segunda-feira, 27 de julho de 2009

A ESPIRITUALIDADE ESTÁ RECONQUISTANDO O MUNDO.

É quarta-feira à noite. A atmosfera parece aquela típica da província profunda norte-americana. Um grupo de profissionais – um médico, um acadêmico, um empresário, mas também um jovem de cabelos compridos – se reúnem em uma sala de estar qualquer. Há um crucifixo na parede, e discute-se animadamente sobre a Bíblia, sobre homossexualidade e Darwin, sobre como organizar o proselitismo na comunidade.

No fim, todos sorriem, todos ligam novamente o BlackBerry e verificam os e-mails, depois saem, e do lado de fora está Xangai.

A reportagem é de Eugenio Occorsio, publicada no jornal La Repubblica, 25-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Hoje, o aspecto mais chamativo da difusão do modelo norte-americano é a religiosidade", explica John Micklethwait, diretor da revista Economist. Ele escreveu, junto com o chefe do escritório de correspondência de Washington, Adrian Wooldridge, o livro que menos se esperava dele, na chefia da mais laica das revistas: "God is Back" (Deus voltou), publicado até agora só em inglês pela editora Allen Lane, um braço da Penguin.

"Fizemos um giro ao redor do mundo para verificar a impressionante difusão da religião, cristã, muçulmana, pentecostal, judaica, confucionista, budista", explica Micklethwait, 46 anos, doutor em História pela Universidade de Oxford.

Micklethwait provém de uma gloriosa família "old catholic" inglesa, uma das poucas famílias aristocráticas que se recusaram a abjurar, apesar das tremendas penas quando a Igreja anglicana se separou do papado.

Eis a entrevista.

O fato de haver mais religião no mundo não parece uma novidade. No 11 de setembro de 2001, os aviões explodiram nas torres ao grito de "Alá é grande"...

É preciso reconhecer que, no Islã, que nunca teve o equivalente do Iluminismo, há mais resistência à modernidade "american style" e até mesmo uma hostilidade declarada. Porém, deixarei de lado os fundamentalismos. Porque agora é preciso falar do tom da cruzada que certas iniciativas ocidentais assumem no Oriente Médio. Falamos da religião "sadia", isto é, entendida como ideal e não como ideologia: na China, que é só um dos muitos exemplos, existe a maior onda de cristianismo de todos os tempos, ao lado da difusão do capitalismo, como se as duas coisas fossem conjuntas e a religião ocidental constituísse uma provisão para a iniciativa econômica livre em antítese ao ateísmo comunista, e tudo por causa da prevalência do modelo norte-americano.

Porém, o senhor mesmo descreve amplamente no livro as aberrações do modelo norte-americano, as mega-Igrejas dos pastores empresários que o senhor chama de "pastorpreneurs", o vazio da mensagem, a superficialidade de quem vai à Igreja para se confrontar com a dieta ou para fazer amigos. Isso é religião?

Nos EUA, há 225 milhões de aderentes a qualquer Igreja, a maior região do planeta de consumidores, com infraestruturas assustadoras, das escolas às redes de televisão. E depois do anabatismo de Bush, um presidente "de esquerda" como Obama também enche os seus discursos com referências a Deus. Pois bem, no livro procuramos, com olhar sereno, fotografar a situação: modernidade, tecnologia, também a democracia, não afastaram os homens da religião, como se acreditava, mas os aproximaram. Ou seja, quanto mais Estado e Igreja se separaram no modelo de Tocqueville, mais a religião se tornou importante. O oposto do que Francis Fukuyama dizia em "O fim da história" (Rocco, 1992). E a religião se tornou em uma componente primária das decisões políticas, econômicas, sociais, sobretudo dos EUA, mas também de muitos outros países. É importante olhar, para ler os sinais da influência da religião, para além da Europa, que se tornou quase uma zona "God free", como a Universidade de Harvard ou Manhattan. No entanto, a igreja da Times Square tem oito mil congregantes por semana.

Portanto, o cristianismo que está sendo exportado não é mais o europeu, mas sim o norte-americano?

Sim, e é a primeira vez na história. É um mecanismo que está destinado, com Obama, a se multiplicar. Os democratas venceram também entrando nas comunidades evangélicas que eram apanágio da direita. Assemelha-se ao modelo norte-americano o pentecostalismo que se difunde no Brasil e na Coreia do Sul, e até o Islã do cantor indonésio Abdullah Gymnastiar, chamado Aa Gym, ou do televangelista egípcio Amr Khaled.
Fonte:IHU

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