quinta-feira, 7 de agosto de 2008

PRIVATARIA - Manipulação das notícias sobre a Aerolíneas Argentinas.

Defensores da privataria manipulam noticiário sobre Aerolíneas Argentinas.


Mais uma vez a mídia conservadora optou por fazer um exercício sofisticado de manipulação da informação. O noticiário sobre os atrasos nos vôos da Aerolíneas Argentinas foi editado de forma a levar os telespectadores a concluir que o desconforto dos passageiros foi motivado tão somente pela reestatização da empresa aérea. Esconderam o principal, ou seja: que a privatização falhou.

Da mesma forma que em outros episódios relacionados com a privatização ou reestatização, a verdadeira história não foi contada. E sem informações básicas, qualquer juízo de valores sobre o que aconteceu no Aeroporto de Ezeiza (Buenos Aires) com os aviões em atraso fica prejudicado.

De um modo geral, os grandes veículos de comunicação e seus colunistas defendem, sem espírito crítico, qualquer tipo de privatização e são críticos rigorosos do Estado. Mais do que críticos, são anti-Estado. Os que não têm memória curta devem se lembrar das peças publicitárias aqui no Brasil que associavam empresas estatais a elefantes, induzindo o telespectador a aceitar a associação do mamífero com o próprio Estado.

Em outros termos, estatais, como elefantes, eram apresentados como algo muito pesado e ineficiente. A saída estava na liquidação do elefante (Estado) através da privatização. Com isso, tudo funcionaria as mil maravilhas. Pura ilusão, como demonstraram fatos posteriores.

Foi assim no Brasil, na Argentina e em outros países da América Latina que seguiram rigorosamente o receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI) que pregava, e ainda prega, o enfraquecimento do Estado, até transformá-lo em um Estado mínimo. Para os seguidores desta recomendação, os países que adotassem a política do Estado mínimo se transformariam em Estados modernos e eficientes em que o mercado resolveria todas as pendências. Mas, para se alcançar esta meta, só através das privatizações dos elefantes.

Neste período, o Chile, até mesmo no período ditatorial do General Augusto Pinochet, era a Meca dos defensores do modelo neoliberal defensor das privatizações das estatais. Só esqueceram de dizer que o Chile, que antes da adoção do modelo atual, que seguiu depois da ascensão da Concertación (a aliança de centro esquerda que está no poder desde 1990), era considerado como um dos melhores paises da América Latina em termos de distribuição de renda. Hoje, o panorama é distinto. Depois do Brasil, o Chile é o pior em termos de distribuição de renda na América Latina. Ou seja, concretamente o modelo neoliberal tornou os ricos mais ricos e os pobres ficaram ainda mais pobres.

A meta prioritária dos vende-pátrias
Aqui no Brasil, em termos de privatização foi assim com a Light, com as empresas de telefonia e com estatais eficientes como a Petrobras, a Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional etc. Seguindo esta prédica do FMI, o governo vende-pátria de Fernando Henrique Cardoso facilitou o quanto pôde as privatizações das estatais sob a promessa de que a população usufruiria em pouco tempo a modernidade.

A Petrobras sofreu uma privatização branca com a aquisição de suas ações em Wall Street – 60% das ações da empresa estão sob controle de acionistas estrangeiros ou de seus prepostos, mantendo o governo o poder no voto. Pelas clausulas da legislação estadunidense, as empresas com acionistas norte-americanos têm a obrigação legal de defender este patrimônio. Não o fazendo, os integrantes da direção ficam sujeitos até a enfrentar os rigores da lei daquele país.

A privatização da Vale do Rio Doce, até hoje é questionada na Justiça com ações populares por ser considerada lesiva aos interesses nacionais. Os atuais proprietários da empresa adquiriram a mesma a preço de banana, pagando em leilão cerca de US$ 3 bilhões quando o valor real naquele período era, por baixo, de pelo menos 10 vezes mais. A privatização da Light não trouxe as vantagens prometidas ao consumidor, que hoje, da mesma forma que na área de telefonia, paga (e não pagam como te mandei) preços extorsivos com reajustes bem superiores aos índices da inflação.

Informações deste teor dificilmente são divulgadas pela grande mídia nacional ou comentadas pelos colunistas de sempre, que, como agora, preferem divulgar meias verdades sobre a crise na Aerolíneas Argentinas. O objetivo é visível, sem dúvida, ou seja, reforçar a tese de que o controle do Estado é sempre prejudicial e que só a privatização resolve. Como na história dos elefantes.

A história não divulgada
Mas o que aconteceu afinal com a Aerolíneas Argentinas, que controla 83% dos vôos internos argentinos e 52% dos internacionais? Fundada em 1950, em pleno governo de Juan Domingo Perón, a empresa foi privatizada em 1990, no governo de Carlos Menem, o tal presidente que defendia relações carnais com os Estados Unidos, passando ao controle da empresa aérea estatal espanhola Ibéria. Em 2001, o grupo espanhol Marsans assumiu o controle da Aerolíneas Argentina. Agora, a dívida calculada na Justiça é de 900 milhões de dólares incluindo o passivo exigível (valor de recursos de terceiros) de US$ 240 milhões.

Segundo analistas, a Marsans não conseguiu gerir positivamente a Aerolíneas Argentinas, que ficou em situação crítica nos últimos anos. Há alguns meses, a empresa passou a atrasar salários e deixou de recolher os valores de plano de saúde e aposentadoria. Por conta disso, enfrentou greves e falta de funcionários para atuar e atrasos constantes de vôos. Hoje, menos da metade dos aviões da companhia estão funcionando sem problemas. A empresa tenta se eximir de culpa pela má gestão justificando, entre outras coisas, o aumento no valor dos combustíveis para o abastecimento dos aviões. E, para variar, as reivindicações trabalhistas também foram catalogadas como causadoras dos prejuízos.

A gravidade da situação chegou a tal ponto que antes do anúncio da reestatização o governo argentino teve de solicitar intervenção judicial a fim de garantir as operações.

A Marsans detinha 94,4% da Aerolíneas, enquanto o governo argentino 5% e os empregados da companhia 0,60%. A outra empresa aérea, a Austral, que opera em vôos internos e passou pelo mesmo processo de crise que a Aerolíneas, era controlada em 97% pela Marsans.

Ao noticiar os acontecimentos na Argentina, âncoras da TV brasileira, entre eles Boris Casoy, na Bandeirantes, deram grande destaque ao fato de a empresa ter sido reestatizada. Casoy chegou mesmo a afirmar que a culpa de tudo era o processo de reestatização. A TV Globo seguiu a mesma linha editorial, colocando inclusive passageiros brasileiros para contar o drama passado no Aeroporto de Ezeiza com atrasos de até 24 horas, dando sempre a entender que a culpa era da reestatização. Esqueceram de dizer que a reestatização, que será temporária, estava acontecendo exatamente para evitar o pior, e o pior é exatamente resultante da má gestão de uma empresa privada.

Em 60 dias, a contar da semana passada, o governo ficará com 100% das ações da Aerolíneas que voltarão a ser privatizadas depois de as finanças serem saneadas. Ou seja, exatamente ao contrário do que “informa” (as aspas são necessárias) a mídia conservadora, o Estado argentino teve de intervir para evitar o pior, que seria o colapso da Aerolíneas Argentinas e da Austral.

Em suma, tudo muito diferente do que informa a maioria dos grandes órgãos de imprensa brasileiros, os mesmos que não se conformaram afirmando em manchetes que o Brasil foi derrotado na rodada de Doha, quando se saísse algum acordo, como queriam vários governos de países ricos e até mesmo o brasileiro, os favorecidos seriam apenas certos setores que sempre ganham em detrimento de parte ponderável da população mundial. Ou seja, os jornais e os canais de televisão entendem que o Brasil foi derrotado. Para eles, como quem perde é o agronegócio, e o agronegócio é o Brasil, daí as manchetes do gênero, capazes de enganar muitos incautos.
Fonte:Blog Fazendo Média.

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