Entrevista de Ciro Gomes vira debate com William Bonner no Jornal Nacional
Ricardo Kotscho Comments 13 Comentários
Era para ser a primeira entrevista da série com os presidenciáveis no Jornal Nacional, na noite de segunda-feira, mas virou um debate entre Ciro Gomes e William Bonner.
Como nos debates entre candidatos, Bonner tinha um roteiro de perguntas para fustigar o concorrente como se ele também fosse um presidenciável.
Na verdade, não eram perguntas, mas interpelações, em que o ancora nem esperava as respostas, e já cortava aquele que deveria ser o entrevistado.
Se fosse um debate entre candidatos, Bonner seria advertido pelo moderador, mas Renata Vasconcelos não fez este papel.
Ao contrário, os dois apresentadores se alternavam para não deixar Ciro respirar.
Falaram mais do que o candidato, mas Ciro não caiu na arapuca armada pela produção do programa.
Manteve-se sereno, afirmativo e sorridente o tempo todo.
Em outros tempos, pelo que conheço dele, teria partido para cima de Bonner no tapa e o chamado para brigar na rua.
Tentaram jogar Ciro contra Carlos Lupi, o presidente do seu partido, Kátia Abreu, a sua vice e, claro, o ex-presidente Lula.
Ciro defendeu Lupi e Kátia, e desmontou os dois apresentadores ao falar de Lula, sem que o conseguissem interromper:
“Lula não é satanás como a imprensa pensa, e não é um santo como parte do PT acha. Eu conheço Lula há 30 anos, tive a honra de trabalhar com ele, e ele fez muita coisa boa para o Brasil. Eu faço essa menção: Lula foi um bom presidente pro Brasil e o povo sabe disso. Não devemos comemorar o fato de o maior líder político do Brasil estar preso”.
Como o substituto de Lula, Fernando Haddad, não foi convidado, certamente esta foi a primeira e última vez que alguém defendeu Lula no Jornal Nacional.
Ciro ficou no ar por longos 27 minutos, uma enormidade de tempo para quem só vai ter 38 segundos no programa eleitoral do PDT, e aproveitou para apresentar sua plataforma de governo, quando o deixavam falar.
Defendeu a renegociação das dívidas dos mais de 60 milhões de brasileiros inadimplentes no Serviço de Proteção ao Crédito, com o projeto já batizado de “Nome Limpo”, a reindustrialização do país e explicou didaticamente como pretende fazer o Brasil voltar a crescer.
Com certeza, Ciro somou pontos ao final do debate com os jornalistas globais e sua participação foi comemorada nas redes sociais como se tivesse acabado de ganhar por 7 a 1.
“Arrogante, prepotente e mal educado” foram algumas das expressões usadas pelos internautas ao comentar a acusação de William Bonner de que o presidente do PDT é réu num processo sobre improbidade administrativa.
Foi aí que surgiu a maior polêmica quando Ciro defendeu Carlos Lupi com a veemência habitual:
“Lupi tem a minha confiança cega, absolutamente cega, é um homem de bem. Réu, com certeza, ele não é”.
Bonner esperou a entrevista acabar para voltar ao assunto depois do intervalo, declamando o número do processo aberto para investigar Lupi, por ter voado de carona no avião de uma organização que mantinha convênio com o Ministério do Trabalho, quando ele era ministro.
Não tem jeito: a última palavra sempre tem que ser a da Globo, como já tinha acontecido no final da entrevista com Jair Bolsonaro, semana passada, na Globo News.
E nesta terça-feira é o dia de Bolsonaro debater na bancada do Jornal Nacional.
Resta saber como se comportarão os jornalistas quando chegar a vez de entrevistar os candidatos apoiados pela emissora (Geraldo Alckmin e Marina Silva, pela ordem).
Vida que segue.
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