sexta-feira, 30 de julho de 2021

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Um crime contra a humanidade.

 


O bloqueio dos EUA a Cuba é um crime contra a humanidade

Joe Biden não pode ser deixado impune, porque sua promessa eleitoral de abandonar a hostilidade de Trump contra Cuba não foi cumprida. Ken Livingstone | Morning Star - Tradução de André Marques para a Revista Opera, com revisão de Rebeca Ávila

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Países ao redor do mundo novamente exigiram nas Nações Unidas que os Estados Unidos suspendam o bloqueio à Cuba, que impõem desde 1962.

Em 23 Junho de 2021, na 29° votação da Assembleia Geral da ONU sobre a questão do bloqueio dos EUA, 184 países apoiaram a resolução cubana pedindo seu fim.    

Somente os EUA e Israel votaram contra, enquanto três outros países — Brasil, Colômbia e Ucrânia — se abstiveram. Israel, Brasil, Colômbia e Ucrânia podem ser melhor descritos como Estados “fantoches” dos EUA quando se trata de questões internacionais. 

O debate sobre a resolução permitiu ao Ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodriguez, expor às Nações Unidas qual tem sido o impacto do bloqueio ilegal dos EUA. 

Desde seu início, Cuba sofreu perdas de 147 bilhões de dólares. O advento da pandemia de Covid-19 teve um efeito particularmente devastador na economia de Cuba, já que o turismo desapareceu, contribuindo para um déficit de 3.4 bilhões de dólares na receita e levando a críticos desabastecimentos  de comida, medicamentos e outros produtos básicos. 

O bloqueio, nas palavras de Rodriguez, só pode ser visto como um “foco deliberado dos EUA em punir a população cubana como um todo. É uma negação massiva, flagrante e sistemática dos direitos humanos do povo cubano.”

Apontando o objetivo do governo dos EUA como uma “mudança de regime”, ele argumentou: “Não é legal nem ético que um país poderoso sujeite uma nação pequena, por décadas, a uma incessante guerra econômica com o propósito de impor a ela um sistema político alienígena e um governo designado por ele […] assim como o vírus, o bloqueio sufoca e mata, e precisa parar”.

O bloqueio foi, é claro, intensificado nos últimos quatro anos como parte do objetivo do presidente Donald Trump de conquistar a “mudança de regime” em Cuba, mas a Venezuela e Nicarágua também estiveram sujeitas a um tratamento ilegal similar. 

No caso de Cuba, durante a presidência de Trump, um total de 242 medidas coercitivas foram aplicadas contra o país para fortalecer o controle que os EUA podem exercer sobre suas atividades econômicas, comerciais e financeiras. 

Nos últimos 10 dias de sua administração, Trump colocou Cuba em uma arbitrária lista de países que supostamente são patrocinadores do terrorismo. 

A promessa do Presidente Joe Biden durante a campanha presidencial do ano passado de que iria reverter algumas das sanções de Trump, que ele disse terem “infligido danos ao povo cubano e não fizeram nada para avançar a democracia e os direitos humanos”, até agora não deu em nada. 

Na verdade, Biden renovou em maio a resolução da administração Trump de que Cuba “não está cooperando completamente com os esforços anti-terrorismo dos Estados Unidos”. 

Essa decisão pode servir para satisfazer os eleitores cubano-americanos reacionários na Flórida, mas ela indica pouco entusiasmo presidencial para uma abordagem mais esclarecida da política cubana.

Mas os cubano-americanos progressistas querem ver mudanças, organizando caravanas de bicicletas e de carros contra o bloqueio e pela reunificação familiar. 

Muitas cidades dos EUA juntaram-se nesses atos de solidariedade perante a votação da ONU, assim como ativistas em Londres, Birmingham, Liverpool, Manchester e Sheffield fizeram parte da Caravana Mundial Contra o bloqueio dos EUA à Cuba. 

Democratas no Congresso também estão fazendo lobby por uma mudança, variando entre moderada e basilar, na posição do governo dos EUA.

Em janeiro, o congressista dos EUA James McGovern, presidente do Comitê de Regras da Casa, pediu que Biden reverta as medidas de Trump e “imediatamente acabe com a aplicação de sanções contra alimentos, medicamentos e outras assistências humanitárias para Cuba”, mas não teve efeito. 

No Senado, o senador democrata de Oregon Ron Wyden, junto a três co-patrocinadores, introduziu em fevereiro o seu “Tratado Comercial Estados Unidos-Cuba de 2021”, que acabaria com o bloqueio e estabeleceria relações comerciais normais com o país.

Além disso, uma carta para Biden de 80 democratas da Casa pediu em março um fim imediato às restrições de viagem e de remessas, mas não obteve resposta. 

A situação de Cuba é urgente. O impacto do bloqueio nas vidas dos cubanos tem sido enorme ao longo dos anos, mas tem se acentuado como resultado da atual crise sanitária sem precedentes. 

Cuba enfrenta enormes (e em alguns casos insuperáveis) dificuldades em assegurar a gama de equipamentos — ventiladores pulmonares mecânicos, máscaras faciais, kits de diagnóstico, óculos de proteção, trajes, luvas, reagentes e outros suprimentos — necessários para lidar com a pandemia da Covid-19. 

Apesar da escassez de reagentes e materiais laboratoriais, o investimento de Cuba na sua indústria de biotecnologia desde os anos 80 foi recompensado com o desenvolvimento de cinco tipos de vacinas para a Covid-19, possibilitando o planejamento e o início de uma campanha de imunização. 

No entanto, o país está sofrendo uma escassez crítica de seringas, com o bloqueio impedindo que elas sejam importadas. 

Organizações de solidariedade buscam doações para comprar suprimentos e enviá-los para Cuba.

A Venezuela também está sofrendo o duro impacto do bloqueio dos EUA enquanto tenta enfrentar a pandemia. Ela é dependente da Covax, iniciativa de compartilhamento de vacinas apoiada pela Organização Mundial da Saúde para seu programa de imunização, mas o banco suíço UBS recentemente bloqueou os pagamentos para a Covax superiores a 4.5 milhões de dólares, requerendo uma “investigação”. 

Agora, mais do que nunca, é vital intensificar as nossas expressões de solidariedade internacional em defesa da soberania nacional e deixar claro que as medidas coercitivas dos EUA contra Cuba — mas também contra a Venezuela e Nicarágua — não são somente ilegais, mas também injustificáveis e inaceitáveis.

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PROVAS DE BOLSONARO VIRARAM O PUM DO PALHAÇO

🔴 Jornal Brasil Atual - 30/07/2021

Como todo verdadeiro grande capitalista, a sonegação faz parte do seu "modus operandi".

 

Jeff Bezos deveria ter agradecido aos contribuintes estadunidenses por terem pagado sua viagem ao espaço

Desde o início, a estratégia de negócios da gigante do varejo foi desviar dos impostos e embolsar subsídios públicos

 
26/07/2021 14:10

(Mark Ralston/AFP via Getty Images)

Créditos da foto: (Mark Ralston/AFP via Getty Images)

 
Logo após sua viagem de 10 minutos ao espaço na semana passada, Jeff Bezos agradeceu aos clientes e funcionários da Amazon pelo seu papel importante no pagamento do seu passeio na “New Sheperd” da Blue Origin à fronteira com o espaço.

Os comentários do fundador da Amazon rapidamente suscitaram críticas de muitos funcionários que trabalham em condições extremas em troca de salários baixos e idas ao banheiro de cinco minutos, metade da duração da viagem de foguete de Bezos.

Mas os contribuintes estadunidenses também deveriam estar perturbados por não serem mencionados por Bezos. Os comentadores observaram que as viagens de Jeff Bezos na “New Sheperd” e a de Richard Branson na “Virgin Galactic Unity” foram financiadas com dinheiro privado, mas no caso de Bezos isso está longe de ser verdade.

Evitar impostos e ganhar subsídios públicos têm sido a estratégia de negócios principal da Amazon desde o início, quando suas vendas online escaparam dos impostos sobre vendas locais e estaduais. Ao passo que a varejista expandiu sua rede de distribuição, a Amazon exigiu agressivamente que não pagasse impostos locais sobre propriedades em troca da promessa de trazer empregos para a comunidade.

E quando a Amazon finalmente se tornou lucrativa, a empresa usou vários esquemas de redução de impostos, incluindo pagar seus executivos com opções de ações e conduzir transações através de paraísos fiscais além mar. Isso permitiu que a Amazon se tornasse uma entre muitas empresas altamente lucrativas que contribuíram quase nada com os custos do governo federal.

No início, a Amazon situou seus centros de entrega em estados que não possuíam impostos sobre venda. Argumentou, com êxito, que a transação ocorreu onde o pacote deixou o centro de distribuição, não quando já estava na porta do cliente. Essa tática poupou bilhões de dólares dos clientes da Amazon e deu à empresa uma vantagem competitiva enorme em relação a lojas que tinham que coletar impostos sobre vendas.

Enquanto a Amazon evoluiu, a entrega rápida se tornou mais importante, levando a empresa a, rapidamente, expandir sua vasta rede de distribuição para mais perto de seus clientes. Reconhecendo que isso desafiaria os fundamentos da sua estratégia de desvio de impostos sobre vendas, a Amazon começou a exigir – e, mais frequentemente, receber – isenções fiscais lucrativas e outros subsídios em dinheiro de comunidades onde a empresa abriu instalações e proporcionou empregos.

Ao longo dos anos, a empresa coletou quase 3.3 bilhões de dólares em 200 acordos de subsídio fiscal diferentes com governos locais e estaduais, de acordo com a base de dados do Rastreador de Subsídios “Good Jobs First”. Em muitos casos, isso significa que, por exemplo, quando uma ambulância é enviada para um armazém da Amazon para cuidar de algum trabalhador que foi vencido pelo calor, a empresa deixa o custo de tais serviços para outros contribuintes pagarem. Ou quando a Amazon contrata um trabalhador estudado, o faz sabendo que contribui pouco com investimentos em educação para os governos locais.

Em três anos entre 2018 e 2020, a Amazon reportou 44.7 bilhões de dólares em lucros antes dos impostos, mas pagou somente 1.9 bilhões de dólares em impostos sobre rendimentos corporativos estadunidenses, de acordo com uma análise de 2021 do Instituto de Política Tributária e Econômica (ITEP). Esses pagamentos deram à Amazon uma taxa de tributação efetiva de apenas 4.3%, uma fração da taxa fiscal paga por famílias de rendimento médio dos EUA, e somente um quinto dos 21% obrigatórios do índice de imposto de renda corporativo dos EUA.

Se a Amazon tivesse pagado o total de 21% nos últimos três anos, a empresa teria contribuído com 7.2 bilhões de dólares em impostos federais, dinheiro que poderia ter sido usado para investir em pesquisas básicas, educação, segurança nacional e auxílio contra covid para famílias de baixa renda e pequenos negócios.

O voo de Bezos na nave “New Sheperd” recriou o histórico voo 1961 do primeiro astronauta estadunidense, Alan Sheperd. Na época, o índice fiscal corporativo dos EUA era de 48%. Se a Amazon tivesse pagado a mesma taxa sobre seus rendimentos nos últimos três anos, a empresa teria pagado mais 19.5 milhões de dólares em impostos sobre rendimentos estadunidenses.

A Amazon não está sozinha na decisão de não pagar sua parte justa em impostos federais. Em 1961, impostos de renda corporativos representavam 22.1% da receita do governo federal. No ano passado, as corporações pagaram apenas 6.6% das contas do Tio Sam, mesmo que as corporações dos EUA sejam bem mais lucrativas do que quando Alan Sheperd embarcou no “Freedom 7”.

Bezos alega ter investido cerca de 7.5 milhões de dólares na Blue Origin até hoje. Os contribuintes estadunidenses investiram essa quantidade muitas vezes na Amazon por meio de brechas fiscais de vendas, junto com os trabalhadores mal pagos da Amazon que possibilitaram o passeio de 10 minutos do bilionário.

https://www.commondreams.org/views/2021/07/25/jeff-bezos-should-have-thanked-american-taxpayers-paying-his-space-ride

As almas dos índios assassinados.

 


As almas dos índios assassinados e a estátua de Borba Gato

As almas dos índios assassinados também não se importaram com o incêndio da estátua. Ou os índios não têm alma?

 
26/07/2021 13:33

Estátua de Borba Gato em chamas (Thais Haliski)

Créditos da foto: Estátua de Borba Gato em chamas (Thais Haliski)

 
“Eu não sonho com o sucesso, simplesmente acordo cedo e trabalho para conquistá-lo.” É o bilhete que recebo no semáforo, do jovem negro que desliza como um bailarino entre automóveis sedentos de espaço, na cidade que não vai demorar a se recolher. A cidade formal vai se defender das estrelas frias que apascentam a noite de julho, mas aquele que acorda cedo “para conquistar o sucesso”, certamente dormirá num barraco frio nos limites do arrabalde encardido.

Suponho que o bailarino da esquina sequer tomou conhecimento do incêndio da estátua do corajoso caçador de índios e a sua dança urbana arriscada – que reproduz o risco dos seus antepassados para sobreviver nas hostilidades da terra – se move numa neblina entre dois tempos, hoje só esboçados: o tempo da barbárie programada do corpo que explora a si mesmo e o tempo do sucesso represado pela dor.

Entre os traficantes que sabem aproveitar os aviões da Presidência e a cidade formal está a outra cidade: do arrabalde invisível, que só aparece nas crônicas policiais quando os pequenos traficantes matam e se matam nos becos escuros, livres para morrer ou para sonhar. Os Lehmans da vida e os agentes das publicidades oficiais andam em busca dos empresários que criaram na ficção neoliberal, como ideia do autônomos sem rumo que transformaram, inconscientemente, o seu movimento nas esquinas em fracasso pornográfico da política do neoliberalismo.

O recado do bilhete é a “ironia objetiva” do lutador pela vida, desesperado pelo emprego que desapareceu, pelos filhos, irmãos, mães, que se desintegraram na maré neoliberal. A maré que ergueu a mais espessa neblina da história republicana, que fechou a paisagem dos direitos e transformou o trabalho no embuste que todos podem ser empresários de si mesmos. Acordar cedo para conquistar o sucesso, no caso, é deixar na haste do espelho dois “Torrones” – por dois reais – mobilizando o corpo entre os carros que dominam a cidade.

Sobre o projeto a “ponte para o futuro” de Michel Temer, ora gerenciado pelo grupo cívico-militar bolsonariano, Leda Paulani escreveu: “a única conclusão que se pode chegar é que a ponte que assim se constrói é uma ponte para o abismo no qual se precipitará o país, refém de interesses específicos e de uma riqueza privada que busca o alcance dos próprios objetivos a qualquer custo, mesmo que isso implique lançar 200 milhões de brasileiros no perigoso vazio da anomia social, da qual o modelo conciliatório anterior tentava escapar”.

O perigoso vazio de anomia aí está, pois a barbárie foi naturalizada (com a ajuda da mídia que apoiou o Golpe), abrigada nos fundamentos éticos do período. Eles estão inscritos especialmente em dois episódios, protagonizados pelo líder tenebroso: uma fala, “não sou coveiro”; e um “arfar psicótico”, quando imita a falta de ar de um condenado pela doença que ele mesmo liberou.

É tentador contrastar aquela conclusão de Leda Paulani com o estranho incêndio da estátua de Borba Gato, ato que não recomendaria por razões políticas, mas que certamente ajuda a desvestir a moralidade fascista de determinados setores direitistas, que não gostam de ver estátuas queimadas, mas que não se importam de conviver com os incêndios coletivos provocados por políticas de extinção dos humanos. A “compaixão”, que segundo Faulkner deveria manter os seres humanos inteiros na sua jornada infinita de afirmação e desafios, não existe no bolsonarismo, fulminada pelas premissas amorais daquela “fala” e naquele “arfar” assassino.

A parte final do texto de Leda Paulani, na excelente obra coletiva “Por que gritamos Golpe?” (Coleção “Tinta vermelha”, Boitempo, 169 pgs.) traz uma conclusão extraordinária para os historiadores do futuro avaliarem as dimensões subjetivas da crise econômica do tempo presente, no exato momento em que o ENEM tem o seu mais baixo índice de inscrição desde 2005! .

A constatação de Leda, cinco anos atrás, mostra que a crise material se instalou plenamente na moralidade dominante – em determinados circuitos de opinião intelectual e política – mudando-a rapidamente, para colocá-la – sem mover um músculo das faces cínicas que lhe seguem – a serviço da naturalização do fascismo.

Ao se indignarem com o incêndio da estátua de “Borba Gato”, ao mesmo tempo recusam ver as conexões do Golpe contra Dilma com a morte e a fome (que estão no cotidiano de milhões), estas pessoas excluíram do seu horizonte de humanidade as mulheres e os homens mais explorados do povo, que seriam – depois do Golpe – assediadas pela fome e pela doença. É a síndrome “Borba Gato”, que supõe que destruir a estátua de um caçador de índios é um pecado cívico, mas que apoiar um genocida e seus asseclas é sinal de “bom gosto” da razão decadente.

As almas dos índios assassinados também não se importaram com o incêndio da estátua. Ou os índios não têm alma?

Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.

*Publicado originalmente em 'Sul/21'

Trabalhei a vida inteira no setor cafeeiro, inicialmente no extinto IBC , Instituto Brasileiro do Café e o que é relatado a seguir é a pura realidade. Quando fazia pesquisas de campo, observei várias situações de trabalho escravo.

 

Safra e exportação de café batem recordes no Brasil enquanto trabalhadores e trabalhadoras rurais do setor sofrem

Relatório Mancha de Café, da Oxfam Brasil, revela as péssimas condições de trabalho no setor cafeeiro de Minas Gerais, maior produtor do país, e recomenda ações por parte dos grandes supermercados brasileiros contra violações a direitos humanos

 
26/07/2021 14:52

(Reprodução/Youtube)

Créditos da foto: (Reprodução/Youtube)

 
O Brasil bateu recorde de produção de café em 2020 e de exportação na temporada 2020/21, com aumento de 27,9% e 13,3% (respectivamente) em relação às temporadas anteriores, o que revela a força do setor para a economia brasileira e consolida a posição do país como maior produtor global do produto. No entanto, toda a riqueza gerada pelo café brasileiro não está chegando a quem trabalha plantando e colhendo o grão. O modelo de negócio, ao contrário, vem aprofundando as desigualdades no campo, deixando milhares de trabalhadores e trabalhadoras assalariadas rurais em situação de extrema vulnerabilidade.

É o que revela o relatório Mancha de Café, que a Oxfam Brasil lança nesta segunda-feira (26/7), que analisa a situação de quem está na base da produção de café em Minas Gerais, estado responsável por 60,4% do setor no país (dados de 2019). O que encontramos foi uma rotina de violações de direitos básicos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais assalariados que atuam nas plantações mineiras. Trabalho análogo à escravidão, baixos salários, desrespeito aos direitos das mulheres e falsas promessas que levam esses trabalhadores a condições de extrema vulnerabilidade.

Ao longo de 2020, por exemplo, 140 trabalhadores rurais foram resgatados de condições análogas à escravidão no cultivo de café no Brasil – 100% deles estavam em lavouras de Minas Gerais. Os dados são da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), órgão do Ministério da Economia.

O relatório Mancha de Café mostra também a responsabilidade de grandes supermercados, cooperativas e outras empresas na situação em que se encontram trabalhadores e trabalhadoras assalariados na cadeia do café.

Denúncias recorrentes

Nos últimos anos, a produção de café no Brasil já foi alvo de inúmeros relatórios e denúncias sobre as condições dos trabalhadores assalariados rurais. Informalidade, pobreza e trabalho escravo são alguns dos problemas recorrentes.

Entre 1995 e 2020, foram resgatadas 2.808 pessoas em condição de trabalho escravo contemporâneo nas lavouras de café em todo o país, segundo levantamento da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho. E o estado de Minas Gerais foi onde a maioria dos resgastes nas lavouras de café ocorreu. Em 2018, das 210 pessoas resgatadas, 109 eram de Minas. Em 2019, das 106 de todo o Brasil, 105 estavam no estado mineiro. E, no ano passado, todas as 140 estavam em fazendas deste mesmo estado.

Além das práticas escravocratas a que são submetidos, os trabalhadores do cultivo do café de Minas Gerais também sofrem com outros problemas como baixos salários, informalidade empregatícia, falta de representação sindical que garantam direitos trabalhistas e desigualdade na remuneração entre trabalhadores negros e brancos e entre homens e mulheres.

No Brasil, 62,4% das pessoas que trabalham na informalidade estão no interior. No caso dos trabalhadores rurais, a informalidade fica em torno de 60%. Já no caso do café em Minas Gerais, o acumulado verificado em 2019 aponta para 58,2% de trabalhadores informais. No entanto, esse percentual aumenta no período de safra, ou seja, diminui a proporção de empregos com carteira assinada quando aumenta a oferta de emprego.

Esse é um fenômeno importante, pois é durante a safra que mais empregos são gerados. Nesse caso, a maior geração de emprego estaria acompanhada de uma maior precarização dos trabalhadores. No período da safra, que vai de maio a setembro, a informalidade variou entre 67% e 66,8% em 2019.

 

Desigualdade de renda entre mulheres e homens

Em Minas Gerais, a maioria das pessoas que têm domicílios em regiões rurais e estão ocupadas na agropecuária, o que inclui os trabalhadores do café, são negras – cerca de 70%. Dessas pessoas negras, 41% não têm carteira assinada. Em termos de renda média nominal para as pessoas que têm domicílios rurais e estão ocupadas na agropecuária, negros sem carteira assinada ganham cerca de 12% a menos que os não-negros.

Além disso, homens ganham salário maior que mulheres. O rendimento médio de todos os vínculos de trabalho ativos na cultura do café em Minas Gerais foi de R$ 1.560,23 em dezembro de 2019 – sendo que o salário médio para homens foi de R$ 1.602,55 e para mulheres, R$ 1.307,93 (82% do que recebem os homens), segundo dados do Dieese.

Grande parte da precariedade nas condições de trabalho das lavouras de café de Minas Gerais se deve à baixa cobertura sindical a nível municipal da categoria no território.

De acordo com levantamento realizado pelo Ministério da Economia em janeiro deste ano, a pedido da Oxfam Brasil, Minas Gerais tem 335 sindicatos rurais. Segundo as regras brasileiras, no nível municipal há a unicidade sindical, ou seja, apenas um sindicato representa aquela categoria no território. Considerando os sindicatos rurais em nível municipal e intermunicipal, apenas 49,6% dos municípios brasileiros contam com sindicatos rurais. Mais da metade dos municípios de Minas Gerais não contam com a presença de sindicatos rurais.

Apesar de as negociações coletivas no setor rural poderem ser realizadas também por federações e confederações de trabalhadores, a baixa cobertura sindical no nível municipal afeta este processo. A ausência de cobertura por sindicato também prejudica o trabalho de assistência direta ao trabalhador do campo, a fiscalização das condições de trabalho e a mobilização dos trabalhadores para discutir seus direitos.

Ao olharmos a presença de instrumentos de negociação coletiva em Minas Gerais, detectamos uma situação preocupante. Em 2018, foram registrados 108 Acordos ou Convenções Coletivas no estado. Em 2019, foram 109 e, em 2020, primeiro ano da pandemia, apenas 52 instrumentos foram registrados. A falta de instrumentos coletivos coloca os trabalhadores rurais do café e de outras culturas em Minas Gerais em maior risco de ter os seus direitos violados.

De acordo com a ONG Repórter Brasil, alguns produtores do sul de Minas Gerais estariam contratando escritórios de contabilidade para redigirem cartas-padrão de desfiliação dos sindicatos, com o objetivo de enfraquecer e desmobilizar os trabalhadores.

Para melhorar as condições de trabalho e promover a vida digna de trabalhadoras e trabalhadores assalariados rurais das plantações de café em Minas Gerais, a Oxfam Brasil recomenda que supermercados, empresas de café e devem:

*Adotar política e abordagem de devida diligência em direitos humanos, estabelecendo uma estratégia para identificar, prevenir, mitigar e remediar as violações dos direitos humanos nas principais cadeias de fornecimento de alimentos. Este deve ser um documento público;

*Divulgar, regularmente, os fornecedores da cadeia de suas marcas de café até o nível da fazenda;

*Publicar um documento que especifique a abrangência de suas políticas de tolerância zero com relação ao trabalho em condições análogas a de escravo, definindo que seus fornecedores não podem estar envolvidos, de maneira alguma, seja na mesma propriedade ou não, seja por subcontratação ou por fornecimento de terceiros, em casos de trabalho escravo;

*Adotar tolerância zero para a informalidade e para a não participação, em convenção ou acordo coletivo, para descontos nos salários referentes aos custos de equipamentos de proteção individual (EPIs), alimentação, moradia e da ação de intermediários na contratação;

*Estabelecer auditorias não anunciadas nas fazendas fornecedoras de café durante o período da safra;

*Estabelecer um processo de diálogo significativo com os sindicatos de assalariados rurais e incentivar seus fornecedores a apoiarem a atividade sindical nas fazendas durante o período da safra;

*Estabelecer um compromisso de salário digno (living wage) para os trabalhadores assalariados do café.

*Relatório completo aqui: https://www.oxfam.org.br/setor-privado-e-direitos-humanos/por-tras-do-preco/mancha-de-cafe/

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Unir a direita e "pré-melar" a eleição.

 

Unir a direita e ‘pré-melar’ eleição, os planos de Bolsonaro

Não foi só ao ministro Luiz Roberto Barroso que Jair Bolsonaro acusou ontem de estar preparando uma fraude eleitoral.

Foi ao Supremo Tribunal Federal, a quem acusou de tê-la planejado, ao soltar – e depois anular os processos viciados de Curitiba.

Acusações, como registraram a imprensa e os sites de verificação de notícias, falsas, distorcidas e, sobretudo, sem qualquer prova.

Como, diante de algo assim, vai o Poder Judiciário, fazer um bilu-bilu institucional ao presidente, reunindo os chefes de poderes para um entendimento.

Entendimento sobre o quê?

Fazer o Legislativo e a Justiça cederem ao desejo presidencial de impor uma votação em papel que nada tem a ver com a necessária capacidade de auditar a eleição, mas de mobilizar um sistema de coações sobre os eleitores?

Parece evidente, até a onde a vista alcança, que não haverá a submissão de ambos ao quase-ultimato presidencial.

É outra a estratégia presidencial, que consiste em criar um clima de turbulência no processo eleitoral, previamente desqualificado como fraudável e efetivamente fraudado, como o acusou de ser Bolsonaro.

O primeiro movimento é o de “tocar reunir” entre antipetistas, conservadores, militares e tudo o mais que se puder juntar à sua candidatura, tirando o que puder dos demais candidatos da direita. Conservar seu “núcleo duro”, fanático e agressivo, é ponto central em seu projeto de continuidade.

O segundo, a depender de um bom resultado de primeiro turno, o que já começou, segundo as pesquisas, a se tornar incerto, é alcançar uma polarização em segundo turno que lhe permita um movimento para “melar” o processo eleitoral sob a bandeira de um veto (militar e/ou judicial) a Lula.

Ao Judiciário e ao Legislativo, ceder agora significaria reconhecer que a eleição é fraudável e já foi fraudada, como acusa Bolsonaro.

Que, não por acaso, diz que só Deus o tirará da cadeia presidencial. Como Deus não tem título de eleitor….

Uma vitória de Lula só terá segurança se lhe der uma vantagem à prova de golpes.