Dos muitos tipos de ração oferecidos pela direita nacional a seus
súditos hidrófobos, a mais comum é essa baseada na deturpação histórica
de fatos, de modo a criar um ambiente, ainda que artificial, de
satisfação ideológica.
A hipótese de que Lula foi informante do DOPS, durante a ditadura
militar, é esdrúxula por si, mas não se trata de um movimento original.
Longe disso.
Em 2009, um colunista da Folha de S.Paulo, César Benjamim, acusou Lula
de ter estuprado um menino do Movimento de Emancipação do Proletariado
(MEP), enquanto esteve preso, no início da década de 1980.
Benjamin é um ressentido clássico. Participou da luta armada durante a
ditadura militar, ajudou a fundar o PT e, na meia idade, foi vítima de
um surto conservador não muito raro entre oportunistas.
Deu-se, então, ao desfrute da calúnia pura e simples em troca do
beneplácito da mídia e da direita que sempre o odiou. Não ganhou uma
coisa nem outra. Apenas se tornou, primeiro, patético, para, logo
depois, ser esquecido.
Em 2010, não satisfeita com o vexame de Benjamin, a Folha fez publicar,
na primeira página, uma ficha do DOPS falsa da então candidata do PT à
Presidência, Dilma Rousseff. A ideia (na verdade, pretensão) era a de
colar em Dilma a pecha de guerrilheira e fria assassina, um bicho-papão
da classe média ressuscitado da Guerra Fria. Era contra Dilma, mas o
alvo era Lula.
O alvo sempre foi – e sempre será – Lula.
Agora, nos vem outro peralta ressentido, o delegado Romeu Tuma Jr., com
outro menino do MEP na manga. Desta vez, Lula é acusado de ter sido
informante do DOPS. Provas? A possibilidade de haver um informe interno,
reservado e sigiloso, com as inconfidências de um certo “Barba”. Isso
em uma época em que possivelmente todos os informantes, inclusive os que
adiantavam os números do bicho para a polícia, usavam barba.
Tuminha foi demitido do Ministério da Justiça quando lá ocupava o cargo
de Secretário Nacional de Justiça, em 2010. Foi flagrado pela Polícia
Federal trocando telefonemas com Li Kwong Kwen, o Paulo Li, chefe da
máfia chinesa trazia celulares falsificados procedentes da China para o
Brasil. A quadrilha também intermediava vistos de permanência no Brasil
para imigrantes chineses em situação irregular, uma área sob
responsabilidade de Tuma Jr.
Esperou o momento certo para se vingar com este livro de revelações tão
bombásticas quanto vazias. Veio, claro, pela Veja, o esgoto certo para
essas coisas.
Leia aqui o que a Veja achava dele, Tuminha, em 2010:
Então, se ainda hoje um intrépido repórter do Jornal Nacional aparecer
com um exclusivíssimo documento do DOPS com notícias de um informante
chamado “Barba”, por favor, não me acordem.
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