segunda-feira, 9 de maio de 2011

ECONOMIA - Brasil, mercado seguro para as multinacionais.

''Hoje, o Brasil é mais seguro do que os países ricos”, afirma presidente mundial da Whirlpool


Segundo maior mercado mundial para a Whirlpool - fabricante de eletrodomésticos proprietária das marcas Brastemp e Cônsul -, o Brasil é visto pela empresa como um "porto seguro" de crescimento. Segundo o presidente mundial da companhia, Jeff Fettig, a velocidade de crescimento da operação brasileira é três vezes maior do que a mundial - e o País divide com a Índia o posto de mercado mais aquecido no mundo.

Por isso, o ritmo de investimentos local seguirá forte: o valor aportado na operação brasileira, que ficou em US$ 180 milhões em 2010, deve crescer até 30% este ano. O número de produtos lançados dobrou de 100, em 2007, para 200, no ano passado. Tudo isso para atender à demanda da nova classe média. "O crescimento no Brasil é sustentável porque se baseia no surgimento de uma nova classe de consumidores", diz o presidente da Whirlpool.

Fettig, que esteve no Brasil durante esta semana afirma que, nos últimos anos, o Brasil protagonizou uma troca de papéis com outros mercados. Atualmente, diz, são países como Brasil e Índia que oferecem alguma previsibilidade aos resultados da companhia. "Hoje, o Brasil é mais seguro do que os países ricos. Ocorreu uma clara inversão de papéis”, disse ele em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, 07-05-2011.

Eis a entrevista.

O Brasil ganhou importância relativa para a Whirlpool ao longo dos últimos cinco anos?

A mudança foi marcante. Estamos no Brasil há 60 anos. Houve sempre uma tendência de crescimento, mas também vivemos quebras nos ciclos econômicos. Olhando para trás, foi só em meados da última década, a partir de 2005, que o Brasil se tornou um mercado global. Para a Whirlpool, já é o segundo maior mercado individual do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O País representa 50% do resultado da América Latina, atualmente a segunda região mais importante para a empresa, atrás apenas da América do Norte. Hoje, ao lado da Índia, o Brasil é o país em que as nossas vendas crescem com mais rapidez.

Quais são as bases do crescimento da empresa no País?

Primeiro, estamos aqui há 60 anos, conhecemos a história. E, em segundo lugar, temos um ótimo time no Brasil. Em 2004, estávamos no fim de um período de crise, e fiz aqui uma reunião com a equipe. Todos deram ótimas ideias e estavam animados com os projetos. Na época, previ que o Brasil se solidificaria e poderia ser um mercado tão estável quanto o dos Estados Unidos. Mas eu estava errado. O Brasil costumava ser imprevisível, mas se solidificou como um porto seguro de expansão. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, houve uma reversão de papéis com os países desenvolvidos, à medida que os resultados em muitos mercados maduros ficaram menos confiáveis do que no passado.

O comportamento do Brasil no pós-crise ajudou a consolidar uma nova imagem sobre o País?

Sem dúvida. Nos anos 1970, 1980 e 1990, experimentamos rápidos períodos de expansão, entrecortados por declínios acentuados. O Brasil passou pelo teste da crise econômica de 2008 e rompeu esse padrão. Acho que a estabilidade política é clara, assim como os benefícios trazidos pelo uso dos recursos naturais. Mas o item mais importante é a emergência de uma nova classe de consumidores. Com uma população jovem e com renda disponível, o Brasil se tornou o perfeito mercado emergente. Com a inclusão do consumidor, a tendência se torna sustentável.

Os investimentos da Whirlpool no mercado brasileiro vão continuar a crescer?

O investimento voltado para a operação local no Brasil certamente será cada vez maior - e esse crescimento será determinado pelo ritmo de expansão do mercado. Ainda é difícil dizer o quanto os investimentos no Brasil com vistas à exportação vão se comportar. Isso depende de políticas não só do Brasil, mas também dos países vizinhos, como a Argentina.

À medida que o mercado cresce, o desenvolvimento de produtos se torna mais complexo?

Acredito que há várias tendências nesse sentido. O acesso a informações e tendências pela internet e pelas mídias sociais criou um consumidor mais exigente. Isso significa que eles podem diferenciar os produtos oferecidos no mercado. O desafio é atender a todos os tipos de público. Com o crescimento da classe média, temos de reduzir os preços da máquina de lavar automática para que as semiautomáticas sejam substituídas. A ideia é permitir o acesso de mais pessoas a determinados produtos, dando mais opções ao comprador. Por outro lado, em São Paulo há lojas refinadas de produtos para o lar que não devem nada às similares de Paris ou Nova York. Por isso, temos a marca Cônsul, que atende às massas, e também a Kitchen Aid, para o consumidor de alto luxo.

A qualidade dos produtos de entrada, os mais baratos, aumentou ao longo dos anos?

A pessoa que está comprando um produto pela primeira vez precisa ver um custo-benefício claro em sua escolha, que representa um alto investimento em comparação com sua renda. Para o mercado de reposição, a ideia é mostrar evolução. Como as pessoas ficam até sete anos com seus aparelhos, elas vão querer produtos radicalmente diferentes. Então, é a hora de preencher aspirações do consumidor. O segredo, em ambos os casos, é inovar nos produtos de mais valor agregado e trazer essas novidades aos poucos para a base da pirâmide. No nosso negócio, passamos 50% do tempo pensando em inovar.

Qual é a importância da inovação local?

A inovação é sempre global e local. As grandes tendências tecnológicas são definidas de forma global. Por isso, nossos centros de inovação, incluindo os brasileiros, são tanto globais quanto regionais. No âmbito local, a discussão é como trazer rapidamente as descobertas para o mercado, adaptando-as para o gosto de diferentes consumidores. Aí entram questões como design, clima das diferentes regiões e entendimento dos hábitos de alimentação.

A marca Brastemp teve recentemente uma exposição negativa com o protesto de um cliente no YouTube. Como a Whirlpool reage a esse tipo de crise?

Não há dúvida que o Facebook, o Twitter e o YouTube viraram ferramentas usadas pelos consumidores. Para nós, é importante seguir de perto o que é dito sobre nós nas mídias sociais. Esses sites podem ser usados como uma forma de alerta antecipado a problemas. Acompanhar os comentários já faz parte do dia a dia da companhia.

Fonte:IHU

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