Bolsonaro retorna dos EUA com missão cumprida: desmoralizar o Brasil. Por Carlos Fernandes
POR CARLOS FERNANDES
Na sua primeira viagem internacional de caráter bilateral, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu uma façanha digna apenas de uma seleta lavra de entreguistas.
O que FHC demorou oito anos para deixar claro ao governo dos Estados Unidos, o mito não precisou mais do que três dias. E com efeitos consideravelmente mais efusivos e inquestionáveis.
Fruto de uma submissão patológica, o presidente brasileiro levou em sua bagagem a título de oferta, o objeto de décadas de exigências norte-americanas negadas cautelosamente pelo governo brasileiro em função da devida defesa de nossa soberania nacional.
A entrega de bandeja da base de Alcântara localizada em posição estratégica planetária para o lançamento de foguetes de uso comercial e militar representou a oferenda principal do servo sul-americano aos deuses do capitalismo.
A isenção de vistos de entrada para cidadãos norte-americanos, bem como a canadenses, japoneses e australianos sem contrapartida desses países, serviu como ornamentação de fundo para a nossa agora oficializada situação de Estado servil.
E nesse particular é curioso notar a pronta reação dos norte-americanos frente a tamanha deferência tratada por eles como de significância nada mais do que pueril.
Uma vez recebido do governo brasileiro a facilitação de entrada de seus cidadãos, o “agradecimento” do Estado norte-americano veio em forma de um comunicado oficial a seus viajantes para que “exerçam cautela aumentada no Brasil devido ao crime”.
O descaso é jocoso, embora solene.
Nada mais parecia possível em matéria de vergonha diplomática quando em determinado momento em que ambos os presidentes davam a tradicional entrevista nos jardins da Casa Branca, Bolsonaro resolve assumir de vez o seu papel de mera vedete de Donald Trump.
Perguntado sobre como o Brasil iria proceder caso um candidato democrata ganhasse as próximas eleições nos Estados Unidos, o fantoche tupiniquim que jura ainda estar em campanha no Brasil, despiu-se da sua já puída fantasia de presidente e encampou de vez o cabo eleitoral do chefe.
Os pilares das tradicionais relações diplomáticas entre nações estremeceram quando o presidente brasileiro afirmou categoricamente não ter dúvida que o povo americano voltaria a eleger Trump e todo o atraso que ele represente.
Não se tem notícias na história republicana dos Estados Unidos que um chefe de Estado seja lá de qual país tenha declarado apoio formal e incondicional a um candidato específico em suas eleições domésticas.
O princípio basilar que um Estado livre e democrática não dialoga com indivíduos, mas com outro Estado da mesma forma livre e democrático, foi jogado às favas somente para que não se restassem dúvidas quanto a subserviência de um político medíocre a outro.
Ultrapassados todos os limites da decência internacional nos eventos oficiais, ainda deu tempo para a trupe brasileira escarnecer o bom senso ao oferecer um jantar de gala na embaixada brasileira para gente com Olavo de Carvalho e Steve Bannon.
A cena de Bolsonaro sendo ladeado pelos dois à esquerda e à direita talvez só não representou com mais exatidão o desprezo que esse homem tem pelo Brasil e pelo seu povo do que a didática entrevista em que declarou que a maioria dos imigrantes não possuem boas intenções.
Para todos os brasileiros que vivem nos Estados Unidos e em mais uma infinidade de países e que deram a ele uma esmagadora vitória no exterior, é a adequada resposta a quem abandona a sua nação, não fisicamente, mas sim, patrioticamente.
Jair Bolsonaro é hoje, seguramente, o homem no mundo que mais atenta contra seu próprio país. Nada mais natural, portanto, que humilhe brasileiros e exalte norte-americanos.
Sobretudo os que pegam em armas, naturalmente.
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