quarta-feira, 9 de junho de 2021

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Quinta-feira, 3 de junho de 2021
É raro ler matérias como essa

Não é fácil cobrir conflitos no campo. É perigoso, custa caro e a mídia corporativa não dá atenção ao tema. Claro, esses conflitos estão ligados a grandes empresas e aos poderosos do agronegócio que com frequência anunciam nesses veículos ou mantêm relações com seus proprietários. A pistolagem compra as páginas dos jornais, as ondas de rádio e os canais de TV.

Acontece que indígenas, populações ribeirinhas e camponesas vivem em risco constante no Brasil e são comuns os ataques violentos a suas comunidades. Por isso o Intercept se esforça para ecoar denúncias sobre o tema e investigar com muito cuidado, mas sem abrir mão da coragem necessária. 

Na última segunda-feira, publicamos uma dessas reportagens e a repercussão da história foi enorme. Estamos muito orgulhosos e te escrevo hoje para contar um pouco dos bastidores. 

A reportagem, de Sabrina Felipe, trata do Grupo Maratá, do sergipano José Augusto Vieira. Ele é dono de um verdadeiro império agroindustrial que possui seis plantas industriais em Sergipe e produz mais de 150 itens. Produtos da Maratá estão nas mesas das famílias de todo o país – mas o que pouca gente sabe é que, para a construção de parte desse império, centenas de homens, mulheres, crianças e idosos pagam, no Maranhão, um alto preço que não é revelado ao consumidor final. 

Nós mostramos em vídeo e em texto como, pelo menos desde 2004, funcionários da Maratá expulsaram com ameaças, destruição e incêndios camponeses que vivem e trabalham na zona rural do município de Timbiras. O método não é novo: capangas da empresa chegam nas comunidades e dão um aviso de despejo porque a companhia deseja as terras. Diante da mínima resistência dos trabalhadores, recorrem a métodos violentos que vão de ameaças a tacar fogo nas casas. Nas palavras de um camponês, "O cangaço e a pistolagem estão comendo solto aqui".

Os relatos são chocantes e não é difícil compreender os desafios que estão envolvidos nesse trabalho. A Sabrina mergulhou nessa investigação porque recebeu uma bolsa Rainforest Journalism Fund, do Pulitzer Center. Uma das exigências para concessão da verba era justamente a garantia de protocolos de segurança, que nós aqui do TIB conseguimos dar graças ao apoio de milhares de pessoas.

Bom, você deve imaginar os altos custos para se publicar uma reportagem como essa. Ela envolve viagens, produção audiovisual, checadores, advogados. A bolsa ajudaria demais e não dava para perder a chance. Por isso, desenvolvemos um protocolo de segurança específico para essa cobertura e nos comprometemos com o Pulitzer Center a dar todo o suporte que fosse necessário à repórter em campo.

Além da assessoria jurídica, estabelecemos um protocolo que incluiu avisar autoridades sobre a presença da jornalista no local. Eu, que sou a editora responsável por essa reportagem, mantive contato diário com a Sabrina, monitorando o andamento da apuração e as condições de segurança.

Não posso entrar em mais detalhes das medidas que tomamos por questão de segurança, mas queria dividir um pouco desse processo já que, de acordo com a Unesco, o Brasil é o sexto país mais perigoso do mundo para os profissionais da comunicação. O levantamento mais recente publicado pelo órgão mostra que a maior parte das mortes de profissionais ocorreu em pequenas cidades. O Rio de Janeiro, com 13 assassinatos; a Bahia, com sete; e o Maranhão, com seis, foram os três estados que mais registraram casos desde 1995. 

Por isso, acho fundamental que nossos leitores saibam o tipo de risco que corremos quando denunciamos empresas como a Maratá. E também como o TIB atua em situações assim. Essa é uma luta difícil, distante dos grandes centros, mas essencial para a vida de milhares de trabalhadores de todo o país. Não vamos abrir mão dela. 

Nós não temos medo de encarar jagunços, empresários e latifundiários para contar as histórias que precisam ser contadas. O que nós tememos é que nos faltem os recursos necessários para esse tipo de cobertura.

Os custos que tivemos com essa reportagem sobre a Maratá foram cobertos pelas milhares de pequenas doações que recebemos dos nossos leitores. A todos que nos ajudam, muito obrigada! Se você ainda não faz parte do movimento que sustenta o trabalho do TIB e protege nossos jornalistas, por favor, considere nos apoiar. Não importa o valor, o essencial é termos mais gente conosco. Vamos, juntos, investigar a violência no campo?

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Um abraço,

Tatiana Dias
Editora Sênior

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