terça-feira, 12 de agosto de 2008

MÍDIA - Um blog contra a revista Veja.

O colunista Diogo Mainardi, da revista Veja, publicada pela Editora Abril, está processando o portal iG e o jornalista Luis Nassif por danos morais. Em fevereiro deste ano, Nassif iniciou a divulgação de uma série de textos em seu blog, intitulado o "Caso Veja", relacionando o colunista Diogo Mainairdi e os jornalistas Lauro Jardim, Mário Sabino e Eurípedes Alcântara. Juntos, eles formariam o "quarteto de Veja". A série chegou a ter capítulos semanais.

Dois jornalistas e a Editora Abril já tinham anunciado processos contra Nassif, imediatamente após o início da série de textos "O Caso Veja", no final de fevereiro. A série de matérias já renderam outras duas ações judiciais contra Nassif, a primeira ajuizada pelo diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara, e outra movida pelo editor da coluna Radar, Lauro Jardim.

Processado por Paulo Henrique Amorim e Mino Carta, o colunista Diogo Mainardi afirmou diversas vezes que "acha um absurdo jornalista processar jornalista". A seu ver, os jornalistas possuem espaço na mídia para responderem a ataques de colegas, e por isso não necessitariam ìr à Justiça. No caso de Paulo Henrique Amorim, Mainardi chegou a ironizar o poder de alcance dos "blogs".

Na série de textos intitulada "O Caso Veja", Nassif afirmou que a relação entre os quatro (Mainardi, Jardim, Alcântara e Sabino) serviria para favorecer um esquema criado pela revista, em que se estabeleceria ligação direta com o banqueiro Daniel Dantas, preso pela Polícia Federal na Operação Satiagraha. Um trecho do blog de Nassif diz: "O trio se tornava, então, o quarteto de Veja, que dali por diante, entraria de cabeça na campanha em favor de Daniel Dantas. Nesse jogo, o papel mais ostensivo passaria a ser desempenhado por Diogo Mainardi".

Segundo os advogados de Mainardi, em informações divulgadas pelo site Consultor Jurídico, o jornalista e o iG - que hospeda o blog - estão "fazendo verdadeira campanha persecutória e extremamente ofensiva ao jornalismo praticado pelo articulista", e "ofenderam intencionalmente o bom nome e a moral do autor [Mainardi], colocando em xeque o jornalismo por ele desenvolvido".

Os advogados do autor da ação alegam que Nassif deve ser condenado porque "além de Mainardi ser acusado em campanha a favor do banqueiro, o que já configuraria claras ofensas", ele é também apontado como "inescrupuloso, ávido pelas benesses que a exposição jornalística trazia".

Para os advogados, o fato de uma foto de do jornalista da Veja ter sido inserida no blog "robustece a gravidade das ofensas, bem como fica evidente que a expressão quarteto, utilizada de forma recorrente, tem o propósito único de inferir que se trata de um bando cuja finalidade é vender jornalismo para empresários".

Além da indenização por danos morais, o colunista da revista da Editora Abril quer a retirada das informações relacionadas a ele do blog e a publicação da eventual sentença condenatória no iG.

Guerra da Imprensa

Luis Nassif iniciou a série de textos após uma dos ataques da revista Veja contra jornalistas de outros veículos, como Paulo Henrique Amorim (TV Record e dono do Blog "Conversa Afiada"), Mino Carta (revista Carta Capital) e a ele próprio, atacado quando ainda mantinha sua coluna econômica na Folha de S. Paulo. Outros jornalistas da grande imprensa também foram atacados por Mainardi, como defensores do governoi Lula na mídia.

Em 2004, Luis Nassif fez um comentário na coluna que mantinha no jornal Folha de S. Paulo sobre o procedimento adotado pelo colunista Diogo Mainardi de ter revelado a identidade de uma fonte depois de lhe ter garantido o “off” (não revelação do nome da fonte, no jargão jornalístico).

Pouco depois, Mainardi disparou em sua coluna: "Um dos patrocinadores do site de Luis Nassif é o BNDES, coincidentemente o maior acionista da Telemar, concorrente direta de Dantas. Não surpreende que um paladino da ética como Nassif tenha defendido a compra, por parte da Telemar, da produtora de fundo de quintal do filho de Lula, Fábio Luís". Além de desmentir a insinuação, Nassif fez novas críticas a Mainardi.

Paulo Henrique Amorim processou o colunista Diogo Mainardi por danos morais, mas perdeu em primeira instância. A sentença foi recentemente reformada. A 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo acatou, por unanimidade, o relatório do desembargador Oldemar Azevedo e deu provimento a recurso de Paulo Henrique Amorim para condenar a Editora Abril e Diogo Mainardi ao pagamento de 500 salários mínimos (R$ 207.500, 00), ao reconhecer a ocorrência de danos morais quando da publicação (em 6 de setembro de 2006) da coluna “A Voz do PT”, na revista Veja. A Câmara considerou que houve "abuso da liberdade de imprensa. Agora, cabe recurso ao STJ.

Mino Carta também acionou o colunista, e ganhou em primeira instância.

Revista X blogs

A direção da revista Veja e os jornalistas que ingressaram com as ações disseram, logo após o início da série "O Caso Veja", que não iriam responder, pela imprensa, às acusações formuladas por Nassif. A expectativa inicial era a de que a série de Luis Nassif, divulgada em um blog, não poderia abalar a maior revista do País.

Enquanto a Editora Abril possui a revista Veja, de circulação semanal e tiragem superior a um milhão de exemplares, e os blogs dos colunistas Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, no outro lado da trincheira uma série de blogs aderiram à "causa" de Nassif, multiplicando os links para os textos sobre a revista Veja.

Há quem enxergue na disputa, além das correntes pró e contra Daniela Dantas e governo Lula, um embate entre um veículo tradicional, impresso, com 1,2 milhão de leitores, e um canal de comunicação novo - blog. Alguns analistas viram na campanha publicitária institucional patrocinada pela revista Veja no primeiro semestre como um sinal de que a Editora Abril teria sentidfo o "golpe" das críticas à sua maior revista, e estaria tentanbdo reverter uma suposta queda na circulação.

Nassif acusou a revista Veja de praticar "abuso de poder ao fazer reportagens sob a ótica subjetiva, em vez da objetiva, por meio de fatos". A seu ver, "a falta de clareza está nas intenções editoriais da revista, que não se presta nem ao menos a abrir espaço para o outro lado". Em seu blog, ele garante que que "não se presta meramente ao papel de acusar a Veja, mas traz elementos que comprovam a marca “panfletária” da revista".

Segundo Nassif, o maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos foi o que ocorreu com a revista Veja. "Gradativamente, o maior semanário brasileiro foi se transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo, recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu caminho, envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico.", desabafou.

Comentário

Ao comentar "mais um processo", Nassif afirmou em seu blog que alguns articulistas da revista "têm autorização para matar: a Abril banca o advogado e as condenações". No site da Veja, segundo Nassif, "contrata-se blogueiro para os ataques mais baixos e desqualificadores". "Garante-se advogado e pagamento da condenação pecuniária dos profissionais contratados para a tarefa. Condenação criminal é quase impossível, em virtude dos prazos dos processos", disse.

Para Nassif, a revista procura "calar os críticos" com ataques à honra pessoal e ações judiciais. "Na outra ponta, busca-se calar os críticos entupindo-os de injúrias (em 1,2 milhão de exemplares) e processos. São custos altos para a defesa e custos altos para as ações contra a revista", observou.

Especificamente sobre a nova ação, Nassif afirmou que a disputa significa "o gigante contra a pessoa física". "Só que não irão me dobrar. E não me farão apelar para baixarias, que continuarão exclusividade da Veja e de seus profissionais", comentou em nota divulgada em seu blog.

"Essa pressão mostra, além disso, a real dimensão desse rapaz, o Mainardi. Sua força reside exclusivamente no direito de escrever o que quiser para 1,2 milhão de exemplares - e ter as condenações bancadas pela Abril. Quando confrontado com a polêmica, ainda que desproporcional - um Blog contra a maior revista do país - demonstra sua fragilidade e sua real natureza: uma pessoa pequena e assustada", - finalizou.
Fonte:Blog Expresso da Notícia.

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