Como foi a emboscada à caravana de Lula que resultou em quatro tiros em dois ônibus
Publicado no Brasil de Fato
“Isso não é manifestação pacífica, democrática, é um atentado”. A afirmação é de Gleisi Hoffman, senadora e presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), em entrevista na noite desta terça-feira (27) sobre os dois ônibus da Caravana Lula pelo Brasil que foram alvejados no final da tarde, na estrada entre a cidade de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, no Paraná. Não houve feridos. Um boletim de ocorrência foi aberto pelos organizadores e a Polícia Civil local já iniciou a perícia dos ônibus.
Os repórteres Leonardo Fernandes e Daniel Giovanaz, do Brasil de Fato, acompanham a caravana e relataram o ocorrido no vídeo abaixo:
O primeiro ônibus, com jornalistas que acompanham a caravana, recebeu dois tiros, um na sua parte frontal e um na lateral. O outro, onde estavam integrantes do PT e convidados, foi atingido em sua lateral. Há suspeita de que os tiros foram dados por pistola e revólver. Além disso, os ônibus tiveram seus pneus furados por miguelitos, uma espécie de cruz formada por pregos entrelaçados, jogados na estrada para diminuir a velocidade e facilitar a emboscada.
A Caravana Lula pelo Brasil na região Sul tem sofrido uma série de agressões desde seu início. Seus integrantes foram atingidos por ovos e pedras, como o ex-Deputado Federal Paulo Frateschi (PT), que teve sua orelha dilacerada por uma pedra atirada por um opositor, na cidade de Chapecó (SC). Já em Foz do Iguaçu (PR), o padre Idalino Alflen, de 64 anos, levou uma pedrada na cabeça e foi atropelado por uma motocicleta, minutos antes do pronunciamento de Lula.
De acordo com Hoffmann (PT-RS), os organizadores da Caravana vêm denunciado a escalada de violência desde seu início, mas não houve nenhuma garantia de segurança por parte da Polícia Militar dos respectivos estados, ou mesmo do Ministério da Defesa.
“A nossa caravana foi vítima de uma emboscada, podemos dizer isso claramente. Estão todos muito assustados, a violência contra a caravana vêm crescendo, nós já tínhamos denunciado isso. Mandamos um ofício com o roteiro da caravana, pedindo apoio da segurança. Falamos com o comando da PM. O fato é que não temos proteção. O nível de violência e ódio chegou a um ponto que precisamos da manifestação das autoridades desse país. Vamos deixar a política virar um bang bang? Temos um evento amanhã em Curitiba e tenho que saber o nível de segurança das pessoas que vão nesse evento. Ou não somos mais um país democrático?”, afirmou ela em coletiva logo após o atentado.
Negligência policial
Representantes do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD) entregarão amanhã (28) ao Ministério Público (MP) denúncias sobre os crimes praticados contra a caravana de Lula na região Sul. O CAAD está elaborando também uma denúncia da negligência policial em relação à essas agressões nos três estados da região Sul, que será entregue à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
De acordo com a advogada Tânia Mandarino, integrante do CAAD, a representação pediu para que as denúncias de ameaças de morte e violência contra o ex-presidente Lula, os integrantes e apoiadores da caravana, fossem entregues ao coletivo até esta terça-feira (27).
“Nós somos operadores do Direito, não podemos deixar esse crime acontecer contra a democracia, contra o Estado de Direito, contra o ex-presidente Lula e qualquer pessoa que acompanhar a Caravana. Isso é a polícia colocada com parcialidade para defender agressores”.
O CAAD realizou uma triagem das denúncias recebidas e, de acordo com Mandarino, já identificou pelo menos três agressores.
“Recebemos vídeos de agressões na Caravana, e também de companheiras de toledo que não conseguiram nem mesmo chegar até o ato da Caravana, porque foram impedidas por criminosos. Nós fizemos a triagem dessas denúncias, e encontramos inclusive advogados, que já identificamos com registro na Ordem dos Advogados Brasileiros, cometendo atos criminosos de ameaça, incitação à morte, à Lula. Tem um advogado que está com uma pedra na mão escrito ‘ovo geneticamente modificado’ em uma mensagem no Whatsapp, em um grupo no Rio Grande do Sul. É uma pedra, capaz de matar”, denunciou.
Outro lado
Procurada pelo Brasil de Fato, a Polícia Militar do Paraná informou que está fazendo policiamento preventivo de segurança pública em todos os locais de aglomerações, seja de pessoas favoráveis ou contrárias ao ex-presidente. “A Polícia está preparada para agir caso haja alguma necessidade”, afirmou a assessoria do órgão.
Para o ato de encerramento da caravana nesta quinta-feira (28), o órgão pontuou que vai acompanhar as movimentações nos lugares onde estão previstos atos públicos. O principal evento do dia vai ocorrer na Boca Maldita, praça localizada no centro de Curitiba.
A PM ponderou ainda que a estratégia de segurança envolve outras instituições e as investigações das agressões ocorridas são responsabilidade das polícias Civil e Federal.
Segundo assessoria do ex-presidente Lula, o Paraná foi o único estado da federação de todos os percorridos pela caravana a não fornecer uma escolta policial para a comitiva dos ônibus.
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