quarta-feira, 13 de agosto de 2008

ECONOMIA - Países em desenvolvimento concentram reservas mundiais em divisas.

Países do sul concentram reservas mundiais em divisas
Thalif Deen

Nações Unidas, 18/07/2008, (IPS) - Os países em desenvolvimento têm US$ 4,3 trilhões em reservas externas, equivalentes a 75% do total das divisas depositadas nos cofres dos bancos centrais do mundo, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas.

Crédito: NYSE

Apesar da volatilidade dos mercados financeiros, a quebra de bancos, a restrição do crédito e a disparada dos preços dos alimentos e combustíveis, o documento da ONU mostra que as reservas em divisas da China chegaram a US$ 1,7 trilhão no final de março.

A Índia figura em terceiro lugar entre as nações por suas reservas externas de US$ 300 bilhões, atrás de dois membros do Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo: Japão, que tem em seu banco central US$ 993 bilhões, e Rússia, com US$ 493 bilhões. Esse país da Ásia meridional inclusive supera a Coréia do Sul, nação de alta industrialização cujas reservas chegam a US$ 264 bilhões. Dados de setembro de 2007 mostram que os países do G-8 não eram os que tinham os “fundos soberanos” maiores, mas sim os Emirados Árabes Unidos (US$ 875 bilhões), Noruega (US$ 341 bilhões), Cingapura (US$ 330 bilhões), Arábia Saudita (US$ 300 bilhões), Kuwait (US$ 250 bilhões) e China (US$ 200 bilhões).

A revista financeira norte-americana Forbes define os fundos soberanos como “quantias derivadas das reservas nacionais, destinadas a investimentos que beneficiam a economia do país e seus cidadãos”. As reservas nos bancos centrais e os fundos soberanos têm algo em comum: estão em poder do Estado, ao contrário dos investimentos estrangeiros diretos, que podem ser tanto públicos quanto privados. Estima-se que as nações em desenvolvimento acumulem US$ 3 trilhões em fundos soberanos. “Isto dá aos países em desenvolvimento um resseguro para enfrentar os impactos externos”, diz o Informe Econômico e Social Mundial 2008, divulgado esta semana pela Organização das Nações Unidas.

Segundo este estudo, um nível de reservas que cubra três meses de importações é adequado. Mas uma das lições aprendidas com a crise financeira de 1997, que começou no sudeste da Ásia e afetou todo o mundo, é que as nações em desenvolvimento devem ter reservas para poderem cumprir seus pagamentos da divida externa no curto prazo. Esses países agora contam com “fundos que superam longamente esse requisito”, diz o estudo. Além disso, afirma que os países de baixa e média renda tem em seus bancos centrais o dobro das reservas necessárias para pagar três meses de importações e os serviços da divida externa no curto prazo.

As reservas da China triplicam os fundos necessários para isso, e as dos 50 países menos desenvolvidos ficam próximos desse nível, segundo o estudo. Essas nações estão investindo suas reservas, assegurou Rob Vos, diretor da Divisão de Análise de Políticas de Desenvolvimento do Departamento de Assuntos Sociais e Econômicos da ONU. “Podem ter dinheiro ou ouro nos cofres de seus bancos centrais que se destinam a investimentos seguros no estrangeiro, fundamentalmente em bônus do Tesouro dos Estados Unidos, o que ajuda a financiar o déficit desse país”, acrescentou.

Vos definiu um investimento seguro como o que oferece taxa de lucro menor do que a média usual do mercado internacional ou do que a que seria obtida colocando o dinheiro no sistema financeiro domestico, mais alta, mas, ao mesmo tempo, mais insegura no médio e longo prazos. Acumular reservas externas é sensato, como proteção frente a inesperados impactos esternos, como aumento no preço do petróleo, mas também o é investir parte delas em títulos e ativos líquidos no exterior.

“Entretanto, os países em desenvolvimento acumulam reservas cujos níveis vão muito além do que pode ser visto como medida de precaução”, disse Vos à IPS, o que, a seu ver, não é tão sensato. “Além disso, como indicamos no informe, muitas nações em desenvolvimento com grandes reservas de divisas estão recebendo ao mesmo tempo grandes fluxos de capitais privados estrangeiros”, acrescentou. Segundo Vos, “na medida em que esses fundos contribuem para o acúmulo de reservas, os chamamos de reservas emprestadas”.

É preciso pagar uma taxa de retorno por esse dinheiro: juros, se for empréstimos, giro de ganhos no caso de investimentos estrangeiros diretos. E essa taxa é habitualmente superior ao ganho financeiro obtido com as letras do Tesouro de outros países. Estima-se que este custo, par ao conjunto dos países em desenvolvimento, fique em torno dos US$ 100 bilhões anuais. Vos acrescentou que muitas nações em desenvolvimento, conscientes desse custo mas em alguns casos “adoçadas” pela renda com exportação de petróleo ou alimentos que aumentam pelo encarecimento desses produtos, criaram fundos soberanos que respondem mais ao desejo de acumular fundos do que a movimentos preventivos.

O dinheiro dos fundos soberanos normalmente é investido em ativos com altas taxas de retorno, como ações em empresas do Ocidente ou projetos de desenvolvimento em outras nações do Sul. Alguns vêem um tom político no fenômeno. Um informe do Instituto KcKinsey, citado na semana passada pelo The Wall Street Journal, de Nova York, diz que “a montanha de petrodólares” está sendo usada para promover uma “agenda política anti-norte-americana”. Segundo esse estudo, “o surgimento de uma grande quantidade de países com fundos soberanos aumenta as preocupações sobre as razões não econômicas e ramificações políticas de seus investimentos”. Essa consultoria acusa o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de “financiar com petrodólares sua cruzada hemisférica contra a influência dos Estados Unidos na região”.

Segundo Vos, essas altas reservas de países em desenvolvimento são investidas em países do Sul, mas em ativos que oferecem uma baixa taxa de retorno. As oportunidades estão ao alcance das mãos, especialmente para o investimento do nível de reservas que superam o necessário para cobrir entre três e seis meses de exportações e o serviço da divida externa de curto prazo. Esses fundos podem ser usados para projetos de infra-estrutura doméstica ou outros investimentos que fortaleçam as economias dos países que contam com divisas em excesso. Os países que crescem rapidamente, como China e os maiores exportadores de petróleo, deveriam investir seus excedentes de capital no Sul, disse Vos, “em bancos regionais que busquem novos recursos financeiros para o desenvolvimento dessas nações”, acrescentou. (IPS/Envolverde) (FIN/2008)
Fonte: Esquerda.net

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