quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ECONOMIA - Farra financeira: Bolha de US$ 722 bi ameaça rolar para o Brasil.

E o mercado pressiona o BC para aumentar a tx selic. A respeito, ver matéria no blog do Luis Nassif.
Carlos Dória


Menos de um ano e meio depois do estouro da crise global, uma nuvem de capitais especulativos da ordem de US$ 722 bilhões já paira sobre o mundo, ameaçando flutuar entre um país e outro. A cifra, estimada pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), em Davos, representa 66% a mais sobre 2009 e os países “emergentes” são os principais “ativos” na mira dos especuladores.
Para o consultor econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o Brasil deve baixar juros e aumentar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), se quiser limitar a entrada de recursos indesejáveis. “Hoje o governo dispõe do IOF e, se entrar muito capital especulativo, pode aumentar a alíquota. A dúvida é saber se teremos recuperação internacional maior ou menor e se não vamos exagerar nos juros. Essa é a grande questão para este ano”, frisou.

As projeções quanto ao capital especulativo foram feitas em Zurique, na Suíça, pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF), conhecido como “Clube dos Bancos”, que se reuniu na véspera da abertura do FEM, em Davos. O volume de capital privado circulando será o terceiro maior dos últimos 30 anos, perdendo apenas para os recordes de 2006 e 2007.

Recuperação global

“Um movimento tão rápido da fome ao banquete faz crescer a óbvia questão sobre se outra bolha financeira global está sendo produzida, desta vez em economias emergentes, em especial Brasil, China e Índia”, diz o relatório, advertindo haver riscos “a médio prazo”. O IFF, porém, mostrou-se preocupado com déficit na conta corrente do Brasil, que deve crescer de US$ 24 bilhões, em 2009, para US$ 59 bilhões em 2010, de 1,6% do PIB para 3% do PIB.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o fluxo de capital a algumas economias “emergentes” começa a levantar preocupações. Em uma atualização do Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global, o FMI afirmou que a alta do preço dos ativos em alguns mercados “emergentes” ainda não pode ser considerada excessiva e abrangente, embora alguns países e mercados financeiros tenham tido um aumento significativo das pressões.

O IIF informa que o fluxo de capital privado para mercados financeiros “emergentes” deve crescer em até 66% neste ano, uma vez que países como Brasil e China estão na dianteira da recuperação global. O IIF espera que os fluxos líquidos de capital para mercados “emergentes” cresçam a US$ 722 bilhões, ante um valor estimado de US$ 435 bilhões em 2009.

Vigilância de emergência

Os números referentes ao ano passado tiveram suporte numa recuperação do investimento direto e dos empréstimos bancários ao mercado financeiro, afirmou o instituto. Para a associação bancária global, no entanto, os mercados emergentes parecem estar atentos aos riscos do capital especulativo – fluxos de curto prazo à procura de rentabilidade.

O IIF acrescentou que economias maduras precisam apresentar planos com credibilidade para resolver dívidas em crescimento e problemas de liquidez, acrescentou o instituto. “Enfrentamos uma situação que em meus mais de 50 anos de experiência em bancos é sem precedentes”, disse William Rhodes, primeiro vice-presidente do Conselho do IIF, em Zurique, na véspera do encontro do Fórum Econômico Mundial em Davos.

Rhodes afirmou que a economia mundial está melhorando, mas os riscos permanecem. “A economia global e seu sistema financeiro estão fora de vigilância de emergência”, disse ele. “Porém, eles ainda estão longe de estarem saudáveis.” A economia global deve crescer até 3,2% em 2010, após um recuo de 2,5% em 2009, avaliou o IIF. As economias maduras devem avançar até 2,4%, enquanto os mercados emergentes devem subir 6,1% neste ano.

Centro da dinãmica

O problema maior continua no centro da dinâmica da economia capitalista — o Estados Unidos. O déficit orçamentário daquele país continuará em níveis não vistos desde a Segunda Guerra Mundial, disseram representantes do Congresso por meio de um relatório que expõe o grande desafio do presidente Barack Obama, que deseja criar empregos e cortar gastos ao mesmo tempo. Obama, que não tem se saído bem em pesquisas, deve propor um congelamento de três anos em programas de gastos domésticos e um esboço de outras medidas para controlar déficits orçamentários recordes em seu discurso à nação na quarta-feira.

O Escritório de Orçamento do Congresso, que não é filiado a nenhum partido, disse que o “rombo” para o atual ano fiscal deve chegar a US$ 1,35 trilhão, uma leve melhora ante a previsão de US$ 1,38 trilhão feita em agosto do ano passado. Mas o escritório alertou que o rápido crescimento da dívida pública federal pode sufocar a economia caso Obama e o Congresso não aumentem as receitas ou cortem gastos.

O déficit é pouco menor que o recorde de US$ 1,4 trilhão registrado no último ano fiscal, que acabou em setembro de 2009. Mas, representando 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o buraco nas contas públicas ainda se mantém em patamares não vistos desde a Segunda Guerra Mundial.“No limite, isso deve fazer você se sentir melhor (com relação ao déficit). É suavemente positivo”, afirmou Mark Pawlak, estrategista de mercado da Keefe Bruyette & Woods, em Nova York.

Isso trará um pouco de conforto aos democratas do presidente Obama, que enfrentam severas críticas de republicanos por conta de gastos e um aumento da preocupação antes das eleições para o Congresso em novembro. “Parece que o céu é o limite para a maioria democrata, que gasta e empresta dinheiro”, afirmou o senador Judd Gregg, principal republicano no comitê orçamentário.

Taxa de desemprego

O comitê projetou que os déficits cairão abaixo de 3% do PIB na metade da década, nível visto por muitos analistas como sustentável. Essa previsão exige que o Congresso mantenha várias medidas de isenção fiscal que devem expirar em breve em vez de renová-las, o que provavelmente não vai acontecer. Steny Hoyer, segundo mais importante democrata na Câmara dos Deputados americana, disse nesta terça-feira que os democratas vão trabalhar para manter os incentivo fiscais à classe média.

As medidas de corte no orçamento também podem entrar em conflito com outra prioridade dos democratas: derrubar a taxa de desemprego no país, que atualmente está em 10%. Um pacote voltado ao mercado de trabalho aprovado pela Câmara em dezembro deve chegar a US$ 155 bilhões. O Senado está preparando uma medida similar.

Obama pretende propor um congelamento de três anos em gastos com diversos programas, que respondem por um sexto do orçamento federal, uma decisão que tem como objetivo dirimir preocupações dos eleitores com o déficit de US$ 1,4 trilhão mas cujo impacto prático deve ser pequeno.

Série de iniciativas

O congelamento afetaria US$ 447 bilhões em gastos, ou 17% do total do orçamento, mas pode ser superado pela expansão em áreas de gasto discricionário que não serão afetadas. O objetivo é economizar US$ 250 bilhões durante a próxima década em comparação com o que seria gasto nessas áreas levando em conta a inflação.

Entre as áreas que poderão estar sujeitas à medida estão os Departamentos de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Justiça, Energia, Transporte, Agricultura e Saúde e Serviços Humanos. Ficarão de fora gastos discricionários relacionados a militares e veteranos, segurança interna e assuntos internacionais, bem como grandes programas sociais, como Seguridade Social e Medicare.

“Não estamos aqui para dizer a você que resolvemos o déficit, mas é preciso tomar medidas para colocar os gastos sob controle”, disse uma fonte ligada ao governo. O congelamento do gasto, que deverá ser incluído no discurso do Estado da União desta quarta-feira e na proposta de Orçamento do presidente a ser apresentada em 1º de fevereiro, faz parte de uma série de iniciativas em pequena escala que a Casa Branca tem anunciado.

Com agências

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