terça-feira, 22 de setembro de 2009

HONDURAS - O destino do mundo está em Honduras.

Miguel do Rosário do blog Óleo do Diabo.

Honduras voltou a chamar atenção da mídia internacional. E por uma razão. Zelaya regressou ao país e agora se encontra na embaixada brasileira de Tegucigalpa, capital. O que ocorre hoje em Honduras é, de longe, o fato político e geopolítico mais importante nas Américas. Todos os elementos que caracterizam as lutas políticas nos países latino-americanos encontram-se em Honduras em estado bruto e radicalizado. Imprensa e elite associadas, mafiosamente, em atitude golpista. Povo acuado e desorganizado, de outro. Políticos no meio, ao sabor do vento. Um presidente sendo empurrado cada vez mais para a esquerda.

A história é uma mulher triste e chorando, mas sempre linda. O golpe em Honduras desmoralizou a direita, e pôs em cheque a honestidade da Sociedade Interamericana de Imprensa e demais organizações sindicais midiáticas do continente. O que a imprensa fez e está fazendo em Honduras é tortura psicológica inconcebível. Acompanho, no RSS aí do lado, dois blogs hondurenhos, de luta antigolpista, os quais também estão no Twitter, e o protesto principal que vejo por lá é a desonestidade sem limite da mídia nacional, que procura distorcer absolutamente tudo que acontece no país.

Como é um país pobre, com baixo uso de internet, a influência da mídia convencional é muito forte. A mídia hondurenha criou uma realidade virtual, com apoio dos intelectuais midiáticos (as mesmas repugnantes espécies que temos por aqui), que justificam o golpe juridica e politicamente.

Uma das coisas que realmente me impressionam foi a maneira repentina e inexplicável como Honduras sumiu da pauta midiática brasileira por várias semanas. Depois da cobertura dos primeiros dias, a mídia iniciou uma cobertura cada vez mais hesitante. Ontem, ouvi o Boris Casoy falar em governo "de fato" em Honduras, substituindo o termo que havia se generalizado antes, "governo golpista".

A verdade é que houve uma campanha da extrema-direita no Brasil, liderada por Reinaldo Azevedo, editorialista da revista Veja, para que a cobertura do golpe em Honduras fosse radicalmente modificada. Como não podia inverter a posição editorial que, embora hesitantemente e pressionada pela reação internacional, havia assumido de início, a mídia brasileira optou pelo silêncio sepulcral. Semanas e semanas sem uma linha, uma notinha, uma palavra sequer sobre Honduras.

Agora, repito, o fato político impõe-se, derrubando o pacto de silêncio, porque o Brasil abrigou Zelaya na embaixada brasileira. Reações negativas midiáticas começam a pipocar, como a entrevista com o embaixador Rubens Barbosa, que é incompetente (patrocinou o plano de retenção de café em 2001, que deu prejuízo superior a 400 milhões de dólares ao Brasil), invejoso e colonizado, quase afirmando que o Zelaya deveria estar na embaixada americana e não na brasileira; e o Estadão dando manchete alarmista sobre os riscos de "fratura social" que a volta de Zelaya traz ao país.

Pesquisadores, historiadores, jornalistas, cientistas políticos, ativistas, parlamentares, cidadãos, observem atentamente o que acontece em Honduras. O destino da democracia da América Latina reside neste pequeno e sofrido país centro-americano. O golpe vai fracassar, disso eu tenho certeza. O que devemos observar é todo o contexto político, a reação das mídias latinas ao pós-golpe. Depois que Zelaya retornar ao poder, deverá ocorrer, uma hora ou outra, um julgamento interno sobre os responsáveis por esse tenebroso atentado contra o espírito democrático das Américas. É muito pior que qualquer atentado terrorista, porque mexe com nossos traumas mais profundos. Milhões de latino-americanos que sofreram, na pele, as consequências nefastas de ditaduras militares, seguramente sentiram um horrível frio na espinha quando chegaram notícias de Tegucigalpa. Esse progressismo latino, forjado nas lutas sangrentas anti-totalitárias, revelou-se na condenação veemente e absoluta, pela classe política de todo o continente. O golpe em Honduras pendurou-se, então, no apoio midiático interno, no silêncio dos sindicatos internacionais de imprensa, além da participação histérica de figuras isoladas, mas barulhentas, da extrema-direita no continente, do Brasil aos Estados Unidos.

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