quarta-feira, 6 de agosto de 2008

MÍDIA - Lévi-Strauss e Clausewitz

Lévi-Strauss e Clausewitz.


“A manipulação mediática não altera o mundo real, mas pode alterar profundamente a sua percepção. É um poderoso instrumento na luta de classes. No quadro das agressões imperialistas, constitui um elemento de preparação da guerra. Parafraseando Clausewitz, alguma manipulação mediática é a antecipação da guerra por outros meios”

Filipe Diniz.

Em “Tristes Trópicos” o etnógrafo Lévi-Strauss fala do problema que surgia quando se tratava de fotografar as tribos amazónicas com que contactou. Ao que parece, nas culturas primitivas, os poderes atribuídos à imagem são fortíssimos. O sujeito torna-se vulnerável quando objecto de representação e pode ser atacado através dela.

Os responsáveis editoriais dos grandes meios de comunicação social, que devem considerar-se a si próprios altamente sofisticados, agem em relação ao PCP de forma análoga ao desses reflexos mágicos e primitivos. Acreditarão eles que, não existindo, ou surgindo residualmente o PCP nas páginas dos jornais e nos écrans da televisão, desaparece o seu papel histórico no movimento real de transformação do estado das coisas existente? A manipulação mediática não altera o mundo real, mas pode alterar profundamente a sua percepção. É um poderoso instrumento na luta de classes. No quadro das agressões imperialistas, constitui um elemento de preparação da guerra. Parafraseando Clausewitz, alguma manipulação mediática é a antecipação da guerra por outros meios. Estão bem vivas as colossais campanhas de desinformação e de mentira que antecederam, prepararam e acompanharam as agressões à ex-Jugoslávia e no Iraque. Agressões imperialistas que se traduzem num cortejo interminável de crimes de guerra, mas cujos responsáveis não veremos julgados no TPI, criado para administrar a justiça dos vencedores e para ocultar os seus crimes. Apesar de terem nome: chamam-se Joschka Fischer e Gerhard Schrӧder, Jack Straw e Tony Blair, Bill Clinton e Madeleine Albright, nomeadamente.

Esta última, num sinal para alguns incautos terem em conta, em lugar de se sentar no banco dos réus é uma destacada conselheira de Barack Obama para as questões internacionais.

O imperialismo não nasceu com George Bush, nem alterará a sua natureza e a sua essência qualquer que seja o resultado das eleições presidenciais nos EUA. Será derrotado, isso sim, numa muito dura e decerto prolongada luta dos povos de todo o mundo.

Incluindo necessariamente a luta do povo dos EUA.

Este artigo foi publicado no Avante nº 1.809 de 31 de Julho de 2008

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