“Tem uma expressão muito comum no Brasil, historicamente empregada pela turma do "deixa disso", que prescreve a importância de "virar a página". Virar a página seria uma espécie de receita de superação, uma "bola pra frente" institucional, prevista nos manuais da cordialidade e da convivência pacífica, quase sempre imposta de cima para baixo a fim de camuflar um cala-boca opressor sob a aparência de uma cooperação positiva, voluntária, generosa.
Os três séculos de escravidão foram uma barbaridade? Viremos a página. A ditadura militar perseguiu, prendeu, torturou, exilou e matou? Viremos a página. Um pedreiro desapareceu, uma vereadora foi executada a tiros, um músico teve seu carro atingido por mais de oitenta tiros, uma jovem de 19 anos foi estuprada por dois policiais dentro de uma viatura? Viremos as páginas. E assim, de página em página, perpetuam-se os crimes, repetem-se abusos, passam-se as boiadas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário