sexta-feira, 19 de abril de 2024

Crise política? Siga o dinheiro.

 


Brasil de Fato


por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile


19 de Abril de 2024

Crise política? Siga o dinheiro.


Olá, não há limites para Lira, o mercado financeiro e as elites, mesmo ganhando sempre.

.O problema dos três corpos. Como se sabe, a nova governabilidade pós-Bolsonaro depende de um equilíbrio instável entre governo, Congresso e STF. E cada vez que Lula sai de viagem ao exterior, a relação tóxica do Congresso com os demais poderes se agrava. O novo episódio de desarranjo iniciou com a rusga entre o Alexandre Padilha e Arthur Lira, que só aparentemente foi motivada por um “desafeto pessoal”. Na verdade, a crise da semana foi aberta pela jornada de lutas do MST, que não só forçou o governo a se mexer no tema da reforma agrária, mas também levou à exoneração um primo de Arthur Lira que era superintendente do INCRA em Alagoas. O problema se agravou quando o governo liberou R$ 15 bilhões em emendas e o presidente da Câmara não viu a sua parte. O cacique alagoano, é claro, aproveitou para retaliar tanto o MST quanto o governo, colocando em pauta dois projetos de lei de interesse da bancada ruralista, além ameaçar abrir cinco (!) CPIs que podem atrapalhar a vida de todo mundo. Mas, além da fome insaciável do centrão por cargos e verbas, há principalmente o desejo de Arthur Lira recuperar protagonismo político e não ser carta fora do baralho antes do fim do seu mandato. Afinal, o Senado tem se mostrado mais eficiente na aprovação de pautas conservadoras, com Rodrigo Pacheco passando a patrola no governo e no STF com a aprovação da PEC que criminaliza o porte de qualquer quantidade de drogas. Como se sabe, o alvo preferido do Congresso é sempre o Supremo, que recebeu ameaças de impeachment vindas de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), principal cotado a sucessor de Pacheco na presidência do Senado, assim como do próprio Lira, que tomou as dores dos aliados que fracassaram em impedir a prisão do deputado Chiquinho Brazão e abraçou a pauta de diminuir o poder dos ministros da Corte e fortalecer o foro privilegiado dos congressistas. Para alívio dos aliados que não querem uma guerra com o Executivo em ano de eleições municipais, uma tropa de choque do deixa-disso entrou em campo, capitaneada por Rui Costa e até Alexandre de Moraes, para apagar o pavio do presidente-bomba. No meio do fogo cruzado, o Judiciário ainda ensaiou uma reabilitação do lavajatismo, ao anular o afastamento da juíza Gabriela Hardt, mas que pode ter justamente o efeito contrário.

.Insaciáveis. A rajada de balas por protagonismo político de Lira e Pacheco atingiram também Fernando Haddad. Quem acreditava na promessa do centrão de que a pauta econômica ficaria imune aos conflitos políticos viu Arthur Lira disputar o protagonismo com o ministro e sair na frente na regulamentação da reforma tributária e Pacheco plantar uma bomba no orçamento com o reajuste salarial automático de 5% a cada cinco anos para juízes e procuradores. Mas a verdade é que a maior preocupação do Planalto não é a fome do centrão e sim a do mercado. E o principal ponto de insatisfação é a forma como o governo trata a questão fiscal. Claro, se o céu fosse de brigadeiro Lula não teria com o que se preocupar. Mas não é o caso. Mesmo que haja sinais de recuperação, com uma previsão otimista do FMI para o crescimento brasileiro em 2024 e aumento dos investimentos e do consumo em fevereiro, o cenário de instabilidade externa é cada vez mais preocupante. O dólar subiu, causando alvoroço em todas as economias emergentes, pressionando a dívida pública brasileira e o governo decidiu empurrar com a barriga a meta de déficit zero para 2026. O mercado não gostou, porque na prática significa que o governo adiou a promessa de separar parte da receita de impostos para destiná-la à amortização da dívida pública. A retaliação veio na forma de pressão para que o Banco Central  reverta a tendência de redução da taxa básica de juros. E, claro, já veio o coro dos colunistas e analistas pregando a redução dos investimentos sociais. É assim que a profecia da austeridade se cumpre. Soma-se a isso as próprias inconsistências da política econômica. Afinal, diferentemente dos governos Lula 1 e 2, a almejada distribuição de renda está longe de acontecer no Lula 3, enquanto a inflação penaliza os mais pobres e poupa os mais ricos

.Ponto Final: nossas recomendações.

.iFood quer entregadores gerando créditos de carbono em bicicletas e motos elétricas alugadas. N’ O Joio e o Trigo, a última malandragem das plataformas para lucrar com os entregadores e com o aquecimento global.

.Desmatamento em busca de dono. Reportagem da Piauí revela que 47% das áreas desmatadas não tem proprietário reconhecido legalmente.

.Governo deixa de arrecadar, e Coca-Cola poupa R$ 4,3 bi em impostos. N’ O Joio e o Trigo, as isenções fiscais que a Coca-Cola recebe do governo. 

.Para a Nestlé, nem todos os bebês são iguais. Investigação do Intercept e do Joio e o Trigo revela como a Nestlé enche de açúcar os bebês do Sul Global.

.Dá para rir do patriarcado? Quem são as mulheres que usam a comédia para fazer política. No AzMinas.

.Histórias sem fim. No podcast da Rádio Novelo, como a cidade de São João Marcos (RJ) foi literalmente inundada pela Light.

.Pedidos para minerar lítio quadruplicam no Brasil em um ano. Podcast da Repórter Brasil revela os impactos da corrida do lítio no sertão do Ceará.

.Documentário conta a história de Chacabuco, o maior campo de concentração da ditadura chilena. O GGN testemunha a inauguração de um memorial aos 1.200 presos da ditadura Pinochet.

Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.


Brasil de Fato


por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile


19 de Abril de 2024

Crise política? Siga o dinheiro.


Olá, não há limites para Lira, o mercado financeiro e as elites, mesmo ganhando sempre.

.O problema dos três corpos. Como se sabe, a nova governabilidade pós-Bolsonaro depende de um equilíbrio instável entre governo, Congresso e STF. E cada vez que Lula sai de viagem ao exterior, a relação tóxica do Congresso com os demais poderes se agrava. O novo episódio de desarranjo iniciou com a rusga entre o Alexandre Padilha e Arthur Lira, que só aparentemente foi motivada por um “desafeto pessoal”. Na verdade, a crise da semana foi aberta pela jornada de lutas do MST, que não só forçou o governo a se mexer no tema da reforma agrária, mas também levou à exoneração um primo de Arthur Lira que era superintendente do INCRA em Alagoas. O problema se agravou quando o governo liberou R$ 15 bilhões em emendas e o presidente da Câmara não viu a sua parte. O cacique alagoano, é claro, aproveitou para retaliar tanto o MST quanto o governo, colocando em pauta dois projetos de lei de interesse da bancada ruralista, além ameaçar abrir cinco (!) CPIs que podem atrapalhar a vida de todo mundo. Mas, além da fome insaciável do centrão por cargos e verbas, há principalmente o desejo de Arthur Lira recuperar protagonismo político e não ser carta fora do baralho antes do fim do seu mandato. Afinal, o Senado tem se mostrado mais eficiente na aprovação de pautas conservadoras, com Rodrigo Pacheco passando a patrola no governo e no STF com a aprovação da PEC que criminaliza o porte de qualquer quantidade de drogas. Como se sabe, o alvo preferido do Congresso é sempre o Supremo, que recebeu ameaças de impeachment vindas de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), principal cotado a sucessor de Pacheco na presidência do Senado, assim como do próprio Lira, que tomou as dores dos aliados que fracassaram em impedir a prisão do deputado Chiquinho Brazão e abraçou a pauta de diminuir o poder dos ministros da Corte e fortalecer o foro privilegiado dos congressistas. Para alívio dos aliados que não querem uma guerra com o Executivo em ano de eleições municipais, uma tropa de choque do deixa-disso entrou em campo, capitaneada por Rui Costa e até Alexandre de Moraes, para apagar o pavio do presidente-bomba. No meio do fogo cruzado, o Judiciário ainda ensaiou uma reabilitação do lavajatismo, ao anular o afastamento da juíza Gabriela Hardt, mas que pode ter justamente o efeito contrário.

.Insaciáveis. A rajada de balas por protagonismo político de Lira e Pacheco atingiram também Fernando Haddad. Quem acreditava na promessa do centrão de que a pauta econômica ficaria imune aos conflitos políticos viu Arthur Lira disputar o protagonismo com o ministro e sair na frente na regulamentação da reforma tributária e Pacheco plantar uma bomba no orçamento com o reajuste salarial automático de 5% a cada cinco anos para juízes e procuradores. Mas a verdade é que a maior preocupação do Planalto não é a fome do centrão e sim a do mercado. E o principal ponto de insatisfação é a forma como o governo trata a questão fiscal. Claro, se o céu fosse de brigadeiro Lula não teria com o que se preocupar. Mas não é o caso. Mesmo que haja sinais de recuperação, com uma previsão otimista do FMI para o crescimento brasileiro em 2024 e aumento dos investimentos e do consumo em fevereiro, o cenário de instabilidade externa é cada vez mais preocupante. O dólar subiu, causando alvoroço em todas as economias emergentes, pressionando a dívida pública brasileira e o governo decidiu empurrar com a barriga a meta de déficit zero para 2026. O mercado não gostou, porque na prática significa que o governo adiou a promessa de separar parte da receita de impostos para destiná-la à amortização da dívida pública. A retaliação veio na forma de pressão para que o Banco Central  reverta a tendência de redução da taxa básica de juros. E, claro, já veio o coro dos colunistas e analistas pregando a redução dos investimentos sociais. É assim que a profecia da austeridade se cumpre. Soma-se a isso as próprias inconsistências da política econômica. Afinal, diferentemente dos governos Lula 1 e 2, a almejada distribuição de renda está longe de acontecer no Lula 3, enquanto a inflação penaliza os mais pobres e poupa os mais ricos

.Ponto Final: nossas recomendações.

.iFood quer entregadores gerando créditos de carbono em bicicletas e motos elétricas alugadas. N’ O Joio e o Trigo, a última malandragem das plataformas para lucrar com os entregadores e com o aquecimento global.

.Desmatamento em busca de dono. Reportagem da Piauí revela que 47% das áreas desmatadas não tem proprietário reconhecido legalmente.

.Governo deixa de arrecadar, e Coca-Cola poupa R$ 4,3 bi em impostos. N’ O Joio e o Trigo, as isenções fiscais que a Coca-Cola recebe do governo. 

.Para a Nestlé, nem todos os bebês são iguais. Investigação do Intercept e do Joio e o Trigo revela como a Nestlé enche de açúcar os bebês do Sul Global.

.Dá para rir do patriarcado? Quem são as mulheres que usam a comédia para fazer política. No AzMinas.

.Histórias sem fim. No podcast da Rádio Novelo, como a cidade de São João Marcos (RJ) foi literalmente inundada pela Light.

.Pedidos para minerar lítio quadruplicam no Brasil em um ano. Podcast da Repórter Brasil revela os impactos da corrida do lítio no sertão do Ceará.

.Documentário conta a história de Chacabuco, o maior campo de concentração da ditadura chilena. O GGN testemunha a inauguração de um memorial aos 1.200 presos da ditadura Pinochet.

Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

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