"Isso sempre foi assim. Estas barganhas sempre existiram, qual a
novidade? Não entendo a tua bronca. Você está ficando um velho ranzinza
ou perdeu a memória?", bronqueou comigo um velho colega jornalista,
mais cético do que cínico, enquanto a gente comentava na padaria o
noticiário sobre a MP dos Portos, que não sai mais das manchetes.
"Isso" a que ele se refere é o Congresso Nacional e o seu relacionamento com o Executivo, que nos últimos dias transformou a política nacional num inacreditável fim de feira em que ninguém mais se preocupa sequer em manter as aparências.
"Governo negocia liberar R$ 1 bi para aprovar MP", anuncia a manchete da "Folha", como se "isso" fosse a coisa mais normal do mundo no momento em que se discutem novas regras para promover investimentos privados nos sucateados portos nacionais.
Em desespero de causa, já que caduca na quinta-feira a MP 595 que estabelece novos marcos regulatórios para os portos, o governo acionou seus principais ministros na segunda-feira para "convencer" os partidos a votar a medida dentro do prazo, mas não houve jeito. A votação acabou adiada para a manhã desta terça-feira, e depois ainda terá que ser discutida no Senado.
Qualquer que seja o resultado da votação, e a esta altura ninguém sabe qual foi o efeito da liberação de verbas para as emendas parlamentares, o fato é que acabou esta história de hierarquia eclesial no Congresso Nacional. Está tudo dominado: quem manda agora é o chamado "baixo clero", que passou a ser o porta-voz de "altos interesses", resguardando seus chefes clericais. É a tal história: se o governo não libera verbas, outros estarão dispostos a fazê-lo com o maior prazer.
Por onde andam as grandes lideranças partidárias que nestas horas apareciam para colocar ordem no circo e um pouco de civilidade no debate? Quando diziam a Ulysses Guimarães, um dos últimos desses grandes líderes parlamentares que tivemos, que este é o pior Congresso que o país já teve, ele apenas sorria de lado: "Você diz isso porque ainda não viu o próximo...".
Cito apenas o amigo doutor Ulysses para não ser injusto e esquecer os nomes dos muitos outros políticos da melhor qualidade com quem convivi no Congresso Nacional _ até mesmo, e eu diria principalmente, durante os piores períodos da ditadura militar. Em compensação, hoje temos novos heróis como Eduardo Cunha, Marco Feliciano...
Outro dia comentei aqui sobre o envelhecimento precoce do PSDB pela falta do surgimento de novas lideranças, mas o mesmo vale também para outros partidos representados no Congresso Nacional. "Somos um eleitorado em busca de um partido", reconhece o próprio senador Aloysio Nunes Ferreira Filho (PSDB-SP), um dos expoentes do grupo de José Serra.
As coisas realmente mudaram muito. No meu tempo, quando os senhores do "baixo clero" ainda não haviam se tornado dominantes, eram os partidos que buscavam um eleitorado para chegar ao poder, sem a ajuda do Supremo Tribunal Federal e da Procuradoria Geral da República.
Blog do Ricardo Kotscho.
"Isso" a que ele se refere é o Congresso Nacional e o seu relacionamento com o Executivo, que nos últimos dias transformou a política nacional num inacreditável fim de feira em que ninguém mais se preocupa sequer em manter as aparências.
"Governo negocia liberar R$ 1 bi para aprovar MP", anuncia a manchete da "Folha", como se "isso" fosse a coisa mais normal do mundo no momento em que se discutem novas regras para promover investimentos privados nos sucateados portos nacionais.
Em desespero de causa, já que caduca na quinta-feira a MP 595 que estabelece novos marcos regulatórios para os portos, o governo acionou seus principais ministros na segunda-feira para "convencer" os partidos a votar a medida dentro do prazo, mas não houve jeito. A votação acabou adiada para a manhã desta terça-feira, e depois ainda terá que ser discutida no Senado.
Qualquer que seja o resultado da votação, e a esta altura ninguém sabe qual foi o efeito da liberação de verbas para as emendas parlamentares, o fato é que acabou esta história de hierarquia eclesial no Congresso Nacional. Está tudo dominado: quem manda agora é o chamado "baixo clero", que passou a ser o porta-voz de "altos interesses", resguardando seus chefes clericais. É a tal história: se o governo não libera verbas, outros estarão dispostos a fazê-lo com o maior prazer.
Por onde andam as grandes lideranças partidárias que nestas horas apareciam para colocar ordem no circo e um pouco de civilidade no debate? Quando diziam a Ulysses Guimarães, um dos últimos desses grandes líderes parlamentares que tivemos, que este é o pior Congresso que o país já teve, ele apenas sorria de lado: "Você diz isso porque ainda não viu o próximo...".
Cito apenas o amigo doutor Ulysses para não ser injusto e esquecer os nomes dos muitos outros políticos da melhor qualidade com quem convivi no Congresso Nacional _ até mesmo, e eu diria principalmente, durante os piores períodos da ditadura militar. Em compensação, hoje temos novos heróis como Eduardo Cunha, Marco Feliciano...
Outro dia comentei aqui sobre o envelhecimento precoce do PSDB pela falta do surgimento de novas lideranças, mas o mesmo vale também para outros partidos representados no Congresso Nacional. "Somos um eleitorado em busca de um partido", reconhece o próprio senador Aloysio Nunes Ferreira Filho (PSDB-SP), um dos expoentes do grupo de José Serra.
As coisas realmente mudaram muito. No meu tempo, quando os senhores do "baixo clero" ainda não haviam se tornado dominantes, eram os partidos que buscavam um eleitorado para chegar ao poder, sem a ajuda do Supremo Tribunal Federal e da Procuradoria Geral da República.
Blog do Ricardo Kotscho.
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