sexta-feira, 30 de julho de 2021

Como todo verdadeiro grande capitalista, a sonegação faz parte do seu "modus operandi".

 

Jeff Bezos deveria ter agradecido aos contribuintes estadunidenses por terem pagado sua viagem ao espaço

Desde o início, a estratégia de negócios da gigante do varejo foi desviar dos impostos e embolsar subsídios públicos

 
26/07/2021 14:10

(Mark Ralston/AFP via Getty Images)

Créditos da foto: (Mark Ralston/AFP via Getty Images)

 
Logo após sua viagem de 10 minutos ao espaço na semana passada, Jeff Bezos agradeceu aos clientes e funcionários da Amazon pelo seu papel importante no pagamento do seu passeio na “New Sheperd” da Blue Origin à fronteira com o espaço.

Os comentários do fundador da Amazon rapidamente suscitaram críticas de muitos funcionários que trabalham em condições extremas em troca de salários baixos e idas ao banheiro de cinco minutos, metade da duração da viagem de foguete de Bezos.

Mas os contribuintes estadunidenses também deveriam estar perturbados por não serem mencionados por Bezos. Os comentadores observaram que as viagens de Jeff Bezos na “New Sheperd” e a de Richard Branson na “Virgin Galactic Unity” foram financiadas com dinheiro privado, mas no caso de Bezos isso está longe de ser verdade.

Evitar impostos e ganhar subsídios públicos têm sido a estratégia de negócios principal da Amazon desde o início, quando suas vendas online escaparam dos impostos sobre vendas locais e estaduais. Ao passo que a varejista expandiu sua rede de distribuição, a Amazon exigiu agressivamente que não pagasse impostos locais sobre propriedades em troca da promessa de trazer empregos para a comunidade.

E quando a Amazon finalmente se tornou lucrativa, a empresa usou vários esquemas de redução de impostos, incluindo pagar seus executivos com opções de ações e conduzir transações através de paraísos fiscais além mar. Isso permitiu que a Amazon se tornasse uma entre muitas empresas altamente lucrativas que contribuíram quase nada com os custos do governo federal.

No início, a Amazon situou seus centros de entrega em estados que não possuíam impostos sobre venda. Argumentou, com êxito, que a transação ocorreu onde o pacote deixou o centro de distribuição, não quando já estava na porta do cliente. Essa tática poupou bilhões de dólares dos clientes da Amazon e deu à empresa uma vantagem competitiva enorme em relação a lojas que tinham que coletar impostos sobre vendas.

Enquanto a Amazon evoluiu, a entrega rápida se tornou mais importante, levando a empresa a, rapidamente, expandir sua vasta rede de distribuição para mais perto de seus clientes. Reconhecendo que isso desafiaria os fundamentos da sua estratégia de desvio de impostos sobre vendas, a Amazon começou a exigir – e, mais frequentemente, receber – isenções fiscais lucrativas e outros subsídios em dinheiro de comunidades onde a empresa abriu instalações e proporcionou empregos.

Ao longo dos anos, a empresa coletou quase 3.3 bilhões de dólares em 200 acordos de subsídio fiscal diferentes com governos locais e estaduais, de acordo com a base de dados do Rastreador de Subsídios “Good Jobs First”. Em muitos casos, isso significa que, por exemplo, quando uma ambulância é enviada para um armazém da Amazon para cuidar de algum trabalhador que foi vencido pelo calor, a empresa deixa o custo de tais serviços para outros contribuintes pagarem. Ou quando a Amazon contrata um trabalhador estudado, o faz sabendo que contribui pouco com investimentos em educação para os governos locais.

Em três anos entre 2018 e 2020, a Amazon reportou 44.7 bilhões de dólares em lucros antes dos impostos, mas pagou somente 1.9 bilhões de dólares em impostos sobre rendimentos corporativos estadunidenses, de acordo com uma análise de 2021 do Instituto de Política Tributária e Econômica (ITEP). Esses pagamentos deram à Amazon uma taxa de tributação efetiva de apenas 4.3%, uma fração da taxa fiscal paga por famílias de rendimento médio dos EUA, e somente um quinto dos 21% obrigatórios do índice de imposto de renda corporativo dos EUA.

Se a Amazon tivesse pagado o total de 21% nos últimos três anos, a empresa teria contribuído com 7.2 bilhões de dólares em impostos federais, dinheiro que poderia ter sido usado para investir em pesquisas básicas, educação, segurança nacional e auxílio contra covid para famílias de baixa renda e pequenos negócios.

O voo de Bezos na nave “New Sheperd” recriou o histórico voo 1961 do primeiro astronauta estadunidense, Alan Sheperd. Na época, o índice fiscal corporativo dos EUA era de 48%. Se a Amazon tivesse pagado a mesma taxa sobre seus rendimentos nos últimos três anos, a empresa teria pagado mais 19.5 milhões de dólares em impostos sobre rendimentos estadunidenses.

A Amazon não está sozinha na decisão de não pagar sua parte justa em impostos federais. Em 1961, impostos de renda corporativos representavam 22.1% da receita do governo federal. No ano passado, as corporações pagaram apenas 6.6% das contas do Tio Sam, mesmo que as corporações dos EUA sejam bem mais lucrativas do que quando Alan Sheperd embarcou no “Freedom 7”.

Bezos alega ter investido cerca de 7.5 milhões de dólares na Blue Origin até hoje. Os contribuintes estadunidenses investiram essa quantidade muitas vezes na Amazon por meio de brechas fiscais de vendas, junto com os trabalhadores mal pagos da Amazon que possibilitaram o passeio de 10 minutos do bilionário.

https://www.commondreams.org/views/2021/07/25/jeff-bezos-should-have-thanked-american-taxpayers-paying-his-space-ride

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