sábado, 8 de agosto de 2015

POLÍTICA - "Super Quinta"

“Super Quinta”: o panelaço, Collor e o PT na TV

  
Não faltaram fortes emoções nesta "Super Quinta" na TV com novas cenas da grande tragicomédia brasileira do inverno de 2015. Todo dia agora virou "super", não tem mais intervalo nem para um respiro, o ritmo é frenético. Os roteiristas enlouqueceram.
Entre muitas outras, vimos as imagens e ouvimos mais um panelaço durante o programa do PT na televisão, Collor xingando a mãe do procurador-geral da República, líderes empresariais lançando manifesto de apoio ao vice Michel Temer sem citar a presidente Dilma Rousseff, os Sem Teto fechando novamente a avenida Paulista e o PSDB rachando ao vivo em busca do poder perdido.
Panelaço é Fla-Flu de uma torcida só
Nem tem mais graça. Quase cinco meses depois do primeiro evento daquele panelaço de março que surpreendeu o país, paneleiros e paneleiras voltaram às janelas e varandas para xingar e fazer barulho, um ritual estéril como o das torcidas nos clássicos de domingo, que chegam mais cedo aos estádios só para zombar dos adversários.
Veja o panelaço:


Agora virou o Fla-Flu de uma torcida só nas arquibancadas, levando as crianças para a farra movida a palavrões, acenando e apagando luzes, um espetáculo meio melancólico que se esgota em si mesmo, multiplicado em vídeos nas redes sociais. São os mesmos que vestirão a camiseta amarela do time de Dunga e Del Nero para marchar contra o governo no próximo dia 16, agora com o patrocínio oficial do PSDB.
PT na TV é filme velho
Se o produto não ajuda, nem João Santana faz milagre. Foi chocho o programa político do PT na televisão que inspirou o panelaço. Quando as cenas, os discursos e os personagens se repetem, acabam cansando. A principal atração acabou sendo o ator José de Abreu, velho militante petista. Deu-me a impressão de filme já visto.
Com infográficos e números sobre as conquistas dos governos do PT que lembraram a última campanha eleitoral, e ataques à oposição que aposta na crise, reencenou o jogo do "nós contra eles", para reconhecer que o povo enfrenta dificuldades, mas antes era pior. Lula e Dilma entraram já quase no final do programa, com cerca de um minuto para cada um repetir algumas frases que já tinham dito antes.
A criatividade dos antigos programas ficou para o encerramento, com uma provocação aos paneleiros, ao mostrar que agora as panelas estão cheias, não falta mais comida para todos.
Collor se supera
O toque retrô da crise ficou com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que se superou, ressurgindo furibundo na tribuna do Senado, para xingar com todas as letras a mãe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Como acontece com outros investigados na Operação Lava Jato, quando faltam argumentos de defesa o negócio é partir para o ataque.
Lembrei-me da primeira vez que apanhei do meu pai. Tinha cinco anos e estava aprendendo a falar português na escola porque em casa só se falava alemão. A primeira coisa que aprendi foi o tal do "efedapê". Ficava no portão de casa xingando a mãe de todo mundo que passava. Meu pai ouviu e levei uma bela surra sem saber o motivo. Collor já apanhou muito, sabe os motivos, e não aprende. É fósforo apagado, figura patética, com prazo de validade vencido, mas não sai de cena.
Empresários com Temer
Eles andavam meio sumidos, como as demais lideranças da chamada sociedade civil, e reapareceram de repente para apoiar o apelo à união de todos contra a crise, feito na véspera pelo vice-presidente da República, Michel Temer. Os presidentes das maiores entidades empresariais do país, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, da Firjan, e Paulo Skaf, da Fiesp, se uniram para lançar um manifesto "em prol da governabilidade do país", publicado hoje em página inteira nos principais jornais.
Concordo plenamente com o que diz o documento e dele transcrevo um trecho:
"O momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil. A situação política e econômica é a mais aguda dos últimos 20 anos. (...) O Brasil não pode mais permitir irresponsabilidades fiscais, tributárias ou administrativas, e deve agir para manter o grau de investimento tão duramente conquistado, sob pena de colocar em risco a sobrevivência de milhares e milhares de empresas e milhões de empregos".
Seria bom que Eduardo Cunha e sua tropa de choque o lessem na íntegra. Estranho é que em nenhum momento citem o nome da presidente Dilma Rousseff.
Sem Teto e sem sentido
De repente, no final da tarde, para tudo, dá um nó no transito em toda a região da principal avenida da maior cidade do país e ninguém sabe o que está acontecendo na Paulista. Quem vai indo para o trabalho, voltando para casa ou está a caminho de algum hospital, fica travado. Com a pista interditada por carros da polícia no sentido Consolação-Paraíso, vê-se umas 200 pessoas agitando bandeiras em volta de um carro de som, mas não dá para entender o que estão gritando.
Fico sabendo pelo rádio que se trata de mais uma manifestação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a versão urbana do MST. Protestam contra quem? O que aquelas milhares de pessoas presas no congestionamento podem fazer por eles? O que ganham com isso, além de uma foto no jornal? Qual é o sentido ? Todo dia agora tem manifestação ali, já faz parte da paisagem.
PSDB quer novas eleições
A última jabuticaba da oposição foi lançada pelo ninho de alguns tucanos liderados por Aécio Neves, no momento empenhados na convocação para o protesto do dia 16: eles dizem que agora não defendem mais o impeachment, mas querem a convocação de novas eleições. Como assim? Por acaso não temos uma Constituição Federal que prevê eleições presidenciais de quatro em quatro anos e acabamos de ter uma faz apenas nove meses?
A movimentação de Michel Temer nos últimos dias, assumindo o protagonismo político em defesa da governabilidade, deixou o PSDB mais uma vez dividido. De um lado, os legalistas Alckmin, Serra e FHC, que preferem esperar até 2018; de outro, os líderes do partido na Câmara e no Senado colocando pilha em Aécio, a reboque de tipos como Ronaldo Caiado, Jair Bolsonaro, Paulinho da Força e Roberto Freire, que querem porque querem novas eleições já.
Por enquanto, é muito barulho para nada.  Os aviões de carreira continuam decolando e pousando, e as marés subindo e descendo.
Vamos que vamos.

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