sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

POLÍTICA - Sabedoria de Mandela.

Sabedoria do Mandela

Por Fernando Nogueira da Costa

Nelson Mandela escreveu em sua autobiografia: “Apesar de eu ler uma variedade de jornais do país inteiro, os jornais são uma sombra pálida da realidade; as informações que eles contém são importantes para um guerreiro pela liberdade não porque elas revelam a verdade, mas porque elas revelam os preconceitos e percepções tanto daqueles que produzem o jornal quanto daqueles que o leem.” A sábia dedução é que não devemos deixar o ódio político embaçar nossas vistas quanto à importância da defesa da liberdade da imprensa.
Sua sensibilidade, gradualmente, permitiu-lhe descobrir novos instrumentos políticos que não a confrontação direta via luta armada, substituindo-a, por exemplo, pela desobediência civil em massa. Sempre, de acordo com a tradição cultural de seu povo, em festa contagiante embalada por música e dança.
Richard Stengel, autor do livro Os Caminhos de Mandela: Lições de Vida, Amor e Coragem foi quem ajudou Nelson Mandela a escrever sua autobiografia (Longa Caminhada até a Liberdade) e produziu o documentário Mandela, indicado ao Oscar em 1996. Ele compilou quinze lições de sabedoria e liderança.
1 – Coragem não é ausência de medo. Ninguém nasce corajoso. Tudo está na maneira como reagimos a diferentes situações. Coragem não é ausência de medo. É aprender a superá-lo. Finja que você é corajoso – e então você se torna corajoso.
2 – Seja ponderado. No meio de situações turbulentas, seja calmo e procure a calma nos outros. Não se apresse, pense, analise, só depois aja.
3 – Lidere na frente. É absolutamente necessário, às vezes, o líder agir independentemente, sem consultar ninguém, e apresentar o que fez à organização. Ser responsável implica em assumir as consequências. Líderes devem não apenas liderar, devem ser visto liderando.
4 – Lidere na retaguarda. Não há nada que faça outra pessoa gostar mais de você do que lhe pedir sua ajuda. Quando você reconhece a opinião dos outros, aumenta a lealdade deles a você.
5 – Represente o papel. A melhor forma de ajudar os outros a ver seu caráter é por meio da maneira como você se apresenta. As aparências importam e temos somente uma chance de causar a primeira impressão. Assim como fingir que se é corajoso pode se tornar coragem real, sentir que nos vestimos como a pessoa que queremos aparentar nos deixa mais próximos de nos tornarmos aquela pessoa. Decida quem você quer ser, crie a aparência e então a realidade daquela pessoa. Torne-se, então, quem você quer ser.
6 – Tenha um princípio essencial – todo o resto é tática. Apenas um: direitos iguais para todos, independentemente de raça, classe ou gênero. Quase todo o resto é tática. Pragmatismo significa estar disposto a chegar a um acordo, mudar, adaptar e refinar sua estratégia, desde que isso leve à conquista de sua meta maior. Quando as condições mudam, você deve mudar sua estratégia e sua mente.
7 – Veja o que há de bom nos outros. Comece um diálogo com o adversário com a suposição de que está lidando com boa fé. Julgando que o que há de bom nas outras pessoas melhora as chances de que elas revelarão o melhor de si. Não se trata de não ver o lado sombrio de alguém, mas sim de não estar disposto a ver apenas isso – e ser maniqueísta. Ninguém é puramente bom ou puramente mal.
8 – Conheça seu inimigo. É importante conhecer seu adversário na arena política. Conhecer o inimigo não é apenas uma tática, mas um ato de empatia. E quando você conquista seu inimigo, nunca se vanglorie disso. Não o humilhe sob nenhuma circunstância. Deixe-o salvar as aparências. Então, você conseguirá transformar seu inimigo em seu aliado.
9 – Mantenha seus rivais por perto. Você pode confiar nos seus amigos, no sentido que sabe que eles, grosso modo, irão apoiá-lo, e pode confiar em seus inimigos, no sentido de que supõe que eles sempre se oporão a você. Mas seus rivais amistosos são aqueles que você realmente precisa não perder de vista. Fique perto o suficiente para vê-los se aproximar…
10 – Saiba quando dizer não. Mesmo que tenha um instinto quase sobrenatural para agradar, mesmo que odeie desapontar as pessoas, seja totalmente adepto de dizer “não”. Muitas questões se resolvem por si mesmas. Mas se você está demorando ou evitando dizer “não”, porque é desagradável, melhor dizê-lo na hora e claramente. Você evitará problemas futuros. Ao mesmo tempo, não diga o “não” quando não é necessário dizer. Por que ser rude quando não é preciso?
11 – É um jogo demorado. Quando é jovem, é impaciente: quer a mudança logo. Vá mais devagar, pois a pressão com frequência leva ao erro e ao mau julgamento. Aprenda como adiar a gratificação. Permaneça no caminho, lento e atento para evitar que algo desagradável aconteça antes de chegar ao fim desejado.
12 – O amor faz a diferença. Nunca desista do amor, nem mesmo quando ele foi adiado – ou está inacessível.
13 – Desistir também é liderar. Mude suas ideias apenas quando confrontado com a evidência de que, se não o fizer, terá consequências negativas. Quando mudar de ideia, defenda a nova com o zelo do recém-convertido. Ceder um acordo pode ser uma vitória: significa que você está passando para o lado vencedor.
14 – Sempre ambos. A consistência, por si só, é uma falsa virtude; a inconsistência não é automaticamente uma falha. Os humanos são criaturas complexas, as pessoas têm uma miríade de razões. Diante de alternativas, a resposta quase sempre é “ambas”. A razão por trás de qualquer ação raramente é clara. Não há explicações simples para as perguntas difíceis. Se cultivarmos o hábito de considerar todos os lados de uma questão, ou seja, de analisar o bom e o mau em nossas mentes, podemos ver soluções que de outra forma não nos ocorreriam.
15 – Encontre sua própria horta. É necessário ter um lugar à parte. Um lugar onde possa se perder para se encontrar, espécie de ilha particular. Acalma sua mente. Distrai das preocupações constantes sobre o mundo exterior. Não é um lugar de retiro, mas de renovação. Não há nada mais relaxante do que se concentrar em uma tarefa agradável que ocupe a mente sem a sobrecarregar. Cada um de nós precisa de algo alheio ao mundo que nos dê prazer e satisfação, um lugar à parte.
Fernando Nogueira da Costa é Professor Livre-docente do IE-UNICAMP. Autor do livro “Brasil dos Bancos” (Edusp, 2012). http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/  E-mail: fernandonogueiracosta@gmail.com.

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