sexta-feira, 26 de junho de 2009

ECONOMIA - 80% dos empregos gerados no Brasil são de no máximo dois salários mínimos.

Por Geraldo Serathiuk*

Ao ler informações do movimento sindical sobre a situação dos salários no Brasil, proponho uma reflexão. A elite brasileira impôs historicamente um projeto de desenvolvimento para o Brasil baseado na exportação de matéria-prima (açúcar, farelo, madeira, minério, carne in natura etc.), sem transformação e agregação de valor aos nossos produtos, o que nos colocou muito mal na divisão internacional do trabalho e ainda nos trouxe degradação ambiental, concentração da terra, migração para as grandes cidades e criminalidade.

Por isso para o povo brasileiro: “80% dos empregos gerados no Brasil são de no máximo 2 salários mínimos ou para os que não conseguem um emprego, o Estado como caixa de compensação e de estabilização do setor produtivo, que usa da mais alta rotatividade de mão de obra do mundo para pagar baixos salários, oferece uma bolsa compensatória ou assistencial, para manter este modelo de exclusão e concentração da riqueza, e caso não se aceite, polícia e presídios, para os que seguem outro caminho”.

Para nos ajudar a explicar isto o economista Gustavo Santos do BNDES nos mostra que o Brasil tem um alto déficit de US$60 bilhões em metal-mecânica, química e eletrônica. “O Brasil não é um país industrializado, apenas detém algumas regiões desenvolvidas. E propõe o desenvolvimento de indústrias dos setores metal-mecânico, químico e eletrônico, a exemplo de outros países”. O Brasil seria desenvolvido em uma geração, se a capacidade produtiva dessa industria aumentasse a ponto de gerar superávit em sua balança comercial, afirma Gustavo. Lembrando também que as exportações do setor eletrônico foram um passo imprescindível no desenvolvimento do Japão, Coréia do Sul, de Taiwan e da China.

E continuando nos mostra que precisamos de uma política industrial orientada pelo Estado, com apoio dos bancos públicos, instituições de tecnologia e universidades, do contrário, os brasileiros continuarão a dar duro para receber baixos salários ou uma bolsa compensatória e assistencial.

E como nos ensinou Celso Furtado este modelo econômico serve apenas para sustentar o padrão de consumo da elite brasileira enquanto o trabalhador tem que se conformar com uma bolsa compensatória ou assistencial. Por isso revela que temos que estar empenhados nas lutas sociais a favor de mudanças. Como apoiar a luta pela reforma agrária e por mais recurso para a agricultura familiar. A luta pela mudança de padrão de consumo que agride ao meio ambiente. A luta por mais recurso para os ensinos infantil, básico, fundamental e médio. A luta por uma reforma tributária que de um basta à sangria dos minguados ganhos dos trabalhadores, enquanto as grandes fortunas e os grandes proprietários pouco pagam de tributos. A luta por uma política industrial com aplicação mais recurso para a ciência e tecnologia para sairmos da condição de exportador de produtos primários para industrializados, para agregar valor aos salários. A luta contra o modelo urbano que faz as cidades reféns dos especuladores urbanos, do lobby do transporte coletivo, dos especuladores imobiliários, do lixo etc. A luta para alterar a política de juros que sangra a economia e a população, subordinando o Banco Central aos trabalhadores e ao setor produtivo, para que a população cada vez mais tem acesso ao crédito. A luta pela reforma política e pela democratização dos meios de comunicação. Enfim lutar por mudanças para que o Estado brasileiro não seja apenas uma câmara de compensação e estabilização para manter os trabalhadores calmos e tranqüilos, ou se caso, precise, chamem a política e aumente as vagas nos presídios.

Os democratas e progressistas, que leram pelo menos um pouquinho da literatura clássica sôbre a teoria de Estado colocada por Marx, Lênin, Poulantzas e Arthusser sabem que eles mostraram o Estado como aparelho de classe, impondo através da força e das suas correias de transmissão à ideologia do aceite, e que foi aprofundada por Claus Offe e James O’Connors, nos mostrando o Estado como uma câmara de compensação e de estabilização de um sistema produtivo injusto, concentrador e excludente, que recebe os impostos e repassa em políticas compensatórias e assistenciais para manter o exército de reserva calmo e sem revolta. Por isso não basta aos democratas e progressistas fazer apenas o papel de gerenciador da câmara de compensação e de estabilização, sendo somente de gestores de políticas compensatórias e assistenciais. É preciso sim lutar pela mudança do modelo econômico como nos ensinou Celso Furtado em seu livro “Em busca de novo modelo”, para que os trabalhadores brasileiros não tenham como futuro apenas conseguir um emprego para ganhar no máximo até 2 salários mínimos.

*Geraldo Serathiuk, advogado, especializado pelo IBEJ/PR e com MBA em Marketing pela UFPR.
Fonte:Desemprego Zero.

Nenhum comentário: