domingo, 26 de agosto de 2018

POLÍTICA - A Veja quer tocar terror mas não assusta mais.

Capa da Veja é tarefa política para evitar volta do PT ao poder, mas revista não assusta mais ninguém. Por Ricardo Kotcho

 
Kotcho e a capa da Veja
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO AUTOR, O BALAIO DO KOTCHO.
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“A ELEIÇÃO DO PAVOR”, grita a capa da Veja, assim mesmo, com maiúsculas e a cara de um mapa do Brasil assustado.
Até tomei um susto quando vi na soleira da porta a revista em estado pré falimentar, que se dedicou nos últimos anos a acabar com o PT e suas principais lideranças.
Certa vez, ao receber em seu gabinete imperial na Abril o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Roberto Civita, o herdeiro que quebrou a empresa erguida pelo pai, Victor Civita, foi-lhe mostrar as capas mais recentes da revista detonando Lula e Dilma.
“Está vendo estas capas? Vamos continuar assim, até derrubarmos o governo petista e acabar com este partido . Esta é a nossa missão agora”.
Quem me contou o episódio em detalhes foi o próprio Eduardo Campos durante entrevista que fiz com ele no Recife para a revista Brasileiros.
Esta história já foi contada aqui anos atrás e está no arquivo do Balaio.
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Roberto Civita morreu em 2013 e a Abril está moribunda, sem pagar os funcionários demitidos, mas o PT não acabou, e o que restou da editora continua cumprindo sua “missão”, ela que teve importante papel no golpe de 2016 que derrubou Dilma.
A assustadora capa de Veja sai na mesma semana em que todas as pesquisas mostram o crescimento do PT e de Lula/Haddad na campanha presidencial.
Lula subiu para a faixa de quase 40% de intenções de voto e pode vencer no primeiro turno, se o deixarem chegar às urnas, e o PT, segundo o Datafolha, é o partido preferido dos brasileiros, com 24%, mais do que o dobro de todos os outros partidos somados.
Este é o principal motivo do pavor, como está explicado na capa: “Os que acreditam na lei se assustam com a força de Lula mesmo preso”.
Outro motivo é o fracasso do candidato tucano Geraldo Alckmin, apoiado pela base aliada do governo Temer e pela revista, que entrega o jogo: “O mercado se assusta com a paralisia de Alckmin nas pesquisas”.
Veja e suas parceiras no Instituto Millenium sempre fizeram isso, jogaram com o medo para evitar a chegada do PT ao poder, mas agora é tudo feito de forma tão escancarada que acaba tendo o efeito contrário.
Esse é um dos fatores que pode explicar as últimas pesquisas: a maior parte do eleitorado já sabe que toda a campanha midiática e jurídica orquestrada em torno da Lava Jato foi feita unicamente para tirar Lula da eleição.
Só que a Veja faz um malabarismo para mostrar raciocínio exatamente oposto na matéria “O Susto é geral”, com a maior cara de pau:
“As pesquisas, que mostram a liderança consolidada de Lula e Bolsonaro, assustam quase todos os segmentos do eleitorado e derrubam três teses correntes a respeito da corrida eleitoral”.
Como assim? Se os índices de Lula e Bolsonaro somados chegam a 60% desse eleitorado, como podem assustar “todos os segmentos”?
É o contrario: sobrariam apenas 40% de eleitores para ficarem assustados porque seus candidatos não emplacam.
A matéria toda, assinada por Eduardo Ghiorotto e Daniel Pereira, é uma obra prima de manipulação, dissimulação, cozinha mal feita de notícias de jornal para tentar inverter as curvas das pesquisas. E pensar que lá já trabalharam jornalistas como Mino Carta, Elio Gaspari e Dorrit Harazim.
Mas já se foi o tempo em que veículos como a Veja tinham o poder de eleger e derrubar presidentes, com a ajuda de fardados ou togados.
Hoje, com suas redações definhando, lutam apenas para não fechar as portas. Não assustam mais ninguém.
Parece que o eleitorado brasileiro se emancipou, caminha agora com as próprias pernas até a urna eletrônica, e decide pela sua livre vontade em quem vai votar.
Bom final de semana a todos. Faltam apenas 43 dias para a eleição.
Vida que segue.

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