quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

POLÍTICA - A intolerância e a "excomunhão".


Dr. Rosinha: “Fui vítima de intolerantes e mentirosos; um me ‘excomungou’”



A intolerância e a “excomunhão”
por Dr. Rosinha, especial para o Viomundo
Cristo, em sua breve passagem pela terra, nos ensinou muita coisa e uma delas foi a tolerância. Parece que boa parte dos que atualmente se dizem “cristãos” não aprendeu essa lição. Outro ensinamento de Cristo é o compromisso com a verdade: nunca mentir. Esse ensinamento também é ignorado por grande parte dos cristãos.
Há uma brincadeira feita por muita gente que é a seguinte: quando perguntado sobre determinado tema e não se sabe a resposta, a pessoa, em tom de chacota, responde “eu faltei nessa aula”.
Parece que muitos cristãos e muitas cristãs faltaram na catequese no dia em que foi ensinado a importância da tolerância e de ter compromisso com a verdade, ou seja, não mentir.
Na semana passada, fui vítima dos intolerantes e dos mentirosos.
Explico: a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados organizou o “Seminário de Parlamentares da América Latina e Caribe para debater a Saúde Reprodutiva, Materna, Neonatal e Infantil e os Objetivos da Meta do Milênio”. O requerimento que gerou o Seminário foi aprovado por unanimidade dos membros presentes na Sessão em que foi votado. Portanto nenhum deputado ou deputada, pela importância do tema, se opôs.
A Organização das Nações Unidas (ONU) firmou em 2000 um compromisso com muitos países, os chamados Objetivos do Milênio. Um deles era o de reduzir em 75%, até 2015, as mortalidades infantil e materna.
A mentira e a intolerância está no fato de que muitos cristãos esparramaram na internet mensagens caluniosas do tipo que eu “sou contra a vida”, que estou “promovendo o aborto” no Brasil, que “sou mau presidente”, que “desenvolvo a cultura da morte” e alguns outros xingamentos que sequer quero reproduzir. Antes de qualquer coisa, repudio a todos esses adjetivos e, ao contrário de Cristo, não dou a outra face.
Algumas mensagens, para a minha tristeza e decepção, eram assinadas por padres, professores, diáconos, bibliotecários, alunos, etc., gente que sempre pensei que fossem inteligentes. Sempre vi num professor, se não um pensador, pelo menos alguém que ajude ou ensine a pensar. Sempre vi num padre, num diácono, num pastor, um tolerante, alguém que não mente.
Minha decepção é com todos os homens e mulheres, cristãos ou não, que não conseguem ser tolerantes, que não conseguem respeitar os demais, que têm na sua verdade a verdade única e absoluta.
Minha tristeza é com aqueles que leem e não conseguem interpretar.
Meu repúdio é àqueles e àquelas que leem e agem de má fé nas redes sociais. Usam-nas para disseminar a sua interpretação ou mesmo se aproveitam dos que não leram e disseminam a mentira. Eu poderia fazer como Cristo: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. Mas, não posso agir assim, porque eles sabem o que fazem e por que fazem. Posso perdoar os inocentes úteis, como, por exemplo, um menino de cerca de 20 anos de idade que, no dia do Seminário, dirigiu-se a mim dizendo:
— O senhor está excomungado.
De início, fiquei estupefato com essa “excomunhão”. Em seguida, tive dúvidas se ria ou se perguntava a ele com que autoridade e em nome de quem me excomungava. Por fim, preferi o silêncio, a pena e a compaixão. Compaixão e pena pela inocência do rapaz. O mundo é diferente do que estão lhe ensinando.
Na Conferência de abertura do “Seminário”, a senhora Carmen Barroso, diretora Regional da Federação Internacional de Planejamento Paternal para o Hemisfério Ocidental, alertou sobre o aumento da maternidade na adolescência e o impacto disso no resto da vida da mulher.
Por exemplo, a falta de trabalho, a instabilidade no casamento e o aumento das taxas de suicídio de adolescentes e mulheres adultas. Lembrou ainda que a penalização do aborto não diminui a prática e tampouco a mortalidade. Na América Latina, segundo ela “são 4,2 milhões de abortos inseguros por ano. Noventa e três por cento deles em condições extremamente precárias”.
As consequências são complicações à saúde e o aumento de mortes de mulheres. Apesar da oposição de todos os fundamentalistas religiosos, temos que debater esse tema. Em nome da vida de milhões de mulheres de “nuestra América”, esse tema é relevante: é saúde pública, direitos humanos e defesa da vida.
Por tudo que me enviaram, por tudo que ouvi, sinceramente ainda estou estupefato com o comportamento desses cristãos. Em que igreja aprende ou aprenderam? Que Evangelho lê ou leram? Com certeza não é o mesmo que leio e tampouco é o mesmo que lê o Papa Francisco, que já demonstrou preocupação com o tema.
Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. No twitter: @DrRosinha.

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