quinta-feira, 7 de agosto de 2008

SEGURANÇA PÚBLICA - RJ, violência, corrupção e a política dominante.

Zuenir Ventura, o cronista que definiu o Rio de Janeiro como cidade partida, voltou ao assunto em artigo recente para observar que, contrariando a sua natureza cheia de encantos mil, a antes gloriosa cidadela de São Sebastião está sendo governada pela pulsão da morte.

Segundo ele, "dói constatar que a Cidade Maravilhosa virou um lugar lindo para se morrer". Extermínio, balas certeiras e perdidas; mortes no varejo e nas chacinas que se repetem; crianças, velhos, mulheres, civis e militares atingidos a qualquer hora do dia e da noite e em todos os cantos da cidade. Interpela a política de insegurança do governador: a polícia que mais mata e mais morre só faz agravar a espiral da violência. O cronista se horroriza com o que lhe parece ser o mais terrível: "o que deveria ser um escândalo banalizou-se e tornou-se rotina".

O cidadão carioca está cansado de ler, todos os dias nos jornais, notícias de violência e corrupção. Anseia por saídas, não lhe agrada a condição de vítima potencial do próximo infortúnio. Na medida em que busque entender as causas de tanta brutalidade, o cidadão será posto diante do doloroso dever de constatar que a raiz do mal está na política.

Não é de hoje, mas se torna cada dia mais explícito: existe no Rio de Janeiro uma poderosa malha de cumplicidades que articula o crime, a corrupção e os esquemas eleitorais das máquinas partidárias que, para infelicidade do cidadão, dominam a política da cidade. Os tiranetes do varejo do tráfico e os barões que financiam o atacado do mesmo negócio; os chamados "centros sociais" dos currais de clientela e o "templo é dinheiro" das religiões de rebanho são elos de uma cadeia que articula o ilícito com o intestino grosso da pequena política que nos governa.

O caso das milícias, configuração mais explícita de vínculo entre a truculência da força e a dominação política, é a prova provada de que o fenômeno perverso já ultrapassou todos os limites do suportável. O noticiário recente ilustra de maneira categórica o comprometimento das máquinas eleitorais dominantes com a atividade criminosa. Todos sabem, até as pedras da rua, apenas os titulares do poder político (e os candidatos beneficiários do esquema) fingem desconhecer.

O deputado Natalino foi preso em flagrante, com munição e armamento pesado em sua própria casa. Ele é do DEM-PFL, partido do prefeito e da candidata Solange. César Maia, aliás, saudou com entusiasmo o surgimento das milícias, vistas por ele como "autodefesa comunitária" e solução para o problema da segurança.

O vereador Jerominho, que também está preso, é do PMDB do governador Cabral e do candidato Eduardo Paes, outro que saudou com entusiasmo o surgimento das milícias. O ex-governador Garotinho, campeão de processos, é o presidente do Diretório Regional do grupamento partidário que agrega a maioria dos "homens de bens" na Assembléia Legislativa, como o deputado Álvaro Lins, por um fio, e o atual homem forte da máquina, Jorge Picciani. Por essas e outras, é conhecido na praça como o partido da moral homogênea.

O deputado Jorge Babu, do PT de Lula e do candidato Molon, foi citado pelo promotor público Jorge Magno por envolvimento com criminosos em depoimento na CPI das Milícias. Um irmão dele, originário do mesmo esquema, é candidato a vereador na chapa petista. O ex-bispo Crivella, o "anjo mau" do morro da Providência, ostenta o apoio do Lula e de um elenco de candidatos a vereador de alentada "folha corrida", que ele chama de "iluminados".

O presidente, o governador, o prefeito e o bispo, diante dos esquemas sujos dos currais que lhes rendem votos, fazem cara de paisagem e até produzem hipócritas declarações de crítica. Uma coisa, no entanto, é certa: a vista grossa dos caciques sustenta a malha de cumplicidades que arrasta o Rio para a "hora da morte". Cabe ao cidadão não dizer "amém": votar contra o esquema que articula violência, corrupção e a política dominante.

Léo Lince é sociólogo.
Fonte: Correio da Cidadania.

Um comentário:

Anônimo disse...

E daí...?O que estás fazendo para mudar tal "quadro"?Por que não há pessoas no planeta terra renunciando seus próprios vínculos que o fazem serem coniventes com tais atitudes reclamadas?Até quando seremos o desequílibrio e paradoxalmente reclamantes das anormalidades[violência]?O Rio tem Jeito!O Brasil tem jeito!A África tem jeito!O Planeta terra tem jeito!A violência tem jeito!O que não jeito são os seres humanos pois são incapazes de "enxergarem" além...ou seja,estão atados a um "modelo educacional mundial"perverso e ultrapassado.Tenho dito:A violência é uma indústria fabricada pelos seres humanos que gera lucros e que proporciona felicidades e o mais lamentável é que não existem seres humanos capazes de renunciarem e de repudiarem os "meios" que fazem com que o espírito" da mesma alimente-se e floresça.EX:Conheces o "DIREITO DE ANTENA"?Que tal informar ao seu leitor sobre tal direito?Conheces algum jornalistas "reclamando" da ditadura imposta pelos veículos de comunicação?Por que tu não escreves sobre esse tipo de violência? E talvez terás acesso a mídia.Muitas coisas boas e boa tarde.