sábado, 14 de abril de 2012

ANOS DE CHUMBO - Os jovens precisam saber.

Algumas vezes O Globo, no intuito de demonstrar imparcialidade, dá espaço a algumas matérias que não são do agrado das "viúvas da ditadura."

Digo isso em função da publicação das declarações do general argentino Rafael Videla, que admite "que matou sete ou oito mil pessoas.

Este general um dos ditadores argentinos, pelo menos teve a coragem de revelar seus crimes, coisa que  ainda não vimos da parte dos nossos.

O Globo que tanto espaço tem dado aos militares contrários a instalação da "Comissão da Verdade" em nosso país, coisa que nossos vizinhos parceiros da chamada "Operação Condor", criada e liderada pelos EUA durante os chamados "Anos de Chumbo" já instalaram há algum tempo, não deu espaço para os militares que também publicaram um manifesto, desta vez apoiando a "Comissão da Verdade".

Os nossos militares saudosos da ditadura, não querem que a "Comissão da Verdade" seja implantada, pelo menos para esclarecer aos familiares, onde foram enterrados os quase 200 desaparecidos políticos, na maioria jovens estudantes idealistas da geração 60, dentre os quais me incluo, que acabaram dando sua vida na luta contra a ditadura militar implantada em nosso país.

Não queremos a condenação ou prisão destes militares, e sim que assumam suas responsabilidades e ajudem as esclarecer para a sociedade brasileira e para os familiares dos quase duzentos desaparecidos políticos, como foram mortos e onde foram enterrados.

Já escrevi anteriormente que quando vi a Dilma, uma presa política torturada, sobrevivente dos "Anos de Chumbo", subindo a rampa do planalto, me vi subindo junto, com o pensamento naqueles inúmeros líderes estudantis com os quais convivi, que foram presos, torturados, mortos e desaparecidos, que lutavam por um ideal, e que eram considerados "terroristas", pelos militares, mesmo aqueles como eu que nunca pegaram em armas como eu, que apenas faziam a parte logística dos movimentos estudantis, seja distribuiam panfletos, sejaparticipando de assembléias ou convocando para passeatas como a "Dos 100 mil".

Me lembrei até do José Serra, que parece que renegou seu passado de presidente da UNE, a quem acompanhei no famoso discurso do Jango na Central do Brasil, em dezembro de 1963, (Comício da Central).

Nesta ocasião, Serra a lado do Arraes, do Brizola, do Francisco Julião, das Ligas Camponesas do nordeste, do governador de Sergipe, Seixas Dória, que era meu parente distante, recentemente falecido aos 90 anos, e de outros que não me lembro mais, Serra pronunciou um violento discurso apoiando as Reformas de Base que o Jango queria implantar em nosso país e criticando quem pregava o golpe como o governador udenista Carlos Lacerda.

Este, alguns anos depois, por ironia do destino,se uniu ao próprio Jango, ao Juscelino e ao Brizola e criaram a "Frente Ampla", pregando que os militares golpistas permitissem eleições em nosso país.

As reformas que o Jango pretendia implantar em nosso país, muitas das quais até hoje não foram realizadas apesar da sua urgência, visava melhorar as condições de vida de milhões de brasileiros.

Uma delas, a "Lei da Remessa de Lucros", que pretendia impedir a sangria violenta e desenfreada de recursos enviados pelas multinacionas para suas matrizes, sangria esta que Getúlio Vargas já havia citado em sua "Carta Testamento", um documento histórico que deveria ter leitura obrigatória nas escolas brasileiras, dada sua atualidade. foi um dos motivos da derrubada de Jango.

Também me lembrei do hoje Senador pelo PSDB, José Anibal,que pertenceu ao movimento "Ação Popular", numa auto-biografia, admitiu ter feitos assaltos a bancos no Estado de São Paulo, durante os "Anos de Chumbo".

Engraçado é que na última campanha eleitoral, o PIG, tendo a FSP à frente, cansou de chamar a Dilma de "terrorista" e se esqueceu do Serra e do Zé Anibal que, segundo o critério dele, seriam também "terroristas".

Aliás, "terrorista" era todo aquele que não apoiava o golpe de 64.

No entanto,terroristas são os militares do atentado do Rio Centro, do ataque as bancas de jornais, do atentado da OAB em 1980, que matou sua secretária, Lydia Monteiro, do atentado que destruiu o jornal "Tribuna da Imprensa", do quase atentado ao gasômetro, que não aconteceu porque um oficial do PARASAR, o Sérgio "Macaco", não obedeceu as ordens do Brigadeiro Burnier, hoje leve e solto, apoia a campanha contra a instituição da "Comissão da Verdade".

Quanto ao atentado do Rio Centro em 30 de abril de 1981, no qual eu estava presente com alguns amigos, se a bomba que explodiu no carro do este sim terrorista Capitão Machado, tivesse explodido no local do show, teria matado centenas de jovens, e eu talvez não estivesse agora escrevendo estas linhas.

O exército brasileiro abriu um inquérito dirigido por um tal coronel Job, uma farsa inominável, que absolveu os terroristas envolvidos e jogou a culpa na esquerda brasileira.

O terrorista Machado foi levado ao hospital pela irmã do Aécio Neves chamada Andréia, que pouca gente sabe, foi uma das fundadoras do PT/RJ, e foi uma poderosa assessora do Aécio, responsável pela comunicação social do governo mineiro comandado até recentemente por seu irmã Aécio.

Pois bem, algumas vezes algum tempo após o atentado vi o terrorista jogando voley nas areias de Ipanema.

Ele seguiu a carreira militar, foi promovido e a última notícia que tive dele é que era professor do Colégio Militar de Brasília.

Quanto ao bravo Sérgio "Macaco", já falecido, foi considerado traidor e teve sua carreira militar interrompida.

A ilação do que escrevi acima com as declarações do Rafael Videla é que o passado tenebroso dos nossos "Anos de Chumbo" tem que ser revelado como estão fazendo a Argentina, o Uruguai, o Chile e o Paragaui e essa "Comissão da Verdade" seria um dos caminhos para que isso acontecesse.

As pessoas têm conhecer, principalmente os jovens, um pouco da nossa história, não a escrita pelos vencedores, a fim de não se deixarem levar por Manifestos daqueles militares que apresentam somente sua verdade e que não assumem suas responsabilidades.

Os jovens precisam saber que a tortura é, pelas convenções internacionais que o Brasil assinou, um crime imprescritível e que seus executores precisam pelo menos ser ouvidos para esclarecer a morte daqueles que morreram em suas mãos.

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