Estado, a iniciativa privada e a sociedade civil passassem a apostar na comunicação como a principal ferramenta para alcançar seus respectivos objetivos estratégicos.
Cada um dos três protagonistas tem seus próprios objetivos: o governo quer romper o cerco imposto pelos interesses corporativos privados na área da informação, enquanto as indústrias da comunicação buscam condições mais favoráveis para absorver as mudanças impostas pela era digital. Já as organizações sem fins lucrativos e não estatais querem ampliar o espaço público na produção e disseminação de informações.
Os objetivos são tão amplos e diversificados que dificilmente a CONFECOM poderá ser avaliada pelos seus resultados concretos. É utópico pensar que burocratas estatais, executivos privados e ativistas sociais consigam resolver suas divergências nos três dias de conferência, cujo público é estimado em aproximadamente 300 pessoas.
Mas a inédita decisão de sentar-se à uma mesma mesa já dá esperanças de que os protagonistas tenham entendido que o histórico monólogo na abordagem da questão comunicacional no país precisa ser substituído por um diálogo, por mais frágil que seja. Se este estado de espírito for alcançado ele será muito mais importante do que os comunicados finais, geralmente inócuos e suficientemente vagos para acomodar posições diametralmente opostas.
A posição do governo está facilitada pelos dilemas dos principais grupos privados na área de comunicação no país. Os grandes conglomerados da imprensa estão debilitados pelas incertezas em torno do futuro do seu negócio e pela pressão das operadoras de telefonia móvel, interessadas em entrar para valer na área de produção de conteúdos audiovisuais.
As empresas apostam tudo na manutenção do laissez faire total na área de comunicação, denunciado tanto supostas — como reais — intenções estatizantes do governo ao mesmo tempo em que vêem com desconfiança o renovado ativismo de organizações sociais, cujo poder de fogo foi ampliado pela internet.
O setor não governamental e não lucrativo é o maior interessado na CONFECOM porque é a sua estréia como protagonista de peso no debate das políticas de comunicação no país. Por menores que sejam os resultados do evento, ainda assim as organizações sociais têm grandes chances de cantar vitória porque elas finalmente terão sido reconhecidas como ator político relevante na arena informativa.
As estratégias setoriais ainda estão sendo elaboradas, mas boa parte delas ainda passa ao largo da grande questão: como o cidadão da rua poderá ser ouvido. Eventos desta natureza normalmente acabam sendo monopolizados pelos líderes e articuladores, enquanto o cidadão comum fica relegado à posição de espectador passivo.
O argumento é que a sociedade civil é essencialmente desorganizada, mas agora o quadro mudou. A internet oferece a possibilidade de as pessoas comuns falarem um pouco mais alto e grosso, usando os weblogs, comunidades, correio eletrônico, Twitter etc etc para expressar suas opiniões. Comparado ao total de população, os incluídos digitalmente ainda são uma minoria, mas comparado ao índice de 1999, houve um vertiginoso aumento no número de atores digitais.
Só que eles não usam o jargão dos políticos e lideranças. A voz da rua e dos blogueiros, por exemplo, é bem menos sofisticada. Ela assusta e, muitas vezes, se expressa através de demandas que nem sempre podem ser chamadas de politicamente corretas.
Mas se a cidadania é considerada uma parte obrigatória no funcionamento de uma comunicação livre, então ela terá que ser aceita em seu estado bruto. Caberá aos demais protagonistas entender e contextualizar a participação social como ela é, e não como gostariam que fosse.
Para maiores informações sobre a CONFECOM visite os sites do Observatório do Direito à Comunicação, Ministério das Comunicações ou o Fórum Nacional para a Democratização das Comunicaçôes.
Fonte:Site BRASIL,BRASIL
Se alguém tinha alguma dúvida de que as coisas estão realmente mudando na comunicação, a evidência definitiva poderá ser a realização em Brasília, no início de dezembro, da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM), um evento nacional onde pela primeira vez governo, empresários e sociedade civil vão discutir, olho no olho, o futuro da mídia brasileira.
É uma ocasião única porque uma conjuntura muito particular colocou os três blocos numa situação em que um precisa do outro para sobreviver à crise dos modelos convencionais de comunicação num país onde a tradição é o monólogo nesta matéria.
A coincidência de um processo eleitoral, da crise de um modelo de negócios e do crescimento do caráter social da internet fez com que o Estado, a iniciativa privada e a sociedade civil passassem a apostar na comunicação como a principal ferramenta para alcançar seus respectivos objetivos estratégicos.
Cada um dos três protagonistas tem seus próprios objetivos: o governo quer romper o cerco imposto pelos interesses corporativos privados na área da informação, enquanto as indústrias da comunicação buscam condições mais favoráveis para absorver as mudanças impostas pela era digital. Já as organizações sem fins lucrativos e não estatais querem ampliar o espaço público na produção e disseminação de informações.
Os objetivos são tão amplos e diversificados que dificilmente a CONFECOM poderá ser avaliada pelos seus resultados concretos. É utópico pensar que burocratas estatais, executivos privados e ativistas sociais consigam resolver suas divergências nos três dias de conferência, cujo público é estimado em aproximadamente 300 pessoas.
Mas a inédita decisão de sentar-se à uma mesma mesa já dá esperanças de que os protagonistas tenham entendido que o histórico monólogo na abordagem da questão comunicacional no país precisa ser substituído por um diálogo, por mais frágil que seja. Se este estado de espírito for alcançado ele será muito mais importante do que os comunicados finais, geralmente inócuos e suficientemente vagos para acomodar posições diametralmente opostas.
A posição do governo está facilitada pelos dilemas dos principais grupos privados na área de comunicação no país. Os grandes conglomerados da imprensa estão debilitados pelas incertezas em torno do futuro do seu negócio e pela pressão das operadoras de telefonia móvel, interessadas em entrar para valer na área de produção de conteúdos audiovisuais.
As empresas apostam tudo na manutenção do laissez faire total na área de comunicação, denunciado tanto supostas — como reais — intenções estatizantes do governo ao mesmo tempo em que vêem com desconfiança o renovado ativismo de organizações sociais, cujo poder de fogo foi ampliado pela internet.
O setor não governamental e não lucrativo é o maior interessado na CONFECOM porque é a sua estréia como protagonista de peso no debate das políticas de comunicação no país. Por menores que sejam os resultados do evento, ainda assim as organizações sociais têm grandes chances de cantar vitória porque elas finalmente terão sido reconhecidas como ator político relevante na arena informativa.
As estratégias setoriais ainda estão sendo elaboradas, mas boa parte delas ainda passa ao largo da grande questão: como o cidadão da rua poderá ser ouvido. Eventos desta natureza normalmente acabam sendo monopolizados pelos líderes e articuladores, enquanto o cidadão comum fica relegado à posição de espectador passivo.
O argumento é que a sociedade civil é essencialmente desorganizada, mas agora o quadro mudou. A internet oferece a possibilidade de as pessoas comuns falarem um pouco mais alto e grosso, usando os weblogs, comunidades, correio eletrônico, Twitter etc etc para expressar suas opiniões. Comparado ao total de população, os incluídos digitalmente ainda são uma minoria, mas comparado ao índice de 1999, houve um vertiginoso aumento no número de atores digitais.
Só que eles não usam o jargão dos políticos e lideranças. A voz da rua e dos blogueiros, por exemplo, é bem menos sofisticada. Ela assusta e, muitas vezes, se expressa através de demandas que nem sempre podem ser chamadas de politicamente corretas.
Mas se a cidadania é considerada uma parte obrigatória no funcionamento de uma comunicação livre, então ela terá que ser aceita em seu estado bruto. Caberá aos demais protagonistas entender e contextualizar a participação social como ela é, e não como gostariam que fosse.
Para maiores informações sobre a CONFECOM visite os sites do Observatório do Direito à Comunicação, Ministério das Comunicações ou o Fórum Nacional para a Democratização das Comunicaçôes.
Fonte:Site BRASIL,BRASIL
JOSÉ DIRCEU - "A tendência é a vitória da Dilma".
O ex-deputado diz que a chefe da Casa Civil é favorita em 2010 porque o país não quer mudar de rumo.
Guilherme Evelin e Ricardo Mendonça.
ÉPOCA – Essa crítica à imprensa não é autoritária? Não é a demonstração de que o PT no poder não aceita críticas?
Dirceu – A mídia brasileira precisa ser regulamentada, democratizada. No mundo inteiro foi assim, menos no Brasil. Quero que peguem a legislação mais moderada que existe no mundo e apliquem no Brasil. Como você pode ficar sem lei de imprensa? Sem direito de resposta para preservar sua imagem e a honra? Você não pode dar ao Estado poderes para intervir na imprensa e na liberdade de manifestação. Mas quero também minha liberdade de imprensa. Fui investigado, processado e julgado pela imprensa como o chefe da quadrilha do mensalão e corrupto. Até agora eu consegui ser absolvido em todos os inquéritos, investigações, processos, CPIs, inclusive em seis processos em primeira instância em Brasília. Só resta o processo no Supremo. E se eu for absolvido pelo Supremo em 2011? Como vão ficar esses seis anos?
ÉPOCA – O senhor não errou em nada?
Dirceu – Eu não faria nada diferente. Quando fui deputado estadual, federal, não cometi grandes erros. Posso ter feito julgamento precipitado de um ou outro acusado. No governo, cometemos muitos erros. Um erro foi a aliança com o PMDB, que não fizemos no começo do governo.
ÉPOCA – O senhor pensa em voltar para a direção do PT?
Dirceu – Não. Nem para cargo público, que eu posso, pois só tenho inelegibilidade. Mas não pretendo voltar enquanto não for julgado pelo Supremo. Não me sinto no direito nem em condições. Tenho de provar minha inocência primeiro. Depois pedir anistia na Câmara. Esse é meu roteiro. Eu preciso provar minha inocência. É um absurdo, mas não tem outra alternativa.
ÉPOCA – A Dilma na Presidência faria um governo mais à esquerda que o do Lula, como disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini?
Dirceu – Acho que ela faria um terceiro governo, que teria muito mais condições que o segundo, que teve mais condições que o primeiro. Vão se criando condições no país para outras mudanças.
“Um dos problemas do Serra é o Aécio, que tem um discurso que
agrada mais. O outro é de proposta para o país, que eles não têm”
ÉPOCA – O segundo governo Lula é melhor que o primeiro?
Dirceu – Não digo que seja melhor. O primeiro cumpriu uma etapa e tarefas que eram adequadas a ele. Poderia ter tido uma política monetária mais heterodoxa antes de 2007. O Banco Central errou no final do ano passado. Deveria ter baixado os juros em 4 pontos quando começou a crise. Hoje, isso é quase unânime. Em parte, estamos pagando hoje por esse erro. Felizmente, o Brasil também estava preparado porque o Banco Central também tem qualidades: desdolarizou a dívida, alongou a dívida, fez as reservas, saneou o sistema financeiro.
ÉPOCA – O Brasil errou ao apoiar um egípcio acusado de antissemitismo e desprezar uma candidatura própria para a direção da Unesco?
Dirceu – Eu preferia que (o candidato brasileiro) fosse o Cristóvam (Buarque). O Brasil tomou a decisão de apoiar o egípcio por questões políticas. Sou contra desqualificação política de certas personalidades. Se você tomar ao pé da letra o que estão fazendo com o presidente do Irã (Mahmoud Ahmadinejad), nós deveríamos fazer o mesmo com o Bush, né? Também com o primeiro-ministro de Israel (Benjamin Netanyahu), que defende coisas indefensáveis. Eu não posso deixar de ter relações ou votar indicações de certos países por causa disso. Se o presidente do Irã vier ao Brasil, nós temos de recebê-lo. Quem quiser fazer manifestação contra ele, que faça.
ÉPOCA – O Ahmadinejad defende a destruição do Estado de Israel.
Dirceu – Não é bem assim. Então eu vou dizer que a direita de Israel, que está no poder, defende a destruição do Estado palestino. Por causa disso, não vamos ter relação com Israel? Não concordamos com as declarações do Irã em relação a Israel, mas temos de defender os direitos do Irã, que também queremos para o Brasil, como o enriquecimento do urânio.
ÉPOCA – Quando o senhor foi deputado, algum parente, correligionário ou amigo usou sua cota de passagens?
Dirceu – Como o Lula disse, nós construímos o PT e fizemos a luta contra a ditadura. Sempre os parlamentares do PT apoiaram o partido. Então, pessoas do partido usaram bilhetes. Parente, não.
ÉPOCA – Dezessete anos depois da CPI do Collor, nós temos agora uma CPI da Petrobras com Renan Calheiros e Fernando Collor ajudando o governo Lula . Não é uma ironia?
Dirceu – Não sei se o Collor vai ajudar o governo, não. O Brasil de 2009, em comparação com o de 1991, é melhor em todos os sentidos. O Collor é o Collor, um senador de Alagoas com peso de um em 81. Ele não tem influência. O Renan é diferente, porque ele tem o peso de um líder do PMDB.
Fonte:Revista Época
Guilherme Evelin e Ricardo Mendonça.
ÉPOCA – Essa crítica à imprensa não é autoritária? Não é a demonstração de que o PT no poder não aceita críticas?
Dirceu – A mídia brasileira precisa ser regulamentada, democratizada. No mundo inteiro foi assim, menos no Brasil. Quero que peguem a legislação mais moderada que existe no mundo e apliquem no Brasil. Como você pode ficar sem lei de imprensa? Sem direito de resposta para preservar sua imagem e a honra? Você não pode dar ao Estado poderes para intervir na imprensa e na liberdade de manifestação. Mas quero também minha liberdade de imprensa. Fui investigado, processado e julgado pela imprensa como o chefe da quadrilha do mensalão e corrupto. Até agora eu consegui ser absolvido em todos os inquéritos, investigações, processos, CPIs, inclusive em seis processos em primeira instância em Brasília. Só resta o processo no Supremo. E se eu for absolvido pelo Supremo em 2011? Como vão ficar esses seis anos?
ÉPOCA – O senhor não errou em nada?
Dirceu – Eu não faria nada diferente. Quando fui deputado estadual, federal, não cometi grandes erros. Posso ter feito julgamento precipitado de um ou outro acusado. No governo, cometemos muitos erros. Um erro foi a aliança com o PMDB, que não fizemos no começo do governo.
ÉPOCA – O senhor pensa em voltar para a direção do PT?
Dirceu – Não. Nem para cargo público, que eu posso, pois só tenho inelegibilidade. Mas não pretendo voltar enquanto não for julgado pelo Supremo. Não me sinto no direito nem em condições. Tenho de provar minha inocência primeiro. Depois pedir anistia na Câmara. Esse é meu roteiro. Eu preciso provar minha inocência. É um absurdo, mas não tem outra alternativa.
ÉPOCA – A Dilma na Presidência faria um governo mais à esquerda que o do Lula, como disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini?
Dirceu – Acho que ela faria um terceiro governo, que teria muito mais condições que o segundo, que teve mais condições que o primeiro. Vão se criando condições no país para outras mudanças.
“Um dos problemas do Serra é o Aécio, que tem um discurso que
agrada mais. O outro é de proposta para o país, que eles não têm”
ÉPOCA – O segundo governo Lula é melhor que o primeiro?
Dirceu – Não digo que seja melhor. O primeiro cumpriu uma etapa e tarefas que eram adequadas a ele. Poderia ter tido uma política monetária mais heterodoxa antes de 2007. O Banco Central errou no final do ano passado. Deveria ter baixado os juros em 4 pontos quando começou a crise. Hoje, isso é quase unânime. Em parte, estamos pagando hoje por esse erro. Felizmente, o Brasil também estava preparado porque o Banco Central também tem qualidades: desdolarizou a dívida, alongou a dívida, fez as reservas, saneou o sistema financeiro.
ÉPOCA – O Brasil errou ao apoiar um egípcio acusado de antissemitismo e desprezar uma candidatura própria para a direção da Unesco?
Dirceu – Eu preferia que (o candidato brasileiro) fosse o Cristóvam (Buarque). O Brasil tomou a decisão de apoiar o egípcio por questões políticas. Sou contra desqualificação política de certas personalidades. Se você tomar ao pé da letra o que estão fazendo com o presidente do Irã (Mahmoud Ahmadinejad), nós deveríamos fazer o mesmo com o Bush, né? Também com o primeiro-ministro de Israel (Benjamin Netanyahu), que defende coisas indefensáveis. Eu não posso deixar de ter relações ou votar indicações de certos países por causa disso. Se o presidente do Irã vier ao Brasil, nós temos de recebê-lo. Quem quiser fazer manifestação contra ele, que faça.
ÉPOCA – O Ahmadinejad defende a destruição do Estado de Israel.
Dirceu – Não é bem assim. Então eu vou dizer que a direita de Israel, que está no poder, defende a destruição do Estado palestino. Por causa disso, não vamos ter relação com Israel? Não concordamos com as declarações do Irã em relação a Israel, mas temos de defender os direitos do Irã, que também queremos para o Brasil, como o enriquecimento do urânio.
ÉPOCA – Quando o senhor foi deputado, algum parente, correligionário ou amigo usou sua cota de passagens?
Dirceu – Como o Lula disse, nós construímos o PT e fizemos a luta contra a ditadura. Sempre os parlamentares do PT apoiaram o partido. Então, pessoas do partido usaram bilhetes. Parente, não.
ÉPOCA – Dezessete anos depois da CPI do Collor, nós temos agora uma CPI da Petrobras com Renan Calheiros e Fernando Collor ajudando o governo Lula . Não é uma ironia?
Dirceu – Não sei se o Collor vai ajudar o governo, não. O Brasil de 2009, em comparação com o de 1991, é melhor em todos os sentidos. O Collor é o Collor, um senador de Alagoas com peso de um em 81. Ele não tem influência. O Renan é diferente, porque ele tem o peso de um líder do PMDB.
Fonte:Revista Época
FALA MACIA E PORRETE À MÃO.
O último presidente dos EUA a desafiar o lobby israelense foi Dwight D. Eisenhower – que obrigou Israel a devolver o Sinai, imediatamente depois da guerra de 1956. “Ike” era tão popular, que o lobby não o assustava. Obama não é menos popular. Talvez o lobby também não o assuste.
Uri Avnery
Barack Obama tem sido frequentemente comparado a Franklin Delano Roosevelt, mas parece ter copiado página de livro de outro Roosevelt: o presidente Theodore Roosevelt, o qual, há 108 anos, bem preveniu os sucessores: "Falem macio. E tenham um grande porrete sempre à mão!” Essa semana, o mundo viu como opera a coisa.
Obama sentou-se no Salão Oval, ao lado de Binyamin Netanyahu, e falou aos jornalistas. Estava sério, mas relaxado. A linguagem corporal mostrou claramente: Netanyahu curvado para a frente, ansioso, como caixeiro viajante que tenta empurrar sua mercadoria; Obama recostado, tranquilo e seguro de si. Falou macio, muito macio. Mas ali, às costas, escondido atrás da bandeira, havia, sim, um grande porrete.
O mundo, é claro, quis saber o que aconteceu entre os dois, no encontro a sós.
De volta a Israel, Netanyahu muito fez para apresentar o encontro como grande sucesso. Agora, depois de apagados os holofotes e enrolado o tapete vermelho, pode-se repensar o que realmente todos vimos e ouvimos.
Como seu maior sucesso, Netanyahu enfatizou a questão do Irã. "Chegamos a perfeito acordo", anunciou ele repetidas vezes.
Mas... que acordo? Acordo sobre o quê? Sobre a necessidade de impedir que o Irã alcance "capacidade nuclear militar".
Calma. O que é isso? Ouvimos aí a palavra "militar"? Mas... Até agora, todos os governos israelenses só fizeram repetir que deveriam impedir que o Irã alcançasse qualquer capacidade nuclear. A nova fórmula, portanto, significa que o governo de Netanyahu já aceitou que o Irã tenha capacidade nuclear "não-militar" – que jamais está muito longe de capacidade nuclear "militar".
E essa não foi a única derrota de Netanyahu, na questão iraniana. Antes de viajar, ele havia exigido que Obama concedesse ao Irã apenas três meses de prazo, "até outubro"; depois disso, "todas as possibilidades estariam sobre a mesa". Um ultimato, que incluía ameaça de ataque militar.
Tudo isso é letra morta. Obama disse que manterá conversações com o Irã até o final do ano; e que, depois disso, avaliada a nova situação, pensará sobre os desdobramentos. Se Obama concluir que não houve progresso, tomará outras medidas, inclusive novas sanções, mais severas. A opção militar sumiu.
É verdade que, depois do encontro, Obama disse a um jornal que "todas as possibilidades estão sobre a mesa". Mas o fato de que não usou essa fórmula na presença de Netanyahu fala muito, muito claramente.
Ninguém duvida de que Netanyahu pediu licença para atacar o Irã, ou – no mínimo – pediu licença para ameaçar. Obama respondeu-lhe um claro e completo "não". Obama decidiu que é preciso evitar que Israel ataque o Irã. O governo israelense foi muito inequivocamente informado dessa decisão. Para garantir que a mensagem seria adequadamente recebida, Obama mandou o chefe da CIA a Israel, portador de exatamente a mesma mensagem, a ser transmitida a todos os líderes israelenses.
Os planos israelenses para ataque militar ao Irã foram retirados da mesa – se é que algum dia lá estiveram.
Netanyahu queria ligar a questão iraniana à questão da Palestina, por via torta e conexão negativa: enquanto persistisse a ameaça iraniana, não se negociariam temas palestinos.
Aqui também, Obama pôs reta a via torta de Netanyahu e estabeleceu uma conexão positiva: progresso na questão palestina é precondição para progresso na questão iraniana. É o que faz sentido: a Palestina não resolvida leva lenha à fogueira da questão iraniana; dá ao Irã uma razão para ameaçar Israel; e fragiliza a oposição de Egito e Arábia Saudita, contra as ambições do Irã.
A principal mensagem de Obama teve a ver com outra questão, que essa semana voltou ao centro das discussões: as colônias nos territórios ocupados.
A palavra "colônias" praticamente desaparecera durante o reinado de Bush Filho. É verdade que todos os governos dos EUA sempre se opuseram à ampliação das colônias. Mas desde a fracassada tentativa de James Baker, secretário de Estado de Bush Pai, de impor sanções a Israel, nunca mais ninguém se atrevera a atacar as colônias. Negociam em Washington e constroem colônias na Palestina. Mentem em Jerusalém e constroem colônias na Palestina.
Como diz um velho palestino: “Negociamos a partilha da pizza, enquanto Israel devora a pizza."
É preciso repetir sempre: as colônias nos territórios ocupados são desastre para os palestinos; são desastre para a paz; e são duplo e triplo desastre para Israel. Primeiro, porque o principal objetivo daqueles prédios é tornar impossível qualquer Estado palestino; assim, se torna impossível, para sempre, qualquer paz. Segundo, porque a construção daqueles prédios suga as energias de toda a economia de Israel e devora recursos que deveriam ser usados para socorrer os israelenses mais pobres. Terceiro, porque as colônias minam a legalidade do Estado de Israel, aceleram a metástase do câncer do fascismo e empurram todo o sistema político israelense na direção dos projetos da direita.
Poetanto, Obama está certo, ao dar prioridade à questão das colônias construídas nos territórios ocupados antes de qualquer outra; antes, até, das negociações de paz. A imediata paralisação de qualquer construção nas colônias é questão primeira. Quando um corpo esvai-se em hemorragia, é preciso conter a hemorragia antes de poder tratar qualquer doença. Ou o paciente morre, e não haverá o que salvar. Levar os palestinos a esse ponto é exatamente o objetivo de Netanyahu.
Por isso Netanyahu não aceitou a exigência de paralisar a construção de colônias. Aceitasse, sua coalizão de governo estaria esfacelada, e ele seria obrigado a renunciar; ou teria de construir outro governo, com o partido Kadima. A infortunada Tzipi Livni, que até hoje não achou lugar na oposição, sem dúvida agarraria furiosamente a oportunidade.
Netanyahu tentará usar o Barak israelense contra o Barack norte-americano. Com a ajuda de Ehud Barak, Netanyahu já está montando a cenografia de "demolir os núcleos avançados" [primeiras construções de novas colônias], para tentar distrair a atenção, enquanto prosseguem as construções nas colônias já existentes. É preciso esperar para ver se a encenação funciona, e se as lideranças dos judeus das colônias fazem o que o script prevê que façam. Um dia depois do regresso de Netanyahu, Barak demoliu pela sétima vez (!) Maoz Esther, um núcleo avançado de uma nova colônia, de sete barracões de madeira. Em algumas horas, os colonos voltaram e reergueram os barracões.
(O exército de Israel construiu no Negev uma vila árabe 'cenográfica', para treinamento. Essa semana, corria em Israel uma piada: o exército construíra também o núcleo avançado Maoz Esther, com soldados fantasiados de colonos. Sempre que os EUA exijam, eles derrubam tudo. Imediatamente depois, os soldados reconstroem tudo... até nova pressão dos EUA.)
Recusar-se a paralisar as construções nas colônias implica recusar-se a aceitar a solução dos Dois Estados. Netanyahu apenas brinca com slogans vazios. Falou sobre "dois povos vivendo em paz"... mas não fala do Estado palestino. Um de seus assessores chama de "infantilidade" a exigência de dois Estados.
Claro que não é infantilidade. Já está comprovado que negociações – cujas conclusões são sempre conhecidas de antemão – não levam a parte alguma. O acordo de Oslo entrou em colapso, por isso. Netanyahu já conta com o fracasso da próxima rodada de negociações.
Netanyahu ainda não apresentou seu plano de paz. Não porque não tenha plano, mas porque sabe que ninguém aceitará o plano que tem.
O plano de Netanyahu é: controle israelense total sobre todo o território entre o Mediterrâneo e o Jordão. Construção ilimitada de colônias em todo o território. Soberania limitada para alguns poucos enclaves de palestinos, super densamente povoados e cercados completamente por colônias de judeus. Jerusalém inteira, como território de Israel. E nenhum refugiado palestino jamais voltará a pisar na Palestina.
Ninguém comprará esse pacote, no planeta. Então, Netanyahu, vendedor profissional, está cuidando de embrulhá-lo em embalagem atraente.
Por exemplo: os palestinos "se autogovernarão". Mas... onde?! Onde estão as fronteiras? Netanyahu também já disse que os palestinos não terão controle sobre "o espaço aéreo" nem sobre "os postos de fronteira". Estado sem exército e sem controle nem sobre o espaço aéreo nem sobre as fronteiras... não é Estado; é um bantustão, como os que foram criados pelos racistas do regime de apartheid na África do Sul.
Não me surpreenderei se, em futuro próximo, Netanyahu começar a chamar essas reservas cercadas para nativos, de "Estado palestino".
Enquanto isso, ele tenta ganhar tempo e vai adiando o mais que possa as negociações de paz. Exige que os palestinos reconheçam Israel como "Estado do povo judeu", desejando e esperando que os palestinos rejeitem a ideia com as duas mãos. Os palestinos jamais reconhecerão Israel como "Estado judeu", porque esse reconhecimento implicaria desistir de sua exigência fundamental – a volta dos refugiados –, além de ser facada nas costas dos 1,5 milhão de palestinos que são cidadãos israelenses.
Netanyahu está pronto a aceitar a proposta de Obama, de envolver outros Estados muçulmanos no processo de paz – ideia que já foi repetidamente rejeitada por todos os governos israelenses até hoje. Será só mais um coelho que tirará da cartola, de tempos em tempos, para adiar tudo. Antes de que dúzias de Estados árabes e mais de 50 Estados muçulmanos resolvam aderir às 'negociações', passar-se-ão meses, talvez anos.
Netanyahu, é claro, pedirá a cada um deles um pagamento adiantado: a "normalização das relações com Israel" – o que dará em nada, porque nem o mundo árabe nem o mundo muçulmano jamais cederá seu principal trunfo, em troca de nada. Só contaram a Netanyahu. Mas é assim que Netanyahu trabalha. Ponto. Parágrafo.
E Obama? Obama tem algum novo plano de paz? Se se consideram suas declarações dos últimos dias, parece que tem.
Quando fala em "dois Estados para dois povos", praticamente aceita o plano de paz que já é consensual em todo o mundo: conforme os "parâmetros" apresentados por Bill Clinton em seus últimos dias na presidência; conforme o núcleo da proposta de paz da Arábia Saudita; e conforme os planos de paz do movimento israelense pela paz (minuta de acordo de paz do movimento Gush Shalom, a iniciativa de Genebra, a declaração Ayalon-Nusseibeh e outros.)
Em resumo: um Estado da Palestina, viável e soberano, ao lado de Israel, nos limites das fronteiras de antes de 1967 (com pequenas trocas negociadas de territórios); a demolição de todas as colônias que estejam fora do território israelense; Jerusalém Leste como capital da Palestina e Jerusalém Oeste como capital de Israel; solução aceitável para os dois lados interessados, para o problema dos refugiados; ligação segura entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza; e acordos que garantam a segurança dos dois Estados.
Ao mesmo tempo, em todo o mundo cresce o consenso de que o único modo de fazer a roda da paz voltar a andar é Obama divulgar seu plano de paz e conclamar os dois lados a aceitá-lo. Se for preciso, por referendos populares.
Obama pode fazer isso no discurso previsto para o Cairo, dentro de duas semanas, em sua primeira visita presidencial ao Oriente Médio. Não por acaso, a visita não começará em Israel – gesto praticamente sem precedentes, em se tratando de presidente dos EUA.
Para tanto, Obama tem de estar preparado para enfrentar o lobby israelense. Parece estar. O último presidente dos EUA a desafiar o lobby foi Dwight D. Eisenhower – que obrigou Israel a devolver o Sinai, imediatamente depois da guerra de 1956. “Ike” era tão popular, que o lobby não o assustava. Obama não é menos popular. Talvez o lobby também não o assuste.
Como ”Teddy” Roosevelt ensinou: quando se tem um porrete, não é preciso usá-lo. Com porrete à mão, pode-se falar macio.
Espero, sim, que Obama fale macio – mas com clareza e sem ambiguidades.
* URI AVNERY, 23/5/2009, "Calm voice, big stick", Gush Shalom [Grupo da Paz], reproduzido em http://usa.mediamonitors.net/content/view/full/62598. Tradução de Caia Fittipaldi, autorizada pelo autor.
Uri Avnery é jornalista, membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense).
Fonte:Agência Carta Maior.
Uri Avnery
Barack Obama tem sido frequentemente comparado a Franklin Delano Roosevelt, mas parece ter copiado página de livro de outro Roosevelt: o presidente Theodore Roosevelt, o qual, há 108 anos, bem preveniu os sucessores: "Falem macio. E tenham um grande porrete sempre à mão!” Essa semana, o mundo viu como opera a coisa.
Obama sentou-se no Salão Oval, ao lado de Binyamin Netanyahu, e falou aos jornalistas. Estava sério, mas relaxado. A linguagem corporal mostrou claramente: Netanyahu curvado para a frente, ansioso, como caixeiro viajante que tenta empurrar sua mercadoria; Obama recostado, tranquilo e seguro de si. Falou macio, muito macio. Mas ali, às costas, escondido atrás da bandeira, havia, sim, um grande porrete.
O mundo, é claro, quis saber o que aconteceu entre os dois, no encontro a sós.
De volta a Israel, Netanyahu muito fez para apresentar o encontro como grande sucesso. Agora, depois de apagados os holofotes e enrolado o tapete vermelho, pode-se repensar o que realmente todos vimos e ouvimos.
Como seu maior sucesso, Netanyahu enfatizou a questão do Irã. "Chegamos a perfeito acordo", anunciou ele repetidas vezes.
Mas... que acordo? Acordo sobre o quê? Sobre a necessidade de impedir que o Irã alcance "capacidade nuclear militar".
Calma. O que é isso? Ouvimos aí a palavra "militar"? Mas... Até agora, todos os governos israelenses só fizeram repetir que deveriam impedir que o Irã alcançasse qualquer capacidade nuclear. A nova fórmula, portanto, significa que o governo de Netanyahu já aceitou que o Irã tenha capacidade nuclear "não-militar" – que jamais está muito longe de capacidade nuclear "militar".
E essa não foi a única derrota de Netanyahu, na questão iraniana. Antes de viajar, ele havia exigido que Obama concedesse ao Irã apenas três meses de prazo, "até outubro"; depois disso, "todas as possibilidades estariam sobre a mesa". Um ultimato, que incluía ameaça de ataque militar.
Tudo isso é letra morta. Obama disse que manterá conversações com o Irã até o final do ano; e que, depois disso, avaliada a nova situação, pensará sobre os desdobramentos. Se Obama concluir que não houve progresso, tomará outras medidas, inclusive novas sanções, mais severas. A opção militar sumiu.
É verdade que, depois do encontro, Obama disse a um jornal que "todas as possibilidades estão sobre a mesa". Mas o fato de que não usou essa fórmula na presença de Netanyahu fala muito, muito claramente.
Ninguém duvida de que Netanyahu pediu licença para atacar o Irã, ou – no mínimo – pediu licença para ameaçar. Obama respondeu-lhe um claro e completo "não". Obama decidiu que é preciso evitar que Israel ataque o Irã. O governo israelense foi muito inequivocamente informado dessa decisão. Para garantir que a mensagem seria adequadamente recebida, Obama mandou o chefe da CIA a Israel, portador de exatamente a mesma mensagem, a ser transmitida a todos os líderes israelenses.
Os planos israelenses para ataque militar ao Irã foram retirados da mesa – se é que algum dia lá estiveram.
Netanyahu queria ligar a questão iraniana à questão da Palestina, por via torta e conexão negativa: enquanto persistisse a ameaça iraniana, não se negociariam temas palestinos.
Aqui também, Obama pôs reta a via torta de Netanyahu e estabeleceu uma conexão positiva: progresso na questão palestina é precondição para progresso na questão iraniana. É o que faz sentido: a Palestina não resolvida leva lenha à fogueira da questão iraniana; dá ao Irã uma razão para ameaçar Israel; e fragiliza a oposição de Egito e Arábia Saudita, contra as ambições do Irã.
A principal mensagem de Obama teve a ver com outra questão, que essa semana voltou ao centro das discussões: as colônias nos territórios ocupados.
A palavra "colônias" praticamente desaparecera durante o reinado de Bush Filho. É verdade que todos os governos dos EUA sempre se opuseram à ampliação das colônias. Mas desde a fracassada tentativa de James Baker, secretário de Estado de Bush Pai, de impor sanções a Israel, nunca mais ninguém se atrevera a atacar as colônias. Negociam em Washington e constroem colônias na Palestina. Mentem em Jerusalém e constroem colônias na Palestina.
Como diz um velho palestino: “Negociamos a partilha da pizza, enquanto Israel devora a pizza."
É preciso repetir sempre: as colônias nos territórios ocupados são desastre para os palestinos; são desastre para a paz; e são duplo e triplo desastre para Israel. Primeiro, porque o principal objetivo daqueles prédios é tornar impossível qualquer Estado palestino; assim, se torna impossível, para sempre, qualquer paz. Segundo, porque a construção daqueles prédios suga as energias de toda a economia de Israel e devora recursos que deveriam ser usados para socorrer os israelenses mais pobres. Terceiro, porque as colônias minam a legalidade do Estado de Israel, aceleram a metástase do câncer do fascismo e empurram todo o sistema político israelense na direção dos projetos da direita.
Poetanto, Obama está certo, ao dar prioridade à questão das colônias construídas nos territórios ocupados antes de qualquer outra; antes, até, das negociações de paz. A imediata paralisação de qualquer construção nas colônias é questão primeira. Quando um corpo esvai-se em hemorragia, é preciso conter a hemorragia antes de poder tratar qualquer doença. Ou o paciente morre, e não haverá o que salvar. Levar os palestinos a esse ponto é exatamente o objetivo de Netanyahu.
Por isso Netanyahu não aceitou a exigência de paralisar a construção de colônias. Aceitasse, sua coalizão de governo estaria esfacelada, e ele seria obrigado a renunciar; ou teria de construir outro governo, com o partido Kadima. A infortunada Tzipi Livni, que até hoje não achou lugar na oposição, sem dúvida agarraria furiosamente a oportunidade.
Netanyahu tentará usar o Barak israelense contra o Barack norte-americano. Com a ajuda de Ehud Barak, Netanyahu já está montando a cenografia de "demolir os núcleos avançados" [primeiras construções de novas colônias], para tentar distrair a atenção, enquanto prosseguem as construções nas colônias já existentes. É preciso esperar para ver se a encenação funciona, e se as lideranças dos judeus das colônias fazem o que o script prevê que façam. Um dia depois do regresso de Netanyahu, Barak demoliu pela sétima vez (!) Maoz Esther, um núcleo avançado de uma nova colônia, de sete barracões de madeira. Em algumas horas, os colonos voltaram e reergueram os barracões.
(O exército de Israel construiu no Negev uma vila árabe 'cenográfica', para treinamento. Essa semana, corria em Israel uma piada: o exército construíra também o núcleo avançado Maoz Esther, com soldados fantasiados de colonos. Sempre que os EUA exijam, eles derrubam tudo. Imediatamente depois, os soldados reconstroem tudo... até nova pressão dos EUA.)
Recusar-se a paralisar as construções nas colônias implica recusar-se a aceitar a solução dos Dois Estados. Netanyahu apenas brinca com slogans vazios. Falou sobre "dois povos vivendo em paz"... mas não fala do Estado palestino. Um de seus assessores chama de "infantilidade" a exigência de dois Estados.
Claro que não é infantilidade. Já está comprovado que negociações – cujas conclusões são sempre conhecidas de antemão – não levam a parte alguma. O acordo de Oslo entrou em colapso, por isso. Netanyahu já conta com o fracasso da próxima rodada de negociações.
Netanyahu ainda não apresentou seu plano de paz. Não porque não tenha plano, mas porque sabe que ninguém aceitará o plano que tem.
O plano de Netanyahu é: controle israelense total sobre todo o território entre o Mediterrâneo e o Jordão. Construção ilimitada de colônias em todo o território. Soberania limitada para alguns poucos enclaves de palestinos, super densamente povoados e cercados completamente por colônias de judeus. Jerusalém inteira, como território de Israel. E nenhum refugiado palestino jamais voltará a pisar na Palestina.
Ninguém comprará esse pacote, no planeta. Então, Netanyahu, vendedor profissional, está cuidando de embrulhá-lo em embalagem atraente.
Por exemplo: os palestinos "se autogovernarão". Mas... onde?! Onde estão as fronteiras? Netanyahu também já disse que os palestinos não terão controle sobre "o espaço aéreo" nem sobre "os postos de fronteira". Estado sem exército e sem controle nem sobre o espaço aéreo nem sobre as fronteiras... não é Estado; é um bantustão, como os que foram criados pelos racistas do regime de apartheid na África do Sul.
Não me surpreenderei se, em futuro próximo, Netanyahu começar a chamar essas reservas cercadas para nativos, de "Estado palestino".
Enquanto isso, ele tenta ganhar tempo e vai adiando o mais que possa as negociações de paz. Exige que os palestinos reconheçam Israel como "Estado do povo judeu", desejando e esperando que os palestinos rejeitem a ideia com as duas mãos. Os palestinos jamais reconhecerão Israel como "Estado judeu", porque esse reconhecimento implicaria desistir de sua exigência fundamental – a volta dos refugiados –, além de ser facada nas costas dos 1,5 milhão de palestinos que são cidadãos israelenses.
Netanyahu está pronto a aceitar a proposta de Obama, de envolver outros Estados muçulmanos no processo de paz – ideia que já foi repetidamente rejeitada por todos os governos israelenses até hoje. Será só mais um coelho que tirará da cartola, de tempos em tempos, para adiar tudo. Antes de que dúzias de Estados árabes e mais de 50 Estados muçulmanos resolvam aderir às 'negociações', passar-se-ão meses, talvez anos.
Netanyahu, é claro, pedirá a cada um deles um pagamento adiantado: a "normalização das relações com Israel" – o que dará em nada, porque nem o mundo árabe nem o mundo muçulmano jamais cederá seu principal trunfo, em troca de nada. Só contaram a Netanyahu. Mas é assim que Netanyahu trabalha. Ponto. Parágrafo.
E Obama? Obama tem algum novo plano de paz? Se se consideram suas declarações dos últimos dias, parece que tem.
Quando fala em "dois Estados para dois povos", praticamente aceita o plano de paz que já é consensual em todo o mundo: conforme os "parâmetros" apresentados por Bill Clinton em seus últimos dias na presidência; conforme o núcleo da proposta de paz da Arábia Saudita; e conforme os planos de paz do movimento israelense pela paz (minuta de acordo de paz do movimento Gush Shalom, a iniciativa de Genebra, a declaração Ayalon-Nusseibeh e outros.)
Em resumo: um Estado da Palestina, viável e soberano, ao lado de Israel, nos limites das fronteiras de antes de 1967 (com pequenas trocas negociadas de territórios); a demolição de todas as colônias que estejam fora do território israelense; Jerusalém Leste como capital da Palestina e Jerusalém Oeste como capital de Israel; solução aceitável para os dois lados interessados, para o problema dos refugiados; ligação segura entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza; e acordos que garantam a segurança dos dois Estados.
Ao mesmo tempo, em todo o mundo cresce o consenso de que o único modo de fazer a roda da paz voltar a andar é Obama divulgar seu plano de paz e conclamar os dois lados a aceitá-lo. Se for preciso, por referendos populares.
Obama pode fazer isso no discurso previsto para o Cairo, dentro de duas semanas, em sua primeira visita presidencial ao Oriente Médio. Não por acaso, a visita não começará em Israel – gesto praticamente sem precedentes, em se tratando de presidente dos EUA.
Para tanto, Obama tem de estar preparado para enfrentar o lobby israelense. Parece estar. O último presidente dos EUA a desafiar o lobby foi Dwight D. Eisenhower – que obrigou Israel a devolver o Sinai, imediatamente depois da guerra de 1956. “Ike” era tão popular, que o lobby não o assustava. Obama não é menos popular. Talvez o lobby também não o assuste.
Como ”Teddy” Roosevelt ensinou: quando se tem um porrete, não é preciso usá-lo. Com porrete à mão, pode-se falar macio.
Espero, sim, que Obama fale macio – mas com clareza e sem ambiguidades.
* URI AVNERY, 23/5/2009, "Calm voice, big stick", Gush Shalom [Grupo da Paz], reproduzido em http://usa.mediamonitors.net/content/view/full/62598. Tradução de Caia Fittipaldi, autorizada pelo autor.
Uri Avnery é jornalista, membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense).
Fonte:Agência Carta Maior.
FRASES PARA ENTENDER O BRASIL.
Blog do Sakamoto, por Leonardo Sakamoto
Mais duas para as “Frases para entender o Brasil”: curtas, grossas, maravilhosamente elucidativas do que faz o Brasil Brasil.
Tema: Meio Ambiente
“Se essa defesa antipatriótica do meio ambiente que fazem aqui no Brasil fosse feita por essas pessoas na China, elas já teriam levado tiro e família ter pago a bala.”
Antônio Fernando Pinheiro Pedro, presidente do Comitê de Meio Ambiente da Câmara Americana de Comércio (Amcham), em debate sobre o tema para empresários associados, revelando certos desejos.
“O que os defensores do meio ambiente devem entender, é que o universo é violento e destrutivo. Portanto preservar o meio ambiente deve considerar isso, porque senão poderá às vezes nos prejudicar. Ao derrubar uma árvore, estamos na verdade dando o direito de outra nascer.”
Luciano Pizzatto, deputado federal pelo DEM do Paraná, também no debate na Amcham, usando uma retórica política de alto nível para explicar como a motosserra equilibra as forças do universo. Para ver mais pérolas do debate, entre no blog do Greenpeace.
Fonte:Blog do Sakamoto.
Mais duas para as “Frases para entender o Brasil”: curtas, grossas, maravilhosamente elucidativas do que faz o Brasil Brasil.
Tema: Meio Ambiente
“Se essa defesa antipatriótica do meio ambiente que fazem aqui no Brasil fosse feita por essas pessoas na China, elas já teriam levado tiro e família ter pago a bala.”
Antônio Fernando Pinheiro Pedro, presidente do Comitê de Meio Ambiente da Câmara Americana de Comércio (Amcham), em debate sobre o tema para empresários associados, revelando certos desejos.
“O que os defensores do meio ambiente devem entender, é que o universo é violento e destrutivo. Portanto preservar o meio ambiente deve considerar isso, porque senão poderá às vezes nos prejudicar. Ao derrubar uma árvore, estamos na verdade dando o direito de outra nascer.”
Luciano Pizzatto, deputado federal pelo DEM do Paraná, também no debate na Amcham, usando uma retórica política de alto nível para explicar como a motosserra equilibra as forças do universo. Para ver mais pérolas do debate, entre no blog do Greenpeace.
Fonte:Blog do Sakamoto.
CONVITE - Palestra da jornalista Bia Barbosa
Bia Barbosa no JPPS-Rio: Uma oportunidade única em um momento estratégico para a Comunicação no Brasil.
Por Evandro Ouriques, adaptado para a Agência Consciência.Net
Nesta segunda-feira (01/06) o Curso JPPS - Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (informações ao final) oferece a oportunidade de uma palestra com Bia Barbosa, do coletivo INTERVOZES, esta jornalista extraordinária que atua de maneira intensa e decisiva pelo Direito à Comunicação no Brasil como fator decisivo para o vigor da Democracia que estamos paulatinamente construindo.
Bia Barbosa, e seus companheiros e companheiras da INTERVOZES, estão completamente envolvidos neste momento com a Conferência Nacional de Comunicação e com o projeto de abrir no Brasil um amplo debate sobre os indicadores do Direito à Comunicação, questão na qual estão trabalhando já há mais de dois anos.
Sobre este tema, este ano a INTERVOZES, a UNESCO, o LAPCOM/UnB e o NETCCON, como se sabe, o Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência, que criou com a ANDI o JPPS, firmaram um convênio para estimular no Brasil o debate sobre a questão dos indicadores em sua relação direta com a democracia. Estamos articulando para o segundo semestre seminários regionais em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília sobre a questão e um seminário internacional em novembro.
Tenho uma alegria muito grande de estarmos trabalhando cada vez mais juntos. Bia tem vindo trazer sua experiência e trocar saberes no JPPS desde a primeira edição em 2007/1.
Trata-se de uma oportunidade muito grande esta segunda-feira, pois Bia Barbosa está super informada a respeito do andamento de todas as grandes questões pertinentes ao avanço da democracia através da modificação do quadro atual dos meios de comunicação no Brasil.
Por gentileza convidem amigos e amigas para virem aproveitar esta oportunidade.
Local: Campus da Praia Vermelha, Auditório da CPM-ECO
Horário: das 9h30m às 13h
Gratuito
Informações adicionais pelo email evouriques@terra.com.br ou pelo telefone (21) 9205-1696
Amor e alegria,
Prof. Evandro Ouriques - ECO/UFRJ
Por Evandro Ouriques, adaptado para a Agência Consciência.Net
Nesta segunda-feira (01/06) o Curso JPPS - Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (informações ao final) oferece a oportunidade de uma palestra com Bia Barbosa, do coletivo INTERVOZES, esta jornalista extraordinária que atua de maneira intensa e decisiva pelo Direito à Comunicação no Brasil como fator decisivo para o vigor da Democracia que estamos paulatinamente construindo.
Bia Barbosa, e seus companheiros e companheiras da INTERVOZES, estão completamente envolvidos neste momento com a Conferência Nacional de Comunicação e com o projeto de abrir no Brasil um amplo debate sobre os indicadores do Direito à Comunicação, questão na qual estão trabalhando já há mais de dois anos.
Sobre este tema, este ano a INTERVOZES, a UNESCO, o LAPCOM/UnB e o NETCCON, como se sabe, o Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência, que criou com a ANDI o JPPS, firmaram um convênio para estimular no Brasil o debate sobre a questão dos indicadores em sua relação direta com a democracia. Estamos articulando para o segundo semestre seminários regionais em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília sobre a questão e um seminário internacional em novembro.
Tenho uma alegria muito grande de estarmos trabalhando cada vez mais juntos. Bia tem vindo trazer sua experiência e trocar saberes no JPPS desde a primeira edição em 2007/1.
Trata-se de uma oportunidade muito grande esta segunda-feira, pois Bia Barbosa está super informada a respeito do andamento de todas as grandes questões pertinentes ao avanço da democracia através da modificação do quadro atual dos meios de comunicação no Brasil.
Por gentileza convidem amigos e amigas para virem aproveitar esta oportunidade.
Local: Campus da Praia Vermelha, Auditório da CPM-ECO
Horário: das 9h30m às 13h
Gratuito
Informações adicionais pelo email evouriques@terra.com.br ou pelo telefone (21) 9205-1696
Amor e alegria,
Prof. Evandro Ouriques - ECO/UFRJ
sábado, 30 de maio de 2009
CHINA - Cara a cara com Mao Tse Tung
Também estive lá em 1979, onde passei 15 dias numa viagem de serviço, quando era empregado da Petrobrás Comércio Internacional.Com relação ao texto abaixo, discordo em várias afirmações do mesmo.Como pode o Grande Timoneiro, como Mao é chamado na China, ser tão venerado até hoje e ao mesmo tempo ser responsabilizado pela morte de 70 milhões de chineses? Também dizer que com Mao foram 27 anos de atraso, é desconhecer o que era a China antes da revolução. Se o autor considerasse como atraso só o período da chamada "Revolução Cultural", tudo bem.Também afirmar que com Mao ocorreu a destruição da história e cultura milenar é "forçar muito a barra". Carlos Dória
André Boaventura
-Façam fila! Câmeras fotográficas nem pensar! E silêncio!
Assim é o clima entre os visitantes prestes a entrar no Mausoléu de Mao Tse Tung, no coração de Pequim. Placas e soldados deixam bem claro o comportamento solene necessário em lugar tão sagrado para os chineses.
O prédio, feito em arquitetura de linhas retas e ângulos de 90 graus, bem ao estilo "caixotão" comunista, foi construído para homenagear os pais da revolução socialista. Estou longe de ser um bom fotógrafo, mas pelo retrato aí, dá pra ter uma idéia. Na sala principal, o "grande timoneiro" Mao repousa em sono eterno.
O mausoléu fica ao sul da Praça da Paz Celestial, famosa nas imagens do estudante chinês enfrentando os tanques de guerra em 89. A sede do partido comunista também fica lá.
Muito perto, ao norte, está a Cidade Proibida, cartão postal mais conhecido de Pequim, com aquela foto enorme de Mao na entrada. A imagem é bem conhecida, não? Se alguém pudesse caminhar do corpo de Mao Tse Tung até a entrada central da Cidade Proibida, reservada antigamente apenas para os Imperadores, perceberia que é uma linha reta perfeita. Tudo muito simbólico.
Eu estava particularmente ansioso para aquele momento. No Brasil, ouvimos muito falar em Mao Tse Tung mas nunca pensamos, um dia, poder estar frente a frente ao corpo do próprio.
Minha curiosidade era grande também com o corpo embalsamado. Seria como os bonecos de cera do museu londrino Madame Tussauds?
Os 27 anos de governo de Mao representaram um enorme atraso para o país. Professores, cientistas e artistas forçados ao trabalho pesado no campo e nas indústrias. A Cultura e a História milenar foram destruídas em nome de uma nova ideologia.
Mais de 70 milhões de chineses morreram de fome ou nos campos de concentração sob seu comando. Um currículo sanguinário.
No entanto, Mao é celebrado ainda hoje como o maior herói do país. Seu rosto está em todas as notas de dinheiro. Duvida? Olha a prova aí.
Quase todo nativo sonha estar na fila onde eu me encontrava naquele dia frio de janeiro. Como os muçulmanos rumam à Meca, é esperado do chinês que visite o túmulo ao menos uma vez na vida. Todos caminhando com passos lentos, um atrás do outro, para prestar homenagem ao corpo do ditador.
Na porta, alguns chineses vendiam flores para serem ofertadas dentro do prédio.
Se você não está nem aí para a fila ou para a visita turística, é melhor ficar longe do Mausoléu. Militares circulam e desconfiam, a todo momento, de pessoas que estejam ali perto sem a intenção clara de entrar.
Eis que chegou o grande momento. Em fila indiana, entrei em silêncio na sala do corpo de Mao Tse Tung. Ele jazia numa redoma de vidro, coberto por uma bandeira com a foice e o martelo. Salão escuro, com luz apenas no grande líder deitado, e nos quatro soldados que ficam de prontidão 24 horas por dia. Rosto pálido, olhos fechados. Não é permitido tirar fotos, mas é pra isso que serve a internet. Veja como é aqui .
Não é permitido demorar-se muito ali. Há muita gente do lado de fora. Eu ainda tive sorte, pois aguardei apenas 10 minutos. O normal é que a espera passe de uma hora.
Mas a surpesa maior estava prestes a acontecer. Com um passo para fora do salão, toda aquela experiência de solenidade e respeito se despedaçou feito vaso de porcelana.
Uma gritaria frenética contrastou com o clima macabro do quarto ao lado: chineses, em banquinhas e quiosques, vendiam todo o tipo de objeto com a foto do ditador: chaveiros, copos, toalhas, camisetas, calendários. Tudo ainda dentro do mausoléu.
Quem gritava mais alto chamava a atenção de mais turistas. Chegavam até a puxar os clientes pelos braços, na ânsia de vender os produtos.
Aquilo me impressionou. Era a antítese de toda a ideologia que Mao Tse Tung pregou em vida. O capitalismo mais ralo girando a todo vapor enquanto o líder comunista repousava no salão adjacente.
Que ironia! Seu rosto era o mote de cada bugiganga. Vendiam os objetos de Mao e trocavam-nos pelas notas de dinheiro... de Mao! Ele se tornou a marca maior do capitalismo do seu país.
Além da contradição de sistemas econômicos, aquela experiência representou um profundo desrespeito à memória daquele que os chineses dizem tanto prezar.
Quer dizer que é proibido tirar fotos ou falar alto no recinto onde dorme o governante, mas a feira-livre a poucos metros do corpo é incentivada?
Mao Tse Tung é o símbolo mais forte da contradição que vive aquele país.
Uma nação que ainda não encontrou o equilíbrio entre sua cultura milenar, o sistema político comunista e o fascínio com a invasão das "Nikes", "Mcdonald's" e outras marcas internacionais.
*André Boaventura é jornalista, faz curso de mandarim há 4 anos e esteve duas vezes na China em 2008. É autor do blog De vez em quando .
Fonte:Blog SRZD
André Boaventura
-Façam fila! Câmeras fotográficas nem pensar! E silêncio!
Assim é o clima entre os visitantes prestes a entrar no Mausoléu de Mao Tse Tung, no coração de Pequim. Placas e soldados deixam bem claro o comportamento solene necessário em lugar tão sagrado para os chineses.
O prédio, feito em arquitetura de linhas retas e ângulos de 90 graus, bem ao estilo "caixotão" comunista, foi construído para homenagear os pais da revolução socialista. Estou longe de ser um bom fotógrafo, mas pelo retrato aí, dá pra ter uma idéia. Na sala principal, o "grande timoneiro" Mao repousa em sono eterno.
O mausoléu fica ao sul da Praça da Paz Celestial, famosa nas imagens do estudante chinês enfrentando os tanques de guerra em 89. A sede do partido comunista também fica lá.
Muito perto, ao norte, está a Cidade Proibida, cartão postal mais conhecido de Pequim, com aquela foto enorme de Mao na entrada. A imagem é bem conhecida, não? Se alguém pudesse caminhar do corpo de Mao Tse Tung até a entrada central da Cidade Proibida, reservada antigamente apenas para os Imperadores, perceberia que é uma linha reta perfeita. Tudo muito simbólico.
Eu estava particularmente ansioso para aquele momento. No Brasil, ouvimos muito falar em Mao Tse Tung mas nunca pensamos, um dia, poder estar frente a frente ao corpo do próprio.
Minha curiosidade era grande também com o corpo embalsamado. Seria como os bonecos de cera do museu londrino Madame Tussauds?
Os 27 anos de governo de Mao representaram um enorme atraso para o país. Professores, cientistas e artistas forçados ao trabalho pesado no campo e nas indústrias. A Cultura e a História milenar foram destruídas em nome de uma nova ideologia.
Mais de 70 milhões de chineses morreram de fome ou nos campos de concentração sob seu comando. Um currículo sanguinário.
No entanto, Mao é celebrado ainda hoje como o maior herói do país. Seu rosto está em todas as notas de dinheiro. Duvida? Olha a prova aí.
Quase todo nativo sonha estar na fila onde eu me encontrava naquele dia frio de janeiro. Como os muçulmanos rumam à Meca, é esperado do chinês que visite o túmulo ao menos uma vez na vida. Todos caminhando com passos lentos, um atrás do outro, para prestar homenagem ao corpo do ditador.
Na porta, alguns chineses vendiam flores para serem ofertadas dentro do prédio.
Se você não está nem aí para a fila ou para a visita turística, é melhor ficar longe do Mausoléu. Militares circulam e desconfiam, a todo momento, de pessoas que estejam ali perto sem a intenção clara de entrar.
Eis que chegou o grande momento. Em fila indiana, entrei em silêncio na sala do corpo de Mao Tse Tung. Ele jazia numa redoma de vidro, coberto por uma bandeira com a foice e o martelo. Salão escuro, com luz apenas no grande líder deitado, e nos quatro soldados que ficam de prontidão 24 horas por dia. Rosto pálido, olhos fechados. Não é permitido tirar fotos, mas é pra isso que serve a internet. Veja como é aqui .
Não é permitido demorar-se muito ali. Há muita gente do lado de fora. Eu ainda tive sorte, pois aguardei apenas 10 minutos. O normal é que a espera passe de uma hora.
Mas a surpesa maior estava prestes a acontecer. Com um passo para fora do salão, toda aquela experiência de solenidade e respeito se despedaçou feito vaso de porcelana.
Uma gritaria frenética contrastou com o clima macabro do quarto ao lado: chineses, em banquinhas e quiosques, vendiam todo o tipo de objeto com a foto do ditador: chaveiros, copos, toalhas, camisetas, calendários. Tudo ainda dentro do mausoléu.
Quem gritava mais alto chamava a atenção de mais turistas. Chegavam até a puxar os clientes pelos braços, na ânsia de vender os produtos.
Aquilo me impressionou. Era a antítese de toda a ideologia que Mao Tse Tung pregou em vida. O capitalismo mais ralo girando a todo vapor enquanto o líder comunista repousava no salão adjacente.
Que ironia! Seu rosto era o mote de cada bugiganga. Vendiam os objetos de Mao e trocavam-nos pelas notas de dinheiro... de Mao! Ele se tornou a marca maior do capitalismo do seu país.
Além da contradição de sistemas econômicos, aquela experiência representou um profundo desrespeito à memória daquele que os chineses dizem tanto prezar.
Quer dizer que é proibido tirar fotos ou falar alto no recinto onde dorme o governante, mas a feira-livre a poucos metros do corpo é incentivada?
Mao Tse Tung é o símbolo mais forte da contradição que vive aquele país.
Uma nação que ainda não encontrou o equilíbrio entre sua cultura milenar, o sistema político comunista e o fascínio com a invasão das "Nikes", "Mcdonald's" e outras marcas internacionais.
*André Boaventura é jornalista, faz curso de mandarim há 4 anos e esteve duas vezes na China em 2008. É autor do blog De vez em quando .
Fonte:Blog SRZD
"A REVOLUÇÃO VENEZUELANA" - livro de Gilberto Maringoni
Em 'A Revolução Venezuelana', Gilberto Maringoni desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? Para o autor, é errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década.
Por Igor Fuser*, em Carta Maior
Na lista dos demônios da mídia empresarial, o posto número 1 pertence, disparado, a Hugo Chávez, com sua boina vermelha e língua ferina. Raramente se passa um dia sem que alguma publicação da chamada “grande imprensa” despeje regulares doses de veneno contra o presidente venezuelano, apresentado como louco, fanfarrão, ditador ou incompetente.
Essa cantilena se mantém há mais de dez anos. Para ser exato, desde o início de 1999, quando o antigo coronel iniciou, após sua chegada ao governo, a transformação de um dos países de estrutura social mais iníqua no planeta - mais de 50% dos habitantes na miséria, em contraste com os lucros nababescos das exportações de petróleo - em uma referência mundial para todos os que cultivam os valores da justiça e da igualdade.
O livro de Gilberto Maringoni (A Revolução Venezuelana, Editora Unesp, 2009) merece ser saudado com um antídoto perfeito contra a manipulação informativa que, na imprensa brasileira, atingiu as raias de uma lavagem cerebral.
Jornalista e historiador, Maringoni fala de um tema que conhece em primeira mão. Viajou várias vezes à Venezuela e lá entrevistou quase todos os nomes que valiam a pena no tumultuado enredo político local - dos caciques da oposição conservadora, como Teodoro Petkoff, às figuras mais graduadas do regime esquerdista, entre as quais o próprio Chávez, além das mais variadas fontes na esfera acadêmica.
Com dados confiáveis em mãos, o autor desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? É errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década.
A Venezuela já viveu outros períodos de alta dos preços do petróleo, sem que a população tivesse tido acesso a mais do que umas magras migalhas do banquete. A marca da gestão chavista é algo que as primeiras gestões municipais petistas defendiam no Brasil e que, lamentavelmente, diluiu-se no lodaçal dos compromissos com as classes dominantes: a inversão das prioridades em favor das multidões oprimidas, ainda que ao preço do confronto aberto contra as elites privilegiadas.
Na Venezuela, os gastos sociais aumentaram de 8,2% do PIB, em 1998, para 13,6% em 2006. Os índices de pobreza caíram de 55,1% para 27,5%. O salário mínimo se elevou numa escala sem precedentes em qualquer outro país do chamado Terceiro Mundo e milhões de venezuelanos passaram a ter acesso a uma infinidade de benesses antes inalcançáveis - desde serviços essenciais, como assistência médica e dentária, aos ícones do consumo descartável, como telefones celulares.
Nesse cenário em que a mudança passa do plano da retórica para a existência cotidiana, torna-se fácil entender porque Chávez foi vitorioso em todas as freqüentes consultas eleitorais que promoveu, com apenas uma exceção.
O grande mérito de Maringoni é que ele não se limita a salientar as conquistas do processo político venezuelano, mas também aponta, sem medo de entrar em polêmica com os defensores mais entusiastas do chavismo, os limites do festejado “socialismo do século XXI”.
Concretamente: após dez anos de “revolução bolivariana”, o velho modelo de desenvolvimento dependente latino-americano, erigido com base na exportação de produtos primários (no caso, o petróleo), permanece inalterado.
Os ganhos desse modelo, é verdade, passaram a beneficiar, pela primeira vez, a maioria da população, sobretudo depois que Chávez retirou a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) das mãos da camarilha que a controlava, enquadrando a empresa sob o controle público. Mas o caminho ainda está no seu início: “O Estado continua ineficiente, lerdo, corrupto e avesso às interferências populares”, escreve o autor.
Mesmo que seja prematuro falar em uma verdadeira revolução na Venezuela, é inegável que o governo de Chávez mudou a face política daquela sociedade e, em certa medida, de toda a América do Sul. A influência venezuelana se faz presente em todo um conjunto de países onde, pela primeira vez, o poder de Estado passa a ser exercido em benefício das maiorias.
Como afirma Maringoni, referindo-se à época de ofensiva conservadora mundial pós-1989: “A Venezuela é, com todos os problemas, o país onde mais se avançou, nesse período, na contestação ao neoliberalismo e no questionamento do poder global dos Estados Unidos.” Aí reside a explicação para o ódio que Chávez desperta entre os donos da mídia brasileira e internacional. Ele é, de fato, um sapo difícil de engolir.
* Igor Fuser é jornalista, professor na Faculdade Cásper Líbero, mestre em Relações Internacionais e doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo.
Por Igor Fuser*, em Carta Maior
Na lista dos demônios da mídia empresarial, o posto número 1 pertence, disparado, a Hugo Chávez, com sua boina vermelha e língua ferina. Raramente se passa um dia sem que alguma publicação da chamada “grande imprensa” despeje regulares doses de veneno contra o presidente venezuelano, apresentado como louco, fanfarrão, ditador ou incompetente.
Essa cantilena se mantém há mais de dez anos. Para ser exato, desde o início de 1999, quando o antigo coronel iniciou, após sua chegada ao governo, a transformação de um dos países de estrutura social mais iníqua no planeta - mais de 50% dos habitantes na miséria, em contraste com os lucros nababescos das exportações de petróleo - em uma referência mundial para todos os que cultivam os valores da justiça e da igualdade.
O livro de Gilberto Maringoni (A Revolução Venezuelana, Editora Unesp, 2009) merece ser saudado com um antídoto perfeito contra a manipulação informativa que, na imprensa brasileira, atingiu as raias de uma lavagem cerebral.
Jornalista e historiador, Maringoni fala de um tema que conhece em primeira mão. Viajou várias vezes à Venezuela e lá entrevistou quase todos os nomes que valiam a pena no tumultuado enredo político local - dos caciques da oposição conservadora, como Teodoro Petkoff, às figuras mais graduadas do regime esquerdista, entre as quais o próprio Chávez, além das mais variadas fontes na esfera acadêmica.
Com dados confiáveis em mãos, o autor desvenda o enigma oculto sob a campanha midiática anti-chavista: como é possível que um caudilho supostamente tão desastrado mantenha altíssimos índices de apoio popular durante tanto tempo? É errado reduzir, como insistem os detratores da experiência venezuelana, o prestígio de Chávez à bonança petroleira da última década.
A Venezuela já viveu outros períodos de alta dos preços do petróleo, sem que a população tivesse tido acesso a mais do que umas magras migalhas do banquete. A marca da gestão chavista é algo que as primeiras gestões municipais petistas defendiam no Brasil e que, lamentavelmente, diluiu-se no lodaçal dos compromissos com as classes dominantes: a inversão das prioridades em favor das multidões oprimidas, ainda que ao preço do confronto aberto contra as elites privilegiadas.
Na Venezuela, os gastos sociais aumentaram de 8,2% do PIB, em 1998, para 13,6% em 2006. Os índices de pobreza caíram de 55,1% para 27,5%. O salário mínimo se elevou numa escala sem precedentes em qualquer outro país do chamado Terceiro Mundo e milhões de venezuelanos passaram a ter acesso a uma infinidade de benesses antes inalcançáveis - desde serviços essenciais, como assistência médica e dentária, aos ícones do consumo descartável, como telefones celulares.
Nesse cenário em que a mudança passa do plano da retórica para a existência cotidiana, torna-se fácil entender porque Chávez foi vitorioso em todas as freqüentes consultas eleitorais que promoveu, com apenas uma exceção.
O grande mérito de Maringoni é que ele não se limita a salientar as conquistas do processo político venezuelano, mas também aponta, sem medo de entrar em polêmica com os defensores mais entusiastas do chavismo, os limites do festejado “socialismo do século XXI”.
Concretamente: após dez anos de “revolução bolivariana”, o velho modelo de desenvolvimento dependente latino-americano, erigido com base na exportação de produtos primários (no caso, o petróleo), permanece inalterado.
Os ganhos desse modelo, é verdade, passaram a beneficiar, pela primeira vez, a maioria da população, sobretudo depois que Chávez retirou a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) das mãos da camarilha que a controlava, enquadrando a empresa sob o controle público. Mas o caminho ainda está no seu início: “O Estado continua ineficiente, lerdo, corrupto e avesso às interferências populares”, escreve o autor.
Mesmo que seja prematuro falar em uma verdadeira revolução na Venezuela, é inegável que o governo de Chávez mudou a face política daquela sociedade e, em certa medida, de toda a América do Sul. A influência venezuelana se faz presente em todo um conjunto de países onde, pela primeira vez, o poder de Estado passa a ser exercido em benefício das maiorias.
Como afirma Maringoni, referindo-se à época de ofensiva conservadora mundial pós-1989: “A Venezuela é, com todos os problemas, o país onde mais se avançou, nesse período, na contestação ao neoliberalismo e no questionamento do poder global dos Estados Unidos.” Aí reside a explicação para o ódio que Chávez desperta entre os donos da mídia brasileira e internacional. Ele é, de fato, um sapo difícil de engolir.
* Igor Fuser é jornalista, professor na Faculdade Cásper Líbero, mestre em Relações Internacionais e doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo.
OS MILITARES CONTRA CHENEY E A TORTURA.
Argemiro Ferreira
Enquanto começa a perder gás a atual operação do conservadorismo republicano bancada pelo império de mídia de Rupert Murdoch (Fox News, etc), agora na obsessão de impedir a aprovação de Sonia Sotomayor para a Suprema Corte, vale voltar à operação anterior, na qual a mesma gente (Dick Cheney, Rush Limbaugh & o resto da turma) acusava o governo Obama de “enfraquecer” o país por repudiar a tortura.
Ironicamente, o golpe de misericórdia contra a conspícua ofensiva extremista liderada pelo vice de George W. Bush veio de personalidades respeitadas da própria área militar. Entre elas, a estrela maior, general David Petraeus (foto acima), o mais alto chefe do Comando Central dos EUA, exaltado pela direita republicana como herói desde que propôs – e liderou – o plano do reforço de tropas (surge) no Iraque.
Não destaco o império Murdoch por ter estado sozinho em mais essa operação anti-Obama. A FAIR (Fairness & Accuracy in Media), uma organização competente no monitoramento da mídia pela esquerda, citou frase do repórter Jonathan Karl, da rede ABC: “Dick Cheney parece estar em toda parte”. Como vice-presidente fora recluso, fugia da mídia, agora tornara-se “o mais visível dos republicanos”. (Leia AQUI)
Mesmo bancado ostensivamente pela mídia Murdoch, Cheney estava em tantos lugares ao mesmo tempo que ficava difícil deixar de vê-lo. A 15 de março na CNN (”State of the Union”), 20 e 21 de abril na Fox News (”Hannity”, foto acima, à esquerda), 10 de maio na CBS (”Face the Nation”), 12 de maio novamente na Fox News (”Your World” – foto abaixo, à direita). Tornara-se inescapável para quem ligasse a TV. E o tema central dele era sempre a tortura, que rebatizou com um eufemismo enganoso – enhanced interrogation.
Virar a página e voltar aos valores
Outra ironia sugestiva é o general Petraeus ter escolhido exatamente a Fox News de Murdoch para veicular suas declarações contrárias à tortura e favoráveis ao fechamento da infame prisão de Guantánamo. O chefe militar, mesmo tendo dito com todas as letras que os EUA violaram as convenções de Genebra, preferiu não ser explícito sobre qual fora a violação – o que não exigia maior imaginação dos que o ouviram. (Leia ainda AQUI sobre estupro e sodomia entre as vítimas da prisão de Abu Ghrabi)
Escrevendo sobre o assunto no Huffingtonpost.com, popular website político, o ex-capitão Jon Soltz, veterano da operação Iraqi Freedom (nome oficial da invasão do Iraque em março de 2003) reproduziu parte da entrevista de Petraeus a uma das múltiplas louras da Fox News (saiba mais AQUI e AQUI). Ela perguntou (repetindo o eufemismo de Cheney), como o inimigo reagiria se os EUA dissessem que não mais usariam tortura para arrancar confissões. Eis a resposta dele:
“Bem, eu faria outra pergunta. Perguntaria se isso não vai tirar de nossos inimigos um instrumento que já nos derrotou de novo aos olhos da opinião pública. Depois de termos adotado ações que violaram as convenções de Genebra, fomos criticados e com razão. Assim, o importante agora é virar a página e retomar nossos valores, voltar a cumprir e praticar os acordos internacionais que assinamos”.
Petraeus disse mais ou menos a mesma coisa que o presidente Obama afirmara em seu discurso sobre Guantánamo – ou seja, que os EUA têm de voltar a se conduzir conforme os princípios e valores que pregam. Vale a pena ouvir não só a palavra do chefe militar, mas ainda a ginástica posterior (spin, no jargão da Fox News) da loura obstinada em adaptar a palavra de Petraeus à ideologia do império Murdoch (clique abaixo para ouvir parte da entrevista).
“Os nossos erros, desde o 11/9”
A mesma coisa acontece ainda em relação ao fechamento de Guantánamo (Gitmo, codinome produzido pela burocracia do Pentágono, célebre por suas sopas de letras). O general Petraeus defendeu o fim da prisão, até porque até o presidente Bush já concordara com isso. Lembrou ainda que as práticas dessa prisão “foram usadas por nossos inimigos contra nós”. E reconheceu também que os EUA, a partir do 11/9, “cometeram tropeços e erros”.
Guantánamo, para ele, funciona como “uma lembrança persistente” de tais erros. Quando a loura de Murdoch invocou a hipótese com que a Fox tenta obsessivamente aterrorizar os americanos, de que ex-detidos da prisão infame saiam e circulem livremente nos EUA, Petraeus (foto abaixo) respondeu: “Em primeiro lugar, não acho que deviamos ter medo de praticar nossos valores. É por eles que lutamos, são eles que defendemos”.
A solução então, conforme recomendou, é ter confiança no sistema jurídico do país. “Precisamos ter certo grau de confiança de que os indivíduos que conduziram atividades extremas sejam de fato considerados culpados em nossos tribunais e não sejam libertados”. O militar deixou clara sua discordância dos que teimam (como Cheney, que aposta no medo – acrescento eu, AF) em bater nessa tecla ao invés de virar a página.
O retorno à retórica macarthista
Antes mesmo da entrevista de Petraeus a posição de outros militares e ex-militares – dos generais Wesley Clark (foto abaixo, à esquerda) e Paul Eaton a John Shalikashvili, Joseph Hoar e Hugh Shelton, já era essa, inequivocamente. Sem esquecer a resposta contundente dada por Colin Powell a Cheney e Rush Limbaugh. Todos eles tinham deixado claro que o conservadorismo republicano, que há anos se diz porta-voz dos militares, não fala por eles.
Para o colunista Jon Soltz, do Huffingtonpost.com, os republicanos abandonaram “os ideais que tornaram nossos militares fortes”. Nos dias atuais gente como Cheney, que tenta tomar o controle das mensagens, idéias, práticas e políticas do Partido Republicano, deixou de lado os antigos princípios e aliados, não mais opera a partir de posições morais elevadas.
Os excessos patrióticos de Cheney, falcão-galinha (chickenhawk) que fugiu do serviço militar e hoje torce por ação terrorista capaz de provar a “fraqueza” dos rivais democratas na defesa do país, dificilmente ajudarão os republicanos. Ao contrário, correm o risco de derrotar o partido que já foi de Joe McCarthy, zeloso caçador de bruxas que acusava os críticos de traidores e cúmplices do comunismo.
O ex-capitão Soltz concluiu com o testemunho de um veterano da contra-inteligência americana no Afeganistão, Jay Bagwell. Ao condenar a tortura, Bagwell contou ter visto detidos com panfletos que retratavam o que ocorria em Guantánamo, causa da adesão deles ao terrorismo. “Os EUA não podem ser um farol da liberdade, dos direitos humanos e respeito à lei se ignoram a lei internacional”, afirmou (clique na imagem abaixo para ouvir Bagwell).
Fonte:Blog do Argemiro Ferreira.
Enquanto começa a perder gás a atual operação do conservadorismo republicano bancada pelo império de mídia de Rupert Murdoch (Fox News, etc), agora na obsessão de impedir a aprovação de Sonia Sotomayor para a Suprema Corte, vale voltar à operação anterior, na qual a mesma gente (Dick Cheney, Rush Limbaugh & o resto da turma) acusava o governo Obama de “enfraquecer” o país por repudiar a tortura.
Ironicamente, o golpe de misericórdia contra a conspícua ofensiva extremista liderada pelo vice de George W. Bush veio de personalidades respeitadas da própria área militar. Entre elas, a estrela maior, general David Petraeus (foto acima), o mais alto chefe do Comando Central dos EUA, exaltado pela direita republicana como herói desde que propôs – e liderou – o plano do reforço de tropas (surge) no Iraque.
Não destaco o império Murdoch por ter estado sozinho em mais essa operação anti-Obama. A FAIR (Fairness & Accuracy in Media), uma organização competente no monitoramento da mídia pela esquerda, citou frase do repórter Jonathan Karl, da rede ABC: “Dick Cheney parece estar em toda parte”. Como vice-presidente fora recluso, fugia da mídia, agora tornara-se “o mais visível dos republicanos”. (Leia AQUI)
Mesmo bancado ostensivamente pela mídia Murdoch, Cheney estava em tantos lugares ao mesmo tempo que ficava difícil deixar de vê-lo. A 15 de março na CNN (”State of the Union”), 20 e 21 de abril na Fox News (”Hannity”, foto acima, à esquerda), 10 de maio na CBS (”Face the Nation”), 12 de maio novamente na Fox News (”Your World” – foto abaixo, à direita). Tornara-se inescapável para quem ligasse a TV. E o tema central dele era sempre a tortura, que rebatizou com um eufemismo enganoso – enhanced interrogation.
Virar a página e voltar aos valores
Outra ironia sugestiva é o general Petraeus ter escolhido exatamente a Fox News de Murdoch para veicular suas declarações contrárias à tortura e favoráveis ao fechamento da infame prisão de Guantánamo. O chefe militar, mesmo tendo dito com todas as letras que os EUA violaram as convenções de Genebra, preferiu não ser explícito sobre qual fora a violação – o que não exigia maior imaginação dos que o ouviram. (Leia ainda AQUI sobre estupro e sodomia entre as vítimas da prisão de Abu Ghrabi)
Escrevendo sobre o assunto no Huffingtonpost.com, popular website político, o ex-capitão Jon Soltz, veterano da operação Iraqi Freedom (nome oficial da invasão do Iraque em março de 2003) reproduziu parte da entrevista de Petraeus a uma das múltiplas louras da Fox News (saiba mais AQUI e AQUI). Ela perguntou (repetindo o eufemismo de Cheney), como o inimigo reagiria se os EUA dissessem que não mais usariam tortura para arrancar confissões. Eis a resposta dele:
“Bem, eu faria outra pergunta. Perguntaria se isso não vai tirar de nossos inimigos um instrumento que já nos derrotou de novo aos olhos da opinião pública. Depois de termos adotado ações que violaram as convenções de Genebra, fomos criticados e com razão. Assim, o importante agora é virar a página e retomar nossos valores, voltar a cumprir e praticar os acordos internacionais que assinamos”.
Petraeus disse mais ou menos a mesma coisa que o presidente Obama afirmara em seu discurso sobre Guantánamo – ou seja, que os EUA têm de voltar a se conduzir conforme os princípios e valores que pregam. Vale a pena ouvir não só a palavra do chefe militar, mas ainda a ginástica posterior (spin, no jargão da Fox News) da loura obstinada em adaptar a palavra de Petraeus à ideologia do império Murdoch (clique abaixo para ouvir parte da entrevista).
“Os nossos erros, desde o 11/9”
A mesma coisa acontece ainda em relação ao fechamento de Guantánamo (Gitmo, codinome produzido pela burocracia do Pentágono, célebre por suas sopas de letras). O general Petraeus defendeu o fim da prisão, até porque até o presidente Bush já concordara com isso. Lembrou ainda que as práticas dessa prisão “foram usadas por nossos inimigos contra nós”. E reconheceu também que os EUA, a partir do 11/9, “cometeram tropeços e erros”.
Guantánamo, para ele, funciona como “uma lembrança persistente” de tais erros. Quando a loura de Murdoch invocou a hipótese com que a Fox tenta obsessivamente aterrorizar os americanos, de que ex-detidos da prisão infame saiam e circulem livremente nos EUA, Petraeus (foto abaixo) respondeu: “Em primeiro lugar, não acho que deviamos ter medo de praticar nossos valores. É por eles que lutamos, são eles que defendemos”.
A solução então, conforme recomendou, é ter confiança no sistema jurídico do país. “Precisamos ter certo grau de confiança de que os indivíduos que conduziram atividades extremas sejam de fato considerados culpados em nossos tribunais e não sejam libertados”. O militar deixou clara sua discordância dos que teimam (como Cheney, que aposta no medo – acrescento eu, AF) em bater nessa tecla ao invés de virar a página.
O retorno à retórica macarthista
Antes mesmo da entrevista de Petraeus a posição de outros militares e ex-militares – dos generais Wesley Clark (foto abaixo, à esquerda) e Paul Eaton a John Shalikashvili, Joseph Hoar e Hugh Shelton, já era essa, inequivocamente. Sem esquecer a resposta contundente dada por Colin Powell a Cheney e Rush Limbaugh. Todos eles tinham deixado claro que o conservadorismo republicano, que há anos se diz porta-voz dos militares, não fala por eles.
Para o colunista Jon Soltz, do Huffingtonpost.com, os republicanos abandonaram “os ideais que tornaram nossos militares fortes”. Nos dias atuais gente como Cheney, que tenta tomar o controle das mensagens, idéias, práticas e políticas do Partido Republicano, deixou de lado os antigos princípios e aliados, não mais opera a partir de posições morais elevadas.
Os excessos patrióticos de Cheney, falcão-galinha (chickenhawk) que fugiu do serviço militar e hoje torce por ação terrorista capaz de provar a “fraqueza” dos rivais democratas na defesa do país, dificilmente ajudarão os republicanos. Ao contrário, correm o risco de derrotar o partido que já foi de Joe McCarthy, zeloso caçador de bruxas que acusava os críticos de traidores e cúmplices do comunismo.
O ex-capitão Soltz concluiu com o testemunho de um veterano da contra-inteligência americana no Afeganistão, Jay Bagwell. Ao condenar a tortura, Bagwell contou ter visto detidos com panfletos que retratavam o que ocorria em Guantánamo, causa da adesão deles ao terrorismo. “Os EUA não podem ser um farol da liberdade, dos direitos humanos e respeito à lei se ignoram a lei internacional”, afirmou (clique na imagem abaixo para ouvir Bagwell).
Fonte:Blog do Argemiro Ferreira.
MUDAR A MENTALIDADE MILITAR DE OBAMA.
O problema não é só mudar a mentalidade militar de Obama. É necessário também que ele tenha força e coragem para enfrentar o complexo-militar americano, que trabalha para que sempre existam guerras.
Carlos Dória
por Howard Zinn
No decurso da sua campanha, Obama disse "Não se trata apenas de termos de sair do Iraque". Ele disse "sair do Iraque" e não podemos esquecer-nos disso. Devemos continuar a lembrar-lhe (...)
Mas escutem também a segunda parte. A sua frase completa foi: "Não chega sairmos do Iraque; temos de abandonar a mentalidade militar que nos levou ao Iraque".
Texto de Howard Zinn
Somos cidadãos e Obama é um político. Podem não gostar da palavra. Mas o facto é que ele é um político. É também outras coisas - é sensível, e inteligente, e ponderado, e prometedor como pessoa. Mas é um político.
Se somos cidadãos, temos de conhecer a diferença entre eles e nós - a diferença entre o que eles têm de fazer e o que nós temos de fazer. E há coisas que eles não têm de fazer, se tornarmos claro que não têm de o fazer.
Texto de Howard Zinn*
Gostei de Obama desde o início. Mas a primeira vez que fui obrigado a notar que ele era um político foi muito cedo, quando Joe Lieberman se candidatou à designação para o seu lugar no Senado pelos democratas, em 2006.
Lieberman - que, como sabem era e é um amante da guerra - concorria àquela designação pelos democratas, e o seu oponente era um homem chamado Ned Lamont, que era o candidato da paz. E Obama foi ao Connecticut apoiar Lieberman contra Lamont.
Fiquei desapontado. Digo isto para apontar que, sim, Obama era e é um político. E que por isso não podemos deixar-nos arrastar pela tentação de aceitar, sem pensar nem questionar, tudo o que Obama faz.
A nossa função não é passar-lhe um cheque em branco ou ser membros da sua claque. Foi bom que fizéssemos parte da claque quando se candidatou à presidência, mas não é bom que o sejamos agora. Porque queremos que o país saia do ligar onde esteve no passado. Queremos uma rotura clara com o que ele foi no passado.
Tive um professor na Columbia University, chamado Richard Hofstadter, que escreveu um livro chamado "A Tradição Política Americana (The American Political Tradition), e nele é feita uma avaliação das acções dos presidentes, desde os Pais Fundadores a Franklin Roosevelt. Há liberais e conservadores, republicanos e democratas. E houve diferenças entre eles. Mas verifica-se que os chamados liberais não foram tão liberais como as pessoas pensam - e que liberais e conservadores, republicanos e democratas, não se situavam nos antípodas. Há um fio condutor, ao longo de toda a história americana, e todos os presidentes, liberais ou conservadores, republicanos ou democratas, parecem segui-lo.
Esse fio condutor consiste em dois elementos: por um lado, o nacionalismo, por outro, o capitalismo. E Obama ainda não está livre dessa poderosa dupla herança.
Podemos vê-lo nas políticas que foram anunciadas até agora, apesar de só estar no poder há pouco tempo.
Algumas pessoas poderão dizer: "Está bem, o que é que esperavam?".
E a resposta é que esperamos muito.
As pessoas respondem: "Porquê, são uns sonhadores?".
E a resposta é: sim, somos. Queremos tudo. Queremos um mundo em paz. Queremos um mundo igualitário. Não queremos a guerra. não queremos o capitalismo. Queremos uma sociedade decente.
E é melhor que nos agarremos a esse sonho - porque, se não o fizermos, nos afundaremos mais e mais na realidade que temos, e não queremos isso.
Estejam alerta quando ouvem falar das glórias do sistema de mercado. O sistema de mercado é o que temos. Dizem-nos que deixemos o mercado decidir. O governo não deve assegurar às pessoas cuidados de saúde gratuitos, deixem o mercado decidir.
O que é o que o mercado tem feito - e a razão porque temos quarenta e oito milhões de pessoas sem cuidados de saúde. O mercado decidiu. Deixamos as decisões ao mercado e temos dois milhões de pessoas sem casa. Deixamos as decisões ao mercado e temos milhões e milhões de pessoas que não conseguem pagar a sua renda. Deixamos as decisões ao mercado e há trinta e cinco milhões de pessoas que têm fome.
Não podemos deixar as decisões ao mercado. Quando enfrentamos uma crise económica como a que enfrentamos agora, não podemos fazer o que se fez no passado. Não podemos despejar o dinheiro nos níveis superiores do país - e nos bancos e nas grandes empresas - e esperar que de alguma forma ele escorra até abaixo.
Qual foi uma das primeiras coisas que aconteceu quando a administração Bush viu que a economia estava com problemas? Um plano de resgate de setecentos mil milhões de dólares, e a quem demos esses setecentos mil milhões? Às instituições financeiras que causaram esta crise.
Isto aconteceu em plena campanha eleitoral, e custou-me ter de assistir a Obama ali, dando o seu apoio àquele gigantesco plano de resgate das corporações financeiras.
O que Obama devia ter dito era: He, esperem um momento. Os bancos não foram afectados pela pobreza. O conselhos de administração não foram afectados pela pobreza. Mas há pessoas que estão sem trabalho. Há pessoas que não podem pagar as suas hipotecas. Vamos pegar nesses setecentos mil milhões e dá-los directamente às pessoas que precisam deles. Vamos gastar um bilião, vamos gastar dois biliões.
Vamos pegar neste dinheiro e dá-lo directamente às pessoas que precisam dele. Dá-lo às pessoas que têm de pagar as suas hipotecas. Ninguém deve ser despejado. Ninguém deve ser deixado com os seus pertences no meio da rua.
Obama quer dar talvez um bilião mais aos bancos. Tal como Bush, não está a dá-lo directamente aos proprietários das casas. Ao contrário dos republicanos, Obama também quer gastar oitocentos mil milhões de dólares no seu plano de estímulo à economia. O que é bom - a ideia de estímulo é boa. Mas se virmos com mais atenção o plano, a maior parte dele vai para o mercado, através das grandes corporações.
Dá isenções fiscais às empresas, esperando que elas contratem pessoas. Não - se as pessoas precisam de empregos, não se dê dinheiro às empresas, na esperança que talvez se criem empregos. Dê-se emprego às pessoas de imediato.
Muita gente não conhece a história do New Deal dos anos 30. O New Deal não foi suficientemente longe, mas tinha algumas muito boas ideias. E a razão porque o New Deal chegou a essas boas ideias foi porque havia uma enorme agitação no país, e Roosevelt tinha de reagir. E o que é que ele fez? Pegou em milhares de milhões de dólares e disse que o governo ia contratar pessoas. Não tem trabalho? O governo tem um emprego para si.
Como resultado, muito trabalho maravilhoso foi feito em todo o país. Vários milhões de jovens encontraram trabalho nos Civilian Conservation Corps. Estiveram por todo o país, construindo pontes e estradas e parques, e realizando coisas notáveis.
O governo criou um programa federal das artes. Não esperou que o mercado decidisse isso. O governo criou um programa e empregou milhares de artistas desempregados: dramaturgos, actores, músicos, pintores, escultores, escritores. Qual foi o resultado? O resultado foi a produção de 200.000 obras de arte. Hoje, por todo o país, há milhares de murais pintados por pessoas do programa WPA. Foram levadas à cena peças um pouco por todo o lado, com preços económicos, para que pessoas que nunca tinham assistido a uma peça de teatro nas suas vidas pudessem ter a possibilidade de assistir.
E isto é só um vislumbre do que pode ser feito. O governo tem de representar as necessidades das pessoas. O governo não pode entregar a defesa das necessidades das pessoas às corporações e aos bancos, porque eles não querem sabem das necessidades das pessoas. Eles só querem saber de lucros.
No decurso da sua campanha, Obama disse algo que me pareceu muito sábio - e quando as pessoas dizem alguma coisa muito sábia devemos recordá-lo, porque podem vir a não se manter fieis ao que disseram. Podemos ter de recordar-lhes essa coisa sábia que afirmaram.
Obama falava sobre a Guerra no Iraque e disse: "Não se trata apenas de termos de sair do Iraque". Ele disse "sair do Iraque" e não podemos esquecer-nos disso. Devemos continuar a lembrar-lhe: Sair do Iraque, sair do Iraque, sair do Iraque - não no próximo ano, nem daqui a dois anos, mas sair do Iraque já.
Mas escutem também a segunda parte. A sua frase completa foi: "Não chega sairmos do Iraque; temos de abandonar a mentalidade militar que nos levou ao Iraque".
Qual foi mentalidade militar que nos levou ao Iraque?
É a mentalidade dos que afirmam que a força resulta. Violência, guerra, bombardeiros - que isso trará a liberdade e a democracia aos povos.
É a mentalidade dos que afirmam que a América tem o direito divino de invadir outros países para seu próprio benefício. Levámos a civilização aos mexicanos em 1846. Levámos a liberdade aos cubanos em 1898. Levámos a democracia aos filipinos em 1900. Sabemos qual foi o sucesso que conseguimos a levar a democracia ao mundo inteiro.
Obama ainda não abandonou esta mentalidade militarista missionária. Fala de mandar mais dezenas de milhares de tropas para o Afeganistão.
Obama é um homem muito inteligente e sabe seguramente alguma coisa de história. Não temos de saber muito para saber que a história do Afeganistão corresponde a décadas e décadas e décadas de tentativas dos poderes ocidentais em impor a sua vontade pela força no Afeganistão: os ingleses, os russos, e agora os americanos. Qual foi o resultado? O resultado foi um país arruinado.
Essa é a mentalidade que envia mais 21.000 militares para o Afeganistão e diz, como Obama disse, que temos de ter uma maior presença militar. O meu coração apertou-se quando Obama disse isso. Para que precisamos de uma maior presença militar? Temos um orçamento militar gigantesco. Falou Obama em reduzir o orçamento militar a metade ou em parte? Não.
Temos bases militares em mais de 100 países. Só em Okinawa temos 14 bases militares. Quem as quer aí? Os governos. Eles lucram com isso. Mas o povo não nos quer ali realmente. Houve grandes manifestações em Itália contra o estabelecimento de uma base militar dos EUA. Houve grandes manifestações na Coreia do Sul e em Okinawa.
Um dos primeiros actos da administração Obama foi enviar mísseis Predator para bombardear o Paquistão. Morreram pessoas. Mas afirmou-se: "Ho, somos muito precisos com estas armas. É equipamento do mais moderno. Podemos apontar para qualquer lado e atingir apenas o que queremos."
Esta mentalidade é a da presunção tecnológica. Sim, eles podem decidir que vão bombardear apenas uma casa. Mas há um problema: não sabem quem está nessa casa. Podem atingir um carro a grande distância com um rocket. Mas sabem quem vai no carro? Não.
E mais tarde, depois dos corpos serem retirados do carro, depois dos corpos serem retirados da casa - irão dizer-nos: "havia três suspeitos de terrorismo naquela casa, e sim, morreram outras sete pessoas, incluindo duas crianças, mas apanhámos os suspeitos de terrorismo."
Mas notem que a palavra é "suspeitos". A verdade é que não sabem onde estão os terroristas.
Por isso, sim, temos de abandonar a mentalidade dos que nos levaram ao Iraque, mas temos de identificar essa mentalidade. E Obama tem de ser pressionado pelas pessoas que o elegeram, pelas pessoas que o apoiaram com entusiasmo, para que abandone essa mentalidade. Nós somos os que têm de dizer-lhe: "Não, está no mau caminho quando tem essa atitude militarista de usar a força para conseguir coisas no mundo. Não conseguiremos nada dessa forma, e continuaremos a ser um país odiado pelo mundo."
Obama falou de uma visão para o seu país. Temos de ter essa visão, e agora quero dizer a Obama o que essa visão deve ser.
Uma visão de uma nação que se torne estimada pelo mundo. Não digo amada - isso vai demorar mais algum tempo a construir. Uma nação que não é temida, não é detestada, não é odiada, como o somos demasiadas vezes, mas uma nação que seja vista como pacífica, porque retiramos as nossas bases militares de todos esses países.
Não temos de gastar centenas de milhares de milhões de dólares no nosso orçamento militar. Pegue-se em todo o dinheiro destinado às bases militares e ao orçamento militar e - isso será parte da emancipação - poderemos usar esse dinheiro para dar a toda a gente cuidados de saúde gratuitos, para garantir empregos a todos os que não têm um emprego, para garantir o pagamento da renda a todos os que não podem pagá-la, para construir infantários.
Usemos o dinheiro para ajudar pessoas em todo o mundo, não para enviar bombardeiros sobre elas. Quando os desastres acontecem, precisam de helicópteros para transportar pessoas para longe das cheias e das áreas devastadas. Precisam de helicópteros para salvar vidas, e os helicópteros estão no Médio Oriente, a bombardear e metralhar pessoas.
É preciso dar uma volta completa a isto. Queremos um país que use os seus recursos, a sua riqueza e o seu poder para ajudar as pessoas, não para lhes fazer mal. Isso é o que precisamos.
É uma visão que temos de manter viva. Não podemos satisfazer-nos com facilidade e dizer: "Está bem, deixem o homem em paz. Obama merece respeito."
Mas nós não mostramos respeito por uma pessoa quando lhe passamos um cheque em branco. Respeitamos uma pessoa quando a tratamos como igual, quando podemos falar com ela e ela nos escuta.
Não se trata apenas de Obama ser um político. Pior, está rodeado de políticos. E alguns escolheu-os ele próprio. Escolheu Hillary Clinton, escolheu Lawrence Summers, escolheu pessoas que não mostram nenhum sinal de quererem cortar com o passado.
Somos cidadãos. Não podemos pôr-nos na posição de olhar o mundo pelos olhos deles e dizer: "Bem, temos de fazer compromissos, temos de fazer isto por razões políticas". Não, temos de dizer o que pensamos.
Essa foi a posição dos abolicionistas antes da Guerra Civil, e o povo disse: "Bem, temos de ver isso do ponto de vista de Lincoln." Lincoln não acreditava que a sua primeira prioridade fosse abolir a escravatura. Mas o movimento anti-esclavagista acreditava, e o que os abolicionistas disseram foi: "Não temos de seguir o ponto de vista de Lincoln. Vamos expressar a nossa posição, e vamos expressá-la tão energicamente que Lincoln terá de escutar-nos."
E o movimento anti-esclavagista tornou-se suficientemente grande e suficientemente poderoso para que Lincoln tivesse que escutá-lo. E foi assim que conseguimos a Proclamação da Emancipação e a 13ª, 14ª e 15ª Emendas.
Essa é a história do nosso país. Sempre que se conseguiu progresso, sempre que se derrubou injustiças, foi porque as pessoas actuaram como cidadãs e não como políticas. Não ficaram apenas a protestar. Trabalharam, actuaram, organizaram-se, revoltaram-se se necessário, para chamar a atenção do poder para os seus objectivos. E isso é o que temos de fazer hoje.
Texto publicado em The Progressive
Tradução de José Pedro Fernandes para esquerda.net
* Howard Zinn é historiador, escritor e activista social norte-americano e é o autor de "A People's History of the United States", "Voices of a People's History" (com Anthony Arnove), e "A Power Governments Cannot Suppress", entre outras obras. Agradece-se a Alex Read e Matt Korn pela transcrição do discurso de Zinns de 2 de Fevereiro, no restaurante Busboys and Poets, em Washington, D.C., de que este texto foi adaptado.
Fonte:Esquerda.net
Carlos Dória
por Howard Zinn
No decurso da sua campanha, Obama disse "Não se trata apenas de termos de sair do Iraque". Ele disse "sair do Iraque" e não podemos esquecer-nos disso. Devemos continuar a lembrar-lhe (...)
Mas escutem também a segunda parte. A sua frase completa foi: "Não chega sairmos do Iraque; temos de abandonar a mentalidade militar que nos levou ao Iraque".
Texto de Howard Zinn
Somos cidadãos e Obama é um político. Podem não gostar da palavra. Mas o facto é que ele é um político. É também outras coisas - é sensível, e inteligente, e ponderado, e prometedor como pessoa. Mas é um político.
Se somos cidadãos, temos de conhecer a diferença entre eles e nós - a diferença entre o que eles têm de fazer e o que nós temos de fazer. E há coisas que eles não têm de fazer, se tornarmos claro que não têm de o fazer.
Texto de Howard Zinn*
Gostei de Obama desde o início. Mas a primeira vez que fui obrigado a notar que ele era um político foi muito cedo, quando Joe Lieberman se candidatou à designação para o seu lugar no Senado pelos democratas, em 2006.
Lieberman - que, como sabem era e é um amante da guerra - concorria àquela designação pelos democratas, e o seu oponente era um homem chamado Ned Lamont, que era o candidato da paz. E Obama foi ao Connecticut apoiar Lieberman contra Lamont.
Fiquei desapontado. Digo isto para apontar que, sim, Obama era e é um político. E que por isso não podemos deixar-nos arrastar pela tentação de aceitar, sem pensar nem questionar, tudo o que Obama faz.
A nossa função não é passar-lhe um cheque em branco ou ser membros da sua claque. Foi bom que fizéssemos parte da claque quando se candidatou à presidência, mas não é bom que o sejamos agora. Porque queremos que o país saia do ligar onde esteve no passado. Queremos uma rotura clara com o que ele foi no passado.
Tive um professor na Columbia University, chamado Richard Hofstadter, que escreveu um livro chamado "A Tradição Política Americana (The American Political Tradition), e nele é feita uma avaliação das acções dos presidentes, desde os Pais Fundadores a Franklin Roosevelt. Há liberais e conservadores, republicanos e democratas. E houve diferenças entre eles. Mas verifica-se que os chamados liberais não foram tão liberais como as pessoas pensam - e que liberais e conservadores, republicanos e democratas, não se situavam nos antípodas. Há um fio condutor, ao longo de toda a história americana, e todos os presidentes, liberais ou conservadores, republicanos ou democratas, parecem segui-lo.
Esse fio condutor consiste em dois elementos: por um lado, o nacionalismo, por outro, o capitalismo. E Obama ainda não está livre dessa poderosa dupla herança.
Podemos vê-lo nas políticas que foram anunciadas até agora, apesar de só estar no poder há pouco tempo.
Algumas pessoas poderão dizer: "Está bem, o que é que esperavam?".
E a resposta é que esperamos muito.
As pessoas respondem: "Porquê, são uns sonhadores?".
E a resposta é: sim, somos. Queremos tudo. Queremos um mundo em paz. Queremos um mundo igualitário. Não queremos a guerra. não queremos o capitalismo. Queremos uma sociedade decente.
E é melhor que nos agarremos a esse sonho - porque, se não o fizermos, nos afundaremos mais e mais na realidade que temos, e não queremos isso.
Estejam alerta quando ouvem falar das glórias do sistema de mercado. O sistema de mercado é o que temos. Dizem-nos que deixemos o mercado decidir. O governo não deve assegurar às pessoas cuidados de saúde gratuitos, deixem o mercado decidir.
O que é o que o mercado tem feito - e a razão porque temos quarenta e oito milhões de pessoas sem cuidados de saúde. O mercado decidiu. Deixamos as decisões ao mercado e temos dois milhões de pessoas sem casa. Deixamos as decisões ao mercado e temos milhões e milhões de pessoas que não conseguem pagar a sua renda. Deixamos as decisões ao mercado e há trinta e cinco milhões de pessoas que têm fome.
Não podemos deixar as decisões ao mercado. Quando enfrentamos uma crise económica como a que enfrentamos agora, não podemos fazer o que se fez no passado. Não podemos despejar o dinheiro nos níveis superiores do país - e nos bancos e nas grandes empresas - e esperar que de alguma forma ele escorra até abaixo.
Qual foi uma das primeiras coisas que aconteceu quando a administração Bush viu que a economia estava com problemas? Um plano de resgate de setecentos mil milhões de dólares, e a quem demos esses setecentos mil milhões? Às instituições financeiras que causaram esta crise.
Isto aconteceu em plena campanha eleitoral, e custou-me ter de assistir a Obama ali, dando o seu apoio àquele gigantesco plano de resgate das corporações financeiras.
O que Obama devia ter dito era: He, esperem um momento. Os bancos não foram afectados pela pobreza. O conselhos de administração não foram afectados pela pobreza. Mas há pessoas que estão sem trabalho. Há pessoas que não podem pagar as suas hipotecas. Vamos pegar nesses setecentos mil milhões e dá-los directamente às pessoas que precisam deles. Vamos gastar um bilião, vamos gastar dois biliões.
Vamos pegar neste dinheiro e dá-lo directamente às pessoas que precisam dele. Dá-lo às pessoas que têm de pagar as suas hipotecas. Ninguém deve ser despejado. Ninguém deve ser deixado com os seus pertences no meio da rua.
Obama quer dar talvez um bilião mais aos bancos. Tal como Bush, não está a dá-lo directamente aos proprietários das casas. Ao contrário dos republicanos, Obama também quer gastar oitocentos mil milhões de dólares no seu plano de estímulo à economia. O que é bom - a ideia de estímulo é boa. Mas se virmos com mais atenção o plano, a maior parte dele vai para o mercado, através das grandes corporações.
Dá isenções fiscais às empresas, esperando que elas contratem pessoas. Não - se as pessoas precisam de empregos, não se dê dinheiro às empresas, na esperança que talvez se criem empregos. Dê-se emprego às pessoas de imediato.
Muita gente não conhece a história do New Deal dos anos 30. O New Deal não foi suficientemente longe, mas tinha algumas muito boas ideias. E a razão porque o New Deal chegou a essas boas ideias foi porque havia uma enorme agitação no país, e Roosevelt tinha de reagir. E o que é que ele fez? Pegou em milhares de milhões de dólares e disse que o governo ia contratar pessoas. Não tem trabalho? O governo tem um emprego para si.
Como resultado, muito trabalho maravilhoso foi feito em todo o país. Vários milhões de jovens encontraram trabalho nos Civilian Conservation Corps. Estiveram por todo o país, construindo pontes e estradas e parques, e realizando coisas notáveis.
O governo criou um programa federal das artes. Não esperou que o mercado decidisse isso. O governo criou um programa e empregou milhares de artistas desempregados: dramaturgos, actores, músicos, pintores, escultores, escritores. Qual foi o resultado? O resultado foi a produção de 200.000 obras de arte. Hoje, por todo o país, há milhares de murais pintados por pessoas do programa WPA. Foram levadas à cena peças um pouco por todo o lado, com preços económicos, para que pessoas que nunca tinham assistido a uma peça de teatro nas suas vidas pudessem ter a possibilidade de assistir.
E isto é só um vislumbre do que pode ser feito. O governo tem de representar as necessidades das pessoas. O governo não pode entregar a defesa das necessidades das pessoas às corporações e aos bancos, porque eles não querem sabem das necessidades das pessoas. Eles só querem saber de lucros.
No decurso da sua campanha, Obama disse algo que me pareceu muito sábio - e quando as pessoas dizem alguma coisa muito sábia devemos recordá-lo, porque podem vir a não se manter fieis ao que disseram. Podemos ter de recordar-lhes essa coisa sábia que afirmaram.
Obama falava sobre a Guerra no Iraque e disse: "Não se trata apenas de termos de sair do Iraque". Ele disse "sair do Iraque" e não podemos esquecer-nos disso. Devemos continuar a lembrar-lhe: Sair do Iraque, sair do Iraque, sair do Iraque - não no próximo ano, nem daqui a dois anos, mas sair do Iraque já.
Mas escutem também a segunda parte. A sua frase completa foi: "Não chega sairmos do Iraque; temos de abandonar a mentalidade militar que nos levou ao Iraque".
Qual foi mentalidade militar que nos levou ao Iraque?
É a mentalidade dos que afirmam que a força resulta. Violência, guerra, bombardeiros - que isso trará a liberdade e a democracia aos povos.
É a mentalidade dos que afirmam que a América tem o direito divino de invadir outros países para seu próprio benefício. Levámos a civilização aos mexicanos em 1846. Levámos a liberdade aos cubanos em 1898. Levámos a democracia aos filipinos em 1900. Sabemos qual foi o sucesso que conseguimos a levar a democracia ao mundo inteiro.
Obama ainda não abandonou esta mentalidade militarista missionária. Fala de mandar mais dezenas de milhares de tropas para o Afeganistão.
Obama é um homem muito inteligente e sabe seguramente alguma coisa de história. Não temos de saber muito para saber que a história do Afeganistão corresponde a décadas e décadas e décadas de tentativas dos poderes ocidentais em impor a sua vontade pela força no Afeganistão: os ingleses, os russos, e agora os americanos. Qual foi o resultado? O resultado foi um país arruinado.
Essa é a mentalidade que envia mais 21.000 militares para o Afeganistão e diz, como Obama disse, que temos de ter uma maior presença militar. O meu coração apertou-se quando Obama disse isso. Para que precisamos de uma maior presença militar? Temos um orçamento militar gigantesco. Falou Obama em reduzir o orçamento militar a metade ou em parte? Não.
Temos bases militares em mais de 100 países. Só em Okinawa temos 14 bases militares. Quem as quer aí? Os governos. Eles lucram com isso. Mas o povo não nos quer ali realmente. Houve grandes manifestações em Itália contra o estabelecimento de uma base militar dos EUA. Houve grandes manifestações na Coreia do Sul e em Okinawa.
Um dos primeiros actos da administração Obama foi enviar mísseis Predator para bombardear o Paquistão. Morreram pessoas. Mas afirmou-se: "Ho, somos muito precisos com estas armas. É equipamento do mais moderno. Podemos apontar para qualquer lado e atingir apenas o que queremos."
Esta mentalidade é a da presunção tecnológica. Sim, eles podem decidir que vão bombardear apenas uma casa. Mas há um problema: não sabem quem está nessa casa. Podem atingir um carro a grande distância com um rocket. Mas sabem quem vai no carro? Não.
E mais tarde, depois dos corpos serem retirados do carro, depois dos corpos serem retirados da casa - irão dizer-nos: "havia três suspeitos de terrorismo naquela casa, e sim, morreram outras sete pessoas, incluindo duas crianças, mas apanhámos os suspeitos de terrorismo."
Mas notem que a palavra é "suspeitos". A verdade é que não sabem onde estão os terroristas.
Por isso, sim, temos de abandonar a mentalidade dos que nos levaram ao Iraque, mas temos de identificar essa mentalidade. E Obama tem de ser pressionado pelas pessoas que o elegeram, pelas pessoas que o apoiaram com entusiasmo, para que abandone essa mentalidade. Nós somos os que têm de dizer-lhe: "Não, está no mau caminho quando tem essa atitude militarista de usar a força para conseguir coisas no mundo. Não conseguiremos nada dessa forma, e continuaremos a ser um país odiado pelo mundo."
Obama falou de uma visão para o seu país. Temos de ter essa visão, e agora quero dizer a Obama o que essa visão deve ser.
Uma visão de uma nação que se torne estimada pelo mundo. Não digo amada - isso vai demorar mais algum tempo a construir. Uma nação que não é temida, não é detestada, não é odiada, como o somos demasiadas vezes, mas uma nação que seja vista como pacífica, porque retiramos as nossas bases militares de todos esses países.
Não temos de gastar centenas de milhares de milhões de dólares no nosso orçamento militar. Pegue-se em todo o dinheiro destinado às bases militares e ao orçamento militar e - isso será parte da emancipação - poderemos usar esse dinheiro para dar a toda a gente cuidados de saúde gratuitos, para garantir empregos a todos os que não têm um emprego, para garantir o pagamento da renda a todos os que não podem pagá-la, para construir infantários.
Usemos o dinheiro para ajudar pessoas em todo o mundo, não para enviar bombardeiros sobre elas. Quando os desastres acontecem, precisam de helicópteros para transportar pessoas para longe das cheias e das áreas devastadas. Precisam de helicópteros para salvar vidas, e os helicópteros estão no Médio Oriente, a bombardear e metralhar pessoas.
É preciso dar uma volta completa a isto. Queremos um país que use os seus recursos, a sua riqueza e o seu poder para ajudar as pessoas, não para lhes fazer mal. Isso é o que precisamos.
É uma visão que temos de manter viva. Não podemos satisfazer-nos com facilidade e dizer: "Está bem, deixem o homem em paz. Obama merece respeito."
Mas nós não mostramos respeito por uma pessoa quando lhe passamos um cheque em branco. Respeitamos uma pessoa quando a tratamos como igual, quando podemos falar com ela e ela nos escuta.
Não se trata apenas de Obama ser um político. Pior, está rodeado de políticos. E alguns escolheu-os ele próprio. Escolheu Hillary Clinton, escolheu Lawrence Summers, escolheu pessoas que não mostram nenhum sinal de quererem cortar com o passado.
Somos cidadãos. Não podemos pôr-nos na posição de olhar o mundo pelos olhos deles e dizer: "Bem, temos de fazer compromissos, temos de fazer isto por razões políticas". Não, temos de dizer o que pensamos.
Essa foi a posição dos abolicionistas antes da Guerra Civil, e o povo disse: "Bem, temos de ver isso do ponto de vista de Lincoln." Lincoln não acreditava que a sua primeira prioridade fosse abolir a escravatura. Mas o movimento anti-esclavagista acreditava, e o que os abolicionistas disseram foi: "Não temos de seguir o ponto de vista de Lincoln. Vamos expressar a nossa posição, e vamos expressá-la tão energicamente que Lincoln terá de escutar-nos."
E o movimento anti-esclavagista tornou-se suficientemente grande e suficientemente poderoso para que Lincoln tivesse que escutá-lo. E foi assim que conseguimos a Proclamação da Emancipação e a 13ª, 14ª e 15ª Emendas.
Essa é a história do nosso país. Sempre que se conseguiu progresso, sempre que se derrubou injustiças, foi porque as pessoas actuaram como cidadãs e não como políticas. Não ficaram apenas a protestar. Trabalharam, actuaram, organizaram-se, revoltaram-se se necessário, para chamar a atenção do poder para os seus objectivos. E isso é o que temos de fazer hoje.
Texto publicado em The Progressive
Tradução de José Pedro Fernandes para esquerda.net
* Howard Zinn é historiador, escritor e activista social norte-americano e é o autor de "A People's History of the United States", "Voices of a People's History" (com Anthony Arnove), e "A Power Governments Cannot Suppress", entre outras obras. Agradece-se a Alex Read e Matt Korn pela transcrição do discurso de Zinns de 2 de Fevereiro, no restaurante Busboys and Poets, em Washington, D.C., de que este texto foi adaptado.
Fonte:Esquerda.net
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