Do blog do Luis Nassif
A manchete principal da Folha de S.
Paulo de ontem é importante menos pelas conclusões – incorretas – mais
por demonstrar os riscos para a economia dos velhos vícios da cobertura
jornalística, de politizar de forma acrítica os temas financeiros.
A manchete principal, bombástica, tratava da elevação do dólar.
Foi uma alta pontual, de 1,95%,
refletindo um movimento internacional de valorização do dólar em função
da divulgação de indicadores da economia norte-americana. Um fato
interno adicionou um pouco de caldo à especulação: artigo do ex-Ministro
Delfim Netto alertando para os riscos de um rebaixamento na
classificação do Brasil pelas agências de risco.
Foi apenas um alerta endereçado aos
senadores sobre a temeridade de aprovar o orçamento impositivo – pelo
qual o governo seria obrigado a honras todas as emendas parlamentares.
A manchete da Folha, no entanto,
colocava em xeque a credibilidade de toda política econômica:
“Desconfiança no governo Dilma faz dólar ter forte alta”. Na matéria
interna, falava-se em “disparada” do dólar e dizia-se que era a maior
alta desde... 6 de setembro – período de tempo ridículo.
***
No mesmo dia, o jornal “Valor
Econômico”, na matéria “Menos é Mais” com gestores de fundos, informava
que nenhum se arrisca a apostar no dólar. Perderam muito nos últimos
meses com a reversão da alta do dólar. “O primeiro baque para os
multimercados, diz, veio em maio, com a quebra da expectativa de que o
governo seria mais leniente com a inflação”.
Principal porta-voz do Mercado, Armínio
Fraga recuou na exposição ao dólar: “A Gávea optou por reduzir o tamanho
das posições e diversificar bem a alocação nas três principais classes
de ativos que compõem a carteira (moedas, juros e bolsa), em função das
incertezas no curto prazo”.
***
Ora, a gestão fiscal do governo tem
produzido curtos-circuitos, sim. A presidente Dilma Rousseff mantem em
postos-chave – na Fazenda e na Secretaria do Tesouro – pessoas
tecnicamente fracas. Tem-se, em ambos, um prato cheio para críticas
consistentes. São fracos, mas não são temerários. Quando o calo aperta,
recuam, como todo ser racional.
***
Tome-se o informe econômico do Banco Itaú, divulgado ontem, sobre a política fiscal.
Constata que o mero risco de piora da classificação de risco do País já produziu ajustes de rumo.
Por isso mesmo, o Itaú aumentou sua
previsão de superávit fiscal primário em 2014 de 1,1% para 1,3% do PIB;
projetou menor crescimento das despesas de custeio para os próximos
anos, manteve a projeção de taxa de câmbio de R$ 2,35 para o final de
2013 e de R$ 2,45 para 2014; constatou a gradual recuperação das
receitas tributárias, a desaceleração dos estímulos para fiscais e dos
aportes de recursos do Tesouro aos bancos oficiais.
Se o maior banco privado brasileiro aposta em recomposição fiscal, que “mercado” é esse ao qual a Folha se refere?
***
A intenção clara de parte da imprensa é
apostar tudo ou nada no caos, única circunstância capaz de viabilizar a
candidatura moribunda de José Serra – visto por alguns veículos como
tábua de salvação.
Trata-se de um caso clássico de marcha da insensatez.
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