domingo, 31 de maio de 2009

VIOLÊNCIA E IMPUNIDADE NA AMÉRICA LATINA.

Mário Augusto Jakobskind

Passado o estresse do surto de influenza A, também conhecido em um primeiro momento como gripe suína, o México praticamente saiu do noticiário. Por lá nestes dias aconteceu um fato escabroso. Eliseo Barrón Hernández, repórter do jornal La Opinión, do grupo editorial Milenio, que cobria a área policial, foi retirado de sua casa por um grupo de oito sujeitos com o rosto coberto. No dia seguinte de manhã o corpo do jornalista apareceu no Estado de Durango com vários disparos de armas de fogo. Ainda no início do mês de maio outro comando armado assassinou, na mesma região, o jornalista Carlos Ortega, que trabalhava na publicação El Tiempo.

Hernández tinha feito a cobertura de um conflito interno na Direção de Segurança Pública Municipal de Torreón, no qual foram retirados de seus postos 302 policiais por perda de confiança. Em função disso, 20 agentes foram submetidos a investigações penais por extorsão e abuso de autoridade. O repórter ficou marcado pelos marginais do gênero acima de qualquer suspeita, mas não recebeu a proteção devida das autoridades.

O México, hoje sob a presidência de Felipe Calderón, é o segundo país da América Latina com mais assassinatos de jornalistas, estando a Colômbia em primeiro. Desde 1995 pelo menos 37 profissionais de imprensa foram assassinados no México, ficando impunes a maioria dos responsáveis pelos delitos.

Enquanto isso, na Argentina, país onde as autoridades pediram perdão publicamente ou reconheceram culpados em atos cometidos durante o regime militar, remanescentes desse período continuam agindo clandestinamente. É o que se pode depreender em função do desaparecimento de Orlando Argentino Gonzáles, que deveria apresentar na Procuradoria Federal denúncia sobre novas ameaças recebidas, que envolvem o ex-comissário Francisco Camilo Orce, um dos vários torturadores que está sendo processado e preso.

González é um sobrevivente do centro clandestino de detenção arsenal “Miguel de Azcuénaga”. Preso em maio de 1976, o hoje desaparecido desde o último dia 9, foi barbaramente torturado pelo então comissário Orce. González nunca foi militante político e se dedicava ao plantio de cana de açúcar. Foi preso e torturado porque tinha o mesmo nome de um outro opositor do regime ditatorial então vigente depois da derrubada da presidente constitucional Isabel Perón.

Esses fatos devem servir de reflexão em países como o Brasil, onde muitas autoridades e políticos tremem nas bases quando alguém lembra dos acontecimentos dos anos de chumbo e questiona a impunidade de muitos torturadores daquele período, que são defendidos por saudosistas daquela época de triste memória, entre os quais o deputado federal Jair Bolsonaro, que tem afixado na porta de seu gabinete em Brasília um cartaz ofensivo às vítimas da guerrilha do Araguaia, além de ser um boquirroto de baixo nível.

Na Argentina, no Uruguai, no Chile e no Paraguai, se um troglodita político tiver o mesmo comportamento de Bolsonaro, o referido estará com seus dias contados. Mais cedo ou mais tarde será chamado à razão e terá de responder judicialmente por prestar solidariedade a torturadores.

Por aqui, Bolsonaro e outros do gênero seguem fazendo das suas e não respondem pelos seus atos. No caso do deputado carioca, cabe ao presidente da Câmara, deputado Michel Temer abrir um procedimento investigativo sobre quebra de decoro parlamentar. Mas como Temer é movido à mídia, vai depender muito de como os jornais vão noticiar o procedimento de Bolsonaro para que o presidente da Câmara dos Deputados decida fazer alguma coisa.

A propósito do Congresso e de cobertura midiática, o Senador José Sarney apresentou ao vivo e a cores uma de suas facetas já não tão ocultas. Ele recebia auxílio moradia de uns 3 mil reais mensais, embora resida em Brasília num palacete próprio. Descoberta a vantagem indevida, Sarney vem a público para reconhecer o erro. Ora, ora, o senador acha que engana a quem? Muitos brasileiros não recebem essa quantia mensal de salário, mas Sarney nem tinha percebido o seu contra cheque mais gordo. Como diz a voz do povo: me engana que eu gosto...

Em tempo: a Globovision da Venezuela colocou uma figura no ar para dizer que Hugo Chávez será enforcado como Mussolini. A Sociedade Interamericana de Imprensa já ligou todas as suas baterias para defender a emissora de TV que, segundo a entidade patronal, está ameaçada por Chávez. O que acham os leitores?
Fonte:Direto da Redação.

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