domingo, 12 de dezembro de 2010

MÍDIA - A batalha da WikiLeaks.

Enviado por luisnassif, dom, 12/12/2010.

Coluna Econômica

A batalha da WikiLeaks – o site que vazou milhares de documentos secretos do Departamento de Estado norte-americano – é um divisor de águas na política mundial. Não fosse esse episódio, seria outr. Desde que surgiu a Internet, aguardava-se o dia em que provocaria o desmoronamento completo do jogo político e diplomático convencionais.

Historicamente, política e diplomacia foram exercitadas com enorme dose de hipocrisia. Há um jogo interno e um teatro para o público. É possível dois parlamentares encenarem brigas homéricas no plenário e saírem juntos para jantar. Ou a diplomacia de dois países demonstrarem relações civilizadas por cima e, por baixo da mesa, trocarem pontapés.

Faz parte do jogo da democracia representativa e das relações internacionais.

Na democracia representativa, o poder se exerce de maneira diferente em dois momentos distintos: nas eleições e no pós-eleições.

O verdadeiro poder se estabelece no pós-eleições. Compartilham dele os partidos políticos, grupos estabelecidos nos diversos poderes, grandes fornecedores do Estado, grupos econômicos influentes.

Esse é o jogo subterrâneo, no qual alianças, interesses, esquemas tendem a se estratificar, muitas vezes amarrando o desenvolvimento das democracias.

A cada quatro ou cinco anos vêm as eleições. É um dos poucos momentos em que o cidadão se manifesta.

Nas eleições há o teatro político, a denúncia, a radicalização do discurso, a captação das novas tendências da população, até então difusas, a retórica fácil. Convencer o eleitor é peça central do jogo. São esses momentos únicos, que se repetem a cada quatro anos, os responsáveis pela dinamização do país. Não significa que o eleitor sempre acerte. Mas ele sempre provoca as mudanças.

Em 1989, farto do jogo político e da paralisia total nas decisões de política econômica, o eleitor votou em Fernando Collor para o trabalho de desmonte da estrutura dos anos 80. Em 1994, considerou que Fernando Henrique Cardoso era o mais capaz para conduzir a estabilização econômica.

Em 2002, julgou que era a hora de se pensar no social. E elegeu Lula.

Em 2010 considerou importante a consolidação do modelo Lula e votou em Dilma.

As eleições determinam mudanças nas prioridades públicas, mas, passado o momento, o exercício do poder volta ao leito original, com mudanças lentas de rumo e com o mesmo exercício da hipocrisia.

O WikiLeaks simplesmente abriu as cortinas no intervalo das representações e mostrou o que se passa nos bastidores. Esse jogo será cada vez mais aberto, seja no vazamento de documentos confidenciais, gravações de cenas por celulares, inconfidências que ganham a Internet. E provocarão a desconstrução tanto da diplomacia quanto do jogo político convencionais – através de suas duas pernas centrais, o Executivo/Congresso e a velha mídia.

Durante décadas, a velha mídia fez um trabalho sistemático de desconstrução da política, visando impor seu poder sobre os partidos. O WikiLeaks acaba desnudando as duas pontas do modelo e reforçando como nunca o poder do chamado leitor-cidadão.

É o Momento 1 da construção de um novo modelo de governança.

Fonte: Blog do Luis Nassif.

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