Jornal GGN – Análise de Maria Cristina Fernandes, do Valor, mostra que a decisão do plenário do STF colocou em xeque as ilusões dos paranaenses calcadas nos novos ventos do poder em Brasília. Para ela, o maior baque se deu no governo de um presidente que teve sua plataforma totalmente baseada na Lava Jato.
E não foi coincidência. Segundo ela, os procuradores de Curitiba confiaram demais em seu poder de mover as instituições e a opinião pública.
Veja bem. Gilmar Mendes, que se valeu de um ato ilegal, a divulgação dos áudios da Lava Jato de uma presidente da República para barrar a nomeação de Lula para o ministério, agora chama os antigos parceiros de ‘canalhas’ e ‘cretinos’ depois que a investigação ultrapassou as fronteiras petistas.
Maria Cristina pontua que o governo que eles ajudaram a eleger foi aquele mesmo que mandou a Receita Federal recuar na investigação sobre o ministro em questão. E nem mesmo o comando do Exército se pronunciou. O ex-comandante, general Villas-Boas, até poderia fazê-lo, mas não digitou um fiapo em suas redes sociais.
Para a articulista, nem mesmo o Ministério Público não foi capaz de mobilizar a opinião pública como antes. Isso se deve à inabilidade dos procuradores na apropriação de um fundo bilionário a ser constituído com recursos recuperados da corrupção e ‘a agressividade com a qual alguns de seus integrantes reagiram aos sinais de que o revés estava por acontecer’.
A jornalista entende que os procuradores até tentaram recuar no fundo, mas já era tarde demais. E haviam acenado à Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, em campanha pela recondução ao cargo, uma oportunidade de reforçar as alianças com o poder e apostar num novo mandato contornando a lista tríplice.
Mas, no fundo, o que evidencia essas trapalhadas, é a percepção de que o Ministério Público era o titular de apoio da opinião pública. Mas esse apoio popular só foi granjeado, assim como a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder, graças ao antipetismo.
Para ela, Gilmar Mendes resumiu bem o julgamento da semana: trata-se de uma disputa de poder. De um lado o MP e do outro o STF, que veio com a inusitada ação de ofício para a investigação dos procuradores. A frase resume a semana, mas não ajuda muito, visto que a missão de um ministro estaria limitada à interpretação da Constituição.
Mas tal decisão, no limite, poderá influenciar, inclusive, as investigações das milícias, que estão no alto das preocupações da opinião pública. Assim, o Congresso pode se mobilizar tanto para rever a competência da deliberação da Justiça Eleitoral quanto para abreviar mandatos de ministros do Supremo ou, então, rechaçar o pacote do ministro da Justiça, Sérgio Moro, aliado de primeira hora da Lava Jato.
O Congresso está dividido entre os novatos, eleitos na onda da Lava Jato, e os que foram reconduzidos apesar da Lava Jato. No meio, um presidente da República que não tem maioria constitucional para aprovar a reforma da Previdência e que, além disso, precisa defender a si e a sua família dos amigos ‘que fizeram no verão passado’.
Mudam-se as regras, e a única saída dos procuradores será ir mais pela costura política do que pelo jogo de força habitual, marca da Lava Jato. Eles dependerão dessa costura para manter suas prerrogativas, cujo embrião ‘é jogado no caldeirão em que Brasília cozinha as reputações’, conclui a articulista.
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