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A Operação “L” e os BRICS (Por Ilton Freitas)
A certidão de nascimento do mundo multipolar foi formalizada pelo documento publicizado ao público planetário em 11/02/2022, por ocasião das Olimpíadas de Inverno em Pequim. Os presidentes da Rússia e da China, respectivamente, Vladimir Putin e Xi Jin Ping, foram os signatários da "Declaração Conjunta da Federação Russa e da República Popular da China sobre as Relações Internacionais Entrando em uma Nova Era e o Desenvolvimento Sustentável Global." O documento é um marco geopolítico e resumidamente perpassa por todos os aspectos relevantes da política internacional, democracia e direitos humanos, pandemia, defesa da paz, revoluções coloridas, desenvolvimento compartilhado e sustentável, combate às mudanças climáticas, terrorismo, governança da internet, guerra comunicacional e muitos outros pontos. De lá para cá os acontecimentos se aceleraram num velocidade inaudita com a eclosão da "Guerra na Ucrânia". A rigor não se trata de uma guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, posto que são povos eslavos e conectados historicamente. Na verdade é um confronto entre Rússia e OTAN/EUA e o governo fantoche ucraniano repleto de elementos neonazistas em seu exército . Em consideração a bem sucedida operação militar da Federação Russa no campo de operações se pode sinteticamente dizer que coube aos russos cumprirem com o papel de "parteiros" do mundo multipolar. Da esquerda para a direita, o então presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, Lula, o presidente chinês Hu Jintao e o primeiro ministro da Índia, Manmohan Sing, em 2009 Sendo assim, a Operação "L" - matéria do meu texto anterior - é estratégica. Pois um dos grandes desafios do próximo governo brasileiro que será liderado pelo presidente Lula, será reconectar soberanamente o Brasil ao mundo multipolar. Sendo assim é mister recobrar o protagonismo que o País já teve por ocasião da fundação dos BRICS, e reassumir a condição de um dos principais animadores do bloco. Posto que o eixo virtuoso do desenvolvimento global se transmudou para o eixo Ásia-Pacífico, e os BRICS serão o principal bloco econômico, financeiro e tecnológico do século XXI. A Operação “L” e os BRICS[1]| por Ilton Freitas A condição sine qua non para o País superar os anos de infâmia, destruição e degradação legados pelo bolsonarismo, passa pelo êxito político e eleitoral da “Operação L”. A reconstrução econômica da nação é a tarefa prioritária imediata, posto que é inadmissível a convivência com a insegurança alimentar que açoita quase metade da população brasileira. O estado brasileiro desinfectado da atual escória governante demandará recuperar a capacidade de produzir políticas de inclusão social e produtiva com geração de renda e de empregos. Capacidade estatal a serviço do povo brasileiro é a receita para combater os efeitos da desconstituição dos fundamentos da economia patrocinados por imbecis liberalóides como Paulo Guedes, et caterva. Retomar os PACs[2] (Planos de Aceleração do Crescimento) e os respectivos investimentos públicos serão fundamentais para tirar a economia do atoleiro e gerar efeitos que minorem as desigualdades regionais e sociais. Outro passo decisivo terá que ser dado por um governo soberano conectado às transformações tectônicas da geopolítica contemporânea. Me refiro a retomada do protagonismo que o Brasil já teve por ocasião da fundação e da afirmação dos BRICS, na primeira década do milênio. Nesse sentido a senha foi dada pelo presidente chinês, Xi Ji Ping, no último dia 19/05, numa mensagem proferida à sessão de abertura da reunião virtual dos ministros das relações exteriores dos países do bloco. No conteúdo o presidente chinês exortou os países a estreitarem a cooperação econômica e o intercâmbio comercial e foi além. Xi defendeu que o bloco avance na coordenação dos grandes temas internacionais e regionais, incluso os relacionados à segurança e o equilíbrio do poder global. Posto que os interesses de cada nação devem ser acomodados harmonicamente, em contraposição à mentalidade de confronto daqueles governos prisioneiros do paradigma da Guerra Fria e da dominação dos mais fortes sobre os demais. Ou seja, a mensagem é clara, o novo paradigma do mundo multipolar é uma realidade inelutável para o presente e para o futuro. Por outro lado, as elites econômicas e políticas brasileiras – pelo menos em sua grande maioria - já deram sobejas demonstrações de que não possuem nenhum modelo de futuro. Para isso demandariam ter o conceito e um modelo de nação, conquanto que para uma certa mentalidade colonialista isso é anátema absoluto, ou, como a porno-política bolsonarista acusa, é “comunismo”! A opção preferencial do grande empresariado e de seus vocalizadores na mídia-empresa é a subordinação às grandes transnacionais, ao capital financeiro internacional e aos ditames políticos do império anglo-americano. O objetivo dessa elite consiste em atar sua inserção na globalização aos moldes elaborados por seus amos dos EUA. A rigor se trata de uma classe dominante rentista e conformada à condição de “burguesia compradora”. Desde o advento da Nova República em 1985, o que fizeram os principais expoentes das classes empresariais nos sucessivos governos, de Collor a Bolsonaro (exceção dos governos petistas de Lula e Dilma) foi aprofundar em grau e extensão a dependência ao núcleo central dos países capitalistas. De modo acrítico importaram a agenda neoliberal de rapina sobre a riqueza e o patrimônio público e seus efeitos nefastos como a concentração de renda, o desemprego, a precarização do trabalho e a naturalização das desigualdades sociais em espiral crescente. Portanto, em função do ethos dos setores majoritários do grande capital nacional não há outro modo de se inserir virtuosamente no mundo multipolar, que não seja através do estado nacional revigorado e robustecido por setores nacionalistas e progressistas. Por seu turno, e confiante no êxito da Operação “L” registro que o papel e a importância que o Brasil já teve para os BRICS precisará ser reconstruída, tendo em vista a conexão do País com o eixo mais dinâmico do crescimento econômico do século XXI, que é o continente eurasiano. Por esses dias à par do decadente e desmoralizado Forum Econômico de Davos, na Suíça, se reuniu o Fórum Econômico Eurasiano em Birshkek, no Quirguistão, com a participação dos países membros da União Econômica da Eurásia (EAEU)[3]; Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Bielorrússia e Armênia. Mais quatorze países enviaram delegações, dentre eles China e Vietnã e nações latino-americanas. O tema oficial do Fórum foi “A Eurásia na Era das Mudanças Globais: Novas Oportunidades de Investimentos”. Os países membros e convidados debateram o desenvolvimento estratégico nas áreas industriais, de transportes, de energia, finanças e conexão digital. Ademais e nos marcos do Fórum Eurasiano o ministro das relações exteriores, Sergei Lavrov, revelou o desejo da Argentina e da Arábia Saudita em se juntar aos BRICS ainda esse ano. Portanto, o eixo dinâmico do crescimento econômico mundial vem se articulando e se movimentando para gerar oportunidades e investimentos não só na escala regional da Eurásia, mas para todo o planeta. Há um contraste evidente com a situação do Ocidente devastado pelo neoliberalismo, rentismo, escassez de investimentos produtivos, monstruosas desigualdades sociais e a proliferação do neofascismo. Para reconectar o Brasil ao centro dinâmico do desenvolvimento econômico, que se transladou para o eixo Ásia-Pacífico, é mister não só a liderança do ex-presidente Lula. No fundamental se deve recompor um bloco histórico e dirigente que represente o capital produtivo nativo, os interesses das classes populares e trabalhadoras e o estado nacional e soberano. Não se trata de romper ou afrontar nossos parceiros comerciais tradicionais como a União Europeia e os Estados Unidos. Mas é decisivo compreender que no contexto de um mundo multipolar se deve saber articular com soberania os interesses da nação e do povo brasileiro. Tendo em vista o rompimento de todos os obstáculos que impedem o Brasil de cumprir com o seu destino de uma grande nação multiétnica e altamente desenvolvida. Por óbvio que essa perspectiva soberana não comporta os vendilhões da pátria pseudo-ilustrados como o neoliberalismo tucano dos anos noventa e suas versões contemporâneas emplumadas, e tampouco a versão bastarda e degradada da vassalagem de setores das elites nativas representadas pelo esgoto político do bolsonarismo. [1]O acrônimo “BRIC”, foi criado em 2001, pelo economista norte-americano Jim O’Neil, para designar Brasil, Rússia, Índia e China como as economias mais promissoras do século XXI. Em 2006, foram dados os primeiros encaminhamentos para a formalização do bloco, e em 2011, com a adesão da África do Sul passou a se denominar “BRICS”. O IPEA publicou em 2014, um texto sucinto e intuitivo sobre os “BRICS”, que pode ser encontrado no endereço: https://www.ipea.gov.br/forumbrics/pt-BR/conheca-os-brics.html [2]O primeiro PAC foi lançado em 2007, e sua segunda versão em 2011. Os PAC’s foram um conjunto de iniciativas dos governos petistas tendo em vista a viabilização do investimento público em infraestrutura no País. Será preciso retomá-lo para o Brasil recobrar o círculo virtuoso de crescimento que gere desenvolvimento e renda para a população. [3]Para maiores informações consultar o jornalista Pepe Escobar, que publicou material sobre o Fórum Eurasiano no endereço: http://thesaker.is/the-eurasian-economic-union-steps-up/ ILTON FREITAS é Doutor em Ciência Política pela UFRGS, pesquisador associado do Centro de Estudos Internacionais de Governos (CEGOV/UFRGS). Autor dos livros "Transparência e Controle na Era Digital - A agenda da democracia brasileira", editado pela Armazém Digital, Porto Alegre, 2012; e do livro "Guerra Híbrida Contra o Brazil", editado pela Liquidbook, em 2019. E também participou dos livros "Brasil - Crise e Disputa de Um Projeto de Nação" e "É Golpe, Sim!". |
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