sábado, 10 de março de 2012

GRÉCIA - Os banqueiros são "bonzinhos"

Atenas organiza sua falência.

Bancos gregos anunciaram 'aceitação integral e voluntária' da oferta de trocas.

Réquiem para a Grécia

Atenas organiza sua falência

O ministro das Finanças grego Evangelos Venizélos agradeceu na sexta os credores privados por 'terem dividido os sacrifícios do povo grego nesse esforço histórico'

A Grécia está alcançando a maior reestruturação de dívida da história de um país. Ela evita uma saída de rota descontrolada, mas deve, no entanto, terminar de organizar sua própria falência. Está confirmado que 83,5% dos credores privados da Grécia aceitaram abandonar 53,5% de seus títulos, declarou Atenas na manhã de sexta-feira, 9. Mas o governo grego também decidiu utilizar a força — e obrigar os credores resistentes a assumir suas perdas.

A operação deve suprimir a metade dos 206 bilhões de euros de empréstimos do país subscritos pelos bancos, seguradoras e outros fundos. E contribuir para reduzir a dívida para 120,5% do produto interno bruto até 2020, contra 160% hoje — um nível muito elevado que não deixa o país protegido.

O espectro de uma falência desordenada da Grécia é, assim, evitado. Mas o governo não está menos decidido a pedir o lançamento das cláusulas de ação coletivas (CAC), forçando os credores obstinados a se unirem à reestruturação.

Essas medidas devem permitir levar a 95,7% a taxa de participação dos credores na troca de papéis e suprimir cerca de 103 bilhões de euros da dívida grega, hoje de 360 bilhões de euros. Sexta-feira à tarde, o ministro das Finanças Evangelos Venizélos apresentou seus resultados em uma teleconferência de ministros de Finanças da zona do euro.

“Nós evitamos o principal risco, um problema desordenado da Grécia, explicou Christian Parisot, economista da Aurel BGC. O verdadeiro sucesso teria de qualquer forma sido não passar pela ativação das CAC. Com elas, é uma verdadeira falha oficial.” “As CAC são uma necessidade política e econômica”, estima Gille Moec, do Deutche Bank. “Sem elas seria preciso ir ao fundo do que fosse possível em termos de alívio a nível global da dívida grega.”

A ISDA, Associação Internacional de Derivativos e Swaps, se reuniu sexta-feira à tarde para decidir se esse procedimento constitui, de acordo com o jargão financeiro, um “evento de crédito”. Como a maior parte dos observadores esperavam, ela respondeu que sim, e, com isso, os detentores dos chamados Credit Default Swaps (swaps de crédito, ou CDS), que são contratos de derivativos para proteção contra calotes, teriam o direito de receber um pagamento de cerca de US$ 3,2 bilhões, constituindo um precedente na zona do euro. A Grécia e os europeus procuraram por meses evitar a questão antes de minimizar os riscos destes últimos tempos.

“Reformas Estruturais”

“Em agosto, quando a tensão era extrema, um evento de crédito teria tido um pesado impacto sobre os mercados. Nós ganhamos tempo, é isso que conta nos mercados, onde o evento de crédito era a partir de então antecipado”, explica Parisot.

O que quer que seja, a operação é um sucesso para o governo grego, cujo nível de confiança entre os europeus havia caído ao patamar mais baixo. O governo conduziu com eficácia as negociações, o que lhe permitirá corrigir em parte os julgamentos sobre as promessas não cumpridas, que conduziram a “troïka” de financiadores de fundos — Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional — a endurecer suas exigências.

Venizélos explicou que o governo não pretende relaxar seus esforços e que ele quer “colocar em prática as medidas para ser bem sucedido com os ajustes orçamentários e as reformas estruturais com as quais estou comprometido”. É um sucesso pessoal para Venizélos, que conduziu as negociações por vários meses, no momento em que ele está prestes a buscar a liderança do partido socialista grego, o Pasok.

Apesar de tudo, a Grécia não saiu de questão. A reestruturação da dívida e o segundo plano de ajuda de 130 bilhões de euros devem, em teoria, permitir um retorno da dívida pública, que hoje representa 160% do PIB, a 120,5% em 2015. Mas alguns duvidam que essa trajetória seja mantida.

“O caso grego está longe de estar acabado. O retorno do país ao crescimento, o controle dos déficits públicos e as reformas do país ainda estão à nossa frente, apontam os analistas da CM-CIC Securities. Nós ainda consideramos que a Grécia não tem condições de alcançar seus objetivos e de retornar seu nível de endividamento a 120% até 2020. Será muito difícil evitar um novo plano de ajuda para a Grécia. O semanal alemão Der Spiegel reportou recentemente que a “troïka” estima que a Grécia poderá precisar de um terceiro plano de ajuda de 50 bilhões de euros em 2015 para poder voltar aos mercados.

A via é tão mais estreita que o povo grego não cessa de apresentar uma desordem cada vez mais profunda frente às repetidas medidas de austeridade. Venizélos também agradeceu na sexta os credores privados por “terem dividido os sacrifícios do povo grego nesse esforço histórico”. Na véspera novos números do desemprego haviam sido divulgados: em dezembro de 2011, 21% da população estava sem emprego, contra 10,2% dois anos antes, uma taxa que sobe para 51,1% entre os menores de 24 anos.

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