Como Janot colocou Lula como chefe da organização criminosa
Jornal GGN - Quando o mundo político
paralisava à espera da chamada "lista de Janot", que traria os nomes de
deputados e senadores que entravam para a mira da Operação Lava Jato,
desenhava-se um esboço das suspeitas de corrupção relacionadas à
Petrobras. A tese defendida por Rodrigo Janot, procurador-geral da
República, naquele 6 de março de 2015, baseada na relação entre os
dirigentes da estatal e os partidos que os indicavam, era uma extensa e
complexa rede de corruptos e corruptores, tendo o PP e o PMDB o maior
peso e poder de influência no esquema.
Da lista de 39 pedidos de abertura de investigações
enviados ao Supremo por Janot, o inquérito mãe trazia 35 nomes, entre
deputados, ex-deputados e senadores do PP e do PMDB. Rodrigo Janot
analisava uma grande estrutura corrupta dentro da estatal que seria
comandada, sobretudo, por caciques do PMDB.
Mas um detalhe na petição 5260, ainda em março daquele
ano, trouxe a brecha para a mudança radical da tese inicialmente
defendida pelo Ministério Público Federal, passando a debitar apenas ao
PT o "comando" de todo o esquema.
O detalhe é que, após apontar que a representação
criminal de suposta prática dos crimes de quadrilha e lavagem de ativos
trazia como implicados diretos apenas os 35 parlamentares e
ex-parlamentares do PP e PMDB, acrescentou à investigação um nome
isolado:
Não havia indícios de outros nomes do partido, como
posteriormente veio a se contradizer o MPF ao apontar que o comandante
do esquema, dessa possível quadrilha, seria o ex-ministro José Dirceu, e
depois, em mais uma contradição ao defender que, "na verdade", o
comandante seria o ex-presidente Lula. Assim como os outros dois
partidos, o PT também tinha um dirigente nomeado na Petrobras. A brecha
encontrada foi colocar o ex-tesoureiro do partido na investigação.
Mais de um ano e meio depois, a brecha deixada em março
de 2015 é chave para justificar a narrativa adotada por Sergio Moro e
sua força-tarefa, coordenada pelo procurador Deltan Dallagnol.
Na denúncia apresentada contra o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, há duas semanas, os procuradores “corrigiram” a
versão inicial, e chegaram à conclusão de que o verdadeiro chefe do
esquema não era mais José Dirceu, e sim Lula. Mas cometeram o erro de
pisar em falso ao invadir a competência da PGR para analisar a nível do
STF a possibilidade de existência de quadrilha ou organização criminosa.
Na apresentação que seguiu por mais de duas horas,
Dallagnol apontou reiteradas vezes Lula como chefe da quadrilha, mas
acabou admitindo que não poderia enquadrar o ex-presidente em
"quadrilha", porque a matéria já estava sendo investigada em outro
inquérito no STF.
Fazia referência ao inquérito 3989, dos quais são investigados dezenas de réus, incluindo deputados e senadores da grande base aliada de Michel Temer. São eles:
Mas, pela lógica dos procuradores do Paraná, a cooptação de
partidos aliados foi feita sob a liderança do ex-presidente, permitindo
que se instaurasse o que hoje é deflagrado de corrupção na Operação Lava
Jato, com as estatais, sobretudo a Petrobras.
Diante do desenrolar das frentes da Lava Jato, o GGN adiantou
que, após aquela denúncia contra Lula, o procurador-geral da República
seria pressionado a apresentar uma denúncia similar, com base nos mesmos
argumentos sustentados por Dallagnol e sua equipe, dentro do Inquérito
3989, sob o risco de botar a perder a denúncia contra o próprio
ex-presidente ou expondo a fragilidade da investigação, acabando com a
credibilidade da equipe de Sérgio Moro.
Nesta quarta-feira (28), Janot tomou as primeiras medidas para a ação antecipada pelo jornal. Pediu ao Supremo o desmembramento do grande inquérito 3989,
em quatro divisões, por grupos políticos. O PGR pediu um inquérito
específico ao PP, um sobre o PMDB na Câmara, outro sobre o PMDB no
Senado e um restrito ao PT.
O motivo dado por Janot seria a de "otimizar o esforço
investigativo, uma vez que se trata de uma só organização criminosa,
ampla e complexa". Entretanto, recorrendo os autos do inquérito, é
possível constatar que o único integrante do PT nessa apuração de
quadrilha é o ex-tesoureiro João Vaccari. Seria inviável pensar na
criação de um inquérito exclusivo a um só investigado em crime de
quadrilha.
Mas na continuidade dos argumentos dados por Rodrigo
Janot ao STF, deixou escapar o verdadeiro motivo: explicou que essa
"teia criminosa tem vínculos horizontais, em modelo cooperativista, em
que os integrantes agem em comunhão de esforços e objetivos" e "uma
estrutura mais verticalizada e hierarquizada, com centros estratégicos,
de comando, controle e de tomadas de decisões mais relevantes".
"É necessária a cisão do presente inquérito, com
aberturas de expedientes específicos, devendo ser levadas em
consideração essas duas características da organização criminosa: sua
verticalização e sua horizontalização", disse.
O objetivo de Janot é detectar esse "comando", e não na intenção de contrariar seus colegas procuradores do Paraná.
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