terça-feira, 21 de janeiro de 2014

POLÍTICA - Isso é história!

Notícias engasgadas nos 30 anos das “Diretas Já”


rolezinho Notícias engasgadas nos 30 anos das Diretas Já
Reforma ministerial com o PMDB querendo mais boquinhas e chantageando o governo; a polêmica dos "rolezinhos" e "rolezões" agitando a polícia e os sociólogos; mais mortes no presídio macabro de Pedrinhas; a corrupção sem corruptos nas investigações sobre o cartel do metrô paulistano; as obras inacabadas da Copa; o time do São Paulo dando vexames em diferentes categorias; o cai-não-cai da Portuguesa: antes de completar um mês de vida, 2014 já está parecendo um ano velho, começando exatamente como 2013 terminou, sem novidades capazes de emocionar os caros leitores.
É um festival daquilo que o brilhante Tutty Vasques, o Zé Simão do Estadão, chama de "notícias enguiçadas", aquelas que giram sempre em torno do mesmo eixo e não saem do lugar. Sem que tenha surgido até agora sequer a musa do verão carioca, em sua coluna de hoje Tutty constata, sob o título "Agenda positiva", que "o banho de espuma é a grande novidade das praias cariocas". Descobrir a origem da espuma branca passa a ser nos próximos dias o desafio dos pauteiros do  jornalismo investigativo.
O quadro é tão desalentador para quem vive de contar novidades que o principal fato político do ano até agora foi a nomeação de Aloizio Mercadante para a Casa Civil, o que não chega a ser propriamente uma novidade. Meu amigo Aloizio desta vez ganhou por W.O., quer dizer, não tinha concorrente.
Outro coleguinha, Ilimar Franco, do Globo, garimpou esta pérola para preencher o espaço da sua coluna diária: "As reformas que o Brasil anseia (...) melhor ambiente trabalhista, maior sustentabilidade para a Previdência". A autoria é do Instituto Teotônio Vilela, que provocou este comentário do colunista: "Texto enigmático (Reforma do Nada) distribuído pelos tucanos".
Você pode percorrer todo o noticiário impresso ou navegar pelos portais que não sai muito disso: mais do mesmo. Agora, pelo menos vamos ter uma trégua na novela da reforma ministerial, já que a presidente Dilma vai passar uma semana fora do país e só volta no meio da semana que vem. Como os poderes Legislativo e Judiciário continuam gozando de suas merecidas férias, a tendência só é aumentar o vazio e deixar o espaço livre para as tais "notícias enguiçadas".
 Notícias engasgadas nos 30 anos das Diretas Já
Procurado por vários colegas para falar sobre os 30 anos da campanha das Diretas Já _ você percebe que está ficando velho quando dá mais entrevistas do que faz... _ me dei conta da grande diferença do clima que vivemos neste 2014 daquele que marcou a passagem de 1983 para 1984.
Mais de 70 entidades da sociedade civil e partidos políticos de oposição ao regime militar haviam se reunido durante vários meses para organizar o evento do dia 27 de novembro de 1983, em frente ao estádio do Pacaembu, que deveria marcar o lançamento da campanha das Diretas Já. Mas este primeiro ensaio fracassou, com apenas 15 mil pessoas reunidas na praça Charles Miller. Entre outros motivos, porque os partidos de oposição estavam e o movimento pelas eleições diretas para presidente da República dividiram as atenções com um ato no mesmo local contra a intervenção americana na Nicarágua e o clássico Santos e Corinthians, disputado na mesma tarde.
Apenas um mês depois, no dia 25 de janeiro de 1984, que foi um divisor de águas na nossa História, marco da redemocratização do país, agora com a oposição unida, mais de 300 mil pessoas lotaram a praça da Sé no primeiro grande comício das Diretas, que deu início ao maior movimento cívico já visto em nosso país. Com 30 anos a menos no lombo, vibrei com  o que vi e comecei deste jeito minha matéria, sob o título "Na Sé, um brado retumbante pelas diretas":

"Ouviram do Ipiranga, às margens plácidas/De um povo heroico o brado retumbante."
Nunca, antes, em sua história de 430 anos completados ontem, São Paulo viu algo igual _ centenas de milhares de pessoas, transbordando da praça da Sé para todos os lados, horas debaixo de chuva, num grito uníssono: eleições diretas para presidente.
Nunca, antes, foram tão verdadeiros os versos do nosso Hino.
O brado engasgado na garganta durante vinte anos explodiu na praça da Sé. O pranto travado correu pelos rostos de gente muito vivida, os braços se ergueram, dando-se as mãos uns aos outros, toda gente cantando junto o Hino Nacional, no encerramento deste festa pelas eleições diretas _ a maior manifestação pública a que o Brasil já assistiu". 

A história completa deste e dos outros comícios que varreram o Brasil de ponta a ponta está no meu livro Explode um Novo Brasil _ Diário da Campanha das Diretas, lançado pela Editora Brasiliense, poucos dias após a derrota da Emenda das Diretas no Congresso Nacional. Naquele 21 de abril de 1984, faltaram apenas 22 votos para que os brasileiros voltassem a eleger diretamente seu presidente da República. A ditadura agonizou ainda por cinco anos, mas ali começou um novo momento da vida brasileira, o nosso mais longo período de democracia plena, Estado de Direito e respeito às liberdades públicas.
Dentro de alguns meses, teremos a sétima eleição direta para presidente após a redemocratização e nada melhor do que aproveitar esta entressafra de notícias para lembrar como tudo começou. O consagrado jornalista e escritor Laurentino Gomes (autor de 1808, 1822 e 1889)  situa neste momento de afirmação do povo brasileiro a verdadeira fundação da República, 95 anos após a Proclamação. Ali, pela primeira vez, o povo tomou o destino em suas mãos, foi o protagonista da História.
Vida que segue.
Blog Balaio do Ricardo Kotscho.

Nenhum comentário: