quinta-feira, 22 de setembro de 2011

MÍDIA - O Estadão vai à guerra.

Luciano Martins Costa

Observatório da Imprensa


Sob um silêncio constrangedor de seus pares, o Estadão prossegue em rota de colisão com o Judiciário. Depois de duas reportagens claramente indignadas contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça que anulou provas obtidas através de telefonemas gravados, no processo que envolve o empresário Fernando Sarney, o jornal paulista volta, sozinho, ao campo de batalha para expor o que pode ser um esquema de tráfico de influência na Justiça.

Nesta quarta-feira, 21, reportagem que ocupa a manchete do jornal informa que, para anular as provas contra o filho do senador José Sarney, a 6ª Turma do STJ bateu recordes de eficiência e celeridade.

O ponto central da reportagem leva a conclusões perigosas. Ao observar que, ao contrário de outros processos, o STF funcionou como uma instituição extremamente rápida e eficiente, o Estadão está afirmando, sem meias palavras, que os desembargadores demonstraram um empenho muito maior em livrar Fernando Sarney do que é o comum de sua rotina.

No caso Satiagraha, a anulação de provas levou um ano e oito meses e o relator estudou o processo por dois meses antes de apresentar seu parecer. No processo gerado pela chamada Operação Castelo de Areia, a anulação das provas demorou 2 anos e a relatoria demorou oito meses. Para chegar à conclusão de que as provas contra o filho de Sarney não são válidas, a Justiça levou apenas nove meses, o processo foi relatado em seis dias e dois juizes foram convocados para completar o quórum.

A reportagem informa ainda que um dos juizes convocados para completar a votação teve sua aprovação no Senado Federal acelerada pelo próprio presidente da Casa, José Sarney. Fontes consultadas pelo jornal indicam que o procedimento do STF não é comum.

Além disso, o Estadão afirma que a decisão de anular as provas contra Fernando Sarney foi tomada sem levar em conta um parecer do Ministério Público Federal e decisões de juizes de primeira instância, que haviam aceitado como prova o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – que viu indícios de crime em três movimentações financeiras, no total de R$ 2 milhões, feitas pelo empresário e sua mulher.

O Estadão decidiu, claramente, abrir guerra contra certos setores do Judiciário. Os outros jornais fingem que não aconteceu nada.
FNDC

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