sábado, 25 de julho de 2009

O DESCRÉDITO DAS INSTITUIÇÕES.

É difícil saber o que tem sido mais danoso ao povo brasileiro: se é o modelo econômico real gerador da desigualdade, que patrocina uma elite privilegiada e deixa a grande maioria distante da riqueza produzida, ou se é o contínuo descrédito moral e político das instituições públicas que deveriam promover o bem-estar geral da Nação.

A sucessão de desmandos e escândalos alimenta a descrença generalizada nos partidos políticos, nos governos, nos homens públicos e no papel do Estado como instância e instrumento capaz de enfrentar e resolver os problemas da sociedade. A desmoralização dessas instituições sustenta a apatia coletiva, a baixa-estima popular, a desagregação social e a individualização das soluções.

Cada vez que um Sarney da vida tem as suas falcatruas escancaradas, massivamente sensacionalizadas pela mídia, reforça-se no seio da sociedade brasileira que as instituições só servem mesmo para os interesses da bandidagem; reitera-se a incapacidade das próprias instituições em sanar os esquemas de corrupção; reafirma-se a convicção de que a podridão contamina todos aqueles que se aproximam das instituições públicas.

O escândalo Sarney expressa exatamente a dose de descrédito que os donos do capital e defensores da supremacia dos mercados, precisam aplicar de tempos em tempos no povo para reforçar, de um lado, a inviabilidade das instituições públicas como instrumentos de transformação, e, de outro, o sentimento popular de rejeição, asco e apatia diante da estrutura estatal.

A vida pregressa do senador Sarney vem desde os tempos em que ele fustigava os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino e João Goulart; desde os tempos em que ele deu total apoio à Ditadura Militar; desde que ele instalou no Maranhão uma oligarquia sustentada na apropriação das terras, bens e dinheiro públicos, nas negociatas e no empreguismo de parentes e apaniguados. Nada disso é novidade, José Sarney já deveria ter sido varrido da vida pública há muitos anos.

A novidade está no fato de que o velho oligarca está sendo rifado pela sua turma da direita, pelos partidos conservadores que são porta-vozes das elites e do capital privado, pela mídia neoliberal; e a novidade está no fato de que o velho oligarca tem sido defendido e preservado pelo presidente Lula e por setores do próprio PT, por pessoas cujas trajetórias políticas foram construídas no campo democrático e progressista.

Portanto, não é a ficha corrida de Sarney que está no momento realimentando a descrença do povo nas instituições públicas; é a posição de Lula e dos parlamentares do PT que causam surpresa, espanto, indignação e, de novo, mais desânimo diante dos partidos, do Congresso Nacional, dos governos e do papel do Estado. A podridão de Sarney contamina um pouco mais a expectativa popular de que as instituições republicanas possam ser instrumentos de transformação. As forças conservadoras do sistema sabem muito bem que podem pagar o preço de perder o seu velho aliado oligarca, desde que a contaminação dos setores progressistas atinja diretamente a auto-estima do povo. Para elas, um povo desanimado, descrente, apático, é muito mais fácil de ser controlado.

Uma forma de romper esse círculo vicioso da dominação de classe é o povo trabalhador construir instrumentos de luta que não se confundam jamais com os interesses das forças dominantes. Caso contrário, vamos continuar no show nosso de cada dia...

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP
Fonte:Jornal Correio do Brasil

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