O "esculacho" contra Carlinhos Metralha, ex-agente do Dops
Enviado por luisnassif
Por Marco Antonio L.
Da Carta Capital
Ao site de CartaCapital, o hoje delegado de Itatiba admitiu participação no assassinato de 6 militantes em Pernambuco, em 1973. "Só prestei grandes serviços para a sociedade".
por Igor Ojeda
Alvo de “esculacho” nesse sábado, 4, em Itatiba (SP), onde é delegado de segunda classe desde fevereiro, o ex-agente da ditadura Carlos Alberto Augusto, conhecido nos anos 1970 como Carlinhos Metralha, negou ter torturado ou assassinado ativistas políticos durante o regime autoritário. “Nesses 43 anos de trabalho, só prestei grandes serviços para a sociedade. Nunca fui processado, nunca cometi arbitrariedade nenhuma, sou cumpridor das leis”, disse, em entrevista por telefone à CartaCapital neste domingo, 5. Ele afirmou também que nunca presenciou sessões de tortura. Admitiu, no entanto, ter participado do chamado massacre da Chácara São Bento, na cidade de Paulista, na região metropolitana de Recife (PE), em 1973, quando seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foram mortos. “Eles queriam matar o cabo Anselmo e eu”, justificou.
Augusto, que é réu em ação do Ministério Público
Federal (MPF) pelo sequestro qualificado de Edgar de Aquino Duarte,
preso em 1971 e desaparecido em 1973, disse ainda ter ficado “feliz”
com a manifestação desse sábado, pois teria sido por isso que lutara no
passado. Qualificou o esculacho de sábado, porém, como “terrorismo”.
CartaCapital: Gostaria que comentasse o protesto realizado contra o senhor nesse sábado em Itatiba.
Carlos Alberto Augusto: Estou muito
feliz, muito contente pela manifestação que foi feita. Foi por esse
motivo que eu lutei no passado. Para poder dar liberdade para a
imprensa, para os brasileiros poderem se manifestar. Eu lutei por isso.
Se essa manifestação tivesse ocorrido em Cuba, esses jovens
“militontos” já estariam no paredão sendo fuzilados. Deve-se a
liberdade que existe hoje às forças armadas brasileiras.
O que acha das acusações que fizeram contra o senhor, de que participou de torturas e mortes de militantes políticos?
Nesses 43 anos de trabalho, só prestei grandes
serviços para a sociedade. Nunca fui processado, nunca cometi
arbitrariedade nenhuma, sou cumpridor das leis. E se tiver alguma
coisa, vou prestar informações para o juiz.
E o processo do Ministério Público Federal contra o senhor, pelo sequestro de Edgar de Aquino Duarte?
Até agora não fui citado. Desconheço qualquer tipo
de acusação. Não fui ouvido pelo juiz. E o que me deixa preocupado é
que estão fazendo terrorismo com os órgãos do Estado.
Terrorismo?...
O que fizeram ontem não é um ato de terrorismo?
Querendo apavorar a mim e a minha família? Apavorar o pessoal da
cidade, que não me conhece?
A cidade ficou apavorada?
A comunidade não me conhece direito. Eu fui
designado recentemente para trabalhar lá. Mas como eles [os
manifestantes] falam de mim, que eu fui processado, se eu não fui
citado ainda?
Mas o processo do Ministério Público Federal de fato existe.
Mas eu não fui citado ainda.
Isso é uma questão da Justiça, mas o processo existe, está no Ministério Público Federal, existem acusações contra o senhor.
Até o momento eu desconheço qualquer informação, porque não fui citado ainda.
Mas o senhor não poderia falar sobre esse processo?
O que eu posso falar é que os moleques que foram lá [em Itatiba protestas] são desajuizados.
O senhor nega ter participado de sessões de tortura e de sequestros?
Nunca! Nunca, nunca. Eu vou ter oportunidade de explicar isso em juízo. Mas não me chamaram!
O senhor fazia parte da equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury no Dops, não é verdade?
Mas não é porque sou da equipe dele que posso ser acusado dessas coisas todas.
É que há muitas denúncias de presos políticos contra o delegado Fleury e a equipe dele, denúncias de torturas...
Eu desconheço, porque o delegado Fleury também nunca
foi processado nessa área. Outra coisa: todas as prisões, todas as
sessões de interrogatório foram do conhecimento do governador, do
secretário de Segurança Pública e do juiz-auditor militar. E
acompanhadas pela imprensa.
O senhor está dizendo que não havia tortura naquela época?
Não havia. Eu também não presenciei nada.
Há várias denúncias, muito bem fundamentadas, da existência de tortura...
Quem tem boca fala o que quer. O papel aceita tudo. Essa satisfação eu quero dar em juízo.
Recentemente, no entanto, o coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra [também réu na mesma ação movida pelo MPF
contra Augusto], por exemplo, foi considerado torturador pela Justiça
de São Paulo.
Eu nunca trabalhei com o coronel Ustra, nunca
trabalhei no Exército ou em nenhuma força armada. Me acusam de ser um
oficial do Exército quando sou um soldado de terceira categoria. Eu não
servi o Exército, para você ter uma ideia. Eu lutei no passado para
defender o seu emprego, de jornalista. Porque do contrário haveria aqui
um regime comunista. E isso não podemos deixar.
Mas na ditadura havia censura aos jornais.
Pô! Colocaram bomba no Estadão, colocaram bomba na
Folha. Mataram um jornalista em Recife... isso daí é história desses
caras que estão no governo. Como é que você interpela um delegado se
você não sabe da história?
Como assim?
Você tem mais de 50 anos?
Só pode saber a história quem tem mais de 50 anos?
É! Só quem viveu! Porque a história não apareceu ainda. Só estão contando de um lado! E o outro lado já está mentindo!
Eu gostaria de fazer só mais uma pergunta. O
senhor também é acusado de ter participado da organização do chamado
Massacre da Chácara São Bento [episódio ocorrido em Pernambuco, em
1973, quando seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária foram
mortos]. O senhor também nega?
Não nego não! Eles queriam me matar lá. Eles queriam
me levar para me executar. Não nego não! Eles queriam matar o cabo
Anselmo e eu.
E o que o senhor fez?
Os [militantes] que morreram lá interrogavam,
julgavam, executavam e enterravam. Tanto que muitos desaparecidos foram
eles que enterraram.
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