Estamos todos de acordo que, ao eleger Dilma Rousseff nas eleições de outubro, os brasileiros optaram pela continuidade do governo Lula, que chega ao final com inéditos índices de aprovação em todas as pesquisas. Também é verdade, porém, que toda troca de governo gera grandes expectativas, renova esperanças, sugere novos caminhos e novas caras na condução do país.
Pelo que vimos até agora, exatamente a um mês da posse da presidente eleita, não há grandes surpresas nem novidades na indicação dos nomes já confirmados para o governo de Dilma. Tudo bem que em time que está ganhando não se mexe, mas o jogo político é um pouco mais complicado do que o futebol.
Todos sabemos, de outro lado, que em alguns setores do governo as coisas já não vinham funcionando bem, em especial na área de serviços públicos, exigindo mudanças de métodos e no comando das gestões. Até no futebol, quando há troca de técnico, muda-se também o jeito de jogar e a escalação do time
Não é porque mais de 80% da população apóia Lula que a população está satisfeita com o trabalho do governo nas áreas de saúde, segurança, transportes, educação e saneamento, por exemplo, como demonstram as mesmas pesquisas.
Nem se trata de saber se é certo manter ou não os mesmos nomes ou fazer uma troca de cadeiras de ministros, mas de estabelecer um critério para a população saber, desde o primeiro dia, que o governo brasileiro está sob nova administração. Mais do que nomes, são sinais simbólicos que marcam a passagem de um governo para outro.
Embora tenha 37 cargos ministeriais para distribuir entre os aliados e tentar agradar a todos os partidos, às lideranças, tendências e bancadas dos partidos, mais os governadores e os interesses regionais, sem falar nas sugestões do presidente Lula _ ou seja, um quebra-cabeças difícil de montar, já que a oferta é maior do que a demanda e as contas não fecham _ é vital para Dilma reservar um espaço para ela mesma e surpreender a freguesia com algo ou alguém que ninguém esperava.
Oito anos atrás, por exemplo, nesta mesma época, o então candidato eleito Lula surpreendeu o PT e o mundo ao nomear o médico sanitarista Antonio Palocci para o Ministério da Fazenda e o banqueiro tucano Henrique Meirelles para o Banco Central. Não parou por aí. Procurou saber quem eram os melhores profissionais para as áreas de Agricultura e Comércio Exterior, respectivamente Roberto Rodrigues e Luiz Furlan, e não se preocupou em saber que ambos tinham acabado de apoiar ostensivamente a campanha do seu adversário, José Serra. Os dois foram nomeados ministros do governo do PT.
Ninguém está sugerindo que Dilma vá recrutar quadros no PSDB, no DEM e no PPS, até porque lá parecem estar em falta, mas ela poderia abrir seu olhar para a sociedade e pensar em perfis como o de Drauzio Varella, para a Saúde, e de Danilo Miranda, para a Cultura, há anos o grande animador e gestor do SESC de São Paulo. Nem sei se eles pertencem a algum partido.
É verdade que já tem paulista demais nesta história, e os aliados nordestinos, os grandes vitoriosos desta eleição, têm todo o direito de reclamar e reivindicar mais espaço no governo da presidente eleita. Certamente é danado de grande o desafio colocado para Dilma. Mas vai ficar maior ainda se continuar esta queda-de-braço entre PT e PMDB para ver quem fica com o maior naco da Esplanada.
Seria bom não esquecer o que aconteceu com o PMDB em dezembro de 2002, quando o partidão também não se contentou com os ministérios que lhe ofereceram, e bateu o pé para ficar também com o de Minas e Energia. Irritado com a ganância, Lula mandou José Dirceu, o coordenador político da transição, dizer ao PMDB que então o partido não ficaria mais com ministério nenhum. E deu no que deu: a grande crise política de 2005. Como se costuma dizer, é impossível governar o país sem o PMDB, e é muito difícil governar com ele.
Custa acreditar que um partido grande como o PMDB não tenha mais ninguém a oferecer ao país além de Moreira Franco e Edison Lobão. Parceiro na vitória, o partido do vice Michel Temer agora também é responsável pelo governo e precisa conter a sua gula para não ser um permanente gerador de crises, assim como o PT precisa se convencer de que não pode ser um partido de oposição no governo.
O problema não é saber se o presidente Lula está dando ou não muito palpite no governo da companheira Dilma, mas se a presidente eleita será capaz de indicar ao país os melhores nomes para cada função, tanto do ponto de vista político como profissional, independentemente de serem homens ou mulheres, brancos ou negros, altos ou baixos. Que sejam brasileiros de qualidades incontestáveis, acima de qualquer suspeita. Para isso, ela precisa começar a apresentar alguma novidade e, em algum momento, surpreender o distinto público para mostrar a que veio. Ainda é tempo.
Fonte: Balaio do Kotscho.
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